O mês de junho agrega os festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro. As comemorações juninas podem ameaçar o distanciamento social necessário para o combate à pandemia de covid-19. A preocupação tem sentido, afinal, o balanço do ano passado nessa época foi assustador. Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), entre os dias 23 de junho e 7 de julho de 2020, o número de casos de covid-19 no estado cresceu 87,3%. Bem superior ao Brasil, que teve crescimento de 45,6% no mesmo período. Nesse contexto, os cientistas do Portal Geocovid projetam 2,5 mil mortes pela doença na Bahia e 160 mil novos casos em junho de 2021.

Gesil Sampaio Amarante, professor da Universidade Estadual De Santa Cruz (Uesc) e também pesquisador do Geocovid, explica que as projeções feitas pelo grupo não levam em consideração as mudanças de rotina por causa do feriado e sim a taxa de contaminação atual do vírus. Isso significa que, caso haja mais aglomerações em festas ilegais ou comércio lotado, por exemplo, o índice vai crescer e mais pessoas serão contaminadas e mortas pelo vírus.

“As projeções levam em conta o comportamento recente do vírus com base nos parâmetros verificados empiricamente da doença. Festa e aglomeração não entram na conta. Portanto, se somada a tendência que estamos agora com esses elementos de risco, podemos afirmar que os números do portal são até otimistas”, alerta.

Atualmente, segundo o Geocvid, a taxa de reprodução do vírus é de 1,05 no estado. Isso significa que um grupo de 100 baianos contaminados podem transmitir para outras 105 pessoas, o que representa uma aceleração da contaminação. Se essa taxa aumentar, a Bahia pode chegar no final de junho com até 4,3 mil novas mortes e 352 mil novos casos.

“Isso não é uma sentença de morte. As projeções existem para nos mostrar que precisamos tomar mais cuidado. Não podemos piorar o que já está ruim. Se nos deixarmos levar pelo desejo de dançar forró, vamos acelerar a contaminação”, explica o professor Gesil.

Morador de Itabuna, no sul da Bahia, ele se considera apaixonado por São João. “Para mim, é a data mais importante do ano. Mais ainda do que o meu aniversário”, conta. No entanto, assim como foi em 2020, o arraiá do cientista em 2021 terá que ser adaptado.

“Vou ter que ficar quietinho em casa e dançar forró com minha filha e esposa. Precisamos nos cuidar, pois a vida é o mais importante. Quando passar tudo isso, vamos nos abraçar, beijar, fazer festa e todo o exercício natural da nossa baianidade”, diz.

Governador alerta que números não caem na Bahia
Nessa terça-feira (1º), o primeiro dia do mês de junho, o governador da Bahia Rui Costa fez questão de ressaltar sua preocupação com o cenário epidemiológico da covid-19 na Bahia. “Infelizmente, o número de contaminados pelo coronavírus não cai. Nós estamos com 18 mil casos ativos, 85% de taxa de ocupação de leitos, o número de óbitos se mantém elevado. Enquanto não houver vacinação em massa, ficaremos neste sofrimento”, lamentou.

Infelizmente, o número de contaminados por #coronavírus não cai na #Bahia. Nós estamos com 18 mil casos ativos, 85% de taxa de ocupação de leitos, o número de óbitos se mantém elevado. Enquanto não houver vacinação em massa, ficaremos neste sofrimento. Precisamos de #vacinas!

— Rui Costa (@costa_rui)
June 1, 2021

A preocupação das autoridades de saúde é que o cenário se torne mais grave nesse mês com as aglomerações que podem ocorrer nas datas comemorativas. Para evitar isso, os ônibus do transporte intermunicipal terão circulação suspensa três dias antes e três depois das festas juninas, conforme decisão do governo do estado. A medida é defendida por especialistas.

“Se você viaja, você não vai levar mais o vírus para aquela cidade, mas você pode levar para uma família ou alguma pessoa que não está infectada. A mobilidade aumenta a possibilidade de transmissão. O vírus anda com o ser humano, transmite de pessoa a pessoa. Então, se há grande mobilidade, a probabilidade de um infectado transmitir pra outro aumenta”, explicou a epidemiologista Gloria Teixeira, integrante da Rede CoVida Ciência Informação e Solidariedade.

Na semana passada, a Rede Análise Covid-19 também fez um alerta mostrando que há tendência de aumento de notificações de novos casos para a Bahia em junho. Tem mais pessoas reportando, segundo os dados do grupo, estarem com sintomas da covid. “Estamos falando de uma alta forte. O alerta nesse momento preocupa, pois a ocupação dos hospitais não baixou. O medo é que esse aumento cause o colapso no sistema hospitalar”, explica Isaac Schrarstzhaupt, coordenador do grupo

Imunologista e professor da UniFTC, Celso Santana afirma que é preciso ter consciência coletiva e evitar toda aglomeração possível para que a terceira onda não seja tão trágica quanto apontam as previsões. E isso inclui deixar para lá a ideia de reuniões em pequenos grupos de amigos ou familiares. Segundo o especialista, o aumento no número de casos já é mais do que perceptível e a gravidade desses números será explicitada em até 8 semanas, quando o número de hospitalizações e óbitos tende a disparar.

"Aconteceu na primeira, na segunda e não vai deixar de acontecer nesta terceirao onda. Lamentavelmente não aprendemos com os erros do passado. As variantes não são a causa única para esse agravamento, como dizem muito por aí. A principal causa são o afrouxamento das medidas restritivas, falha no uso de máscara, no distanciamento social, aglomerações aleatórias que vemos aqui e acolá", disse.

Por tudo isso, Santana enxerga de maneira preocupada a quantidade de datas comemorativas no mês de junho. Ele aponta que aglomerações em excesso e desleixo com medidas de proteção podem, inclusive, contribuir para o surgimento de novas cepas, mutações e variantes que podem tornar o coronavírus uma doença ainda mais mortal e prolongar o pesadelo da pandemia.

Para o imunologista, o correto é evitar qualquer tipo de reunião durante este período e tentar se manter em casa, em isolamento. "Eu preferiria que as pessoas evitem aglomerações ao máximo possível e que, se por ventura, for se reunir, observar sintomas, procure o médico e evite completamente o contato, se for o caso. Tome medidas rigorosas mesmo dentro dos ambientes familiares, como usar máscara, lave as mãos, evite contato próximo entre si porque muitas vezes levamos o vírus para dentro de casa", afirmou.

Cenário em todo o país é preocupante
Esse aumento de casos e mortes em junho não deve ser exclusivo da Bahia. A própria Rede Análise Covid-19 projeta um cenário complicado em todo o país. Isso é o que está sendo chamado de terceira onda. Em entrevista ao programa CNN Nosso Mundo, o virologista Anderson Brito concorda com as previsões e aponta que testes, isolamento e vacinação são ideais para frear contágio

Anderson Brito é pesquisador de pós-doutorado na Escola de Saúde Pública da Universidade Yale, nos Estados Unidos. Para ele, o atraso na vacinação contra o novo coronavírus, a chegada de novas variantes, como a da Índia, e o afrouxamento das restrições são fatores que podem colocar o Brasil na mira dessa terceira onda.

O especialista, que é uma das autoridades mais respeitadas sobre o tema, foi convidado pelo programa CNN Nosso Mundo para comentar os riscos que essa possível nova onda pode trazer. “O problema é que estamos em um ritmo longe do ideal e os grupos vacinados não podem relaxar os cuidados”, alerta. A entrevista vai ao ar na próxima sexta-feira (4), às 22h30.

Publicado em Bahia

A Bahia registrou 81 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, de acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) no final da tarde desta segunda (31).

Por conta de uma falha no sistema de leitura e processamento das bases de dados da Covid-19, dos governos federal, estadual e municipais identificada pela Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb) neste domingo (30), não foi possível consolidar os dados das últimas 24 horas e, consequentemente, ter as informações comparativas com as 24 horas anteriores. Segundo a Sesab, nesta terça-feira (01), todos os dados voltarão a ser divulgados.

O total de mortes por covid-19 na Bahia é de 21.241. A taxa de letalidade da doença no estado é de 2,10%. Apesar das 81 mortes terem ocorrido em diversas datas, a confirmação e registro foram contabilizados nesta segunda. Todas ocorreram em 2021, sendo 70 no mês de maio.

Dos 1.012.200 casos confirmados desde o início da pandemia, 975.260 já são considerados recuperados, 15.699 encontram-se ativos. Na Bahia, 49.146 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19.

De acordo com a Sesab, a existência de registros tardios e/ou acúmulo de casos deve-se à sobrecarga das equipes de investigação, pois há doenças de notificação compulsória para além da Covid-19. Outro motivo é o aprofundamento das investigações epidemiológicas por parte das vigilâncias municipais e estadual a fim de evitar distorções ou equívocos, como desconsiderar a causa do óbito um traumatismo craniano ou um câncer em estágio terminal, ainda que a pessoa esteja infectada pelo coronavírus.

Situação da regulação de Covid-19
Às 12h desta segunda-feira, 183 solicitações de internação em UTI Adulto Covid-19 constavam no sistema da Central Estadual de Regulação. Outros 103 pedidos para internação em leitos clínicos adultos Covid-19 estavam no sistema. Este número é dinâmico, uma vez que transferências e novas solicitações são feitas ao longo do dia.

Publicado em Saúde

Em 6 de março de 2020 a Bahia registrou o primeiro caso do, até então, novo coronavírus. Um um ano e dois meses depois, o vírus já não é um completo desconhecido, embora ainda surpreende. Nesta sexta-feira, 28, o estado atinge a triste marca de 1 milhão de infectados.

Até a quinta-feira, 27, eram 999.463 doentes de covid-19, segundo balanço da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Como a média de contaminações diárias está em 4 mil casos, a marca de 1 milhão de contaminados deve ser ultrapassada nessa sexta.

Os especialistas em Saúde no estado se preocupam, principalmente depois que o novo boletim do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado ontem, manteve a Bahia no patamar de alerta crítico para aumento de contaminações e óbitos.

“Isso é assustador. A pandemia toda assusta muito. O vírus é extremamente transmissível e não é à toa que estamos assim”, lamenta a epidemiologista Gloria Teixeira, integrante da Rede CoVida Ciência Informação e Solidariedade.

“Temos muita dificuldade para fazermos o distanciamento social. Só teria diminuído os números se tivéssemos feito um lockdown severo. Temos também muita pouca vacina”, completa a especialista.

Proporcionalmente, a cada 15 baianos, um já foi contaminado pelo vírus. De março do ano passado para cá, 20,9 mil pessoas morreram de covid-19 no estado, diz o boletim epidemiológico de ontem da Sesab. Isso representa 2,09% dos infectados.

“Quando comparamos com outros estados, vemos que a Bahia não é o pior de todos. Mas tudo isso preocupa. Nós precisamos de vacina e distanciamento”, acrescenta Gloria Teixeira.

Até a quinta, 27, a Bahia tinha vacinado aproximadamente 3,3 milhões com a primeira dose e 1,5 milhão com a segunda, ou seja, cerca de 10% da população do estado completou o esquema vacinal. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), para que a vacina tenha efeito coletivo, é preciso que cerca de 70% da população esteja imunizada.

Quatorze meses depois do começo da pandemia, o CORREIO fez um raio-x da covid no estado. Confira nos tópicos a seguir:

1 - A cada 15 baianos, um pegou covid

Se temos 1 milhão de casos e uma população de quase 15 milhões de pessoas, de acordo com os dados mais atualizados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), podemos afirmar que, a cada 15 baianos, um foi infectado pela covid-19. Dificilmente você não conhecerá alguém contaminado, mesmo que de forma assintomática, pela doença.

Atualmente, algumas personalidades baianas contraíram o vírus. Esse é o caso do vereador de Salvador Claudio Tinoco, do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), deputado Adolfo Menezes e do reitor da Basílica Santuário Senhor Bom Jesus do Bonfim, padre Edson Menezes da Silva. Eles não precisaram ser internados.

Já o vice-prefeito de Capim Grosso, Frank Neto, precisou ser intubado após complicações da doença. Ele está internado no Hospital do Subúrbio, em Salvador. E o padre Renato Minho, da Igreja Nossa Senhora do Pilar e Santa Luzia, em Salvador, está na UTI do Hospital Instituto Couto Maia.

2 – Dos infectados, quase 21 mil morreram

Nesses 14 meses de pandemia, 20.856 pessoas morreram, segundo a Sesab. "É uma situação dramática que vivemos no Brasil e na Bahia”, classifica Celso Sant'Anna, médico imunologista e docente de Medicina da Rede UniFTC.

Ele está preocupado que, com o passar dos dias, mais pessoas morram de covid-19, no que já vem sendo chamada de terceira onda da doença. "Talvez esse nem seja o termo adequado. Vivemos uma onda contínua com repiques. Estamos num patamar muito elevado de casos e, agora, estamos entrando em mais um repique”.

Outros números do estado:

Recuperados - 960.258
Casos ativos - 18.349
Internados - 2.684
Ocupação dos leitos de UTI - 82%
Ocupação dos leitos clínicos - 73%
Quantas pessoas aguardam na fila da regulação por uma UTI covid - 159
Quantas pessoas aguardam na fila da regulação por um leito clínico - 93

*Dados até a quinta-feira, 27

3 – Todas as cidades registraram casos e mortes

Não há uma cidade na Bahia que não tenha sofrido as consequências da pandemia. Ainda em setembro de 2020, Novo Horizonte, na Chapada Diamantina, foi o último município do estado a registrar casos de covid-19. Em 27 de abril de 2021, Cravolândia, no Vale do Jiquiriçá, foi a última a registrar morte. A vítima foi a mãe da secretária de Saúde do município, Ednalva de Oliveira Mendes. Na lista dos municípios com mais casos ativos tem até as ‘cidades pequenas’ como Ribeira do Pombal, que está em lockdown completo até segunda-feira (31).

As 10 cidades baianas com mais casos ativos:

Salvador – 2.886
Feira de Santana - 546
Paulo Afonso - 515
Barreiras - 469
Ribeira do Pombal - 400
Itabuna - 385
Guanambi - 368
Lauro de Freitas - 314
Santo Antônio de Jesus - 265
Vitória da Conquista - 249

Fonte: Sesab

4 – Primeira morte em março de 2020

No Brasil, o primeiro caso do novo coronavírus foi registrado oficialmente em 26 de fevereiro de 2020, Quarta-Feira de Cinzas: um homem de 61 anos que voltou de viagem à Itália. Nove dias depois, em 6 de março, a Bahia registrou seu primeiro caso. Uma mulher de 34 anos, residente em Feira de Santana, que também tinha voltado da Itália.

Já a primeira morte por covid no Brasil ocorreu em 17 de março de 2020. O aposentado Manoel Messias Freitas Filho, 62 anos, em um hospital de São Paulo. Na Bahia, o primeiro óbito foi confirmado em 29 de março de 2020. O paciente era um homem de 74 anos que estava internado em um hospital privado.

5 – Quase 50 mil casos em profissionais da saúde

A cada 20 contaminados na Bahia, um é profissional de saúde. No total, segundo a Sesab, são 48.939 trabalhadores da área que ficaran doentes. Desses, a maioria são auxiliares ou técnicos de enfermagem, com 14.246 casos, seguidos dos enfermeiros com 8.706 e os médicos com 4.254 infecções.

O cenário, para o médico Celso Sant'Anna, é revoltante: “Nós estamos dando nossas vidas para salvar outras vidas e, muitas vezes, não encontramos o amparo necessário e sequer o apoio para desenvolver o serviço. É preciso criar uma rede de proteção aos trabalhadores que estão entregando suas vidas para salvar outras. Não está havendo um olhar cuidadoso dos gestores sobre isso. Os profissionais de saúde estão em campo de batalha lidando com situações dramáticas e dificílimas”, argumenta.

6 - Mais mortes e casos em 2021 que em 2020

Os cinco meses de 2021 já tiveram mais casos e mortes do que os nove de pandemia em 2020 (março a dezembro), na Bahia. Este ano, já ocorreram 11,7 mil mortes e 506 mil casos, enquanto no ano passado foram 493 mil casos e 9,1 mil mortes.

“Nós estamos vacinando muito pouco. Os dados mostram que casos e mortes começam novamente a aumentar, o que pode ser um reflexo pontual das aglomerações do dia das mães, mas junto com a chegada de novas variantes e a proximidade das festas juninas, a perspectiva não é animadora”, diz a epidemiologista Gloria Teixeira.

7 – Quase metade dos doentes é parda

Dos contaminados, metade é parda, diz a Sesab. São 497.553 pessoas autodeclaradas nessa cor infectadas (49,78% dos doentes). Em seguida, 11,54% são amarelos, 10,58% brancos, 7,81% pretos e 0,24% indígenas. Outras 200 mil pessoas não registram cor, o que equivale a cerca de 20% dos doentes.

8 - Mais mulheres contaminadas, mais homens mortos

Na Bahia, quanto ao gênero das pessoas com casos confirmados, 54,92% são mulheres, 44,97%, homens. Em 0,11% das notificações não foi informado o genêro, de acordo com a Sesab. Quando se trata de óbitos, 11.625 homens (55,74%) morreram de covid, enquanto 9.231 (44,26%) mulheres foram vítimas da doença. Esse fenômeno, segundo a epidemiologista Gloria Teixeira, não é exclusivo do estado ou do país.

“Ainda não conseguimos cravar o motivo disso, mas tem algumas hipóteses. Primeiro, elas cuidam mais das suas comorbidades indo mais ao serviço médico. Pode ser também que haja algumas diferenças no físico do homem ou ele demore mais para procurar assistência médica. Tudo isso são hipóteses. Fato é que se tem observado no mundo inteiro os homens morrendo mais”, disse.

9 – Mais da metade dos mortos tinha comorbidade

Cerca de 13 mil baianos mortos pela covid-19 tinham alguma comorbidade e não resistiram a doença, o que equivale a cerca de 63% de todas as mortes. A comorbidade que mais causou mortalidade foi a hipertensão arterial, mas também há óbitos entre os pacientes com diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade e doença renal crônica.

“Quando você entra em contato com um vírus novo, seu sistema imunológico é desafiado a gerar uma resposta. Quem tem comorbidade entra em campo com o exército desfalcado, pois o sistema imunológico já está afetado. E aí, quando vem um vírus como esse, eles são os mais afetados, explicando numa linguagem simples”, diz o professor Celso Sant'Anna.

Mesmo assim, ainda tem uma boa parcela da população de infectados (37%) que morre mesmo sem ter nenhuma comorbidade.

“Há algumas hipóteses que explicam isso: às vezes o paciente jovem, sem comorbidade, o sistema imunológico dá uma resposta tão forte que se volta contra ele próprio. Às vezes, o vírus que contaminou é de uma cepa mais agressiva e por isso a pessoa sem comorbidade sucumbe. Mas ainda são hipóteses”, diz.

10 - Adultos são os mais contaminados

Os mais contaminados pela covid-19 na Bahia são adultos de 30 a 39 anos. No total, são 236 mil pessoas com essa faixa etária que pegaram o vírus, seguidas logo depois pelos adultos de 40 a 49 anos (196 mil contaminados) e dos jovens de 20 a 29 anos (178 mil).

No entanto, quando se observa a taxa de letalidade por faixa etária, os idosos são os que mais sucumbem à doença. Segundo a Sesab, 22,93% dos infectados com 80 anos ou mais faleceram. Dos que tem 70 a 79 anos, a letalidade foi de 12,45%. Já os de 60 a 69 anos, foi de 5,94%.

Essa letalidade vai caindo conforme a faixa etária. Nas crianças, por exemplo, não chega a 0,5%. No entanto, a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SMIP), doença associada à infecção por covid-19, agrava a situação das crianças contaminadas. Até o momento, 80 casos do tipo foram registrados em pessoas de 0 a 19 anos na Bahia. Desses, quatro morreram

11 - Região Leste é a que tem mais casos ativos

A região Leste da Bahia é onde há mais doentes de covid-19 ativos: 5.522. Nessa região está localizada Salvador. Logo depois, a região Centro-Leste, onde fica Feira de Santana, segundo maior município da Bahia, tem 2,8 mil casos ativos. Em seguida, Sul, Sudeste e Nordeste completam a lista dos municípios mais contaminados em tratamento da doença.

12 – Quanto maior a população, mais casos

Os municípios com mais habitantes são também aqueles que tem mais casos confirmados de covid-19 desde o início da pandemia. Na ordem, Salvador e Feira de Santana, as duas maiores cidades da Bahia, são líderes em contaminação. Já itabuna, a sexta maior cidade da Bahia, aparece em terceiro no número de casos confirmados. No início da pandemia, em 2020, a cidade do Sul do estado viveu dias de colapso no sistema de saúde. Logo depois, Vitória da Conquista e Camaçari, respectivamente, a terceira e quarta maiores cidades da Bahia, ocupam a quarta e quinta colocações na lista de municípios com mais casos confirmados.

13 - Cidades pequenas tem mais letalidade

Embora as cidades grandes tenham mais casos de covid-19, as pequenas aparecem na frente na lista das que têm mais letalidade. Água Fria, no Centro-Norte baiano, é a líder, segundo os dados da Sesab. Lá, são 151 casos confirmados e 10 mortes, o que totaliza uma taxa de letalidade de 6,62%.

Em seguida, os municípios de Brejolândia, Chorrochó, Rio do Pires, Ibiquera, Canavieiras, Santana e Iagaporã aparecem com letalidade acima de 5%. Na outra ponta, o município de Ibiassucê, no Centro-Sul do estado, é o que apresenta menor letalidade. São 429 casos confirmados, segundo a Sesab, e apenas uma morte.

14 – A Bahia no ranking nacional

Quando comparada com os outros estados brasileiros, a Bahia está em boa colocação que se refere às taxas de letalidade e mortalidade. No primeiro índice, que mede quantos contaminados morreram, a Bahia está atrás do Amapá, Santa Catarina, Roraima, Tocantins e Acre, que possuem letalidade menor do que os 2,1% daqui.

No índice de mortalidade, que mostra a quantidade de óbitos por habitantes, a Bahia apresenta o segundo melhor resultado, atrás do Maranhão. Aqui, são 139,4 mortos por 100 mil habitantes. Os dois índices do estado são inferiores à média nacional.

Cidades baianas com mais letalidade por covid:

Água Fria - 6,62%
Brejolândia - 6,20%
Chorrochó - 5,79%
Rio Do Pires - 5,47%
Ibiquera - 5,41%
Canavieiras - 5,27%
Santana - 5,12%
Igaporã - 5,01%
Malhada - 4,96%
Nordestina - 4,44%

15 – Cientista de dados alerta para aumento de casos

Reabertura das praias, redução do horário limite do toque de recolher e volta às aulas presenciais. O aumento da mobilidade da população baiana por causa de medidas como essas chamou a atenção do cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19. Ele faz um alerta mostrando que há tendência de aumento de notificações de novos casos para os próximos 15 dias em todo o país, inclusive na Bahia.

Para Isaac, há possibilidade real de vivermos a chamada “terceira onda”. Embasando seu alerta, ele utiliza uma pesquisa da Universidade de Maryland em conjunto com o Facebook.

“Aleatoriamente, eles sorteiam usuários da plataforma e fazem perguntas relacionadas com a pandemia: se as pessoas estão sentindo sintomas, quais são e desde quando. Se ela diz que tem tosse, febre e falta de ar, esse dado entra instantaneamente. Não há atraso de notificação. O que os dados vêm nos dizendo desde metade de 2020 é que eles antecipam em 15 dias o que acontece no número real de notificação de casos pelas secretarias de saúde”, diz.

Nesse momento, usuários do Facebook de todo o país estão reportando mais sintomas de covid-19 nessa pesquisa, o que somado ao aumento da mobilidade das pessoas com a flexibilização das medidas de isolamento, gera preocupação. “Estamos falando de uma alta forte. O alerta nesse momento preocupa, pois a ocupação dos hospitais não baixou. O medo é que esse aumento cause o colapso no sistema hospitalar”, explica.

Esse cenário é observado no momento em que a Bahia já está vacinando. Até essa quinta-feira, aproximadamente 3,3 milhões de pessoas tomaram a primeira dose e 1,5 milhão a segunda, o que representa 10% da população do estado com esquema vacinal completo. Segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), para que a vacina tenha efeito de forma coletiva, é preciso que 70% da população esteja imunizada.

 

Fonte: Correio*

Publicado em Bahia

A Bahia registrou 130 mortes e 4.099 novos casos de covid-19 (taxa de crescimento de +0,4%) em 24h, de acordo com boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) no final da tarde desta quinta (27). No mesmo período, 3.809 pacientes foram considerados curados da doença (+0,4%).

O total de mortes por covid-19 na Bahia é de 20.856. A taxa de letalidade da doença no estado é de 2,09%. Apesar das 130 mortes terem ocorrido em diversas datas, a confirmação e registro foram contabilizados nesta quinta. Todas ocorreram em 2021, sendo 128 no mês de maio. O número de óbitos registrados nesta quinta é o maior do estado desde 16 abril, quando foram registradas 134 mortes.

Dos 999.463 casos confirmados desde o início da pandemia, 960.258 já são considerados recuperados, 18.349 encontram-se ativos. Na Bahia, 48.939 profissionais da saúde foram confirmados para Covid-19.

De acordo com a Sesab, a existência de registros tardios e/ou acúmulo de casos deve-se à sobrecarga das equipes de investigação, pois há doenças de notificação compulsória para além da Covid-19. Outro motivo é o aprofundamento das investigações epidemiológicas por parte das vigilâncias municipais e estadual a fim de evitar distorções ou equívocos, como desconsiderar a causa do óbito um traumatismo craniano ou um câncer em estágio terminal, ainda que a pessoa esteja infectada pelo coronavírus.

Situação da regulação de Covid-19

Às 12h desta quinta-feira, 159 solicitações de internação em UTI Adulto Covid-19 constavam no sistema da Central Estadual de Regulação. Outros 93 pedidos para internação em leitos clínicos adultos Covid-19 estavam no sistema. Este número é dinâmico, uma vez que transferências e novas solicitações são feitas ao longo do dia.

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Remo Rodrigues era um homem disciplinado. Aos 56 anos, não bebia, não era nem de comer comida pesada e fazia tudo o que podia para preservar a saúde. Já fazia um tempo que trabalhava em formato remoto: era auxiliar administrativo da Embasa e era vigiado de perto por seu irmão gêmeo, Juvenal*, que sempre ao acordar ligava para saber como ele estava e se precisava de alguma coisa.

Juntos, os gêmeos superaram uma série de dificuldades na vida, inclusive a fome. Uma das circunstâncias mais desesperadoras não foi capaz de frear a dupla, sedenta por viver. Juntos eles estudaram, prosperaram e construíram suas famílias - e sempre estavam perto um do outro. Só o coronavírus conseguiu brecar essa união: no último dia 15, três dias após dar entrada no hospital Tereza de Lisieux com saturação oscilando, mas quadro aparentemente estável, Remo morreu por complicações deixadas pela doença.

Histórias como a de Remo estão se tornando cada vez mais frequentes em Salvador. Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) indicam que entre o dia 1 e 20 de maio, morreram 70% dos pacientes com coronavírus internados em leitos de UTI da cidade. Em números mais diretos, 119 das 170 pessoas internadas morreram. As informações foram publicadas pelo G1 e TV Bahia, e posteriormente confirmadas pelo CORREIO.

Os números frios assustam, mas não falam tanto quanto a dor dos familiares que também são vitimados pela doença. Sobrinho de Remo, Rômulo Jorge explica que inicialmente ele teve sintomas de gripe após precisar fazer uma atividade presencial no escritório. Fez o exame, confirmou o teste positivo e a partir daí os dias foram de preocupação e ansiedade.

"Ele ficou muito ansioso, contratamos uma técnica de enfermagem para ele não ficar sozinho. Ele sofreu muito, dizia que não conseguia tomar as medicações que compramos. Ela ficou dois dias com ele, teve um pico de ansiedade muito grande e chamamos a ambulância. A Vitalmed detectou a saturação oscilante e resolveu removê-lo. Ele foi ao hospital, foi internado e não chegou a três dias completos", afirmou.

Além das mortes estarem em níveis altíssimos, a velocidade com que acontecem os óbitos também acelerou. O tempo médio de internação em leitos de UTI caiu para quase a metade: no ano passado, a média de tempo que se passava num leito era de 14 a 30 dias. Agora, a média é de 10 a 15 dias porque os pacientes estão morrendo mais rápido.

Médica intensivista, Samantha Oliveira afirma que percebeu a diminuição no tempo de internação e acredita que o motivo sejam as novas variantes do vírus que estão circulando e aceleram os estragos que o vírus deixa nas pessoas.

"Os casos de fato estão ficando mais graves e conseguimos perceber isso no dia-a-dia", afirma.

Por sua vez, o infectologista Fabrício Silveira aponta que somente vacinação em massa e cuidados básicos como o isolamento social e uso de máscara podem brecar essa situação. Até o momento, 352 mil pessoas tomaram as duas doses das vacinas em Salvador. Em 1ª dose, foram 721,9 mil. Até o final da noite de terça-feira (25), a taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto na cidade era de 81%.

Publicado em Saúde

Uma família ia rumo a uma missão que ninguém deseja - reconhecer o corpo morto de uma pessoa amada. As duas, filha e irmã da mulher de 42 anos vítima da covid-19, interromperam por dois minutos a caminhada ao avistar uma cena que, para elas, era um desrespeito. “E repetiam: não estou acreditando nisso”, recorda a psicóloga Larissa Lima, 44, que as acompanhava. O que viam era o Farol da Barra lotado. Estavam prestes a se despedir de uma vida enquanto viam uma multidão sem se importar.

O Laboratório Central de Saúde Pública Professor Gonçalo Muniz (Lacen) já sequenciou 225 genomas completos do Sars-Cov-2, que desencadeia a covid-19, e concluiu, depois de oito meses de estudos, que há 21 linhagens do vírus em circulação na Bahia. Entre elas, três variantes de atenção apontadas pelo Ministério da Saúde: a P.1, de Manaus, a P.2, do Rio de Janeiro, e B.1.1.7, do Reino Unido.

A divulgação da descoberta, no dia 24 de maio, veio acompanhada de um alerta do secretário de Saúde da Bahia, Fábio Villas Boas: “Existe um risco aumentado para a internação e rápido agravamento do quadro clínico”.

A cena do início desta reportagem aconteceu no último sábado (22), no Hospital Espanhol, de onde é possível avistar parte da orla e do Farol da Barra, e mostra que o alerta sobre as novas variantes é desrespeitado. Depois da filha e irmã enlutadas ficarem pasmas ao avistar a aglomeração, ao som de batucadas e música alta, a psicóloga Larissa precisou de um intervalo. “O que a gente vê é sinal de horror. É surreal”, define Larissa. “Surreal” é o adjetivo que não sai da boca dela. “Já usei mais durante a pandemia que em 44 anos”.

No ramo da virologia, são chamadas variantes, explica Ricardo Khoury, virologista e pesquisador da Fiocruz, um subtipo de um microrganismo, que é “geneticamente distinto de uma cepa principal”. Isso significa que todas as variantes do Sars-cov-2 são chamadas de variantes porque passaram por diferentes mutações que as diferem entre si, mas não o suficiente para formarem novos vírus.

A variante mais recente que desembarcou no Brasil é a indiana, chamada B.1.617. Os primeiros casos foram confirmados no dia 20 de maio, no estado do Maranhão, em pessoas que estavam a bordo de um navio atracado no litoral do estado. Agora, já são pelo menos 15 casos da viarante e o estado de saúde de um indiano de 54 anos, que está internado depois de ser infectado, piorou, segundo boletim divulgado no último final de semana, e ele foi intubado, na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital privado de São Luís.

Chegada de novas variantes à Bahia é questão de tempo

Os vírus têm replicações consideradas “falhas”, das quais surgem novos microrganismos. São processos comuns a todos os vírus, não só ao Sars-Cov-2. O problema, no caso das variantes desse vírus, aliada a uma cobertura vacinal ainda baixa, é que as variantes geralmente são os “subprodutos” com mais capacidade de permanecerem vivas e, por isso, de gerarem quadros mais graves da covid-19.

Na Bahia, dos 14.9 milhões de habitantes apontados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1.445.489 milhão - ou seja, 9.7% - recebeu a segunda dose da vacina contra a doença, mostra painel da Sesab. Em Salvador, dos 2,8 milhoes de habitantes, apenas 342.458, ou 12%, já foram completamente imunizados .

“Essas mutações surgem espontaneamente e dentro desse contexto de surgir espontaneamente e as pressões geradas pela pressão imunológica, acabamos selecionamos as que tem mais capacidade de sobreviver”, explica Khoury.

As estatísticas oficiais de casos da doença não fazem distinção por variante. Mas, conta o virologista, os pesquisadores conseguem identificar grande predominância das variantes P.1, de Manaus, e da P.2, do Rio de Janeiro, em casos mais graves. Ambas chegaram à Bahia mais expressivamente em janeiro, o que comprova a necessidade de se preocupar com o que ocorre no Maranhão.

“A velocidade com que elas conseguem alcançar o mundo é grande e é muito difícil conter isso”, explica. Enquanto não há vacina para todos, os remédios, no entanto, já são conhecidos, e não dependem só “de políticas públicas de afastamento", frisa Khoury. “Se a população não conseguir se controlar, com o mínimo de segurança, vai ficar muito difícil”, avisa.

O uso de máscara deve acontecer sempre, inclusive durante a prática de exercícios físicos. “Em qualquer atividade que você fale mais, fique mais ofegante, há produção maior de gotículas de ar e, sem saber, você pode estar doente e transmitir para alguém”, alerta.

Final de semana termina com UTIs e ruas lotadas

Entre o Porto e o Farol, o caminho estava tão cheio na manhã do último domingo (23) que era preciso desviar de ciclistas e corredores - quase nunca com máscaras, que estão quase sempre sob o queixo. As praias estavam fechadas, mas, segundo moradores, uma corrida foi realizada logo no início do dia.

Na área do Porto da Barra, mais de 30 pessoas deram as mãos, também sem máscara, antes de uma competição de triatlo. Num bar próximo, homens, mulheres e crianças interagiam livremente.

O Hospital Espanhol tem vista para alguns desses trechos. No último final de semana, a psicóloga Larissa repetiu mais de 20 vezes o percurso externo que leva até o contêiner refrigerado onde as vítimas fatais da covid-19 são reconhecidas pelos parentes, que vão paramentados dos pés a cabeça para isso. Mais de 20 vezes, portanto, ela viu aglomerações. “Incomoda demais”, afirma ela.

“Enquanto eu falo com você, vejo umas 15 pessoas com máscara no queixo, próximas, rindo”.

Até o fim do último domingo, a taxa de ocupação dos leitos de UTI adulto ficou em 83% na Bahia e em 79% na capital baiana. Sete hospitais, em Salvador, fecharam o dia com de ocupação igual ou maior que 90% - Maternidade Professor Josê Maria de Magalhães Neto (100%), Hospital Covid-19 Itaigara (98%), Hospital Especializado Salvador (95%), Hospital do Subúrbio (94%), Hospital de Campanha Centro de Iniciação Esportiva (94%), Hospital Eládio Lasserre e Hospital Sagrada Família, ambos com 90% de lotação.

Um estado conduzido por um grupo ligado ao governo do Reino Unido indicou que as vacinas da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneza/Oxford são efetivas contra a variante indiana da Covid19. Mas, é bom lembrar que a minoria da população, baiana e brasileira, está vacinada. E o grupo não analisou o desemprenho da Coronavac, a mais utilizada até o momento em todo o país.

Às 17h13, Larissa, a psicóloga do Hospital Espanhol voltou a escrever à reportagem. Anexou apenas uma foto, com vista para a Barra lotada. “Surreal”, ela escreveu. Logo em seguida, engoliu a indignação, que vive presa no peito, e voltou a trabalhar. Embora aqueles do lado de fora ignorem, ali dentro há uma luta contra a morte que nunca tem intervalo.

Tire dúvidas sobre variantes
Como as variantes surgem?

As variantes surgem do processo de replicação de um vírus.

Por que as variantes podem ser mais graves?

Nesse processo, falhas do processo de replicação e interferência da resposta imunológica de um indivíduo contra um vírus, o que pode gerar variantes mais graves e transmissíveis.

Como se proteger das variantes do coronavírus?

Enquanto não há vacina para todos, as únicas formas de se proteger contra as variantes do coronavírus são o uso correto de máscara e o distanciamento ou isolamento social.

Publicado em Saúde

O grave atravessa a mais espessa parede e faz tudo trepidar. Na mesma batida estremece o que há de vidro e alumínio na casa. O desconforto é tão grande, que o traseiro pulsa na mesma frequência. “Aqui em casa, as paredes são antigas, 60 cm de largura, e, ainda assim, o barulho não deixa ninguém dormir. Sacode tudo. A sensação é de um trio elétrico dentro de casa. Quando vamos dormir, a gente sente o travesseiro tremer”, relata uma moradora da Rua Presidente Vargas, em Itapuã. Segundo ela, todas as sextas-feiras tem paredão na rua, que é estreita e margeada por casas. “É um inferno!”, desabafa.

Mais de 1,3 mil festas e paredões como esse foram encerradas em apenas três meses no território baiano pela Polícia Militar da Bahia (PM-BA). De 19 de fevereiro até 15 de maio, foram exatamente 1.329 eventos desse tipo finalizados, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-BA). Vinte e um deles aconteceram no dia 15 de maio. A PM-BA também fez 367 autuações em situações de tumulto, no mesmo período, e fechou 17.632 estabelecimentos.

Segundo a moradora de Itapuã, antes da pandemia, o paredão acontecia na Praça Dorival Caymmi. Mas, com a intensificação das operações de combate à poluição sonora da prefeitura, como medida de enfrentamento à covid-19, o paredão foi transferido para a Rua Presidente Vargas, que fica na localidade conhecida como Baixa da Gia. “Desde então, não tivemos paz. Dorme à noite nas sextas é um milagre!”, disse.

Em Salvador, Itapuã é o bairro líder em denúncias de poluição sonora, de acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur). Das 11.937 denúncias feitas ao órgão entre janeiro e maio de 2021, 353 delas foram para o bairro de Vinícius de Moraes. O segundo no ranking é Paripe (320), seguido de Pernambués (302), Boca do Rio (289) e Liberdade (280). No total, 422 equipamentos de som foram apreendidos. No mesmo período do ano passado, foram registrados 19.348 casos.

A moradora contou que responsáveis pela promoção da “festa” começam a fazer a divulgação no início da semana nas redes sociais. “Espalham cards sem muito detalhe e só um número para as pessoas saberem o dia e o horário”, contou. A bagaceira tem começado sempre a partir das 22h, bem no horário do toque de recolher estabelecido pelo governo do estado. A depender da quantidade de gente, vai até 07h, 08h até 10h do sábado. De acordo com ela, na última sexta do mês de abril, havia um público de 500 pessoas embaladas não somente pelo som grave que saia das porta-malas de três carros.

“Nessas festas vem gente de todo o canto e de todo o tipo. Vem o pessoal de Itinga, Bairro da Paz, Alto do Coqueirinho, Fazenda Cassange, gente de Cajazeira, são jovens, muitos adolescentes, em busca de bebida, sexo e drogas”, declarou. Ela disse que já perdeu as contas de testemunhar situações indelicadas em frente à sua porta. “Já presenciei casais brigando, fazendo sexo, pessoas consumindo cocaína, vomitando... Certa vez, uma menina passou tão mal, vomitava tanto, que abri a porta e dei água para ela, porque, apesar de tudo, tenho filho adolescente e a gente se compadece”, contou a moradora.

Um outro morador da rua entrevistado pelo CORREIO disse que certa vez pediu para um dos responsáveis pelo paredão que diminuísse o volume do som. “Naquele dia, no segundo semestre do ano passado, estava impossível ficar em casa. Parecia que as paredes iam desabar e precisava dormir, pois ia trabalhar cedo. Fui até lá e pedi educadamente para que o dono diminuísse, mas ele não só negou, como tirou foto minha e de minha casa, como forma intimidação. Então, liguei para a polícia, que acabou a bagunça. Mas, na semana seguinte, tinha outro paredão lá”, contou.

São Tomé de Paripe
O problema dos paredões é sentido também por quem mora na outra ponta de Salvador. Em São Tomé de Paripe, região do subúrbio, o bicho pega aos sábados. A orla à noite é toda por carros, que muitas vezes já estavam ali durante o dia. “Essa turma se reúne para beber 15h, 16h. Começa com três, cinco, depois já tem 10, 15. Quando chega à noite, vira um Carnaval de gente. As pessoas tomam a rua de uma forma, que os moradores sequer conseguem sair de suas casas. Tirar o carro da garagem é impossível”, contou um morador.

Ele relatou que é comum em dias de paredão atravessar o mar de gente carregando um vizinho que passou mal porque a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) não consegue chegar ao endereço informado. “Eles não deixam a ambulância passar, ameaçam quebrar tudo e quem sofre somos nós. A polícia chega, dispersa tudo mundo, mas basta as viaturas saírem, para voltar tudo novamente”, contou.

Pernambués
Quem mora em Pernambués raramente consegue um boa noite de sono nos finais de semana. Isso porque moradores da Rua Escritor Edison Carneiro é tomada por carros de som estacionados próximo de um estabelecimento, o Pastel da Say. Segundo os moradores, a situação se repete há várias semanas, sempre nas madrugadas de sexta a domingo, o que impossibilita o sono de crianças, idosos e qualquer pessoa que more próximo ao local de onde os paredões estrondam seus poderosos aparelhos de som. “E para completar, no dia seguinte é uma porcaria só. As portas das casas e do comércio ficam com um fedor de mijo, vômito, até fazes já encontramos. Copos plásticos, garrafas, camisinhas, droga espalhada. Um caos”, disse mais uma moradora.

Tráfico
De acordo com uma fonte da Sedur, a grande maioria das denúncias de paredões tem relação com o tráfico de drogas. Ou seja, traficantes estariam por trás financiando essas aglomerações. “Isso foi o que nós constatamos. Por conta da pandemia, as festas foram proibidas como medida de combate à proliferação do vírus. Logo, o tráfico viu nas festas de paredão, que já acontecia antes, mas em menor frequência, a forma de escoar a droga”, disse a fonte.

A fonte disse que exemplos não faltam. “Certa vez, um comboio da Polícia Militar foi recebido a tiros no Arenoso, quando foi para encerrar um paredão que tinha mais de mil pessoas. No complexo do Nordeste de Amaralina e em São Caetano também tivemos casos semelhantes. A gente vem percebendo o aumento das aglomerações como forma do tráfico tirar o prejuízo nessa pandemia. Logo, é possível encontrar um monte de gente armada. Os vídeos e fotos que circulam nas redes sociais estão aí para mostrar tudo isso”, disse o agente.

Ele falou ainda que os relatos das pessoas que não obrigadas a conviver com os paredões são desesperadores. “São moradores de bem, que trabalham o dia inteiro e que precisam de paz para começar o dia seguinte, pessoas com avós em casa, parentes doentes, gente que não tem para onde ir e que vai na Sedur se acabando no choro porque não aguenta mais. Gente dizendo que está à beira de cometer uma loucura. Fazemos o que podemos. Vamos até o local com a polícia. Mas basta a gente dar as costas e começar tudo de novo. Tivemos relatos de pessoas que abandonaram suas casas”, contou.

Fiscalização
A subcoordenadora de fiscalização sonora da Sedur, Márcia Cardim, ressalta que os paredões são proibidos de ocorrer com ou sem pandemia. Seja por paredes de som, ou no porta-malas de veículos. Já em um contexto pandêmico, nenhum som em via pública está permitido.

“Nenhum tipo de som em logradouro público está sendo autorizado, independentemente de ser caixa de som ampliada, veículo com som pequeno, não pode. Também não pode festa, independentemente do índice sonoro, do número de pessoas. Passou de 22h, a gente solicita que o cidadão se recolha, por conta do toque de recolher. Se não tiver passado de 22h ainda, a gente orienta sobre o uso de máscara, distanciamento, conversa e dispersa as pessoas e a aglomeração”, esclarece Cardim.

A penalidade pode variar de R$ 1.068 a R$ 168 mil. Se a pessoa cometer o crime mais de uma vez, pagará o dobro da primeira multa. “Autuamos o infrator pelos índices a depender do permitido ou pela falta do alvará. Ele só pode retirar o bem após o pagamento da multa ou se houver nulidade do processo, por algum vício. O valor da multa varia a depender do local, horário, altura do som, dos decibéis acima do permitido, de acordo com a tabela dentro da lei”, orienta.

Além da multa, a pessoa é conduzida à delegacia por desrespeitar “o sossego e ordem pública” e por “crime ambiental”, e responderá criminalmente. Os bairros mais denunciados são os periféricos, como já mencionado. Porém, a Pituba, por exemplo, está em oitavo lugar no ranking. “Na Pituba, temos maior incidência de bares e residências, e não paredões. Em cada bairro, acaba mudando a configuração da denúncia”, detalha Márcia.

Na Liberdade, as igrejas são o principal foco de poluição sonora. “A Liberdade é um bairro com um número muito grande de igrejas, geralmente, de pequeno porte, que utilizam equipamentos de banda, microfonia, não têm alvará, e acabam incomodando as pessoas da redondeza”, exemplifica.

As fontes mais denunciadas por barulho, no geral, são os veículos - mais de 90%. Porém, houve um aumento das denúncias em residências na pandemia. “Por conta de as pessoas ainda estarem em isolamento, elas acabam extrapolando as atividades sonora. Outro fenômeno que cresceu foram as chácaras e residências locadas para eventos, que são registradas como residência, mas, pela frequência das festas, não é mais residência, e sim casa de festa”, ressalta. Os dias mais frequentes dessas festas e aglomerações são de sexta a domingo.

Ela relembra que, além das atividades sonoras em vias públicas estarem proibidas, somente os estabelecimentos comerciais que têm alvará sonoro podem promover som ao vivo e com restrições: até às 21h30, com apenas duas pessoas na banda, e índices de decibéis até 60 entre 22h às 7h, e até 70db de 7h às 22h. Eventos com venda de ingresso estão igualmente proibidos e o limite para casa de festas é de 50 pessoas, respeitando-se o distanciamento de 1,5 metro.

Ela também faz um apelo para que essas aglomerações não ocorram. “Se o cidadão não ajudar, por mais equipes que a prefeitura coloque nas ruas, para combater a poluição sonora, acaba tendo um retrocesso, como agora, com os casos aumentando e a ocupação dos leitos de Uti [Unidade de Terapia Intensiva]. Tem quer consciência neste momento”, alerta a subcoordenadora.

São 42 pessoas na equipe da Sedur para combater os focos de poluição sonora em Salvador, uma cidade de 693,8 km². Ou seja, cada fiscal é responsável por uma área de 16,5 km², o equivalente a dois campos de futebol. Para denunciar aglomerações, festas e paredões, o canal da prefeitura é o Disque 156. Também é possível denunciar pelo 190, diretamente com a Polícia Militar.

Aglomerações aumentaram número de casos
A coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Izabel Marcílio, vem notado um aumento das aglomerações e uma redução dos índices de isolamento social em Salvador e na Bahia como um todo. “Dá para perceber no engarrafamento, nos comércios que funcionam de portas fechadas e em bares e restaurantes que vendem cerveja após o horário permitido”, pontua.

Ela pondera, contudo, que não são só os paredões que são o foco de transmissão para o vírus. “Se fosse só paredão o problema da pandemia, a gente só teria pessoas de uma classe mais baixa infectada e nos hospitais, e isso, em nenhum momento, aconteceu. Se houver aumento dos casos nos finais de semana, é por conta dos paredões, das festas privadas em condomínios de luxo e dos encontros familiares”, alerta.

“Qualquer festa, mesmo com a família, ou um batizado numa igreja, que é ainda pior, porque é em local fechado, é uma aglomeração. E começamos a ver um aumento 15 dias após o evento. Não podemos constatar em relação aos finais de semana, mas, quando ocorrem feriados, como foi o da Semana Santa, já vemos o espalhamento da doença”, reforça.

Isso ocorre porque, o novo coronavírus, é uma doença de “característica explosiva”, porque, casa pessoa transmite para outra, em cadeia, explica Izabel, que é média epidemiologista. É diferente, por exemplo, da dengue, ou zika, em que é necessário um vetor para espalhar a doença. O contágio pela covid-19 é majoritariamente respiratório.

O professor do Instituto de Saúde Coletiva (Isc) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Márcio Natividade, doutor em saúde pública e integrante da Rede Covida e do Geocombate, grupo de pesquisa da Ufba voltado para analisar o comportamento da pandemia nos bairros de Salvador, avalia que esses tipos de eventos vão de encontro a todas as recomendações sanitárias.

“Estamos lidando com um vírus de alto potencial de transmissibilidade, então, quanto mais pessoas próximas, maiores as chances do vírus circular com maior força", explica. “Os jovens, das faixas etárias menores de 30 anos, estão tendo maiores ocorrências de casos, justamente por conta disso, não há uma total noção do risco, diferente dos adultos”, avalia.

A contaminação reflete na taxa de ocupação de leitos de Uti, nas taxas de hospitalização, óbitos, novos casos e casos ativos, segundo ele, por conta da facilidade do contágio - aumentado pelas novas variantes. “As pessoas vão se infectado, transmitem para seus familiares em casa, alguns deles, idosos e com comorbidade, agravam e, gera o efeito cascata, porque muitos não conseguem leitos, lotam as UPAs [Unidades de Pronto Atendimento], e isso aumento o número de óbitos”, esclarece.

De acordo com Natividade, os bairros periféricos são os que mais registram paredões, mas não são o único foco de contaminação da doença. Ele observa que principalmente no distrito de Beiru e Cabula, Liberdade e Centro Histórico, há um aumento dos casos, hospitalização e mortalidade, que foi acentuado nos últimos meses, desde fevereiro de 2021. Ele sugere que haja uma prevenção desses eventos ocorreram, para evitar o acontecimento das festas.

De onde vieram os paredões?
Os paredões surgiram em 1940, dos povos africanos, segundo Mariana Bittencourt, mestra em antropologia pela Ufba. “A festa paredão surge como uma herança cultural de povos africanos em diáspora, sobretudo na Jamaica. Desde a década de 1940, existem sistemas de som como organizadores da vivência coletiva, principalmente nos bairros de periferia da Jamaica”, explica.

No Brasil, essa cultura se disseminou nos anos 2000 como parte da sociabilidade da juventude, em maioria, periférica. Na Bahia, prevalece o pagode, mas, em outros estados, como o Rio de Janeiro e São Paulo, o funk é o ritmo mais consumido.

Além disso, os paredões existem pela proximidade geográfica e limitação da juventude negra no acesso ao entretenimento. “A lógica de existência desses paredões, sobretudo pela posição socioeconômica da juventude mais pauperizada de Salvador, também com as relações raciais que demarcam essa cidade, é vinculado ao acesso e ao consumo de entretenimento. E, pela possibilidade de ter esse entretenimento em sua localidade, através do sistema de som, na rua, onde tem também movimentação do comércio local, de bebida, de comida”, detalha Mariana.

A antropóloga ratifica, assim como foi afirmado por Márcio e Izabel, que os paredões não são os únicos responsáveis pelo aumento dos números de pandemia. “O paredão não é o único que tem violado os princípios de distanciamento. Existem outras classes sociais e outros tipos de festa, por outro tipo de público, que está a fim de sociabilizar”, pondera.

Aliado a isso, ela ressalva que, a classe trabalhadora informal, não teve o direito de estar em quarentena, então é mais difícil assimilar que aglomerações sejam possíveis. “A classe trabalhadora não parou durante a pandemia, não houve o direito de quarentenar, como em outros meios sociais. Os trabalhadores de transporte público, de segurança, de mercado, de mercado informal, permaneceram trabalhando e a visão sobre não aglomerar é quase inexistente. O paredão é mais um dispositivo de fuga”, completa Bittencourt, que fez uma tese de mestrado sobre o sistema de som de Salvador.

O Correio procurou a Guarda Civil Municipal e a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop), que informaram que seriam com a Sedur. A PM-BA não fornecer fonte para a matéria.

Bairros com maior número de denúncias por poluição sonora em Salvador (fonte: Sedur)
Número de denúncias - 11.937
Itapuã – 353
Paripe – 310
Pernambués – 302
Boca do Rio – 289
Liberdade – 280
Equipamentos apreendidos – 422
Período: 01.01.2021 a 18.05.2021

 

Fonte: Correio24horas

Publicado em Bahia

A alta no número de casos de coronavírus em Salvador já começa a refletir na taxa de ocupação de leitos. Pelo menos quatro unidades da capital baiana, entre leitos clínicos e de UTI, já não possuem mais vagas.

Na tarde desta quinta-feira (29), segundo os dados da Secretaria de Saúde da Bahia, o Hospital Eládio Lasserre, no bairro de Águas Claras, já registrava 100% ocupação dos 10 leitos clínicos e os 10 de UTI para pacientes com covid-19. Do total de pacientes internados com maior gravidade, oito fazem uso de ventilação mecânica.

Há também registro de lotação máxima nos leitos clínicos do Hospital de Campanha do Itaigara; na UTI da Maternidade Professor José Maria de Magalhães; e nos leitos pediátricos do Hospital Municipal de Salvador.

O cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19, já havia alertado para a possibilidade da terceira onda de covid-19 no país, principalmente com a aproximação do inverno.

Se o colapso no sistema de saúde por conta da covid-19 foi evitado em fevereiro e março deste ano, ele pode chegar nos próximos meses. A média móvel de casos ativos na Bahia aumentou 13,2% em apenas um mês. Em 19 de abril, ela estava em 15.576 casos. Já em 19 de maio, chegou a 17.637.

O pico foi registrado em 27 de fevereiro, quando a média móvel de casos ativos no estado ficou em 20.582, segundo a médica epidemiologista Izabel Marcílio, coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (Coes), da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).

O número tem aumentado progressivamente. Em 1 de abril, por exemplo, a média era de 15.646. Já no dia 15 de abril, foi para 16.139, e, em maio, passou dos 17 mil. Isso significa que o fator rt, que mede a taxa de transmissão do novo coronavírus, está acima de 1, ou seja, uma pessoa consegue infectar mais de uma, fazendo a curva subir. Se ela estivesse abaixo de 1, haveria um decréscimo, e, se fosse igual a 1, haveria estabilidade, o que não tem sido observado.

Os casos ativos são aqueles confirmados com o diagnóstico de covid-19, de pessoas com ou sem sintomas. Eles são considerados ativos, ou seja, sujeitos a infectar outra pessoa, durante 14 dias, e são calculados a partir do número de casos confirmados, subtraindo-se o número de óbitos.

Consequentemente, isso reflete na taxa de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que variou entre 85% e 81% nesta quarta-feira (20). Das 9 regiões da Bahia, apenas duas estão com a taxa de ocupação de leitos de UTI abaixo de 80% - no Centro-Norte (77%) e no Sul (78%). No Nordeste, está em 100% - vejas todas no final da matéria. É preciso lembrar que o estado tem o dobro de leitos de terapia intensiva do ano passado, no pico da primeira onda. Hoje, são 1.598.

Os três fatores que contribuíram para esses aumentos foram os feriados do mês de abril e maio, além das flexibilizações feitas pelo governo estadual e em alguns municípios.

“O comportamento da população é que facilita ou freia a transmissão do vírus, já que é um vírus de transmissão respiratória. Coincidiu a Semana Santa e, logo em seguida, o Dia das Mães, que são dois feriados de bastante prestígio na Bahia, e que levam a aglomerações, sem uso de máscara. Somado a isso, tiveram as flexibilizações, com alguns setores de atividades sendo liberados”, esclarece Izabel Marcílio.

Apesar de voltar a decretar estado de calamidade pública no dia 1 de abril, o governo baiano flexibilizou a realização de eventos até 50 pessoas, reduziu a duração do toque de recolher, promoveu a reabertura de restaurantes e academias e permitiu a venda de bebida alcóolica no final de semana.

Esses encontros familiares, apesar de não serem como os paredões, são tão transmissíveis quanto, relembra a epidemiologista. “Os familiares são os principais motores de transmissão, porque são sempre contatos próximos e prolongados, com confraternização, comida e bebida, beijos e abraços. Se todo mundo passa a não seguir as regras e se aglomerar em locais fechados, os índices vão aumentar, não tem jeito, é matemática”, reforça Marcílio.

A coordenadora do Coes afirma que nenhuma região está com a pandemia sob controle e todas preocupam a Sesab, principalmente a Oeste, além da Região Metropolitana de Salvador (RMS), pelo contingente populacional: “Todas estão em alerta”.

A quantidade de testes realizados pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) continua o mesmo, de 5 mil por dia. Segundo Izabel, os municípios passaram a aplicar mais testes por conta própria - seguindo as mesmas diretrizes, de só testar os sintomáticos.

Apesar disso, ela não considera que seja a terceira onda ainda, porque não saímos da segunda. O mesmo foi dito pelo coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Salvador, Ivan Paiva (relembre aqui). “Antes da Páscoa, estávamos com 14 mil casos ativos, o que é muito, então a segunda onda ainda não acabou. A gente vinha controlando bem e, de repente, há um repique, com um novo aumento”, analisa.

Para que a situação fique sob controle, ela defende que 100% da população acima de 18 anos deva estar vacinada e o número de casos ativos seja zerado. Isso dependerá do envio de doses pelo Ministério da Saúde e da consciência da população. Ela faz um alerta para que os baianos não festejem no São João.

“Não teremos São João e, quem está pensando diferente, ficará convivendo com a dor e o sofrimento de ficar doente, está se convidando para ir para hospital, se infectar, ir para a Uti, e poderá conviver com a morte de quem ama e dele próprio, além de arrastar essa situação complicada da pandemia, que ninguém aguenta mais. Cada passo para a desobediência significa colocar esse 

Flexibilização aumentou incidência, diz médico

Para o imunologista e professor da Rede UniFTC Celso Sant’Ana, o principal motivo que levou à nova ascendência de casos de covid-19 foi a flexibilização. “Seguramente, existe uma combinação de fatores, mas o relaxamento de algumas medidas restritivas, assim como os eventos que fizeram ter aglomeração, que fazem esses casos subirem”, avalia.

Sant’Ana diz que não estava na hora de flexibilizar. “Quando caíram as mortes diárias de 4 mil para 2 mil, 1 mil e pouca [no Brasil], tivemos a falsa sensação que a pandemia estava diminuindo a intensidade, mas ainda não era a hora de flexibilizar, porque o patamar ainda é muito alto. E é uma combinação trágica, de poucas vacinas, de muitas variantes, agora com essa da Índia, que chegou no Maranhão e no Ceará, aqui do lado”, esclarece.

O imunologista explica que, mesmo vacinada, uma pessoa pode transmitir a doença - e esse é o problema. “Os estudos disponíveis demonstram que, com a primeira dose da Pzifer e da Astrazeneca, se reduz em até 50% a transmissão. Ou seja, se 100 pessoas tomaram a primeira dose da vacina, 50 continuam transmitindo. Em relação à eficácia para hospitalizações, óbitos e internações, essa proteção ultrapassa 80%, então elas são extremamente eficientes, mas, quanto à capacidade de não permitir que se transmita a doença, é só a metade, no máximo. Então mesmo vacinado, você não pode baixar a guarda” alerta.

Celso diz que ainda não há dados concretos sobre a taxa de transmissibilidade após a segunda dose. Em relação à Coronavac, os estudos ainda são parciais, mas apontam que a taxa não é maior que 50%, como a Pzifer e Astrazeneca. Além disso, ele ressalta que a imunidade total só se dá após 15 dias da aplicação da segunda injeção.

Cidades no interior têm 100% de ocupação de UTI

Algumas cidades do interior da Bahia estão com ocupação de leitos de UTI em 100%. Em Barreiras, no Extremo Oeste baiano, isso acontece desde o dia 28 de abril. Deste dia até ontem (20), só houve um dia - o dia 18 de maio, quando a taxa desceu para 94% - que o índice esteve abaixo de 100% na ocupação. Segundo a prefeitura do município, os casos e óbitos continuam aumentando e a situação é “extremamente preocupante”.

Com essa alta nos números, a prefeitura decretou a proibição do atendimento presencial do comércio e similares. A medida está em vigor do dia 13 até o dia 25, na próxima terça-feira. Somente serviços essenciais podem funcionar. O toque de recolher proíbe circulação de pessoas em vias públicas de 20h às 5h da manhã.

O sistema de saúde de Barreiras conta com uma Unidade de Pronto Atendimento (Upa) específica para o novo coronavírus, com 43 leitos clínicos e 10 leitos de Uti contratados com o Hospital Central. Além disso, existem mais 40 leitos de UTI no Hospital do Oeste, referência da região. A cidade tem 14.504 casos confirmados do novo coronavírus, sendo 13.364 pessoas recuperadas, 871 em isolamento domiciliar, 40 internados e 228 óbitos. Outros 113 aguardam resultado do teste de covid-19.

Em Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, a ocupação também está em 100%, tanto na rede pública, quanto na rede privada. São, ao todo, 61 baianos internados. Dessas, 25 estão distribuídas na rede municipal, entre o Hospital de Campanha, o Hospital Municipal, na Unidade Municipal Materno Infantil e na Upa específica para covid-19. Na rede privada, são 22 pessoas internadas, 15 em enfermaria e sete em UTI.

Segundo a assessoria da prefeitura do município, as taxas de ocupação não ficaram abaixo de 67% desde o início do ano. Elas variam entre 80%, 97%, 100% e 67%. Para conter a disseminação do vírus, a gestão municipal tem permitido o comércio funcionar até 21h, com fiscalização intensa, e proibição de esportes coletivos. No total, são 14.652 casos confirmados, sendo 14.354 pessoas recuperadas, 78 casos ativos e 220 óbitos, segundo último boletim epidemiológico.

Em Campo Formoso, no Centro Norte, a ocupação de leitos de uti estava em 100% dois dias seguidos (18 e 19 de maio). Nesta quarta-feira (20), caiu para 71%. A cidade tem 4.736 casos confirmados, 214 pessoas aguardam resultado e 492 estão em monitoramento. Outros 278 casos encontram-se ativos e 52 pessoas morreram.

Em Irecê, também na mesma região, a ocupação do Hospital Regional, que tem 10 leitos de UTI para covid-19, está em 100%. Trinta e seis pessoas encontram-se internadas, segundo a assessoria da prefeitura. Além dessa estrutura, a cidade também tem uma Upa específica para tratar o novo coronavírus, com 21 leitos – 18 clínicos e três com ventilação mecânica, todos ocupados.

Nesta semana, Irecê atingiu o número de 100 mortes. Hoje, são 108 óbitos, além de 188 casos ativos. Dentre as medidas restritivas da região, está o toque de recolher entre 20h e 5h da manhã, e a proibição de venda de bebidas alcóolicas aos finais de semana, até a próxima segunda-feira (24).

Ocupação de leitos de UTI por região da Bahia (fonte: SEI e Sesab)
Centro-leste: 90%
Centro-norte: 77%
Extremo Sul: 95%
Leste: 85%
Nordeste: 100%
Norte: 80%
Oeste: 86%
Sudoeste: 88%
Sul: 78%
Total da Bahia: 85%

Número de casos ativos em abril e maio (fonte: Sesab)
1/04: 16.158
2/04: 15.939
3/04: 15.069
4/04: 14.287
5/04: 14.206
6/04: 13.860
7/04: 13.941
8/04: 13.937
9/04: 14.464
10/04: 14.170
11/04: 15.118
12/04: 14.594
13/04: 15.230
14/04: 15.691
15/04: 16.139
16/04: 15.627
17/04: 16.371
18/04: 16.425
19/04: 15.576
20/04: 15.760
21/04: 16.027
22/04: 15.504
23/04: 15.726
24/04: 15.571
25/04: 15.534
26/04: 15.152
27/04: 15.627
28/04: 15.483
29/04: 15.915
30/04: 15.724
01/05: 16.253
02/05: 15.803
03/05: 16.253
04/05: 15.809
05/05: 15.824
06/05: 16.073
07/05: 16.822
08/05: 16.551
09/05: 16.094
10/05: 15.091
11/05: 15.430
12/05: 16.254
13/05: 16.890
14/05: 17.622
15/05: 17.707
17/05: 16.239
18/05: 16.404
19/05: 17.637
20/05: 18.558

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O laboratório chinês Sinovac reduziu em mil litros a previsão de entrega da matéria-prima da vacina esperada pelo Instituto Butantan para retomar a produção da CoronaVac.

Em vez dos 4 mil litros de ingrediente farmacêutico ativo (IFA) planejados pelo governo paulista para o dia 26, devem desembarcar 3 mil de litros em São Paulo, o que é suficiente para fabricar 5 milhões de doses do imunizante.

A partir do momento da chegada da matéria-prima, o Butantan leva 20 dias para entregar a vacina envasada para o Ministério da Saúde. A cadeia de produção da CoronaVac está parada desde o dia 14, quando foi entregue o último lote do imunizante.

A redução no envio de IFA foi comunicada pelo laboratório chinês na terça-feira e confirmada nesta quarta-feira pelo diretor do Butantan, Dimas Covas. Se chegassem os 4 mil litros, o instituto poderia entregar 7 milhões de vacinas.

— Com isso, essa expectativa de entrega de 12 milhões para o ministério (da Saúde em maio) não se cumprirá e aguardamos a próxima remessa de matéria-prima — concluiu.

Apesar disso, Dimas disse acreditar que conseguirá cumprir o contrato com o Ministério da Saúde, que prevê um total de 54 milhões de doses até o fim de setembro.

O governador João Doria (PSDB) tem dito que o atraso na entrega da matéria-prima é motivada pelas declarações do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos sobre a China consideradas agressivas. O governo federal nega.

Questionado sobre o assunto no último domingo, o minsitro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que Bolsonaro tem "excelente relação" com a China e outros países parceiros.

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