Em Salvador, 10 mil alunos deixam escolas particulares e migram para públicas

Em Salvador, 10 mil alunos deixam escolas particulares e migram para públicas

A pandemia aumentou a demanda pela rede municipal de ensino. Em 2021, o sistema recebeu 10 mil novos estudantes vindos da rede privada e o programa Pé na Escola saltou de 5 mil para 12 mil vagas em menos de um ano. O secretário municipal de Educação Marcelo Oliveira falou sobre o cenário atual das 432 escolas de Salvador. Apenas 30% dos 162 mil alunos estão frequentando as aulas presenciais. O gestor teme que haja dificuldade no aprendizado e diz que vai apostar em tecnologia para reduzir a defasagem. Ele responsabiliza também os professores pelo não retorno dos alunos e conta que haverá um cadastro antes da matrícula. Confira a entrevista:

A Secretaria definiu quando vai começar a matrícula?
No ano que vem. Mas, antes, será preciso fazer um cadastro. Em 2021 houve uma forte migração de alunos de escolas privadas para a rede municipal, principalmente nos anos iniciais e no ensino infantil. Com a interrupção das aulas muitos pais não viram razão para manter as crianças na escola, pagando a mensalidade com elas em casa. Muitas escolas fecharam as portas. Em 2020, o setor que mais desempregou em Salvador foi o da educação. Os pais retiraram os filhos das escolas particulares e matricularam na rede municipal.

Qual foi o impacto disso na rede municipal?
No ano de 2021 tivemos um acréscimo de 10 mil alunos. Tivemos que arranjar sala de aula, professor, enfim, todo o aparato para receber esses estudantes. Nossa preocupação é com o que vai acontecer em 2022. Vai continuar nessa intensidade? Ou os pais vão voltar para as escolas privadas que sobreviveram a esse período da pandemia? Por isso vamos fazer esse cadastro. A gente sabe que com a queda nas atividades econômicas muitas pessoas tiveram redução de renda e a inflação está aumentando. Tivemos que recorrer ao tesouro municipal para distribuir cestas básicas para os alunos.

Antes do acréscimo de alunos novos já havia déficit na educação infantil. Como está a situação agora?
Ele aumentou. A gente tem recorrido às escolas de bairro, nas quais compramos vagas, através do programa Pé na Escola. São 12 mil alunos. Eram 5 mil no ano passado. Ampliamos o programa justamente por conta dessa migração que houve da escola privada para a rede municipal. Ao mesmo tempo temos um programa de construção de novas unidades escolares, com investimento de R$ 300 milhões. São mais de 150 escolas que vão passar por algum tipo de intervenção, como construção, reconstrução, reforma ou ampliação, exatamente para fazer frente a essa demanda por vagas.

Como está o cenário das aulas presenciais?
Todas as escolas estão abertas e os professores estão em sala de aula, mas, lamentavelmente, as famílias não estão levando as crianças para a escola. Essa é uma situação muito preocupante. Tentamos voltar em maio, mas a adesão dos alunos foi de menos de 10%. A gente só conseguiu voltar de fato em agosto, quando os professores já tinham tomado a segunda dose da vacina e passado o período de imunização. Mesmo assim, cerca de 70% dos alunos ainda não retornaram.

Por que os pais estão resistindo em levar os filhos para a escola?
Esse afastamento tem origem no tempo excessivamente longo longe da sala de aula por conta da pandemia, mas também por conta da posição obstinada da representação sindical dos professores que insistia em não voltar às aulas enquanto não estivessem completamente vacinados. Isso prejudicou muito o retorno. Eles chegaram a fazer campanha, aterrorizando os pais dizendo que se as crianças fossem para a escola iriam morrer, levar o vírus para casa e matar todo mundo, o que carece de verdade, é uma falácia. Todos os estudos mostram que o retorno às aulas em outras cidades e países não causou nenhum impacto sobre a curva de transmissão da covid-19. Isso prejudicou muito.

A Prefeitura tem procurado os pais dos estudantes para conversar?
Nossas equipes estão indo nas casas das famílias, nas associações de bairro, nas igrejas, fazendo reuniões nas escolas e elaborando comunicados buscando sensibilizar as famílias. Mas muitas delas dizem que vão deixar para voltar no próximo ano. Depois de 18 meses sem aula ainda estão esperando perder mais dois ou três meses.

Qual o impacto da decisão dos pais de não levar as crianças para a escola?
Não sei se as pessoas têm noção da gravidade disso. Nenhuma atividade econômica, social ou de lazer ficou tanto tempo interrompida quanto a escola. Nenhuma. Imagine uma criança que entrou no 1º ano em 2020, com 6 anos. Ela tem que se alfabetizar, e não há maneira de fazer isso remotamente. O resultado é que ela não foi alfabetizada, mas como a aprovação é automática ela vai entrar, em 2021, no 2º ano. E ela também não teve aula, porque a escola estava aberta, mas a família não levou. Ela vai ser automaticamente promovida para o 3º ano, em 2022, sem saber ler nem escrever, sem ter conhecimento nenhum. Essa criança vai ter problemas sérios de desenvolvimento escolar.

Quando o ano letivo de 2021 será concluído?
Em 29 de dezembro de 2021, seguindo o currículo especial que estabelecemos para esse ano com os conteúdos de 2020 e 2021. Todas as redes estão fazendo da mesma forma, mas o conhecimento adquirido por essas crianças no período remoto vai causar um enorme desafio para os profissionais em 2022. Temos plena consciência dessa situação.

O que a Secretaria da Educação vai fazer para resolver esse problema?
Estamos fazendo a aquisição de equipamentos de informática. Vamos distribuir um tablet com acesso à internet, com pacote de dados, para cada aluno do ensino fundamental, e a gente também está contratando um portal pedagógico que vai acompanhar o desempenho dos estudantes. Estamos fazendo avaliações desses alunos com institutos profissionais para identificar onde temos as lacunas mais graves de conhecimento e nortear o plano de ação para 2022, e vamos investir em capacitação. Temos um planejamento estratégico muito bem elaborado, projetos arrojados e com foco na melhoria do aprendizado e na recuperação do ensino perdido.

Quando começa o ano letivo de 2022?
No início de fevereiro. Estamos ajustando a data por conta dos feriados, mas teremos os 200 dias letivos.

Como anda a relação com os professores?
O diálogo sempre foi muito aberto, mesmo quando a direção do sindicato tinha um discurso mais ríspido ou intransigente, a gente sempre manteve a conversa. Passada essa questão do retorno às aulas e da vacinação, esse assunto está superado. Agora, o que precisamos fazer é atualizar os professores com linguísticas, técnicas e métodos de ensino e a própria tecnologia que vamos usar a partir do início do próximo ano.

Existe perspectiva de realização de novo concurso para professores?
Temos um concurso em vigor. Chamamos todas as vagas e estamos com cadastro de reserva que será chamado à medida que as vagas forem surgindo, mas, hoje, estamos com apenas 30% dos alunos em sala de aula. Depois do cadastro, vamos poder dimensionar a quantidade necessária de professores e certamente vamos fazer novas convocações.

Quais mudanças dos últimos dois anos o senhor acredita que vão persistir?
A tecnologia é uma necessidade. Hoje em dia ninguém mais faz reuniões presenciais. E não é por conta de estar preocupado com a pandemia, porque os índices epidemiológicos estão sob controle e estamos vacinados. A questão é que a gente percebeu que a tecnologia torna o processo mais eficaz. Essa mudança veio para ficar e a Educação tem que acompanhar. Levei para o prefeito Bruno Reis uma série de investimentos vultosos, em tecnologia e profissionalização. O prefeito aprovou e alocou o recurso necessário, então, Salvador tem todas as ferramentas para enfrentar o desafio.

 

Fonte: Correio*

Itens relacionados (por tag)

  • Chuva: 41 municípios em situação de emergência, 380 desabrigados e 2.227 desalojados

    Com base em informações recebidas das prefeituras, a Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) atualizou, nesta quarta-feira (28), os números referentes à população atingida pelas enchentes que ocorrem em municípios baianos.

    Até a situação presente, são 380 desabrigados e 2.227 desalojados em decorrência dos efeitos diretos do desastre. Segundo a Sudec, foram contabilizados seis óbitos. Os números correspondem às ocorrências registradas em 76 municípios afetados. É importante destacar que, desse total, 41estão com decreto de Situação de Emergência.

    O Governo do Estado segue mobilizado para atender as demandas de emergência, a fim de socorrer a população atingida pelas fortes chuvas em diversas regiões da Bahia.

  • Empresa brasileira vira concorrente da BYD pela antiga fábrica da Ford em Camaçari

    A BYD ganhou um concorrente pelo complexo da Ford nos minutos finais do prazo para a manifestação de interessados em comprar a antiga fábrica da montadora americana em Camaçari, fechada em janeiro de 2021 e que hoje pertence ao governo da Bahia. O empresário brasileiro Flávio Figueiredo Assis entrou na disputa para erguer ali a fábrica da Lecar e construir o futuro hatch elétrico da marca, que, diz, deve ter preço abaixo de R$ 100 mil.

    Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Assis já tem um projeto de carro elétrico em fase de desenvolvimento, mas ainda procura um local para produzir o veículo. Em visita às antigas instalações da Ford para comprar equipamentos usados, como robôs e esteiras desativadas deixadas ali pela empresa americana, descobriu que o processo que envolve o futuro uso da área ainda estava aberto, já que o chamamento público feito pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE) só se encerraria nessa quarta (28).

    O documento da SDE, ainda segundo a Folha, diz que a BYD havia apontado interesse no complexo industrial de Camaçari, mas outros interessados também poderiam "manifestar interesse em relação ao imóvel indicado e/ou apresentar impedimentos legais à sua disponibilização, no prazo de 30 (trinta) dias, contado a partir desta publicação".

    A montadora chinesa anunciou em julho passado, em cerimônia com o governador Jerônimo Rodrigues no Farol da Barra, um investimento de R$ 3 bilhões para construir no antigo complexo da Ford três plantas com capacidade de produção de até 300 mil carros por ano.

    A reportagem da Folha afirma que a BYD já está ciente da proposta e prepara uma resposta oficial a Lecar. E que pessoas ligadas à montadora chinesa acreditam que nada irá mudar nas negociações com o governo baiano porque Assis estaria atrás apenas de uma jogada de marketing. O empresário, por sua vez, disse ver uma oportunidade de bom negócio, pois os valores envolvidos são atraentes.

    Procurada pelo CORREIO, a BYD afirmou que não vai se pronunciar sobre o assunto, e que o cronograma anunciado está mantido.

    Em nota, a SDE apenas confirmou que a Lecar encaminhou e-mail ontem afirmando ter interesse na área da antiga Ford. A secretaria, diz a nota, orientou a empresa sobre como proceder, de acordo com as regras do processo legal de concorrência pública em curso.

    Entre as perguntas não respondidas pela pasta na nota estão o prazo para a conclusão da definição sobre a área e o impacto que a concorrência entre BYD e Lecar traz para a implantação de uma nova fábrica de veículos no estado.

  • Bahia adere ao Dia D de mobilização nacional contra a Dengue

    Em um esforço para combater a crescente ameaça da Dengue, o estado da Bahia se junta ao Dia D de mobilização nacional, marcado para o próximo sábado (2). A informação é da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, que está em Brasília nesta quarta-feira (28) para uma reunião do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Esta iniciativa sublinha a necessidade de uma ação coletiva diária e destaca o papel vital que cada indivíduo desempenha na prevenção da doença. Com o apoio do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (Cosems-BA), da União dos Municípios da Bahia (UPB) e do Conselho Estadual de Saúde (CES), os municípios farão mutirões de limpeza, visitas aos imóveis nas áreas de maior incidência e distribuição de materiais informativos.

    A Bahia registra um aumento significativo de casos de Dengue, com 16.771 casos prováveis até 24 de fevereiro de 2024, quase o dobro em comparação ao mesmo período do ano anterior. Atualmente, 64 cidades estão em estado de epidemia, com a região Sudoeste sendo a mais afetada. Além disso, foram confirmados cinco óbitos decorrentes da doença nas localidades de Ibiassucê, Jacaraci, Piripá e Irecê.

    De acordo com a ministra da Saúde, Nísia Trindade, o cenário nacional é particularmente desafiador devido ao impacto das condições climáticas adversas e ao aumento exponencial dos casos de Dengue, incluindo a circulação de novos sorotipos (2 e 3), que exigem uma atenção mais integrada.

    Na avaliação da secretária da Saúde do Estado, Roberta Santana, o momento é de unir esforços para conter o aumento do número de casos e evitar mortes. "O Governo do Estado está aberto ao diálogo e pronto para apoiar todos os municípios, contudo, cada ente tem que fazer a sua parte. As prefeituras precisam intensificar as ações de atenção primária e limpeza urbana, a fim de eliminar os criadouros, e fortalecer a mobilização da sociedade, antes de recorrer ao fumacê. A dependência excessiva do fumacê, como último recurso, pode revelar uma gestão reativa em vez de proativa no combate à doença", afirma a secretária.

    A titular da pasta estadual da Saúde pontua ainda que o Governo do Estado fez a aquisição de novos veículos de fumacê e distribuirá 12 mil kits para os agentes de combate às endemias, além de apoiar os mutirões de limpeza urbana com o auxílio das forças de segurança e emergência. "Além disso, o Governo do Estado compartilhou com os municípios a possibilidade de adquirir bombas costais, medicamentos e insumos por meio de atas de registro de preço", ressalta Roberta Santana.

    Drones

    O combate à Dengue na Bahia ganhou mais uma aliada: a tecnologia. O Governo do Estado deu início ao uso de drones como nova estratégia para identificar em áreas de difícil acesso focos do mosquito Aedes aegypti, vetor de transmissão de Dengue, Zika e Chikungunya. As imagens capturadas pelos equipamentos são analisadas pelos agentes de endemias, que conseguem identificar locais com acúmulo de água parada e possíveis criadouros do mosquito, facilitando a ação das equipes e tornando o combate mais eficaz.

Deixe um comentário

Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.