Milhares de fiéis, peregrinos e demais admiradores foram ao Santuário Santa Dulce dos Pobres durante a manhã desta segunda-feira (13), para celebrar a memória da freira baiana, morta há 31 anos. A missa das 8h30, presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Salvador, Dom Marco Eugênio, lotou o templo ao ter reunido também profissionais, pacientes e voluntários das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), instituição fundada pelo Anjo Bom do Brasil.
Entre as pessoas ligadas à Osid, estava a superintende Maria Rita Lopes, que não conteve as lágrimas ao ter falado de sua tia Dulce. Segundo ela, a ocasião também serve para refletir sobre o legado de amor e serviço deixado pelo Anjo Bom do Brasil. “É sempre um momento de reflexão essa data e de manter tudo o que ela nos deixou com muito carinho e cuidado, fazendo o que mais desejava: atender, cada vez mais, o pobre, com todo o amor”, afirmou Maria Rita.
A história da instituição, que abriga um dos maiores complexos de saúde do país, com atendimento 100% gratuito, remonta a 1949, quando Dulce, sem ter para onde ir com 70 pessoas doentes, pediu autorização a sua superior para abrigá-los num galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, na região da Cidade Baixa.
Com atuação em áreas como saúde, assistência social e educação, a Osid atende, atualmente, cerca de 3 milhões de pessoas por ano. “Quando ela nos deixou, eram 600 colaboradores. Hoje, nós já temos quase 7 mil pessoas trabalhando em todo o estado. Não é fácil, ainda mais fazendo a opção pelo SUS [Sistema Único de Saúde]”, desabafou Maria Rita.
Presença constante
Durante a missa das 8h30, Dom Marco Eugênio enfatizou que, mesmo após sua morte, Irmã Dulce segue presente entre seus devotos. “[…] Ela nos deixou, mas continua nos amando, trabalhando, servindo e pedindo, agora, que nós sejamos os seus olhos para os miseráveis; e as suas mãos para os necessitados”, declarou.
E assim tem buscado fazer a aposentada Maria Alice Carvalho. Cearense radicada na Bahia, ela já dedicou 23 de seus 84 anos de vida ao trabalho como voluntária na Osid. “Eu não me canso de dizer que sou anjo de Irmã Dulce. Só deixo de ser no dia que eu partir”, disse Maria Alice. “Ela vem me buscar. Sabia?! Eu vou trabalhar com ela lá em cima”, confidenciou, com um sorriso no rosto, a aposentada.
A paixão pela primeira santa brasileira é tão grande que, além do coração, toma os cômodos da casa da voluntária. “Tudo meu é com Santa Dulce. Minha casa é cheia de retrato dela”, orgulha-se a idosa, que se diz grata pelas duas graças alcançadas por meio do Anjo Bom: o afastamento do álcool por seu esposo, há 10 anos, e a recuperação de um problema no pulmão por seu neto, à época com 4 anos de idade e, hoje, com 22.
A fé e a gratidão fazem com que ela supere problemas de saúde, como a mobilidade reduzida, para prestar o voluntariado e visitar o santuário. “Eu venho doente, me arrastando. Chego aqui, fico boa e feliz da vida”, garantiu Maria Alice, que chegou a ter contato com a freira baiana. “Eu sou uma pessoa feliz porque beijei a mão dela”, resumiu a cearense.
Igualmente voluntária, a aposentada Altanira Reis, 86, teve o privilégio de conviver com Dulce dos 8 aos 22 anos. “Eu vim estudar no Colégio Santo Antônio e ficava o dia todo aqui”, relembrou, enquanto falava na saída do santuário, na Avenida Dendezeiros. “Eu tenho, até hoje, a voz de Irmã Dulce na minha mente”, assegurou Altanira. “Era uma pessoa maravilhosa. Eu sempre digo: ‘Sou uma pessoa que nunca imaginava que ia conviver com uma santa'.”
Do lado de fora do santuário, fantasiada, uma mulher de 65 anos conhecida como Tia Douçourada chamava a atenção com um cartaz estendido em frente ao templo: "Irmã Dulce me livrou do suicídio", dizia. À reportagem ela contou que a religiosa entrou em sua vida há mais de 40 anos. "Minhas colegas e eu viemos fazer umas doações para Santa Dulce dos Pobres. [...] Ela me perguntou: 'Menina, qual o seu nome?'", recordou-se a mulher. "Aí, ela disse: 'Você vai longe. Deus te abençoe'."
Desde 2014, Tia Douçourada trabalha com prevenção ao suicídio. Em 2016, porém, foi ela quem passou por um momento de grande dificuldade, o que a levou a pensar em tirar sua própria vida. "No dia 1º de outubro de 2016, eu fui dormir e acordei com uma luz enorme. Era Santa Dulce, e ela disse-me: 'Você não pode fazer isso. Nós precisamos de você aqui", revelou a devota, visivelmente emocionada.
Canonização
Irmã Dulce morreu em 13 de março de 1992, aos 77 anos. A religiosa baiana foi canonizada em 13 de outubro de 2019, durante cerimônia presidida pelo Papa Francisco no Vaticano, tendo se tornado a primeira santa nascida no Brasil. O processo de canonização de Dulce foi o terceiro mais rápido da história: 27 anos após seu falecimento, atrás apenas do Papa João Paulo II (nove anos depois) e de Madre Teresa de Calcutá (19 anos após).
Programação
A programação, que teve início às 7h, conta com outras missas às 12h e às 16h. As homenagens incluem, ainda, o Terço pelo Caminho da Fé, uma procissão que ocorrerá após a celebração das 16h, com saída do santuário até a Colina Sagrada. Também depois da missa das 16h, assim como às 8h30, acontecerá a Novena Perpétua de Santa Dulce dos Pobres. As cerimônias são transmitidas ao vivo, pelas redes sociais do santuário: Instagram e Facebook (@SantuarioSantaDulce) e YouTube (@SantuarioSantaDulceDosPobres).
Doações
Como gesto concreto e em atenção ao tema da Campanha da Fraternidade de 2023, “Fraternidade e Fome”, o Santuário Santa Dulce dos Pobres convida todos os fiéis, visitantes e devotos do Anjo Bom a levar alimentos não perecíveis, que serão destinados às ações sociais da igreja.
Além disso, é possível ajudar as Obras Sociais fazendo doações financeiras por meio da chave Pix O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.. Quem tiver interesse também pode se cadastrar no programa Sócio-protetor, com doações mensais. Outras informações sobre como ajudar a Osid podem ser obtidas pelo telefone (71) 3316-8899, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h30; ou pelo site irmadulce.org.br/ajuda.