Numa aldeia iluminada pelo luar em Euclides da Cunha, no sertão baiano, a menina Vanuza Kaimbé lia o que estava escrito nas estrelas. Os astros diziam lá no céu que sua missão era a de ajudar pessoas, indígenas assim como ela. Levaria humanidade, vontade de sonhar e muito trabalho por onde passasse. Deixou o sertão e foi para São Paulo aos 12 anos, junto com sua família. O objetivo era bem definido: 'vou juntar dinheiro, estudar e voltar para ajudar meu povo'.

Assim foi feito: a menina cresceu, deixou de lado o sonho de ser médica e se tornou assistente social. Ajudou grupos indígenas em todo país, criando o Projeto Pindorama, financiando bolsas de estudos para indígenas entrarem na universidade. Líder da aldeia multiétnica Filhos Dessa Terra em Guarulhos-SP, ela viu sua atuação se tornar ainda mais importante durante a pandemia, quando seu trabalho ajudou a encontrar financiamento para realização de testagens nas aldeias e encaminhar indígenas a hospitais, além de conseguir alimentos e fazer com que os seus não passem necessidade. Ela tem nome e sobrenome: Vanuza Kaimbé. Indígena. Mulher. Guerreira. E a primeira baiana a ser vacinada no Brasil contra o novo coronavírus.

Além de assistente social, Vanuza, 50, é técnica de enfermagem e recebeu no último domingo (17) a primeira dose da Coronavac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantã e que teve utilização emergencial aprovada pela Anvisa no mesmo dia. Enquanto estava sentada, com suas vestes e cocar, e recebia a vacina, ela conta que só conseguia pensar numa coisa: como era estranho sentir esperança depois de um ano tão difícil e como ela quer que outras pessoas tenham a mesma oportunidade que estava tendo ali.

"Eu senti uma gratidão pela ciência, que tem sido tão atacada nos últimos anos. Depois disso, pensei que foi um sonho, mas me senti solidária pelas pessoas que não tiveram a oportunidade que tive de estar imunizada. Ficou a esperança para que isso venha para outros brasileiros também. Foi uma emoção imensa", disse em entrevista ao CORREIO.

Os quase 12 meses que já se passaram desde o início da pandemia no Brasil foram muito difíceis para Vanuza. Entre os vários perrengues que via o país passar, teve os seus próprios. Testar positivo para a doença se tornou pequeno comparado ao fato de ter escutado a voz do primo no telefone, em abril de 2020, ligando para avisar que iria morrer. Aquele não foi o único familiar que ela perdeu desde então: outro primo moreu num leito de UTI e um tio morreu com as sequelas deixadaspela enfermidade. Vendo tudo isso, chegou a pensar que ninguém sobraria vivo no país.

Os momentos de morte também eram doloridos. Por conta da necessidade de isolamento, os rituais não podiam ser realizados e isso dói muito na assistente social. A voz embarga e o lamento é sincero quando toca no assunto.

A aldeia onde vive foi fundada pela própria Vanuza em 2002. Multiétnica, a ideia há quase duas décadas era criar uma aldeia fora do convencional, recebendo indígenas pobres. Ainda hoje, muitos vivem trabalhando na construção civil ou dependem de eventos e artesanato para levar dinheiro para dentro de casa.

Atividades praticamente paralisadas durante a pandemia, comprometendo diretamente a vida de 20 famílias e aproximadamente 75 pessoas. "Mobilizei a minha rede de amigos para fazer a testagem. 70 pessoas moram lá, 45 foram testadas e 7 deram positivos. Eu inclusive. Também fizemos campanha para testar os indígenas que moram fora das aldeias. Houve aldeia que quase 50% das pessoas testaram positivo", disse.

Segundo os dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), 45.807 indígenas foram infectados e 923 morreram em 161 povos no país. Vanuza acredita que esse número seja extremamente subnotificado: não são raros os casos de indígenas que dão entrada em hospitais e acabam registrados como pardos ou brancos.

"É uma tristeza muito grande a gente não enterrar nossos mortos, com nossos virtuais e ver na certidão de óbito que não somos indígenas. Tá lá: pardo, branco. Isso é muito doloroso, muito triste para nosso povo", afirmou.

Por conta de todo este cenário de tristeza e desespero, a vacina surge na vida de Vanuza como um símbolo de esperança. Não somente para ela, como para todo o povo brasileiro. Um dia após ser vacinada, ela contou que não sentiu nenhum efeito colateral e passa longe de uma metamorfose para virar jacaré. Por conta disso, aconselha: quem tiver a oportunidade de se imunizar, que o faça.

"Eu sou otimista. Acredito que o povo brasileiro vai acordar, nós vamos valorizar a educação, a ciência porque no momento valorizamos desinformação e políticos ineficientes. Seremos um país acolhedor, solidário, guerreiro e trabalhador novamente"

Bahia no peito

Euclides da Cunha é um município que tem na luta uma parte fundamental da sua história. O nome do município é em homenagem ao jornalista e escritor que relatou as sangrentas batalhas da Guerra de Canudos, mais especificamente a quarta expedição militar que foi até o distrito, à época fazendo parte do município de Monte Santos, para derrubar as forças do revolucionário Antônio Conselheiro. Tudo está descrito no livro Os Sertões, clássico da literatura brasileira.

Foi neste município onde Vanuza nasceu e começou a sua adolescência. Sua aldeia, Massacara, de etnia Kaimbé, fica por lá. Sempre que pode, ela junta uma grana e retorna para suas origens, de onde saiu há quase 33 anos: o lugar favorito no mundo, conforme diz a própria Vanuza.

Logo depois da sua terra, um outro lugar ocupa o coração da assistente social. E enche seu peito de paz e alegria: a Aldeia Hippie de Arembepe, no Litoral Norte. "Não são meu povo, mas a aldeia hippie é meu lugar preferido. Lá não tem energia elétrica, se vive de forma mais simples e então meu coração bate forte quando chego à Aldeia", diz.

A Aldeia Hippie tem cerca de 50 anos de existência e já recebeu uma série de visitantes ilustres: desde ícones estrangeiros como a cantora Janis Joplin e o vocalista dos Rolling Stones, Mick Jagger, até estrelas nacionais como Caetano, Gil, Rita Lee, e, agora a primeira baiana vacinada contra o coronavírus. Ainda hoje o espaço serve como inspiração para quem busca se afastar das metrópoles e seguir a famosa filosofia do paz e amor. Cerca de 40 pessoas compõem a população da Aldeia.

Foi por lá onde ela passou a virada de ano. Passeou pelas praias do Litoral Norte: entre Guarajuba, Arempebe e Barra do Jacuípe. Com o barulho do mar, ou dos rios, aproveita para sonhar com um futuro melhor, se reconectar com aqueles que já foram e criar fôlego. Afinal de contas, há sempre mais uma batalha para lutar.

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A Prefeitura e o governo do Estado iniciam nesta terça-feira (19) a vacinação contra a Covid-19. A expectativa é imunizar, com a Coronavac, cerca de 2,5 mil pessoas entre idosos abrigados nas Obras Sociais Irmã Dulce, na Cidade Baixa, além dos trabalhadores que atuam na Base Central do Samu 192, no Pau Miúdo, na UPA e Gripário de Pirajá/Santo Inácio, bem como na UPA e Gripário Barris, na UPA e Gripário Brotas, no Hospital Municipal de Salvador (HMS) e no abrigo Dom Pedro II. O prefeito Bruno Reis começa a imunização na Osid, às 7h, caso as doses desembarquem na noite de hoje (18) na cidade.

Para o início da estratégia no município, o governo federal encaminhou cerca de 42 mil doses da Coronavac. Esse quantitativo tem a capacidade de proteger cerca de 21 mil pessoas, uma vez que o imunizante prevê uma dose de reforço após 14 dias da primeira aplicação.

Para essa primeira remessa, está previsto a imunização dos idosos abrigados em instituições de longa permanência do município, trabalhadores da saúde que atuam na rede de urgência e assistência direta aos pacientes com o novo coronavírus (UPAs, Gripários, Samu 192)e hospitais, incluindo os de campanha).

A estratégia utilizada para essa primeira remessa será através de 11 equipes volantes nos próprios locais selecionados. Por isso, a população não deve se direcionar a nenhum ponto de vacinação neste momento. A programação segue recomendação de informe técnico emitido pelo Ministério da Saúde.

Um cronograma será construído diariamente na capital, de acordo com a disponibilidade de vacinas. A cada nova remessa encaminhada ao município, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ampliará a imunização dos grupos prioritários.

Insumos - Depois de retornar de Brasília, onde participou hoje (18) de uma reunião com técnicos do Ministério da Saúde para tratar da distribuição dos imunizantes, o prefeito Bruno Reis e o titular da SMS, Leo Prates, estiveram na central de logística do município, na BR-324, para vistoriar os insumos que serão entregues aos vacinadores, a exemplo de agulhas, seringas, algodão e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).

"Salvador deve receber hoje, às 22h, as oses destinadas à cidade para o início da vacinação. Essas doses vão chegar em um voo da Azul e, de lá, serão transportadas para nosso complexo de saúde na Vasco da Gama, onde está tudo preparado para receber as vacinas. Salvador se preparou com a devida antecedência, para a gente iniciar a imunização do público prioritário", disse Bruno Reis.

"Essa primeira remessa encaminhada pelo Ministério Saúde será utilizada para reforçar, neste primeiro, momento a proteção dos profissionais da linha de frente no enfrentamento à Covid-19 e os idosos dos abrigos de Salvador. À medida que novas doses cheguem na cidade, seja por envio do governo federal ou por aquisições por esforços próprios da Prefeitura, seguiremos ampliando a implementação das fases, de acordo com o previsto em nosso Plano Municipal de Imunização", explicou Leo Prates.

Estrutura - Duas vans e 55 veículos utilitários já estão preparados para transportar as doses da vacina contra a Covid-19 em Salvador. As doses da Coronavac – imunizante desenvolvido pelo instituto Butantan e a chinesa Sinovac – devem chegar a Salvador na noite desta segunda-feira (18). Após desembarcarem na capital baiana, as doses serão transportadas da central da Secretaria da Saúde do Estado para a da SMS, na Vasco da Gama. Profissionais de segurança farão a escolta do transporte.

A SMS convocou 150 vacinadores hoje para a atuação contra a Covid-19. Os profissionais chamados estavam no cadastro de reserva do último Processo Seletivo Simplificado do órgão e serão contratados por meio do Regime Especial de Direito Administrativo (Reda). A expectativa da gestão é contratar temporariamente outros 250 profissionais quando a vacinação estiver a todo vapor, totalizando 400 novos vacinadores para a estratégia contra a doença. A SMS vai capacitar todos os profissionais convocados.

Entre o público considerado prioritário, a Prefeitura espera vacinar, nos 12 distritos sanitários da cidade, 571.847 pessoas, a maior parte idosos entre 60 e 74 anos (185.556), seguidos daqueles com comorbidades (149.068) e trabalhadores da área da saúde (102.997).

Há 313 dias esperávamos por esse momento. A pandemia foi decretada pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020. Desde então, apenas uma pergunta importava. Dos textos acadêmicos aos memes da internet, do Vale do São Francisco ao Extremo Sul da Bahia, da Praia do Flamengo a São Tomé de Paripe. Nas missas, nos cultos e nos terreiros a interrogação era a mesma. Até que nesse dia 19 de janeiro, numa manhã ensolarada de terça-feira, podemos dizer: a vacinação começou!

Depois de uma segunda-feira tumultuada com o horário do desembarque das 376 mil doses da Bahia (42 mil de Salvador) alternando entre o início da manhã e altas horas da noite, elas chegaram para a alegria e o alívio de todos. E a vacinação começou por nada mais nada menos que o espaço criado e mantido por Santa Dulce dos Pobres. Os idosos das Obras Sociais Irmã Dulce foram os primeiros a serem imunizados, e o sorriso era tão grande que dava para ver até mesmo por trás da máscara.

O dia amanheceu com movimento aparentemente calmo na Cidade Baixa, mas essa tranquilidade foi mudando ainda nas primeiras horas da manhã. A presença dos repórteres atraiu a atenção de curiosos, e todos pararam a rotina por um instante para observar de longe, ou mais de pertinho, espreitando através de uma grade, de um muro ou de uma porta entre aberta o que estava acontecendo. Parecia que todos ali esperavam pela noiva na igreja no dia do casamento. Até que às 7h10 ela chegou.

Coronavac é o nome dela. Não que isso importe muito. A eficácia da vacina sempre foi a prioridade independentemente da origem do medicamento, ao menos foi o que sempre afirmaram as autoridades baianas. A vacinação aconteceu dentro do santuário de Santa Dulce, e a primeira pessoa imunizada foi a enfermeira Maria Angélica de Carvalho, 53 anos, que trabalha no Hospital Couto Maia.

"É um momento de gratidão a Deus e a todos os profissionais que contribuíram para esse momento", disse Maria Angélica.

A idosa Lícia Pereira Santos ressaltou a alegria do momento. "Me sinto muito feliz de ter sido convidada. É um momento de alegria", disse.

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

Quem também foi vacinado foi o médico socorrista do Samu Wenderson Barbosa, que ressaltou a luta de trabalhar na pandemia. "O mais difícil é lidar com o distanciamento dos nossos próprios familiares. Com a vacina, espero que tudo isso mude. Sem tirar todas as medidas de precaução, mas muito mais fortalecido para enfrentar tudo isso", disse. Uma representante indígena também participou da solenidade e foi vacinada.

Autoridades
O governador, Rui Costa (PT), e o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), chegaram cedo. Eles destacaram a importância da vacinação e disseram que aguardam novas remessas das vacinas.

"Salvador precisa de 168 mil doses na primeira fase, chegaram 42 mil. Nós aqui estamos adotando a estratégia de aplicar somente metade das vacinas que chegam para garantir que as pessoas recebam a segunda dose. Com isso iremos imunizar pouco mais de 21 mil pessoas. Não adianta as pessoas irem para posto de saúde e hospitais, pois ainda não há vacina em hospitais", explicou o prefeito.

A dificuldade de manter a campanha de imunização, segundo Reis, é ter quantidade suficiente de doses. "Nosso problema aqui não são insumos, profissionais, logística, armazenamento e estrutura, o problema é o fornecimento da vacina. Desde que assumi a prefeitura no dia 1º de janeiro a palavra de ordem foi o enfrentamento da pandemia, primeiro porque vamos salvar milhares de vidas e depois reestabelecer a parte econômica e social, para retornarmos à nossa rotina de normalidade", completou.

O governador Rui Costa falou que hoje é um dia de esperança. "É uma emoção grande, uma luta, quase 1 ano nesse sofrimento e hoje, como trabalhamos muito ao longo desses meses, começamos a ver a luz no final do túnel. Ainda é uma longa caminhada, ainda não tem vacinas para todo mundo. Estamos tentando conseguir autorização junto ao STF para a Sputnik. Espero que a Justiça ajude a acelerar a vacinação. É mais uma vacina disponível para gfarantir a imunização das pessoas", afirmou.

Ele falou ainda sobre as dificuldades para a aquisição de doses. "Não tem espaço para uma negociação com o Butantan, visto que o Ministério da Saúde requisitou todas as vacinas. O que estamos buscando é a vacina russa. Somos 15 milhões de pessoas, precisamos de 30 milhões de vacinas para aplicar as duas doses. Nesse primeiro lote, de 376 mil, não conseguiremos sequer vacinar as pessoas da área de saúde, que são quase 400 mil pessoas", afirmou.

As 42 mil doses da Coronavac enviadas pelo Governo Federal são suficientes para proteger cerca de 21 mil pessoas em Salvador, uma vez que o imunizante prevê uma dose de reforço após 14 dias da primeira aplicação. Para essa primeira remessa, está previsto a imunização dos idosos abrigados em instituições de longa permanência, trabalhadores da saúde que atuam na rede de urgência e assistência direta aos pacientes com o novo coronavírus (UPAs, Gripários, Samu 192) e hospitais, incluindo os de campanha.

A estratégia utilizada para essa primeira remessa será através de 11 equipes volantes nos próprios locais selecionados. Por isso, a população não deve se direcionar a nenhum ponto de vacinação neste momento. A programação segue recomendação de informe técnico emitido pelo Ministério da Saúde.

Um cronograma será construído diariamente na capital, de acordo com a disponibilidade de vacinas. A cada nova remessa encaminhada ao município, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ampliará a imunização dos grupos prioritários.

Vacina
Desenvolvida através de uma parceria entre a farmacêutica chinesa Sinovac e o laboratório brasileiro do Instituto Butantan, a CoronaVac foi alvo de uma queda de braço entre o Governo Federal, outras autoridades públicas e a cientistas, até que a novela chegou ao fim no domingo (17) com a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso da medicação em todo o país.

A eficácia dela é de 100% para casos graves, 78% para casos leves e de 50% de maneira global. A chegada da vacina em janeiro, quase um ano depois do início desse pesadelo, traz uma esperança em dias melhores ao mesmo tempo que faz refletir sobre o desenrolar dessa caminhada, e essa sensação pode não ser por acaso.
Na mitologia romana existia um Deus de nome Jano que era responsável pelas mudanças. Ele é representado por duas faces que olham em direções opostas, observando ao mesmo tempo o passado e o futuro. Foi da derivação do nome dele que surgiu Janeiro, o mês das transformações.

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O secretário municipal de Saúde de Salvador, Léo Prates, anunciou, através do Twitter, que Salvador começará a vacinar em até 72h, mantendo o plano inicial de iniciar a vacinação, na quarta-feira (20). O anúncio do Prates foi feito após a liberação da Anvisa para uso emergencial das vacinas Coronavac e Oxford, pela Anvisa.

"Com muita felicidade a Anvisa aprova as vacinas Coronavac e Oxford! Quando o Governo Federal nos enviar as doses, Salvador coemça a vacinar em até 72h! Nossa missão é salvar vidas!"

Com muita felicidade a Anvisa aprova as vacinas Coronavac e Oxford! Quando o Governo Federal nos enviar as doses, Salvador começa a vacinar em até 72h! Nossa missão é salvar vidas!

— Leo Prates (@LeonardoPrates4)
January 17, 2021
O Ministério da Saúde anunciou que nesta segunda-feira, 18, às 7h, inicia o envio de doses para os estados. A Bahia terá como base para recebimento das doses, a sede do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer), na região do Aeroporto de Salvador.

De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), municípios distantes mais de 300 quilômetros da capital baiana terão as doses enviadas por aeronaves. As demais devem ser entregues por meio terrestre com escolta da Polícia Militar para garantir a segurança no deslocamento.

A Diretoria Colegiada da Anvisa (Dicol) da Anvisa aprovou, em reunião extraordinária realizada neste domingo (19) , o uso emergencial de vacinas de Oxford e CoronaVac contra a Covid-19 no Brasil. A votação da diretoria foi finalizada com todos os cinco votos a favor do uso das vacinas.

A Anvisa informou nesse sábado, 16, que Fiocruz e Butantan terminaram a entrega de documentos sobre as vacinas. Uma equipe de cerca de 50 pessoas trabalhou na análise dos dois processos. Os pareceres técnicos foram entregues à diretora Meiruze Freitas, farmacêutica e servidora da agência, que será a relatora do processo. Ela é responsável pela área que trata do registro de medicamentos e vacinas.

A primeira apresentação técnica da reunião foi a do gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, que está apresentando detalhes sobre os estudos da Coronavac - a autorização da vacina do Butantan será a primeira a ser avaliada.

Ele informou que, no processo de recebimento de dados, foram realizadas 41 comunicações entre a agência e o instituto. Entre as informações apresentadas pelo Butantan estão os testes de estabilidade do imunizante, que determinarão o prazo de validade e as condições de armazenamento.

De acordo com Mendes, os testes apontaram que, para a matéria-prima, o teste demonstrou validade de seis meses, mas que essa validade pode ser extrapolada para 12 meses para o produto final contanto que o Butantã apresente dados extras de monitoramento. O armazenamento do produto deverá ser numa temperatura de 2ºC a 8ºC.

O estatístico da Anvisa Leonardo Fábio Filho apresentou os cálculos que foram refeitos pela agência para verificar a eficácia do produto calculada pelo Butantan. A equipe da agência confirmou o índice de 50,4% de eficácia geral apresentado pelo Butantan. "Refizemos todos esses cálculos, vamos fazer outros ainda, recebemos a base de dados brutos na quinta-feira e estávamos até agora pouco rodando as análises", disse.

Mendes ressaltou que, nas análises de segurança, a Anvisa também confirmou a segurança da vacina. De acordo com o diretor, não ocorreu nenhuma reação adversa grave entre os voluntários.

Embora tenham confirmado os dados principais de eficácia e segurança, os técnicos da Anvisa apresentaram algumas incertezas que ainda permanecem sobre o resultados da vacina. Os servidores ressaltaram não foi possível calcular a eficácia da vacina por faixa etária, principalmente entre idosos. "A quantidade de idosos (infectados na amostra) era muito pequena e não permitiu estabelecer perfil de segurança e eficácia da vacina para esse grupo. O baixo número de casos, três no grupo placebo e 2 no grupo vacinal, não permitem conclusões mais robustas", disse Mendes.

Ele ressaltou como incerteza ainda a dúvida sobre a eficácia do imunizante contra casos moderados e graves, já que o número de infecções com esse quadro de gravidade também foi pequeno. Com isso, como já mencionado pelo próprio Butantan, a análise de 100% de eficácia não tinha ainda relevância significativa.

O gerente-geral de medicamentos disse ainda que o Butantan não apresentou os dados de eficácia de acordo com o intervalo entre a primeira e a segunda dose - que pode ser administrada de 14 a 28 dias após a dose inicial.

O servidor da Anvisa afirmou ainda que faltam relatórios mais completos de imunogenicidade, que mostram a quantidade de anticorpos produzidos pelos voluntários.

Laboratórios serão notificados logo após decisão
Butantan e Fiocruz serão notificados pela Anvisa sobre a decisão após a reunião. "Também será publicado no portal da Agência um relatório com as bases técnicas da avaliação sobre a autorização temporária de uso emergencial, em caráter experimental, de cada vacina contra a covid-19", diz a Anvisa.

Apenas farmacêuticas que realizaram estudos clínicos de fase 3 no País podem pedir o aval para aplicar a vacina neste formato, pelas regras atuais da agência. O uso emergencial pode ser feito mesmo com estudos de desenvolvimento do produto em andamento.

A Anvisa esteve no centro de brigas políticas durante a pandemia. O governo de São Paulo levantou suspeitas sobre interferência política no órgão quando, em novembro, estudos da Coronavac foram suspensos - decisão comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro. Servidores da agência chegaram a lançar nota defendendo a autonomia do órgão.

Corrida para a vacina
O aval da Anvisa abrirá uma corrida entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria, pela "primeira foto" da vacinação contra a covid-19 no Brasil.

O Ministério da Saúde planeja começar a campanha nacional na quarta-feira, 20, às 10h. Como revelou o Estadão, o Palácio do Planalto pode receber uma cerimônia, na terça-feira, 19, para marcar o começo da campanha. Não está descartado aplicar a primeira dose durante este evento, mas a pressão pela crise em Manaus (AM) pode levar o governo a desistir da cerimônia em Brasília.

O governo paulista apontava 25 de janeiro como data para o começo de sua campanha, mas Doria já afirma que poderá vacinar imediatamente após a decisão da Anvisa. O governador fará um pronunciamento à imprensa, do Hospital das Clínicas da USP, após a reunião da Anvisa.

Ainda é incerto, porém, como será o começo da vacinação no país. Os planos do governo Bolsonaro de receber 2 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca no domingo, 17, foram adiados pelo governo da Índia. O presidente Bolsonaro disse na sexta-feira, 15, que a entrega deve levar mais dois ou três dias, mas o governo não confirma nem sequer em que data o voo que em direção à Índia deixará o Brasil para receber esta vacina.

Após a negativa da Índia, o ministério pediu para o Butantã entregar imediatamente todas as 6 milhões de doses da Coronavac que estão prontas para uso. O governo de São Paulo respondeu que enviará esta carga, mas pede para que as doses que serão aplicadas na população paulista sigam no Estado. O impasse pode parar na Justiça, reconhecem autoridades dos dois lados da disputa.

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Após uma reunião com o Ministério da Saúde nesta quinta-feira (14), prefeitos disseram que, de acordo com o ministro Eduardo Pazuello, a vacinação contra a Covid-19 começará em todo o país na quarta-feira (20) da semana que vem. A data depende de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar o uso emergencial das vacinas Coronovac e Astrazeneca. A decisão da Anvisa sai no domingo (17).

"De acordo com @ministropazuelo, próxima segunda chegam as 2 milhões de doses da Astrazeneca para estados. Há também as 6 milhões da Coronavac. Anvisa liberando domingo, distribuem na terça para iniciar na quarta, dia 20. Ou seja: 8 milhões de doses para janeiro", escreveu o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), em uma rede social.

Algumas outras prefeituras que também saíram da reunião informando que o governo marcou a data do dia 20 foram as de: Salvador, Curitiba, Cuiabá, Maringá, Ribeirão Preto e Araucária (PR).

"Em Curitiba, vamos vacinar primeiro os grupos prioritários. Os 70 mil profissionais de saúde, e todos os idosos de Curitiba, que são perto de 300 mil pessoas", afirmou o prefeito Rafael Greca (DEM). "Será em 20 de janeiro".

Procurado pelo G1, o Ministério da Saúde ainda não confirmou a data. Pazuello recebeu mais de 130 prefeitos. A maioria participou virtualmente.

O presidente da Frente Nacional dos Prefeitos, Jonas Donizete, ex-prefeito de Campinas, afirmou que eventual atraso no voo que vai buscar doses de vacina na Índia pode alterar a data.

"Embora tenha sido mencionado a data do dia 20, às 10h da manhã, essa data está pendente deste dois fatores: da logística de voo e da aprovação da Anvisa", afirmou.

Doses
A Frente Nacional dos Prefeitos disse ainda que, na reunião, Pazuello apresentou a seguinte previsão de quantas doses de vacina o país terá nos próximos meses:

Janeiro: 8 milhões
Fevereiro: 30 milhões
Abril: 80 milhões
Equipamento
Jonas Donizete também disse que a maioria das cidades tem quantidade suficiente de agulhas e seringas para iniciar a vacinação.

"A gente vai passar para o ministro uma ideia de como estão as cidades. E para isso eu fiz uma conversa antes com os prefeitos. A notícia boa para a população é que a maioria das cidades está preparada para a vacinação, com seringas, agulhas”, afirmou.

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O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou nesta quarta-feira (16) que será necessária a assinatura de um termo de responsabilidade apenas para quem tomar vacina de uso emergencial contra a Covid-19.

A medida, segundo o ministro, não será necessária para vacinas que tiverem obtido o registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O presidente Jair Bolsonaro vem defendendo a adoção do termo, para que o próprio vacinado se responsabilize sobre os efeitos do imunizantes. Especialistas criticaram a fala do presidente e ressaltaram que a assinatura do termo "não faz sentido" e prejudica o combate à pandemia.

Pazuello deu uma entrevista coletiva à imprensa após o governo ter apresentado oficialmente o plano nacional de vacinação.

"O registro, se for de vacina no Brasil, ele segue para a Anvisa, e ela vai avaliar conceder ou não o registro. Isso é a normalidade. Dentro dessa normalidade, onde é garantida a eficácia e segurança, não há necessidade de termo de responsabilização", disse o ministro.

Pela lei, a Anvisa, após receber a solicitação de uma empresa, tem até 60 dias para conceder o registro definitivo de uma vacina. O pedido de uso emergencial pode ser aprovado em até 72h, se agências estrangeiras de vigilância sanitária como a dos Estados Unidos ou da União Europeia já tiverem dado a autorização para aplicação em seus países.

"Estamos diante de outro modelo, que é a autorização de uso emergencial, que permite que um laboratório disponibilize a vacina para grupos específicos mesmo sem a conclusão dos testes clínicos", disse o ministro.

"Se um laboratório nacional ou estrangeiro solicitar à Anvisa o uso emergencial e for concedido pela Anvisa, vamos estudar que grupos vão receber. Grupos limitados em quantidades limitadas. E, sim, todos que forem voluntários a receber terão que assumir esse compromisso por escrito", completou Pazuello.

Até o momento, nenhuma empresa pediu registro definitivo à Anvisa nem solicitou uso emergencial.

Especialistas
O advogado e diretor-executivo do Instituto Questão de Ciência (IQC), Paulo Almeida, a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o programa nacional de imunizações, e a professora da UFES Ethel Maciel criticaram o plano do presidente de exigir termo de responsabilidade de quem tomar vacina.

“Extremamente infeliz e irresponsável essa fala do presidente quanto a uma medida provisória que vai exigir de indivíduos que tenham interesse em se vacinar contra a Covid assinatura de um termo de responsabilidade", disse Paulo Almeida.

"Primeiro porque isso não é necessário desde que a vacina tenha aprovação, seja extraordinária, seja regular de registro de autoridades sanitárias competentes.... E, segundo, porque isso, em última instância, vai diminuir a cobertura vacinal em função da pessoa que quando for à UBS tomar a sua vacina tenha que assinar um termo", disse Paulo Almeida.

"Eventualmente vai fazer com que várias pessoas desistam de tomar vacina por excesso de burocracia”, acrescentou o advogado.

Carla Domingues lembrou que “esses termos são utilizados em estudos clínicos em que o pesquisador ainda não sabe a segurança daquele produto que ele está entregando para o voluntário da pesquisa. Então ele é fundamental neste processo, em que você ainda não conhece a segurança do produto".

"Quando a vacina passou pelo estudo de fase 3, já se tem um resultado da qualidade e da segurança e da eficácia [da vacina]. Não justifica no programa de vacinação pedir um termo de consentimento. Parece que o presidente não quer que a vacina aconteça no nosso país. Ele está jogando contra a população que quer buscar a vacinação”, afirmou Carla Domingues.


De acordo com Carla Domingues, não há razão para o presidente exigir termo de responsabilidade. “Nós estamos falando de uma vacina que já vai ter um registro da Anvisa, que terminou a fase três, que já mostrou que ela é uma vacina segura. Portanto, não se justifica fazer isso. Qual é o objetivo de fazer um termo desse? Isso vai inviabilizar qualquer campanha de vacinação".

"Ao invés de ir para televisão, ir para mídia para fazer uma campanha de esclarecimento, da importância da vacinação, ele coloca que a vacina não é importante, que a vacina vai fazer mal a saúde e que a população não deve se vacinar”, criticou a epidemiologista.

A também epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel afirmou que o termo que Bolsonaro quer exigir não faz sentido.

"Precisamos estabelecer onde as pessoas devem ir caso ela apresente algum sinal ou sintoma [após a vacinação]. Precisamos estabelecer e deixar de forma bem transparente para a população, onde, como e quando a pessoa deve procurar um serviço de saúde se ela apresentar alguma reação à vacina. Esse termo de responsabilidade não faz sentido. Cria uma barreira para que as pessoas possam ir se vacinar; cria uma suspeita no momento que a gente precisa dar segurança às pessoas. A Anvisa só vai aprovar um produto que seja seguro e eficaz", disse.

 

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