Diagnóstico de câncer infantil mais que dobra em cinco anos na Bahia

Diagnóstico de câncer infantil mais que dobra em cinco anos na Bahia

Com apenas quatro anos, o pequeno Braian de Oliveira já passou por mais de 40 sessões de quimioterapia e 14 de radioterapia. Em 2021 ele recebeu o diagnóstico de Tumor de Wilms, tipo de câncer renal, fez cirurgia de remoção de um rim e continua em tratamento. A história de Braian faz parte dos 682 casos de câncer infantil identificados no ano retrasado, conforme dados do DataSus para a Bahia. Em 2017, há cinco anos, o número era de 295 casos, menos que a metade de 2021.

Em 2022, foram 387 diagnósticos de câncer na faixa etária de 0 a 19 anos. O valor representa 56,7% de todos os casos registrados no ano anterior. Se compararmos toda a série histórica, que tem dados até 2013 (317 casos), o crescimento de casos de câncer entre crianças e jovens duplica, comparado a 2021. Os dados do DataSUS são a soma de registros do Sistema de Informação Ambulatorial do Sistema Único de Saúde (SUS).

Em paralelo, dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) revelam que o número de internações por câncer foi de 1.686 na faixa etária de 0-19 anos no primeiro semestre de 2022, o levantamento contou 108 óbitos. Nos 12 meses de 2021 o número de internações foi de 3.406, já o de óbitos, 174. Contando todas faixas etárias, 2022 registrou 20.728 internações e 9.693 mortes por câncer, ante 33.473 e 13.605, respectivamente, no último ano.

Mãe de Braian e professora, Neury de Oliveira, 37, relembra que demorou três meses desde os sintomas iniciais até o diagnóstico de câncer. “Os dentinhos dele começaram a ficar enferrujados, escuros. A dentista disse que era porque ele engolia o creme dental. Passou um tempo e ele começou a dar febre, eu levava ao médico e ele falava que era garganta inflamada. Só que a barriga dele começou a estufar. Fui até Irecê [cidade próxima a onde Neury vive]. Lá o médico descobriu que o rim dele estava todo afetado e já tinha passado para o fígado”, narra.

Com mais exames, a família descobriu que o pulmão também estava comprometido. Contudo, após série de tratamento intensivo, o quadro de Braian reduziu a ser de metástase no fígado e pulmão. A última quimioterapia será realizada na terça-feira (17) e a esperança de Neury é finalizar o tratamento e receber a constatação de cura.

“Ele sentia muito cansaço, não podia andar e emagreceu um pouquinho. [Hoje] ele está ótimo. Eu acredito em Deus que meu filho está curado”, anseia.

Diagnóstico precoce
A Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica alerta que o índice de cura pode chegar a 70% dos casos se houver diagnóstico precoce. Para isso, a preconização é que os pais ouçam as reclamações da criança e levem ao pediatra. O tratamento varia de acordo com o estágio da doença e área afetada.

Oncologista pediátrica, a médica Nubia Mendonça classifica que os principais tipos de câncer que acometem crianças são a leucemia, tumores do sistema nervoso central e tumores abdominais. Os sintomas variam conforme o tipo de câncer, no caso da leucemia, por exemplo, é comum anemia, sangramentos na pele ou nas mucosas, como nariz, boca, além de febre. Para tumores no sistema nervoso central o equilíbrio da criança é afetado, assim como há náuseas, vômito matinal e estrabismo.

“Cada tipo de tumor tem seus sintomas próprios, é importante que os pais valorizem a queixa da criança e levem sempre ao pediatra”, ressalta.

Quanto à causa, ela explica que há condições genéticas que predispõem o desenvolvimento de tumor, porém, na maioria dos casos a degeneração aparece espontaneamente, sem ligação a hábitos ou comportamento. Para a médica, os dados do DataSUS parecem ser maiores do que a realidade.

De todo modo, a doença pode aparecer para qualquer pessoa e é preciso ficar atento. Gabriely Ferreira, 10, era saudável e vivia uma vida comum até receber diagnóstico, em 2020, de câncer que atingiu o sistema nervoso central. Há dois anos em tratamento em Salvador, ela e a mãe, Sidelcina Ferreira, 42, se “mudaram” de São Desidério para a capital para continuar o tratamento no Hospital Aristides Maltez (HAM).

Quando perguntada como estava se sentindo, a pequena respondeu: “Tá mais ou menos. Eu só queria ser curada. Sinto falta da minha família, do meu pai. Eu fico triste porque a doutora não me libera”. O câncer expandiu e atingiu a veia do olho direito de Gabi, ela perdeu a visão do olho esquerdo, mas, segundo Sidelcina, já está recuperando o sentido. Ainda não há previsão para finalizar o tratamento da pequena, mas o apoio da família - tendo Gabi mais três irmãos - e do Grupo de Apoio à Criança com Câncer Bahia (GACC-BA), que ajuda nos custos, dá força para mãe e filha.

A reportagem do CORREIO solicitou dados de diagnóstico para a Secretaria Municipal de Saúde de Feira de Santana, Prefeitura de Itabuna e Hospital Santa Izabel . As entidades não retornaram até o fechamento da matéria.

Instituições de apoio à crianças com câncer promovem campanha de doação em Salvador
O Grupo de Apoio à Criança com Câncer - Bahia (GACC-BA) e Núcleo de Apoio ao Combate do Câncer Infantil (Nacci) realizam, separadamente, ações de auxílio para crianças com câncer.

O GACC-BA é uma Associação Civil Sem Fins Lucrativos que atende cerca de 200 crianças/adolescentes de 0 a 19 anos por mês, além dos acompanhantes. Oferece gratuitamente aos pacientes e acompanhantes apoio financeiro no custeio de serviços de hospedagem, alimentação, transporte, medicamentos complementares, próteses e órteses, exames, além de assistências social, odontológica, fisioterapêutica, nutricional e psicológica. A instituição se mantém com doações que podem ser ofertadas pelo pix 71 3399-2020 ou O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Na mesma linha, o presidente do Núcleo, Clayton Costa, afirma que o atendimento é de 30 a 35 pacientes diários e 210 mensais. São mais de 300 refeições preparadas por dia, tendo café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde e janta, além de hospedagem e transporte para hospital.

O serviço é totalmente gratuito e válido para crianças e adolescentes com câncer na Bahia, mas a entidade tem passado por dificuldades financeiras. “Desde a pandemia as doações caíram. Às vezes atrasamos um pouco a luz, água”, conta o presidente. Doadores podem usar o PIX PresidêO endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. ou 005324790001-07.

A reportagem do CORREIO solicitou números completos de 2022, mas a Sesab informou não ter dados consolidados de janeiro até dezembro.

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  • Empresa brasileira vira concorrente da BYD pela antiga fábrica da Ford em Camaçari

    A BYD ganhou um concorrente pelo complexo da Ford nos minutos finais do prazo para a manifestação de interessados em comprar a antiga fábrica da montadora americana em Camaçari, fechada em janeiro de 2021 e que hoje pertence ao governo da Bahia. O empresário brasileiro Flávio Figueiredo Assis entrou na disputa para erguer ali a fábrica da Lecar e construir o futuro hatch elétrico da marca, que, diz, deve ter preço abaixo de R$ 100 mil.

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    O documento da SDE, ainda segundo a Folha, diz que a BYD havia apontado interesse no complexo industrial de Camaçari, mas outros interessados também poderiam "manifestar interesse em relação ao imóvel indicado e/ou apresentar impedimentos legais à sua disponibilização, no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir desta publicação".

    A montadora chinesa anunciou em julho passado, em cerimônia com o governador Jerônimo Rodrigues no Farol da Barra, um investimento de R$ 3 bilhões para construir no antigo complexo da Ford três plantas com capacidade de produção de até 300 mil carros por ano.

    A reportagem da Folha afirma que a BYD já está ciente da proposta e prepara uma resposta oficial a Lecar. E que pessoas ligadas à montadora chinesa acreditam que nada irá mudar nas negociações com o governo baiano porque Assis estaria atrás apenas de uma jogada de marketing. O empresário, por sua vez, disse ver uma oportunidade de bom negócio, pois os valores envolvidos são atraentes.

    Procurada pelo CORREIO, a BYD afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto, e que o cronograma anunciado está mantido.

    Em nota, a SDE apenas confirmou que a Lecar encaminhou e-mail ontem afirmando ter interesse na área da antiga Ford. A secretaria, diz a nota, orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso.

    Entre as perguntas não respondidas pela pasta na nota estão o prazo para a conclusão da definição sobre a área e o impacto que a concorrência entre BYD e Lecar traz para a implantação de uma nova fábrica de veículos no estado.

  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

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