Após feriados, média de casos ativos de covid-19 cresce 13,2% em um mês

Após feriados, média de casos ativos de covid-19 cresce 13,2% em um mês

Se o colapso no sistema de saúde por conta da covid-19 foi evitado em fevereiro e março deste ano, ele pode chegar nos próximos meses. A média móvel de casos ativos na Bahia aumentou 13,2% em apenas um mês. Em 19 de abril, ela estava em 15.576 casos. Já em 19 de maio, chegou a 17.637.

O pico foi registrado em 27 de fevereiro, quando a média móvel de casos ativos no estado ficou em 20.582, segundo a médica epidemiologista Izabel Marcílio, coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (Coes), da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

O número tem aumentado progressivamente. Em 1 de abril, por exemplo, a média era de 15.646. Já no dia 15 de abril, foi para 16.139, e, em maio, passou dos 17 mil. Isso significa que o fator rt, que mede a taxa de transmissão do novo coronavírus, está acima de 1, ou seja, uma pessoa consegue infectar mais de uma, fazendo a curva subir. Se ela estivesse abaixo de 1, haveria um decréscimo, e, se fosse igual a 1, haveria estabilidade, o que não tem sido observado.

Os casos ativos são aqueles confirmados com o diagnóstico de covid-19, de pessoas com ou sem sintomas. Eles são considerados ativos, ou seja, sujeitos a infectar outra pessoa, durante 14 dias, e são calculados a partir do número de casos confirmados, subtraindo-se o número de óbitos.

Consequentemente, isso reflete na taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que variou entre 85% e 81% nesta quarta-feira (20). Das 9 regiões da Bahia, apenas duas estão com a taxa de ocupação de leitos de UTI abaixo de 80% - no Centro-Norte (77%) e no Sul (78%). No Nordeste, está em 100% - vejas todas no final da matéria. É preciso lembrar que o estado tem o dobro de leitos de terapia intensiva do ano passado, no pico da primeira onda. Hoje, são 1.598.

Os três fatores que contribuíram para esses aumentos foram os feriados do mês de abril e maio, além das flexibilizações feitas pelo governo estadual e em alguns municípios.

“O comportamento da população é que facilita ou freia a transmissão do vírus, já que é um vírus de transmissão respiratória. Coincidiu a Semana Santa e, logo em seguida, o Dia das Mães, que são dois feriados de bastante prestígio na Bahia, e que levam a aglomerações, sem uso de máscara. Somado a isso, tiveram as flexibilizações, com alguns setores de atividades sendo liberados”, esclarece Izabel Marcílio.

Apesar de voltar a decretar estado de calamidade pública no dia 1 de abril, o governo baiano flexibilizou a realização de eventos até 50 pessoas, reduziu a duração do toque de recolher, promoveu a reabertura de restaurantes e academias e permitiu a venda de bebida alcóolica no final de semana.

Esses encontros familiares, apesar de não serem como os paredões, são tão transmissíveis quanto, relembra a epidemiologista. “Os familiares são os principais motores de transmissão, porque são sempre contatos próximos e prolongados, com confraternização, comida e bebida, beijos e abraços. Se todo mundo passa a não seguir as regras e se aglomerar em locais fechados, os índices vão aumentar, não tem jeito, é matemática”, reforça Marcílio.

A coordenadora do Coes afirma que nenhuma região está com a pandemia sob controle e todas preocupam a Sesab, principalmente a Oeste, além da Região Metropolitana de Salvador (RMS), pelo contingente populacional: “Todas estão em alerta”.

A quantidade de testes realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) continua o mesmo, de 5 mil por dia. Segundo Izabel, os municípios passaram a aplicar mais testes por conta própria - seguindo as mesmas diretrizes, de só testar os sintomáticos.

Apesar disso, ela não considera que seja a terceira onda ainda, porque não saímos da segunda. O mesmo foi dito pelo coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador, Ivan Paiva (relembre aqui). “Antes da Páscoa, estávamos com 14 mil casos ativos, o que é muito, então a segunda onda ainda não acabou. A gente vinha controlando bem e, de repente, há um repique, com um novo aumento”, analisa.

Para que a situação fique sob controle, ela defende que 100% da população acima de 18 anos deva estar vacinada e o número de casos ativos seja zerado. Isso dependerá do envio de doses pelo Ministério da Saúde e da consciência da população. Ela faz um alerta para que os baianos não festejem no São João.

“Não teremos São João e, quem está pensando diferente, ficará convivendo com a dor e o sofrimento de ficar doente, está se convidando para ir para hospital, se infectar, ir para a Uti, e poderá conviver com a morte de quem ama e dele próprio, além de arrastar essa situação complicada da pandemia, que ninguém aguenta mais. Cada passo para a desobediência significa colocar esse 

Flexibilização aumentou incidência, diz médico

Para o imunologista e professor da Rede UniFTC Celso Sant’Ana, o principal motivo que levou à nova ascendência de casos de covid-19 foi a flexibilização. “Seguramente, existe uma combinação de fatores, mas o relaxamento de algumas medidas restritivas, assim como os eventos que fizeram ter aglomeração, que fazem esses casos subirem”, avalia.

Sant’Ana diz que não estava na hora de flexibilizar. “Quando caíram as mortes diárias de 4 mil para 2 mil, 1 mil e pouca [no Brasil], tivemos a falsa sensação que a pandemia estava diminuindo a intensidade, mas ainda não era a hora de flexibilizar, porque o patamar ainda é muito alto. E é uma combinação trágica, de poucas vacinas, de muitas variantes, agora com essa da Índia, que chegou no Maranhão e no Ceará, aqui do lado”, esclarece.

O imunologista explica que, mesmo vacinada, uma pessoa pode transmitir a doença - e esse é o problema. “Os estudos disponíveis demonstram que, com a primeira dose da Pzifer e da Astrazeneca, se reduz em até 50% a transmissão. Ou seja, se 100 pessoas tomaram a primeira dose da vacina, 50 continuam transmitindo. Em relação à eficácia para hospitalizações, óbitos e internações, essa proteção ultrapassa 80%, então elas são extremamente eficientes, mas, quanto à capacidade de não permitir que se transmita a doença, é só a metade, no máximo. Então mesmo vacinado, você não pode baixar a guarda” alerta.

Celso diz que ainda não há dados concretos sobre a taxa de transmissibilidade após a segunda dose. Em relação à Coronavac, os estudos ainda são parciais, mas apontam que a taxa não é maior que 50%, como a Pzifer e Astrazeneca. Além disso, ele ressalta que a imunidade total só se dá após 15 dias da aplicação da segunda injeção.

Cidades no interior têm 100% de ocupação de UTI

Algumas cidades do interior da Bahia estão com ocupação de leitos de UTI em 100%. Em Barreiras, no Extremo Oeste baiano, isso acontece desde o dia 28 de abril. Deste dia até ontem (20), só houve um dia - o dia 18 de maio, quando a taxa desceu para 94% - que o índice esteve abaixo de 100% na ocupação. Segundo a prefeitura do município, os casos e óbitos continuam aumentando e a situação é “extremamente preocupante”.

Com essa alta nos números, a prefeitura decretou a proibição do atendimento presencial do comércio e similares. A medida está em vigor do dia 13 até o dia 25, na próxima terça-feira. Somente serviços essenciais podem funcionar. O toque de recolher proíbe circulação de pessoas em vias públicas de 20h às 5h da manhã.

O sistema de saúde de Barreiras conta com uma Unidade de Pronto Atendimento (Upa) específica para o novo coronavírus, com 43 leitos clínicos e 10 leitos de Uti contratados com o Hospital Central. Além disso, existem mais 40 leitos de UTI no Hospital do Oeste, referência da região. A cidade tem 14.504 casos confirmados do novo coronavírus, sendo 13.364 pessoas recuperadas, 871 em isolamento domiciliar, 40 internados e 228 óbitos. Outros 113 aguardam resultado do teste de covid-19.

Em Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, a ocupação também está em 100%, tanto na rede pública, quanto na rede privada. São, ao todo, 61 baianos internados. Dessas, 25 estão distribuídas na rede municipal, entre o Hospital de Campanha, o Hospital Municipal, na Unidade Municipal Materno Infantil e na Upa específica para covid-19. Na rede privada, são 22 pessoas internadas, 15 em enfermaria e sete em UTI.

Segundo a assessoria da prefeitura do município, as taxas de ocupação não ficaram abaixo de 67% desde o início do ano. Elas variam entre 80%, 97%, 100% e 67%. Para conter a disseminação do vírus, a gestão municipal tem permitido o comércio funcionar até 21h, com fiscalização intensa, e proibição de esportes coletivos. No total, são 14.652 casos confirmados, sendo 14.354 pessoas recuperadas, 78 casos ativos e 220 óbitos, segundo último boletim epidemiológico.

Em Campo Formoso, no Centro Norte, a ocupação de leitos de uti estava em 100% dois dias seguidos (18 e 19 de maio). Nesta quarta-feira (20), caiu para 71%. A cidade tem 4.736 casos confirmados, 214 pessoas aguardam resultado e 492 estão em monitoramento. Outros 278 casos encontram-se ativos e 52 pessoas morreram.

Em Irecê, também na mesma região, a ocupação do Hospital Regional, que tem 10 leitos de UTI para covid-19, está em 100%. Trinta e seis pessoas encontram-se internadas, segundo a assessoria da prefeitura. Além dessa estrutura, a cidade também tem uma Upa específica para tratar o novo coronavírus, com 21 leitos – 18 clínicos e três com ventilação mecânica, todos ocupados.

Nesta semana, Irecê atingiu o número de 100 mortes. Hoje, são 108 óbitos, além de 188 casos ativos. Dentre as medidas restritivas da região, está o toque de recolher entre 20h e 5h da manhã, e a proibição de venda de bebidas alcóolicas aos finais de semana, até a próxima segunda-feira (24).

Ocupação de leitos de UTI por região da Bahia (fonte: SEI e Sesab)
Centro-leste: 90%
Centro-norte: 77%
Extremo Sul: 95%
Leste: 85%
Nordeste: 100%
Norte: 80%
Oeste: 86%
Sudoeste: 88%
Sul: 78%
Total da Bahia: 85%

Número de casos ativos em abril e maio (fonte: Sesab)
1/04: 16.158
2/04: 15.939
3/04: 15.069
4/04: 14.287
5/04: 14.206
6/04: 13.860
7/04: 13.941
8/04: 13.937
9/04: 14.464
10/04: 14.170
11/04: 15.118
12/04: 14.594
13/04: 15.230
14/04: 15.691
15/04: 16.139
16/04: 15.627
17/04: 16.371
18/04: 16.425
19/04: 15.576
20/04: 15.760
21/04: 16.027
22/04: 15.504
23/04: 15.726
24/04: 15.571
25/04: 15.534
26/04: 15.152
27/04: 15.627
28/04: 15.483
29/04: 15.915
30/04: 15.724
01/05: 16.253
02/05: 15.803
03/05: 16.253
04/05: 15.809
05/05: 15.824
06/05: 16.073
07/05: 16.822
08/05: 16.551
09/05: 16.094
10/05: 15.091
11/05: 15.430
12/05: 16.254
13/05: 16.890
14/05: 17.622
15/05: 17.707
17/05: 16.239
18/05: 16.404
19/05: 17.637
20/05: 18.558

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    O documento da SDE, ainda segundo a Folha, diz que a BYD havia apontado interesse no complexo industrial de Camaçari, mas outros interessados também poderiam "manifestar interesse em relação ao imóvel indicado e/ou apresentar impedimentos legais à sua disponibilização, no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir desta publicação".

    A montadora chinesa anunciou em julho passado, em cerimônia com o governador Jerônimo Rodrigues no Farol da Barra, um investimento de R$ 3 bilhões para construir no antigo complexo da Ford três plantas com capacidade de produção de até 300 mil carros por ano.

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    Procurada pelo CORREIO, a BYD afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto, e que o cronograma anunciado está mantido.

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  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

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