Casos de zika crescem 3,7 vezes mais em Salvador entre 2019 e 2020

Casos de zika crescem 3,7 vezes mais em Salvador entre 2019 e 2020

Em meio à comoção gerada pelas mortes e casos do novo coronavírus, Salvador - e o restante da Bahia - precisam ainda se preocupar com o crescimento dos casos de zika, dengue e chikungunya. Na capital, os casos de zika aumentaram quase quatro vezes (exatos 3,7 vezes) entre o primeiro semestre de 2019 e o de 2020, de 166 para 627.

Na Bahia, segundo a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), de 29 de dezembro de 2019 até 13 de junho deste ano, foram notificados 2.730 casos prováveis de zika, um aumento de quase 100% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 1.411 doentes.

O aumento do registro de infecções da zika no estado levou a Vigilância Epidemiológica da Bahia a alertar a população para o fato de estarmos caminhando para uma epidemia da doença. “É um duplo desafio, pois além das arboviroses, temos que lidar com a covid-19", disse ao CORREIO Ariene Varjão, que integra o órgão.

Casos prováveis é o termo técnico utilizado pela Vigilância Epidemiológica para descrever os casos confirmados de arboviroses, seja laboratorialmente, após exames, ou por um vínculo epidemiológico na região afetada.

Salvador também viu um aumento no número de doentes por chikungunya entre 2019 e 2020 de 831 para 4.749, um aumento de 471%. Já a dengue, cresceu de 3.112 para 5.980 na cidade. “Ano passado, tivemos um aumento no número de casos de dengue. Esse ano, a chikungunya tem chamado a atenção. Precisamos manter os cuidados, utilizar repelentes e mosquiteiros, além de evitar que o mosquito se desenvolva”, acrescenta Ariene Varjão.

Nova linhagem
O risco de epidemia de arboviroses ocorre no mesmo momento em que pesquisadores baianos descobriram uma nova linhagem do vírus da zika em circulação no Brasil. Eles fizeram uma análise de dados biológicos das amostras de contaminados entre 2015 até 2019.

Até o ano de 2018, somente a linhagem asiática era observada no país, mas a partir das amostras de 2019 foi percebida a linhagem africana.
Mesmo assim, ainda não é possível afirmar que o aumento dos casos do vírus zika na Bahia seja por causa da descoberta.

“Não sabemos dizer ao certo como essa linhagem se comporta e se o método de identificação aplicado no sistema de saúde consegue identificá-la”, disse Artur Lopo de Queiroz, pesquisador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz) e coordenador do estudo.

Essa nova linhagem já consegue preocupar a vigilância epidemiológica do estado. “As pessoas que tiveram contato com o sorotipo asiático ainda não desenvolveram, provavelmente, anticorpos para combater a doença de nova linhagem. Isso faz com que mais pessoas estejam suscetíveis ao vírus”, explica Ariene Varjão.
Para quem já se contaminou com o zika uma vez, e sabe bem as consequências da doença, todo cuidado é pouco nesse momento.

“Eu fui contaminada no final de 2015 e até 2019, pelo menos, senti fortes dores no punho e tornozelo. Depois disso, me tornei a louca do repelente. Também mantenho minha casa sem focos de reprodução do mosquito. Fico mais tranquila por não estar indo ao trabalho, pois foi lá o meu provável local de contaminação”, contou à reportagem a técnica administrativa Karla Sampaio, 33 anos.

Ações de combate
Por conta da pandemia, os agentes de combate a endemias não podem entrar nas casas das pessoas para realizar o combate aos focos de reprodução do Aedes aegypti, que transmite os vírus da dengue, zika e chikungunya. Esse, inclusive, se torna um desafio nesse momento, já que os órgãos públicos precisam contar com a ajuda das pessoas contra o mosquito.

Os 1,5 mil agentes de endemias de Salvador continuam circulando pela cidade e orientando às pessoas como elas devem proceder, da porta mesmo, sem entrar.

“Também acionamos a Limpurb para fazer mutirões. Nesse período de chuva, o lixo pode armazenar água e ser um foco de reprodução do mosquito”, diz Isolina Miguez, chefe das ações de combate ao Aedes aegypti da Prefeitura de Salvador.

“Esse é o momento crucial no fortalecimento das ações de comunicação com a população. Fazemos isso através das redes sociais e em parceria com a Defesa Civil estadual, que envia alertas para a população com o número de casos da região e o que fazer para lidar com a doença”, acrescenta Ariene Varjão.

Para receber os alertas, envie sms para 40199, com o CEP do seu endereço.

Aumento de 96%
Na Bahia, 132 municípios tiveram notificação para o vírus zika, sendo que 19 apresentaram incidência maior do que 100 casos por 100 mil habitantes, o que indica que o estado caminha para a situação de epidemia. Até o momento, não foram notificados óbitos para a doença, mas ocorreram duas mortes por chikungunya, ambas registradas em Salvador; e três por dengue, duas em Vitória da Conquista e uma em Teixeira de Freitas.

O aumento de casos de chikungunya é de 480%, se comparado ao ano passado. Entre 29 de dezembro de 2019 até 13 de junho de 2020, 3.404 casos prováveis foram registrados. No mesmo período de 2020, o número saltou para 19.748.

No caso da dengue, o aumento percentual é o menor, quase 40%, mas é expressivo pelo número absoluto de casos prováveis: antes eram 43.469 e agora são 60.516.

“Com mais pessoas evitando ir até as unidades de saúde, por causa do coronavírus, é provável que os números sejam maiores ainda, infelizmente”, diz Ariene Varjão, da Vigilância Epidemiológica do Estado.

Ela explica o fator que é levado em conta para que uma doença seja considerada uma epidemia: “Dos 417 municípios da Bahia, pelo menos 395 possuem casos registrados de dengue e 264 de chikungunya. Observamos que a doença se intensificou a partir da sétima semana epidemiológica e se estende até então. Por não ter um local e tempo de duração determinado, não é considerado surto e sim epidemia”, acrescenta.

Notificações de arboviroses em Salvador entre 04 de janeiro e 20 de junho:

2019:
Dengue: 3112
Chikungunya: 831
Zika vírus: 166

2020:
Dengue: 5980
Chikungunya: 4749
Zika vírus: 627

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