O Jornal da Cidade

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As primeiras doses da vacina russa Sputnik V devem chegar ao Brasil em julho. A informação foi dada à CNN pelo governador do Maranhão, Flávio Dino. Já de acordo com o secretário de saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, ainda não é possível afirmar uma data. No sábado (5), gestores-chefes do Executivo das regiões Norte e Nordeste se reuniram para definir os próximos passos após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar a importação, sob condições controladas, de 928 mil doses da Sputnik V. Também foi aprovada a importação, nas mesmas medidas, de 4 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, que ainda não têm previsão de chegada ao Brasil.

A aprovação da Anvisa, na última sexta-feira (4), faz com que a Sputnik V e a Covaxin se juntem à Coronavac, Astrazeneca/Oxford e Pfizer, todas já em uso no Brasil. Os dois novos imunizantes a entrarem na lista foram lançados antes mesmo da conclusão dos estudos, se tornando alvo de incertezas. Agora que chegam ao Brasil, serão aplicados com diversas restrições e exigências de acompanhamento. Entenda o porquê e o que se sabe sobre as duas vacinas:

Sputnik V
Com a decisão da Anvisa, o Brasil se tornou o 67º país do mundo a autorizar a Sputnik V. Mas a marca poderia ter sido alcançada bem mais cedo. É que, ainda em março deste ano, o governo da Bahia anunciou um contrato para a compra de 9,7 milhões de doses da Sputnik V, como parte de negociação do Consórcio Nordeste com o Fundo de Investimentos Diretos da Rússia, que fornecerá 37 milhões de doses ao Brasil. A primeira remessa, que tinha previsão de chegar em abril, seria de 2 milhões de doses. Sem autorização da Anvisa, contudo, não houve remessas.

Agora, a Anvisa autorizou a importação por seis estados, no quantitativo equivalente a 1% da população de cada um. O estado da Bahia foi autorizado a importar 300 mil doses; o Maranhão, 141 mil doses; Sergipe, 46 mil doses; o Ceará, 183 mil doses; Pernambuco, 192 mil doses, e o Piauí, 66 mil doses. A agência informou que “vai analisar os dados de monitoramento do uso da vacina para poder avaliar os próximos quantitativos a serem importados”.

O secretário Vilas-Boas, em entrevista no sábado (5) à TV Bahia, informou que ações já estão sendo feitas para agilizar a chegada das doses da Sputnik à Bahia. “Estamos analisando de que forma podemos agilizar todas as condicionantes [impostas pela Anvisa]. Já dividimos elas. Uma pequena parte deverá ser providenciada pelo fundo russo e outra parte caberá a nós secretários estaduais de saúde, mas tudo dentro do previsto e do que já imaginávamos que seriam nossas responsabilidades de fazer todo o processo de acompanhamento de farmacovigilância da introdução dessa vacina no país”, afirmou o secretário.

Vilas-Boas, contudo, explicou que ainda não é possível dizer quando a vacina chegará em solo baiano. “Depende agora de uma conversa com os russos. Temos que fazer um ajuste legal no nosso contrato. O contrato que temos prevê uma quantidade de 37 milhões [de doses para o Nordeste] e nós vamos ter que fazer um aditivo informando que será de 1% inicialmente e, posteriormente, com a autorização definitiva da Anvisa, a gente poderá executar o resto do contrato”, destacou.

A Sputnik V foi o primeiro imunizante registrado contra a covid-19 no mundo. A vacina foi lançada pela Rússia em agosto de 2020, com testes ainda em andamento. A principal preocupação em torno do imunizante diz respeito ao tipo de tecnologia utilizada: vetor viral não replicante.

Isso significa dizer que os cientistas utilizaram adenovírus para simular no organismo a presença de uma ameaça mais perigosa e que se deseja combater para gerar uma resposta imune. Eles foram modificados para não serem capazes de se replicar depois que entram nas células humanas.

Ao contrário de outros imunizantes que também usam adenovírus, como o da AstraZeneca/Oxford e o da Janssen, a Sputnik V é a única a usar dois vetores: o Ad26 e o Ad5, um em cada dose. Esse é justamente o trunfo da vacina russa, em comparação com as outras.

"A ideia de modificar dois adenovírus diferentes é para reduzir uma possível resposta imune contra o próprio vetor. Por isso, ela tem uma eficácia maior do que as outras vacinas com vetor viral. A eficácia dela no estudo publicado foi acima de 90, enquanto as outras ficam em torno de 70% a 75%", diz a infectologista e imunologista Fernanda Grassi, pesquisadora da Fiocruz e integrante da Rede Covida.

Usar um adenovírus geneticamente modificado para que não se repliquem é algo relativamente comum - acontece em vacinas como a do ebola, por exemplo. Esse tipo de imunizante costuma ser considerado seguro pela comunidade científica.

O problema, segundo a Anvisa, é que os adenovírus usados nessa vacina poderiam, sim, se replicar e isso pode fazer mal à saúde de quem for imunizado com ela. O fato está ainda em discussão e documentos estão sendo solicitados para análise e conclusão.

“A Sputnik está sendo usada em mais de 60 países e não temos ouvido falar de efeitos ou reações graves. As reações que estão sendo observadas são normais de algumas vacinas. Quem recebe vacina pode ter febre, dor no local da aplicação, moleza, sintomas já esperados”, acrescenta Fernanda.

Covaxin
Já a indiana Covaxin faz parte de um contrato do Ministério da Saúde com a Precisa Medicamentos/Bharat Biotec para compra de 20 milhões de doses. A previsão era da chegada de 8 milhões de doses ainda em março, mas a importação não foi autorizada. A decisão de sábado da agência regulatória brasileira permitiu, por enquanto, o uso de 4 milhões de unidades do imunizante.

A Anvisa ponderou o fato de não ter recebido relatórios da agência indiana, o curto prazo de acompanhamento dos participantes dos estudos e a inconclusão dos estudos da fase 3, etapa que atesta a eficácia da vacina.

A Covaxin usa versões inativadas do Sars-CoV-2. Essa é uma tecnologia tradicional e semelhante à utilizada pela Coronavac, do Instituto Butantan. “A partir do vírus inteiro, as substâncias químicas são inativadas e são adicionadas então substâncias que fazem aumentar a resposta imune”, explica a imunologista. A vacina, portanto, contém vírus mortos, incapazes de infectar pessoas, mas ainda capazes de instruir o sistema imunológico a montar uma reação defensiva contra uma infecção.

Vacinas com vírus inativados, como a Covaxin, têm tecnologia semelhante a de vacinas da gripe, poliomielite, entre outras. É uma plataforma bem estabelecida e considerada segura na produção de vacinas. “São as vacinas, digamos, mais fáceis de serem feitas. A vantagem é a facilidade e o fato de já conhecermos. Mas elas dão uma imunidade um pouco menor do que outras vacinas com outras tecnologias. Cada uma tem suas vantagens e desvantagens”, pontuou Fernanda.

Outra possível vantagem das vacinas com vírus inativados é o melhor funcionamento contra mutações. Parte dos imunizantes disponíveis hoje (como o da Pfizer e o da Astrazeneca) focam na proteína S, a spike, do agente infeccioso. Se esse trecho do vírus sofre mutações, é possível que as doses percam parte da eficácia, embora isso precise ser estudado. O produto da Barat Biotech, por outro lado, apresenta o vírus todo (inativado) ao sistema imune. Com isso, a chance de reconhecer o Sars-CoV-2 mesmo se ele sofrer alterações relevantes seria maior.

Aprovação com restrição
A Anvisa considera que ainda faltam informações sobre os dois imunizantes - motivo pelo qual o pedido inicial foi negado em março, no caso da indiana Covaxin, e em abril, para a russa Sputnik V. Entretanto, por votação de 4 a 1, a diretoria colegiada decidiu que o atual momento da pandemia no Brasil justificaria aprovar a importação "com condicionantes". Isso significa que a Anvisa não se responsabiliza pela eficácia e segurança, mas permite a importação e aplicação restrita, entregando a responsabilidade aos fabricantes e compradores.

Caso o uso emergencial, que está, separadamente, em análise, seja reprovado pelo órgão brasileiro ou pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os estados devem suspender a importação, distribuição e uso dos imunizantes imediatamente. A autorização do uso emergencial é dada pela Anvisa após a análise e constatação de eficácia e segurança de uma vacina.

Como ressaltou o gerente geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, nenhuma das duas vacinas deve ser usada por quem tem hipersensibilidade a qualquer dos componentes da fórmula, como grávidas, lactantes, menores de 18 anos, maiores de 60 anos, mulheres em idade fértil que desejam engravidar nos próximos 12 meses, pessoas que tenham enfermidades graves ou não controladas (cardiovascular, respiratória, gastrointestinal, neurológica, insuficiência hepática, insuficiência renal, patologias endócrinas) e antecedentes de anafilaxia.

Não poderão usá-las pessoas que tenham recebido outra vacina contra a covid-19, apresentem febre, tenham HIV e hepatite B ou C, tenham se vacinado nas quatro semanas anteriores, tenham recebido imunoglobulinas ou hemoderivados três meses antes, tenham recebido tratamentos com imunossupressores, citotóxicos, quimioterapia ou radiação nos últimos 36 meses e que tenham recebido terapias com biológicos incluindo anticorpos anticitocinas e outros anticorpos.

As 5 vacinas aprovadas no Brasil

*No Brasil, nenhuma vacina está sendo aplicada em pessoas com menos de 18 anos.

Sputnik V

Fabricante: Instituto Gamaleya de Pesquisa (Rússia).
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante.
Data de aprovação pela Anvisa: 4 de junho de 2021.
Tipo de aprovação: Importação de lotes com restrições
Quantidade de doses: Duas. A aplicação precisará ter atenção redobrada, pois o conteúdo da primeira e da segunda dose da Sputnik são diferentes.
Intervalo entre as doses: 21 dias (com possibilidade de ser ampliado para três meses)
Taxa de eficácia: 91%.
Efeitos colaterais: Comum - doença semelhante à gripe, dor de cabeça, fadiga, reações no local da injeção. Foi confirmado pelo Comitê Independente de Monitoramento de Dados que nenhum evento adverso sério relacionado à vacina foi observado.

Covaxin

Fabricante: Bharat BioTech (Índia).
Tipo de tecnologia: Vírus inativado.
Data de aprovação pela Anvisa: 4 de junho de 2021
Tipo de aprovação: Importação de lotes com restrições.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 4 semanas.
Taxa de eficácia: 78% (100% em casos graves)
Efeitos colaterais: Estudos publicados sobre as fases 1 e 2 não mostram efeitos colaterais graves.

Coronavac

Fabricantes: Sinovac (China) e Instituto Butantan (Brasil).
Tipo de tecnologia: Vírus inativado. O coronavírus é inativado por ação do calor ou de algum produto químico. Quando o corpo recebe a vacina, o vírus inativado faz com que o corpo gere anticorpos contra a covid-19. Isso porque as células de resposta imune “capturam” o vírus inativado e ativam a ação dos chamados linfócitos, células que são especializadas em combater microrganismos. São elas que produzem os anticorpos, que impedem que o vírus infeste outras células e fiquemos doentes.
Data de aprovação pela Anvisa: 17 de janeiro de 2021.
Tipo de aprovação: Emergencial.
Quantidade de doses necessárias: Duas.
Intervalo entre as doses:2 a 4 semanas.
Taxa de eficácia: 50% (Pode chegar a 62%)
Efeitos adversos: Muito comum - dor no local da aplicação, dor de cabeça, cansaço. Comum - cansaço, febre, dor no corpo, diarreia, náusea, dor de cabeça, enjoo, dor muscular, calafrios, tosse, perda de apetite, coceira, coriza. Incomum - vômitos, dor abdominal inferior, distensão abdominal, tonturas, tosse, perda de apetite, reação alérgica, pressão arterial elevada, hipersensibilidade alérgica ou imediata, inchaço, coceira, vermelhidão, diminuição da sensibilidade, endurecimento, hematoma, vertigem

Astrazeneca/Oxford

Fabricantes: AstraZeneca (Inglaterra/Suécia), Universidade de Oxford (Inglaterra) e Fundação Oswaldo Cruz (Brasil).
Tipo de tecnologia: Vetor viral não replicante. A vacina produzida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) usa um "vírus vivo", como um adenovírus que provoca um resfriado comum, modificado para conter instruções para a produção de uma proteína característica do coronavírus. No entanto, na proporção aplicada, ele não tem capacidade de se replicar e prejudicar a saúde humana. Quando rompe as células, esse adenovírus estimula a produção dessa proteína, que é detectada pelo sistema imune. A partir daí, o corpo cria uma resposta contra o coronavírus.
Data de aprovação pela Anvisa: 17 de janeiro de 2021. (Uso emergencial)
Tipo de aprovação: Definitiva. (12 de março de 2021)
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 12 semanas.
Taxa de eficácia (global possível): 81%.
Observação: No Brasil, não está sendo aplicada em gestantes.
Efeitos adversos: Muito comum - sensibilidade, dor, sensação de calor, coceira ou hematoma, indisposição, cansaço, calafrio, febre, dor de cabeça, enjoo, dor muscular ou nas articulações. Ocorrem em 1 em cada 10 pessoas. Comum - inchaço, vermelhidão ou um caroço no local da injeção, febre, enjoos, diarreia, sintomas semelhantes a resfriado, dor de garganta, coriza, tosse. Ocorrem em 1 em cada 10 pessoas. Incomum - sonolência, tontura, diminuição do apetite, dor abdominal, ínguas, suor, coceira ou erupção na pele. Ocorrem em 1 em cada 100 pessoas. Muito raro - coágulos sanguíneos graves em pessoas com níveis baixos de plaquetas. Foram observados com uma frequência inferior a 1 em 100.000 indivíduos vacinados. Desconhecido - reação alérgica grave, inchaços graves nos lábios, face, boca e garganta. Não pode ser calculada a partir dos dados disponíveis

Pfizer

Fabricantes: Pfizer (Estados Unidos) e BioNTech (Alemanha).
Tipo de tecnologia: mRNA. A vacina é criada a partir da replicação de sequências de RNA que mimetizam a proteína spike, específica do vírus Sars-CoV-2. Essa versão consegue desencadear uma reação do sistema imunológico, que cria uma defesa, sem causar danos à saúde.
Data de aprovação pela Anvisa: 23 de fevereiro de 2021.
Tipo de aprovação: Definitiva.
Quantidade de doses: Duas.
Intervalo entre as doses: 12 semanas.
Taxa de eficácia (global possível): 95%.
Efeitos adversos: Muito comuns - dor e inchaço no local da injeção, cansaço, dor de cabeça, diarréia, dor muscular, dor nas articulações, calafrios e febre. Ocorrem em 10% dos pacientes. Comuns - vermelhidão no local de injeção, náusea e vômito. Ocorre entre 1% a 10% dos pacientes. Incomuns - aumento dos gânglios linfáticos, reações de hipersensibilidade [lesão na pele ou coceira, inchaço da pele ou mucosa, sensação de mal estar, dor no braço, insônia e prurido no local de injeção. Ocorrem entre 0,1% e 1%.. Rara - paralisa facial aguda. Ocorrem entre 0,01% e 0,1%. Desconhecido - reação alérgica grave (anafilaxia).

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chegou nesta sexta-feira (4) a 50,9 milhões de doses de vacinas contra covid-19 entregues ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). A soma foi atingida com a liberação de mais 3,3 milhões de doses do imunizante Oxford/AstraZeneca.

O número total de entregas inclui 46,9 milhões de doses que foram produzidas no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e 4 milhões de vacinas importadas prontas do Instituto Serum, da Índia. No segundo caso, a Fiocruz também negociou o envio das doses e realizou a checagem e rotulagem em português dos frascos recebidos.

A fundação anunciou que, a partir da semana que vem, as doses voltarão a ser entregues em duas remessas: na sexta, o estado do Rio de Janeiro receberá sua parcela de doses, e, no sábado, sairá o carregamento para o almoxarifado central do Ministério da Saúde, em São Paulo, de onde as doses são distribuídas para os demais estados e o Distrito Federal. Segundo a Fiocruz, a mudança se deu por um pedido da Coordenação de Logística do Ministério da Saúde.

As doses produzidas em Bio-Manguinhos são fabricadas a partir de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) importado da China, como previu o acordo de encomenda tecnológica assinado com a AstraZeneca no ano passado. O último carregamento recebido pela Fiocruz, em 22 de maio, garante as entregas até o início de julho, quando o total produzido e liberado deve chegar a cerca de 62 milhões de doses.

Mais quatro carregamentos de IFA estão previstos para chegar entre junho e julho, garantindo a produção de 100,4 milhões de doses.

A Fiocruz também trabalha para produzir o IFA no Brasil, o que já está garantido com a assinatura do acordo de transferência de tecnologia assinado nesta semana com a AstraZeneca. Já chegaram ao país os primeiros bancos de células e de vírus que permitirão essa produção, e Bio-Manguinhos prevê iniciar neste mês a fabricação dos primeiros lotes de pré-validação e validação. A vacina produzida com IFA nacional, porém, só deve chegar aos postos de vacinação em outubro.

Depois de mais de 24h de negociações mediadas pelo Prefeito de Salvador, Bruno Reis, rodoviários e empresários fecharam acordo e a greve, prevista para esta segunda-feira (7), foi suspensa. O anúncio foi feito neste domingo (06) pela Prefeitura de Salvador.

A categoria, de acordo com a prefeitura, garantiu um reajuste de 7,59%, que começa a ser pago em junho e terá uma segunda parcela paga daqui a 120 dias. Essa era a principal reivindicação dos trabalhadores.

Procurado, o Sindicato dos Rodoviários, no entanto, afirmou por meio de nota que o resultado da negociação não foi o ideal e que o acerto foi definido com o intuito de evitar a greve. "A categoria entende que o desfecho não foi dos nossos sonhos, mas sim um acordo que contempla de maneira respeitosa aos rodoviários, tendo coerência nas tentativas de conciliação, procurando evitar ao máximo a greve que foi suspensa", escreveu.

O acordo também definiu que o pagamento das horas extras reinvindicado pelos rodoviários tivesse prazo reduzido de um ano para seis meses. Presidente do sindicato, Hélio Ferreira disse que o acerto é melhor que a maioria dos reajustes definidos em outros estados. "Uma proposta que para os trabalhadores é a melhor possível. Acho que é a melhor proposta que fizemos no momento, tenho certeza que vai ser uma das melhores do Brasil. Em Belo Horizonte, os rodoviários fecharam um reajuste com 4% e, em Belém, apenas 2%. A gente sai daqui hoje com uma vitória", declarou.

A gestão municipal falou sobre o resultado das negociações e salientou que sua participação como conciliadora ocorreu para redução de danos à cidade por conta das ameaças de greve. "A Prefeitura vem fazendo todos os esforços para intermediar o diálogo entre rodoviários e empresários e garantir que o sistema de transporte siga prestando o serviço da melhor forma possível, evitando prejuízos para a cidade e, principalmente, para a população", informou.

Uma nova rodada de negociação entre rodoviários e empresários do setor de transporte em Salvador, mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5), e que discutiu a negociação salarial para a categoria acabou sem acordo. Com isso, o Sindicato dos Rodoviários declarou que irá fazer greve a partir das 4h da próxima segunda-feira (7). A informação foi dada pela TV Bahia e confirmada em seguida pelo CORREIO. A reunião aconteceu de maneira virtual na tarde desta sexta-feira (4)

O impasse da vez era sobre o formato de pagamento para o reajuste de 7,59% sugerido pela presidente do TRT-5, Dalila Andrade. Os Rodoviários queriam o pagamento integral do reajuste e as empresas, que inicialmente ofereceram 3% de aumento, queria parcelar o reajuste em três vezes.

Desde a segunda-feira (31), o Sindicato havia retomado o direito de declarar greve. A presidente do TRT5, no entanto, exigiu que fossem cumpridas as regras de, em caso de paralisação, que pelo menos 60% da frota circule nos horários de pico (5h às 8h e das 17h às 20h) e 40% nos demais horários. Em caso de descumprimento, a decisão prevÊ multa estipulada é de R$ 50 mil por dia.

Presidente do Sindicato dos Rodoviários, Hélio Ferreira declarou que os trabalhadores cederam até onde pode e tentaram evitar a greve, mas não houve a mesma flexibilização do patronato.

"Tivemos toda a paciência, nossa data base [de campanha salarial] é dia 1 de maio, já estamos em junho e ainda não conseguimos acertar um acordo. Concordamos em negociar o parcelamento do ajuste, mas do outro lado não tem nenhuma flexibilização”, afirmou.

Momentos depois, ele publicou um vídeo nas redes sociais confirmando que a greve será geral e por tempo indeterminado.

"Não chegamos a uma proposta que contemple os trabalhadores. Os patrões não quiseram ceder em nada. Nós enfrentamos a pandemia e esperávamos que os patrões nos dessem o direito sem precisar chegar aos extremos. Não há outra alternativa que não seja uma greve geral por tempo indeterminado", afirmou Hélio Ferreira.

Representante do sindicato patronal, Jorge Pinto alegou que cada lado tem seus limites e as empresas vivem um momento difícil.

Prefeito de Salvador, Bruno Reis comentou a campanha de reajuste salarial durante entrevista que concedeu durante a manhã. Bruno afirmou que a situação é preocupante por diversos aspectos. Primeiro, porque desde o rompimento com o Consórcio Salvador Norte (CSN), o município tem a sua própria empresa de ônibus que opera 30% do sistema de transporte público do município.

"Hoje o sistema de transporte de ônibus em Salvador é deficitário, por uma série de situações, mas agravado por conta da pandemia. Quando você dá um reajuste de 7.59% isso vai desestabilizar ainda mais. Os empresários das outras duas bacias estão batendo na porta pedindo socorro, literalmente, para que a gente pague um desequilíbrio da pandemia nesses cinco meses de 2021 para que eles tenham condições de honrar os salários dos trabalhadores", afirmou.

Bruno Reis afirmou que a Prefeitura não tem condições de apoiar por falta de dinheiro nos cofres municipais para socorrer o empresariado.

"As paralisações penalizam a população, contribuem para o avanço da pandemia na nossa cidade e também gera mais prejuízos para o sistema. E, consequentemente, a prefeitura vai ter que arcar muito mais com mais recursos para poder ajustar um sistema que já está desequilibrado", disse.

O Prefeito afirmou que vai conversar com os representantes do Sindicato dos Rodoviários e também com os representantes patronais.

Um menino de 4 anos, de família indígena, morreu após ter sido atingido por uma picape na cidade de Pau Brasil, no sul da Bahia, na noite de quinta-feira (3). Enzo Gabriel Oliveira Santos foi imprensado na parede de uma casa, depois que o veículo desgovernado subiu a calçada. O garoto, da aldeia Catarina Paraguaçu da tribo Pataxó Hã hã hae, ainda foi retirado com vida por populares e levado para o hospital da cidade, mas não resistiu.

Segundo parentes de Enzo, o veículo do acidente, uma Toyota Hilux branca, era dirigido por uma mulher da tribo de Enzo que não tinha habilitação e estava tendo aulas de direção com o dono do carro. “A moça que atropelou é indígena, recém separada do primo de Enzo. É da mesma tribo. Já o rapaz não é indígena, mas é de uma família tradicional da cidade. Eles não foram encontrados. Não sabemos se fugiram ou aguardam a poeira baixar para se apresentarem”, disse a prima de garoto, a técnica de enfermagem Jossilene Santos Silva, 24.

De acordo com a Polícia Civil, o acidente foi registrado na Delegacia Territorial (DT) de Camacã, que apura o ocorrido. O garoto estava na calçada de casa, quando foi atropelado por um veículo. Ele chegou a ser socorrido para o Hospital Arlete Magalhães, onde morreu. “A condutora do carro foi identificada. Testemunhas serão ouvidas na unidade, que expediu as guias periciais. O veículo vai passar por perícia”, diz a nota, que não faz referência ao rapaz, que seria dono da picape.

Acidente
A tragédia aconteceu na Travessa Ivete Nogueira, no centro de Pau Brasil. Familiares de Enzo contaram que o menino voltava para casa, junto com a mãe e uma amiga dela. Eles desciam a rua e logo avistaram a picape descendo também. Quando perceberam que o veículo estava em alta velocidade, foram para o acostamento, em vão.

Descontrolado, o carro foi para mesma direção em que eles estavam. No susto, Enzo soltou a mão da mãe e subiu na calçada mais alta, ocasião em que o a Hilux atingiu o menino. “A picape ia bater numa moto e desviou e subiu a calçada pego meu primo”, contou Jossilene .

Enzo era o filho único de um casal. “A família toda está muito abalada. Ninguém esperava por essa. Uma criança saiu de casa alegre e na volta acontece isso. Quando a pessoa já está doente, já espera o pior. Outra coisa é algo repentino acontecer e tirar a vida de alguém assim, de uma forma tão trágica e ainda mais de uma criança”, desabafou a prima do garoto.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que, por volta das 17h de quinta-feira (3), uma guarnição da 62ª CIPM foi informada sobre um acidente de trânsito com vítima fatal na Travessa Ivete Nogueira, no município de Pau Brasil. No local, a guarnição constatou que a vítima havia sido socorrida por populares.

“O condutor não foi localizado. O veículo foi guinchado e levado para a delegacia para adoção das medidas legais cabíveis”, diz nota.

Até a manhã desta sexta-feira (4), o corpo de Enzo estava no Departamento de Polícia Técnica (DPT) da cidade de Itabuna e aguarda familiares para liberação e sepultamento.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal aprovou na sessão de quarta-feira, 2, uma lista tríplice composta exclusivamente por mulheres para ocupar uma vaga no Tribunal Superior Eleitoral no cargo de ministro substituto. É a primeira vez na história da Corte Eleitoral que a escolha será apenas entre juristas mulheres.

A lista é encabeçada pela advogada Ângela Cignachi Baeta Neves, que recebeu nove votos. Em seguida, estão as advogadas Marilda de Paula Silveira e Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro, cada uma com oito votos. A lista será encaminhada ao presidente da República, Jair Bolsonaro, a quem cabe escolher uma das indicadas.

Os nomes das três juristas foram propostos pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, em razão do ‘alto grau de idoneidade moral e notável saber jurídico’ das advogadas. A sugestão recebeu o apoio dos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, que também compõem a Corte Eleitoral.

Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro conta ainda com o apoio da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), que, em nota, destacou o "reconhecido trabalho da advogada em defesa da liberdade religiosa no País".

A vaga no TSE foi aberta em razão da posse do ministro Carlos Horbach como integrante efetivo da Corte Eleitoral, no dia 18 de maio. Horbach assumiu a vaga deixada pelo ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto, que encerrou o último biênio no TSE no mês passado.

O Tribunal Superior Eleitoral é composto de pelo menos sete juízes, sendo três vagas ocupadas por ministros do STF, duas por ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e duas a serem preenchidas por representantes da advocacia nomeados pelo presidente da República.

Perfis
Ângela Cignachi Baeta Neves é advogada e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral. É mestre em Função Social do Direito e pós-graduada em Direito Eleitoral.

Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro é advogada, mestre em Direito de Estado e especialista em Direitos Fundamentais. Foi assessora-chefe da presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e é fundadora da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep).

Marilda Silveira é mestre e doutora em Direto Público e Coordenadora Regional da Transparência Eleitoral. É professora de Direito Administrativo e Eleitoral e pesquisadora do Observatório Eleitoral.

Não dá mais para afirmar que a covid-19 é doença de adulto. Os números falam por si só: em 2021, a quantidade de pessoas com até 19 anos - os considerados crianças e adolescentes na pediatria - que se contaminaram com o novo coronavírus na Bahia já é superior a todo o ano passado. São 60.910 infectados agora frente aos 56.090 casos de 2020.

Em janeiro, fevereiro e março deste ano, o número de doentes de até 19 anos só cresceu. Em abril, apresentou uma leve queda, mas em maio o número de casos subiu novamente: foram 13.728 infectados, o recorde de 2021.

Infogram
Em junho, nos três primeiros dias do mês, outras 1.648 crianças e adolescentes já foram infectados. Todos esses dados foram retirados dos boletins epidemiológicos emitidos pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). No mês de maio, por exemplo, as aulas presenciais puderam retornar em Salvador.

Até o dia 25 do mês passado, o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) recebeu quase 60 casos suspeitos de covid-19 em escolas da capital. No domingo (30), esse número já tinha saltado para 121 casos, uma média de 30 por semana. Foram 54 notificações em instituições de ensino, sendo 19 da rede privada e as demais, 35, da rede pública. O Centro não divulgou a lista com os nomes das escolas.

A infectopediatra Anne Galastri, da Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), acredita que por causa das voltas às aulas presenciais, mais crianças e adolescentes estão sendo testadas, o que contribuiria no aumento de casos positivos.

“Durante a pandemia, as crianças ficaram trancadas em casa, os adultos adoeceram, elas também e não foram feitos testes. Agora, com a volta às aulas, elas são obrigadas a serem testadas se apresentarem qualquer sintoma. Isso deve ter algum impacto nos números”, argumenta.

UTI pediátrica na Bahia está em 75% de ocupação

Somada a essa realidade, a Bahia tem 63 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) divididos em seis hospitais baianos, três deles no interior - Estadual da Criança, em Feira de Santana, Geral de Vitória da Conquista e Manoel Novaes, em Itabuna – e os demais na capital – Instituto Couto Maia, Martagão Gesteira e o Municipal de Salvador.

Dos leitos, 75% estão ocupados, sendo que as três unidades de saúde do interior já alcançaram 100% de lotação.
Segundo a médica Anne Galastri, 3% a 6% de todas as crianças que pegam a doença ficam internadas. “Mas como nessa faixa etária grande parte dos contaminados são assintomáticos, nem sempre são feitos os testes e acredita-se que esse índice seja superestimado”, aponta.

Anne também revela que os óbitos nos pequenos representam menos de 1% de todas as mortes por covid numa população. Mesmo com o advento de novas variantes, esse índice não muda. “O próprio governo da Índia lançou uma nota falando que a faixa etária pediátrica continua sendo poupada de uma infecção mais grave quando comparada com as outras”.

No caso da Bahia, de todas as 21.512 mortes por covid, segundo a Sesab, apenas 129 aconteceram entre pessoas de 0 a 19 anos, o que representa 0,6% das mortes. Uma dos pequenos vítimas da doença no estado foi o menino Daniel Neves, que tinha apenas 13 anos. Ele faleceu no dia 19 de maio de 2021. Morador de Salvador, fazia sucesso na internet com seus quadros, que eram vendidos para custear o tratamento contra uma rara doença: logo aos oito meses de vida, ele foi diagnosticado com rins policísticos, fibrose hepática e problemas no baço.

Embora o caso de Daniel seja chocante, as mortes por covid nas crianças não são o mais comum, como mostram os dados,. Quanto maior a faixa etária, é maior a quantidade de mortes.

“É por isso que, no Brasil, ainda não se fala em vacinação do público menor de 18 anos. O foco nesse momento são os grupos prioritários, aqueles que são mais acometidos pela doença. Só depois que podemos pensar nas outras faixas etárias. Eu não acredito que seja adequado pensar em vacinar crianças antes de quem tá morrendo nesse momento, como é o caso dos adultos jovens”, argumenta.

Nos Estados Unidos, onde a vacinação está acelerada, pessoas com mais de 12 anos já podem ser vacinadas com o imunizante da Pfizer, que já tem estudo para esse público. Na América do Sul, o Chile e o Uruguai também aprovaram nessa semana a aplicação dessa vacina nos adolescentes do país. “Existem outros estudos para vacinar maiores de seis anos. No entanto, não devemos achar em nenhum momento que essa faixa precisa ser vacinada para voltar a vida normal”, defende a médica.

Síndrome pediátrica rara associada a covid já causou quatro óbitos

É uma condição rara, mas que não deixa de preocupar. Crianças e adolescentes que pegam covid-19 podem desenvolver a Síndrome Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Segundo a Sesab, trata-se de uma doença com amplo espectro de sinais e sintomas, caracterizada por febre persistente acompanhada de sintomas gastrointestinais, dor abdominal, conjuntivite, hipotensão, dentre outros.

Até o dia 31 de maio de 2021, última vez que o levantamento foi atualizado, foram registrados 82 casos confirmados da síndrome na Bahia. Destes, 46 casos (56,1%) ocorreram em pacientes do sexo masculino e 36 (43,9%) em pacientes do sexo feminino. Em relação a faixa etária, o intervalo de 0 a 4 anos foi o mais cometido, representando 38 casos (46,34%). Do total, quatro crianças morreram por causa da síndrome.

Os três primeiros óbitos pela síndrome rara aconteceram em 2020. O primeiro foi registrado no dia 26 de agosto, em um menino de 9 anos que morava em Salvador. Em setembro, no dia 17, morreu a segunda criança no estado pela síndrome, um menino de 1 ano que residia em Maracás, no centro-sul baiano. Dois meses depois, em 20 de novembro, a terceira morte foi registrada, uma menina de 7 anos que vivia em Camacan, na região sul.

Por fim, a quarta vítima da síndrome rara foi uma bebezinha de 1 ano, residente na cidade de Ubatã. O óbito ocorreu no dia 22 de março de 2021, mas a pequena apresentou os primeiros sintomas no dia 9 de fevereiro deste ano e foi internada no dia 16 do mesmo mês. Ela lutou pela vida durante mais de um mês.

A Sesab foi procurada para se manifestar sobre o assunto, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

Quando a assistente social Arlene Chaves, 69 anos, foi internada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ribeira do Pombal, Nordeste da Bahia, com 50% do pulmão comprometido por causa da Covid-19, o medo era uma constante. “Lá, todo mundo precisava de oxigênio. Mas a enfermeira me tranquilizava, dizia que não ia faltar, pois a UPA tinha essa usina”, lembra. A cidade de 50 mil habitantes é a quinta da Bahia com mais casos ativos de covid e lá só não faltou oxigênio por causa de duas usinas de produção do gás medicinal. Vidas foram salvas.

“Foi uma sacada muito boa a de instalar os equipamentos. Uma iluminação! Eu insisto que, se Manaus tivesse feito isso, não viveria um caos”, argumenta Danilo Matos, diretor executivo do Consórcio de Saúde Nordeste II (Coisan), que administra o Hospital Geral Santa Teresa, localizado em Ribeira do Pombal. Essa foi a primeira unidade de saúde da região a ter uma usina de oxigênio instalada, ainda no início da pandemia, em 2020. O equipamento tem a capacidade de encher, a cada duas horas, quatro cilindros com 10 metros cúbicos,

O resultado positivo levou o município, no mesmo ano, a instalar uma usina na UPA, mas não por causa do coronavírus. "Na época, a demanda por oxigênio no tratamento da covid não era uma preocupação real, mas nós já visualizávamos um problema sério que seria a questão do abastecimento. Há um monopólio no setor e alto custo do insumo. Nós não queríamos ficar preso nas mãos desses caras, como muitas cidades estão”, explica Danilo.

Sorte da dona Arlene, que você conheceu no início da reportagem. No momento que ela teve falta de ar, o cateter nasal de baixo fluxo foi o suficiente para lhe recuperar o vigor. Outros conterrâneos precisaram de mais suporte. “A vizinha do meu leito teve que ser transferida intubada para uma UTI e eu fiquei apavorada. Mas ela estava com o seu suporte de oxigênio. Isso não faltou em nenhum momento”, conta.

Atualmente, Ribeira do Pombal enfrenta o seu pior momento na pandemia. São 315 casos ativos, segundo o último boletim municipal. “E é muita gente jovem infectada, pessoas que não tomaram ainda a vacina. Eles aglomeram nas roças, no final de semana, e pegam a doença”, lamenta dona Arlene. Atuando na rede municipal de saúde da cidade desde o início da pandemia, o médico Carlos Domini conhece bem a realidade.

“É uma situação calamitosa. Transferimos oito, 10 pacientes por dia e a UPA toda hora lotando. A sorte é que temos as usinas de oxigênio, se não já teria morrido gente com falta de ar”, disse.

Desde o início do funcionamento da usina, a UPA de Ribeira do Pombal internou, aproximadamente, 300 pessoas. Já o Hospital Santa Teresa tem uma média de 370 pacientes internados por mês e outros 3 mil atendimentos mensais na emergência. Nem todo esse público, no entanto, precisou da oxigenoterapia durante o atendimento. Os que precisaram, segundo Danilo Matos, tiveram todo o suporte necessário graças às usinas.

Como funciona o equipamento?

A produção de oxigênio pela usina funciona através do ar comprimido, que também pode ser armazenado e é usado em unidades de saúde. ”São compressores de ar ligados na energia elétrica. Eles tiram o ar do ambiente, purificam e deixam só o oxigênio com, aproximadamente, 100% de pureza”, explica Danilo Matos.

Como o equipamento é alugado, se a demanda aumentar ou diminuir, é possível fazer reajustes na produção. Isso está acontecendo na usina da UPA de Ribeira do Pombal. “Como lá vai aumentar a quantidade de respiradores, nós vamos aumentar a capacidade de produção do equipamento. Naturalmente, quanto mais a oxigênio for possível produzir, mais caro fica o aluguel”, aponta Arlindo Nazareth Jr., representante comercial da Dinatec na Bahia.

Essa é a empresa que fornece as usinas de oxigênio para Ribeira do Pombal. A manutenção também fica a cargo deles. “É como se fosse um carro. Regularmente, nosso técnico precisa ir lá fazer revisão”, diz Nazareth. O equipamento reduziu os custos do hospital com oxigênio em, aproximadamente, 40%.

“Antes, tínhamos um custo que variava entre R$ 45 e R$ 50 mil por mês. Hoje pagamos mensalmente R$ 28 mil”, diz Matos. Esse valor é destinado justamente à Dinatec. “Na Bahia, temos equipamentos em Ilhéus, Itabuna, Vitória da Conquista, Eunápolis e estamos instalando em Itaberaba para um empresário que vai encher cilindros e vender”, diz Nazareth.

Segundo o rapaz, a procura pelas usinas cresceu durante a pandemia. “Mas eu ainda vejo resistência, pois as pessoas não confiam tanto na produção independente como deveriam. Fizemos uma proposta para Paulo Afonso, que está gastando um dinheirão com oxigênio e ia economizar 45% com nosso serviço, mas eles não quiseram. A gente tenta mostrar os exemplos, como o de Ribeira do Pombal, para convencer”, diz.

Ribeira do Pombal inspira outras cidades

Para não correr o risco de ver o oxigênio faltar e salvar mais vidas, Danilo defende para as cidades vizinhas a importância de investirem nas usinas. E o trabalho já tem tido resultados. “A UPA de Caldas do Jorro já tá instalando uma, tive contato com os prefeitos de Olindina e Cipó, que também estão com interesse e há um hospital filantrópico em Antas que está tentando implantar”, lista.

Mas enquanto elas não viram realidade, são os dois equipamentos de Ribeira do Pombal que têm servido para as cidades vizinhas nos momentos difíceis e salvado a vida de outros baianos.

“Recebo ligações do secretário de Ribeira do Amparo, que passa dificuldades com abastecimento atualmente. Cipó já teve problemas e nós ajudamos e enchemos cilindros de Cícero Dantas também”, lembra.

Em Ribeira do Amparo, inclusive, o consumo semanal de oxigênio era de três cilindros. Hoje são 20. “Estamos sim com dificuldade. Nessa semana, para não faltar oxigênio aqui, tive que mandar pegar torpedo em Dias Dávila, pois a White Martins, mesmo contratada, disse que não ia conseguir trazer. Em Pombal, com essa usina, várias vezes solicitei e eles nos ajudaram”, afirma João Vieira da Costa, secretário de Saúde.

Bahia terá usinas de oxigênio em três regiões do estado, anuncia Rui

Durante inauguração de uma maternidade no Subúrbio Ferroviário de Salvador, na última segunda-feira (31), o governador Rui Costa confirmou que três usinas de oxigênio serão instaladas em três regiões do estado. Porém, não foi divulgado quais serão as cidades que vão receber as estruturas e mais detalhes da iniciativa. Rui disse apenas que as usinas servirão às regiões e não às cidades e que a previsão é que elas sejam móveis para se deslocarem a depender da necessidade de um ou outro local.

"Evidente que as usinas ficarão instaladas fisicamente em um município cada, mas o objetivo é atender a região, podendo ser remanejadas em casos de picos em outra região. Vai servir pra diminuir a distância entre os cilindros e os municípios. Hoje, tá previsto para o oeste, para a região de Irecê e a terceira ainda será discutida", afirmou.

O diretor executivo do Consórcio de Saúde Nordeste II acredita que o exemplo de Ribeira do Pombal é o que está inspirando a ação do Governo do Estado. “Doutor Igor, que é o superintendente de atenção à Saúde do estado, em visita ao nosso hospital, ficou impressionado com a usina e me pediu alguns contatos para fazer o mesmo nos hospitais estaduais. Eu acho que eles estão usando nossa expertise para levar a iniciativa ao restante da Bahia”, argumenta.

No entanto, o representante comercial da Dinatec na Bahia disse não ter conhecimento de nenhuma negociação do tipo com a empresa. A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) foi procurada, mas não respondeu até o fechamento do texto.

Oxigênio é essencial no tratamento da covid-19

Com aumento na demanda por oxigênio medicinal, vários pacientes começaram a morrer com falta de ar. É que o oxigênio é essencial no tratamento da covid-19. Segundo o médico intensivista Murilo Ramos, professor da Rede UniFTC, o sistema de saúde tem que garantir o fornecimento do insumo.

“A covid é uma doença que gera baixa oxigenação no sangue. A melhor forma disso ser combatido, a curto prazo, é dar mais oxigênio para o paciente respirar. Se tem baixa oxigenação no sangue, vamos ofertar uma quantidade maior do que existe no ambiente”, explica. No ar atmosférico, a concentração de oxigênio é de apenas 21%.

“Para fornecer oxigênio, a gente usa os mais diversos mecanismos, desde cateter nasal até a intubação. Cada um desses itens tem uma determinada concentração. Quanto mais invasivo o procedimento, maior a quantidade de oxigênio fornecido. O paciente intubado recebe até 100%, ou seja, respira completamente pelo oxigênio medicinal”, relata.

White Martins diz que a demanda por oxigênio na Bahia aumentou 7% em maio

Principal fornecedora de oxigênio medicinal, a empresa White Martins afirmou, em nota, que a Bahia está tendo aumento médio de 7% no consumo de oxigênio. Segundo a empresa, esse crescimento se deu nas últimas duas semanas de maio em comparação com as duas últimas semanas de abril. Mesmo assim, a empresa alega que o fornecimento de oxigênio está sendo realizado com o objetivo de manter abastecidos todos os seus clientes medicinais da Bahia.

“A empresa tem mantido constante contato com os seus clientes e autoridades de saúde locais sobre as variações de consumo de oxigênio. Nestas oportunidades, a empresa solicita que sejam comunicadas previamente as necessidades de acréscimo no fornecimento do produto bem como a previsão da demanda. Isso porque compete às instituições de saúde públicas e privadas sinalizar qualquer incremento real ou potencial de volume de gases às empresas fornecedoras”, disse a empresa.

Ainda segundo a White Martins, são as autoridades de saúde que têm os dados que compõem o panorama epidemiológico da covid-19, como o índice e a velocidade de contágio da doença, o crescimento da taxa de ocupação de leitos, a abertura de novos leitos, a implantação de hospitais de campanha, a quantidade de pacientes atendidos, bem como a classificação dos casos.

“A White Martins, como qualquer fornecedora deste insumo, não tem condições de fazer qualquer prognóstico acerca da evolução abrupta ou exponencial da demanda”, argumenta.

O feriado de Corpus Christi em Salvador foi até de descanso para muitos trabalhadores, mas de bastante atividade para o coronavírus. Mesmo com o acesso às praias proibido, muita gente conseguiu burlar a regra para aproveitar o sol. A movimentação foi grande na orla e barzinhos de Itapuã e Barra. Além do feriado desta quinta-feira, 03, junho ainda tem os festejos juninos e esse conjunto preocupa autoridades e especialistas.

Os banhistas já apareciam a partir da praia do Corsário, em Pituaçu. Alguns grupos estavam reunidos em volta de coolers e jogando altinha. Mais adiante, em Jaguaribe, mais gente, barracas cheias e muitos sombreiros e cadeiras ocupados na faixa de areia.

Quanto mais a equipe de reportagem se aproximava de Itapuã, mais a movimentação se intensificava. Na Sereia, barracas e bares lotados. A combinação de álcool e música provocava aglomeração como se não houvesse pandemia. “A aglomeração está nos paredões, não é aqui, não”, gritou uma mulher na praia lotada. Itapuã é o quarto bairro de Salvador com mais casos de covid-19, são 4.716.

A moradora do bairro, Adele Robichez, 21, diz que o cenário do feriado é comum nos finais de semana na região. “Principalmente de sexta a domingo, muita gente se aglomera na Vila Baiana, que reúne muitos estabelecimentos comerciais e vive cheio de gente. Tem vários locais espalhados pelo bairro que vendem bebida e comida e juntam bastante gente. Um desses locais é a Sereia. O pessoal sai das praias e vai para os bares ou para as calçadas. Até para passar de carro é uma dificuldade”, contou.

A moradora ainda completa que o desrespeito aos protocolos é visível e que não se sente confortável para circular pelo bairro. “É todo mundo sem máscara. Quem se aglomera assim não se preocupa com isso. Às vezes ela vai no queixo ou pendurada no pulso, vira acessório. Não me sinto confortável em sair para nenhum lugar em Itapuã, é muita aglomeração, a partir do final da tarde até de noite, é muita gente junta”.

A Barra não fica atrás no quesito aglomeração. No trecho entre o Morro do Cristo e o Farol, caminhar sem esbarrar em algo ou alguém é missão quase impossível. Mesas e cadeiras de bares, bicicletas, patinetes, cachorros, gente andando, gente correndo, gente tirando foto. Por lá, por conta da fiscalização da Guarda Municipal, as praias estavam vazias, mas as calçadas cheias.

Os barzinhos não deixaram mesa sobrando e o gramado do Farol quase não comportava a multidão de soteropolitanos e turistas. Na hora do pôr do sol, muita gente reunida contemplando a vista e aplaudindo em clima de festa. Lá, infelizmente, o cenário também não é novidade. De acordo com a moradora Beatriz Pacheco, 21, toda quinta a movimentação começa a se intensificar. Nesta semana, por conta do feriado, o dia foi típico de um domingo.

“O Porto e o Farol, de quinta a domingo, estão sempre cheios, os bares e restaurantes ficam lotados e as praias impraticáveis. Até mesmo de manhã cedo a orla fica bastante cheia. E a máscara fica em segundo plano mesmo. Hoje eu fui fazer uma caminhada e percebi movimentação bem grande na região, principalmente de jovens”, contou a moradora.

Medidas para o feriado

Mesmo sem sucesso, algumas medidas foram adotadas para o feriadão na tentativa de evitar as aglomerações. O acesso às praias de Salvador ficou proibido e só será liberado na segunda-feira (7). A exceção é para o Porto da Barra, que só poderá funcionar na terça (8). Além disso, o toque de recolher está antecipado para às 20h. A venda de bebida alcoólica está proibida a partir das 20h de hoje até às 5h de segunda (7).

No Farol, o gramado ficou cheio de gente e teve até música ao vivo

Ficou autorizado o funcionamento normal de estabelecimentos comerciais, a exemplo de shoppings, bares e restaurantes, seguindo os horários determinados pelo decreto municipal e com fechamento até às 19h30.

Ao anunciar as medidas, em coletiva no dia 28, o prefeito Bruno Reis afirmou que as ações eram uma tentativa de evitar o aumento de casos e de internações. “Está confirmado pelos números que sempre depois de datas comemorativas e finais de semana prolongados com feriados, que há aumento de novos casos. Então, sempre existe essa preocupação. Foi assim com a Semana Santa, foi assim com o Dia das Mães, e para evitar que seja assim também com o Corpus Christi nós estamos adotando essas medidas”.

Especialistas fazem alerta

Além do feriado de Corpus Christi, junho agrega os festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro. As comemorações são uma ameaça ao distanciamento social. A preocupação tem sentido, afinal, o balanço do ano passado nessa época foi assustador. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), entre os dias 23 de junho e 7 de julho de 2020, os casos de covid-19 no estado cresceram 87,3%. Nesse contexto, os cientistas do Portal Geocovid projetam 2,5 mil mortes pela doença na Bahia e 160 mil novos casos em junho de 2021.

Gesil Sampaio Amarante, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e também pesquisador do Geocovid, explica que as projeções feitas pelo grupo levam em consideração somente a taxa de contaminação atual do vírus. Isso significa que, caso haja mais aglomerações em festas ilegais ou comércio lotado, o índice vai crescer e mais pessoas serão contaminadas e mortas pelo vírus.

“As projeções levam em conta o comportamento recente do vírus com base nos parâmetros verificados empiricamente da doença. Festa e aglomeração não entram na conta. Portanto, se somada a tendência que estamos agora com esses elementos de risco, podemos afirmar que os números do portal são até otimistas”, alerta.

Na semana passada, a Rede Análise Covid-19 também fez um alerta mostrando que há tendência de aumento de notificações de novos casos para a Bahia em junho. Tem mais pessoas reportando, segundo os dados do grupo, estarem com sintomas da covid. “Estamos falando de uma alta forte. O alerta nesse momento preocupa, pois a ocupação dos hospitais não baixou. O medo é que esse aumento cause o colapso no sistema hospitalar”, explica Isaac Schrarstzhaupt, coordenador do grupo.

Nesta quinta-feira (3), a Bahia fechou o dia com 1.025.987 de casos confirmados de covid-19, 15.685 casos ativos e 21.512. A taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto está em 86%. Os dados são da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab). Em Salvador, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a taxa de ocupação de leitos de UTI adulto é de 82%. A capital acumula 211.270 casos e 6.408 óbitos confirmados.

O mês de junho agrega os festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro. As comemorações juninas podem ameaçar o distanciamento social necessário para o combate à pandemia de covid-19. A preocupação tem sentido, afinal, o balanço do ano passado nessa época foi assustador. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), entre os dias 23 de junho e 7 de julho de 2020, o número de casos de covid-19 no estado cresceu 87,3%. Bem superior ao Brasil, que teve crescimento de 45,6% no mesmo período. Nesse contexto, os cientistas do Portal Geocovid projetam 2,5 mil mortes pela doença na Bahia e 160 mil novos casos em junho de 2021.

Gesil Sampaio Amarante, professor da Universidade Estadual De Santa Cruz (Uesc) e também pesquisador do Geocovid, explica que as projeções feitas pelo grupo não levam em consideração as mudanças de rotina por causa do feriado e sim a taxa de contaminação atual do vírus. Isso significa que, caso haja mais aglomerações em festas ilegais ou comércio lotado, por exemplo, o índice vai crescer e mais pessoas serão contaminadas e mortas pelo vírus.

“As projeções levam em conta o comportamento recente do vírus com base nos parâmetros verificados empiricamente da doença. Festa e aglomeração não entram na conta. Portanto, se somada a tendência que estamos agora com esses elementos de risco, podemos afirmar que os números do portal são até otimistas”, alerta.

Atualmente, segundo o Geocvid, a taxa de reprodução do vírus é de 1,05 no estado. Isso significa que um grupo de 100 baianos contaminados podem transmitir para outras 105 pessoas, o que representa uma aceleração da contaminação. Se essa taxa aumentar, a Bahia pode chegar no final de junho com até 4,3 mil novas mortes e 352 mil novos casos.

“Isso não é uma sentença de morte. As projeções existem para nos mostrar que precisamos tomar mais cuidado. Não podemos piorar o que já está ruim. Se nos deixarmos levar pelo desejo de dançar forró, vamos acelerar a contaminação”, explica o professor Gesil.

Morador de Itabuna, no sul da Bahia, ele se considera apaixonado por São João. “Para mim, é a data mais importante do ano. Mais ainda do que o meu aniversário”, conta. No entanto, assim como foi em 2020, o arraiá do cientista em 2021 terá que ser adaptado.

“Vou ter que ficar quietinho em casa e dançar forró com minha filha e esposa. Precisamos nos cuidar, pois a vida é o mais importante. Quando passar tudo isso, vamos nos abraçar, beijar, fazer festa e todo o exercício natural da nossa baianidade”, diz.

Governador alerta que números não caem na Bahia
Nessa terça-feira (1º), o primeiro dia do mês de junho, o governador da Bahia Rui Costa fez questão de ressaltar sua preocupação com o cenário epidemiológico da covid-19 na Bahia. “Infelizmente, o número de contaminados pelo coronavírus não cai. Nós estamos com 18 mil casos ativos, 85% de taxa de ocupação de leitos, o número de óbitos se mantém elevado. Enquanto não houver vacinação em massa, ficaremos neste sofrimento”, lamentou.

Infelizmente, o número de contaminados por #coronavírus não cai na #Bahia. Nós estamos com 18 mil casos ativos, 85% de taxa de ocupação de leitos, o número de óbitos se mantém elevado. Enquanto não houver vacinação em massa, ficaremos neste sofrimento. Precisamos de #vacinas!

— Rui Costa (@costa_rui)
June 1, 2021

A preocupação das autoridades de saúde é que o cenário se torne mais grave nesse mês com as aglomerações que podem ocorrer nas datas comemorativas. Para evitar isso, os ônibus do transporte intermunicipal terão circulação suspensa três dias antes e três depois das festas juninas, conforme decisão do governo do estado. A medida é defendida por especialistas.

“Se você viaja, você não vai levar mais o vírus para aquela cidade, mas você pode levar para uma família ou alguma pessoa que não está infectada. A mobilidade aumenta a possibilidade de transmissão. O vírus anda com o ser humano, transmite de pessoa a pessoa. Então, se há grande mobilidade, a probabilidade de um infectado transmitir pra outro aumenta”, explicou a epidemiologista Gloria Teixeira, integrante da Rede CoVida Ciência Informação e Solidariedade.

Na semana passada, a Rede Análise Covid-19 também fez um alerta mostrando que há tendência de aumento de notificações de novos casos para a Bahia em junho. Tem mais pessoas reportando, segundo os dados do grupo, estarem com sintomas da covid. “Estamos falando de uma alta forte. O alerta nesse momento preocupa, pois a ocupação dos hospitais não baixou. O medo é que esse aumento cause o colapso no sistema hospitalar”, explica Isaac Schrarstzhaupt, coordenador do grupo

Imunologista e professor da UniFTC, Celso Santana afirma que é preciso ter consciência coletiva e evitar toda aglomeração possível para que a terceira onda não seja tão trágica quanto apontam as previsões. E isso inclui deixar para lá a ideia de reuniões em pequenos grupos de amigos ou familiares. Segundo o especialista, o aumento no número de casos já é mais do que perceptível e a gravidade desses números será explicitada em até 8 semanas, quando o número de hospitalizações e óbitos tende a disparar.

"Aconteceu na primeira, na segunda e não vai deixar de acontecer nesta terceirao onda. Lamentavelmente não aprendemos com os erros do passado. As variantes não são a causa única para esse agravamento, como dizem muito por aí. A principal causa são o afrouxamento das medidas restritivas, falha no uso de máscara, no distanciamento social, aglomerações aleatórias que vemos aqui e acolá", disse.

Por tudo isso, Santana enxerga de maneira preocupada a quantidade de datas comemorativas no mês de junho. Ele aponta que aglomerações em excesso e desleixo com medidas de proteção podem, inclusive, contribuir para o surgimento de novas cepas, mutações e variantes que podem tornar o coronavírus uma doença ainda mais mortal e prolongar o pesadelo da pandemia.

Para o imunologista, o correto é evitar qualquer tipo de reunião durante este período e tentar se manter em casa, em isolamento. "Eu preferiria que as pessoas evitem aglomerações ao máximo possível e que, se por ventura, for se reunir, observar sintomas, procure o médico e evite completamente o contato, se for o caso. Tome medidas rigorosas mesmo dentro dos ambientes familiares, como usar máscara, lave as mãos, evite contato próximo entre si porque muitas vezes levamos o vírus para dentro de casa", afirmou.

Cenário em todo o país é preocupante
Esse aumento de casos e mortes em junho não deve ser exclusivo da Bahia. A própria Rede Análise Covid-19 projeta um cenário complicado em todo o país. Isso é o que está sendo chamado de terceira onda. Em entrevista ao programa CNN Nosso Mundo, o virologista Anderson Brito concorda com as previsões e aponta que testes, isolamento e vacinação são ideais para frear contágio

Anderson Brito é pesquisador de pós-doutorado na Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, nos Estados Unidos. Para ele, o atraso na vacinação contra o novo coronavírus, a chegada de novas variantes, como a da Índia, e o afrouxamento das restrições são fatores que podem colocar o Brasil na mira dessa terceira onda.

O especialista, que é uma das autoridades mais respeitadas sobre o tema, foi convidado pelo programa CNN Nosso Mundo para comentar os riscos que essa possível nova onda pode trazer. “O problema é que estamos em um ritmo longe do ideal e os grupos vacinados não podem relaxar os cuidados”, alerta. A entrevista vai ao ar na próxima sexta-feira (4), às 22h30.