CoronaVac: pelo menos 9 cidades baianas estão sem vacina para crianças menores de 5 anos

CoronaVac: pelo menos 9 cidades baianas estão sem vacina para crianças menores de 5 anos

Pelo menos nove cidades da Bahia estão sem estoque da CoronaVac para imunizar crianças menores de 5 anos contra a covid-19. Por conta da escassez, os pequenos têm ficado com a segunda dose atrasada, e outros não conseguem ter acesso à primeira. O presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES), Marcos Sampaio, contou que o governo federal tem demorado para enviar novos lotes da vacina para o estado, que é o responsável por fazer a distribuição para os municípios. De acordo com apuração feita pelo CORREIO, Porto Seguro, Guanambi, Iaçu, Itaberaba, Mairi, Candeias, Santo Antônio de Jesus, Maiquinique e Valença enfrentam a falta do imunizante.

Em Porto Seguro, no extremo sul da Bahia, a prefeitura informou que a vacina da CoronaVac é a única que eles não possuem. O estoque está zerado desde o dia 30 de setembro. “Já foram feitos reiterados pedidos à Sesab [Secretaria da Saúde do Estado da Bahia] e ainda não fomos atendidos, sob a alegação de desabastecimento de todo o país pelo Ministério da Saúde [MS]”, informou a gestão por meio de nota.

Por conta do estoque zerado, a assistente social Loren Rodrigues Dias, de 36 anos, afirmou que a sua filha já está com a segunda dose da vacina atrasada há cerca de dois meses. A criança, que tem 4 anos, é autista e não consegue usar a máscara de proteção contra a covid-19. Por isso, a mãe segue indo ao posto de saúde todas as semanas para procurar o imunizante, mas escuta a mesma resposta: “está em falta”.

A filha de Loren, Liz, não tomou a primeira dose da CoronaVac em Porto Seguro. Ela foi imunizada em Arapiraca, em Alagoas, quando estava de férias na casa dos avós, em agosto. A segunda dose deveria ter sido tomada em 12 de setembro. “A gente está vendo o número de casos aumentando, amigos e colegas de trabalho, que a gente tem contato, estão positivando para a doença. Isso me preocupa muito, porque ela não completou o ciclo vacinal”, contou a assistente social, que ainda disse que já tem evitado sair de casa para que a criança não seja contaminada com a doença.

Segundo a prefeitura de Guanambi, no sudoeste da Bahia, a cidade também não tem mais estoque de nenhuma das vacinas contra a covid. “A Sesab vem mandando poucas doses. No momento não temos nenhuma vacina, seja de CoronaVac ou outras, quando chega e distribuímos para os postos, logo acaba”, destacou, por meio de nota.

No baixo sul do estado, a cidade de Valença também tem operado com poucas doses da CoronaVac. Os últimos frascos do imunizante acabaram na terça-feira (29). De acordo com a prefeitura, estava previsto para chegar uma nova remessa da vacina ainda na quarta-feira (30), mas até as 19h ainda não tinha chegado.

Na região da Chapada Diamantina, Itaberaba não recebe nova remessa da CoronaVac há mais de um mês. A última vez aconteceu em 19 de outubro. No recôncavo da Bahia, Santo Antônio de Jesus passa pela mesma dificuldade, com a cidade tendo o estoque zerado há alguns dias.

Em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), o secretário de Saúde Marcelo Cerqueira contou que o município está sem doses da CoronaVac desde o início do mês de novembro. “Não temos nenhuma dose, e a procura maior tem sido das mães para completar o esquema de duas doses na faixa etária de 3 a 4 anos e 5 a 11 anos”, pontuou o titular da pasta.

A cidade de Feira de Santana, a 100km da capital, ficou sem estoque por um tempo, que não foi especificado pela prefeitura, mas conseguiu receber um novo lote na última segunda (28). A vacinação para crianças de 3 a 4 anos com a CoronaVac, para aplicação como primeira e segunda dose neste público, foi retomada na terça. Quem correu para a unidade de saúde nas primeiras horas da manhã do dia para conseguir o imunizante para a filha de 3 anos foi a professora Meline Nery, 33. Ela só saiu de lá depois que a menina foi imunizada.

A criança, que fez aniversário em agosto e ficou apta para receber a primeira dose da vacina, ainda não tinha recebido a proteção devido à falta de imunizantes no município. “Deixei de trabalhar para fazer isso. Fui correndo bem cedinho para garantir a vacina dela. Minha filha já está acostumada a usar máscara desde sempre, usa certo, melhor que muito adulto, só que a vacina é uma proteção muito mais importante. Eu estava angustiada, porque ela já poderia tomar a dose, mas não tinha disponível”, contou a professora.

Mairi, cidade do norte da Bahia, teve o estoque da CoronaVac zerado na terça. A prefeitura ressaltou que as doses acabaram por conta das campanhas de vacinação que o município realizou, mas que a gestão iria receber uma nova remessa na quarta-feira (30). Maiquinique está sem doses desde o dia 24, Guanambi não tem a vacina há três semanas. As outras prefeituras não informaram há quanto tempo estão sem o imunizante.

Pedido
A Sesab informou que estava com um pedido de 100 mil doses da CoronaVac para o Ministério da Saúde há mais de um mês, porque sabia que estava em falta em alguns estados. “Eles prometeram entregar, depois de meses, no dia 22. De fato mandaram e as doses foram distribuídas”, destacou. A orientação da pasta é que os municípios que necessitam das doses levem o pedido à Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep).

O Ministério da Saúde foi procurado para explicar o motivo da escassez de lotes da CoronaVac, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Em Salvador, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que tem doses da vacina da CoronaVac e que cerca de 57 mil crianças entre 3 anos e 11 anos ainda não foram levadas aos postos de imunização. A vacinação de bebês, aqueles que têm entre seis meses e dois anos, está em fase de cadastro, mas apenas para aqueles que têm comorbidade.

A médica pediatra e professora da Faculdade de Medicina da AGES, Mirla Amorim, explicou que a vacinação é importante, porque as novas cepas do coronavírus estão infectando mais as crianças. Ela afirmou que a imunização de toda a família ajuda a proteger os pequenos e orienta os pais a ficarem atentos aos sinais quando as crianças estiverem doentes.

“As pesquisas mostram que essa é a faixa etária mais acometida, e que, quando vacinadas, as crianças têm sintomas leves, por isso, é importante a imunização. Apesar de faltar vacina, o que mais vejo no consultório é a resistência dos pais por preconceito ou por influência de informações falsas”, afirmou.

Ela frisou que além do coronavírus, o vírus influenza também está se disseminando nesse momento no país e pediu que os pais redobrem a atenção. “É preciso ficar atento aos sinais. Em casos de falta de ar, desidratação e sonolência excessiva, a criança deve ser levada imediatamente a uma unidade de saúde. É preciso aumentar a ingestão de líquidos, fazer uso de soro, mas sobretudo vacinar as crianças contra as doenças”, disse.

Municípios estavam sem estoque há cerca de 10 dias
Além dos municípios que estão com o estoque da CoronaVac zerado, cerca de 13 cidades já ficaram sem as doses do imunizante, mas receberam uma nova remessa nos últimos dias. Algumas prefeituras destacam, no entanto, que a quantidade recebida não é suficiente para vacinar o público-alvo.

A Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana recebeu 2.570 doses da vacina CoronaVac na segunda-feira (28) e retomou a vacinação para crianças de 3 a 4 anos. O município estava com o armazenamento zerado e aguardava o abastecimento por parte do Ministério da Saúde. A prefeitura ressaltou, no entanto, que o quantitativo recebido é insuficiente para atender todo o público e a vacinação vai ocorrer até durar o estoque.

Vitória da Conquista recebeu na terça (29). “A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informa que o estoque de vacinas da Coronavac estava zerado até ontem [segunda], quando chegaram 1.500 doses para retomar a vacinação de crianças de 3 e 4 anos e a 2ª dose para adultos”, escreveu a pasta em nota.

Amargosa também estava sem doses da CoronaVac disponíveis, mas a prefeitura informou que recebeu um pequeno quantitativo na segunda. Ilhéus passa pela mesma situação e irá priorizar crianças que estão em maior atraso para completar o esquema vacinal. Irecê recebeu uma pequena quantidade de frascos do imunizante na terça, após ficar dois meses sem receber uma nova remessa.

A prefeitura de Canavieiras, que ficou de sete a 10 dias sem a vacina, afirmou que recebeu o quantitativo para imunizar em torno de 60 crianças de 3 a 4 anos (contabilizando o esquema primário de duas doses para cada). Já Eunápolis tem doses suficientes do imunizante somente para completar um esquema vacinal, mas, para iniciar outro, está utilizando Pfizer, Astrazeneca e Janssen.

Dias D'Ávila, Entre Rios,Itabuna, Teixeira de Freitas, Itambé e Madre de Deus também ficaram sem estoque, mas receberam vacinas nos últimos dias.

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  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

  • Começa vacinação contra dengue em Salvador

    A cidade de Salvador vai iniciar a vacinação contra a dengue nesta quinta-feira (15). O primeiro lote do imunizante, com 56.493 doses chegou na capital baiana nesta manhã.

    Essa primeira fase na capital baiana contemplará com o esquema primário os pré-adolescentes entre 10 e 11 anos; com o recebimento de novos lotes o público será ampliado gradativamente. Nessa faixa etária, a cidade conta 87.307 pessoas. Em dezembro do ano passado, o Brasil incorporou a vacina no SUS, tornando-se o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal.

    O pontapé inicial da vacinação será às 14h na sede da OAF – Organização de Auxílio Fraterno, que fica na Rua do Queimado, na Liberdade. Já a partir de amanhã, sexta-feira (16), a vacinação acontecerá em 30 unidades de saúde de referência, distribuídas pelos 12 distritos da cidade, das 08 às 16h.

    “Salvador está na contramão do Brasil que entrou em alerta para o aumento de casos de dengue, graças a uma série de ações para o enfrentamento das arboviroses que promovemos ao longo dos últimos meses na nossa cidade. Intensificamos as atividades de monitoramento e prevenção, bem como reforçamos a conscientização sobre prevenção junto à população. A inclusão da vacina da dengue é mais ferramenta de extrema importância no SUS para se evitar casos graves da doença, principalmente óbitos. Com o avanço da imunização, esperamos que a dengue seja classificada como mais uma doença imunoprevenível, mas o enfrentamento contra o mosquito Aedes deverá continuar sendo prioridade de cada cidadão”.

    Para receber a dose, deve ser apresentado documento de identificação com foto, cartão SUS de Salvador e caderneta de vacinação. Vale destacar que a aplicação será feita somente na presença dos pais ou responsável legal, garantindo um acompanhamento adequado e a segurança das crianças e adolescentes. Para a vacinação nas escolas, as crianças deverão portar documento de autorização dos pais e ou responsáveis.



  • OMS: surto de dengue no Brasil faz parte de aumento em escala global

    Em visita ao Brasil, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse nesta quarta-feira (7) que o surto de dengue registrado no país faz parte de um grande aumento de casos da doença em escala global. Segundo ele, foram relatados, ao longo de 2023, 500 milhões de casos e mais de 5 mil mortes em cerca de 80 países de todas as regiões, exceto a Europa.

    Durante a cerimônia de lançamento do programa Brasil Saudável, Tedros lembrou que o fenômeno El Niño, associado ao aumento das temperaturas globais, vem contribuindo para o aumento de casos de dengue no Brasil e no mundo. O diretor-geral da OMS comentou ainda a vacinação contra a doença e disse que o país tem uma capacidade gigantesca de produção de insumos desse tipo.

    “O Brasil está fazendo seu melhor. Os esforços são em interromper a transmissão e em melhorar o controle da doença”, disse. “Temos a vacina e isso pode ser usado como uma das ferramentas de combate”, completou.

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