Mulheres que tiveram um pai considerado superprotetor, em uma relação marcada por restrições na autonomia durante a infância e/ou adolescência, apresentam risco 22% maior de morrer mais cedo (antes dos 80 anos), aponta estudo publicado na revista científica Scientific Reports, da Nature. Entre os homens, esse risco é 12% maior.

Cientistas da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da University College London (Reino Unido) analisaram uma amostra de 941 indivíduos (445 mulheres e 496 homens), que participaram do Estudo Longitudinal de Saúde da Inglaterra (Elsa) - painel em andamento que envolve uma amostra representativa de indivíduos com 50 anos ou mais residentes no país - e morreram entre 2006 e 2018. As entrevistas de acompanhamento foram feitas a cada dois anos e os exames de saúde, a cada quatro. Entre outras questões, o participante respondeu sobre eventos adversos na infância ou adolescência.

Embora a superproteção paterna tenha impactado mais negativamente a longevidade feminina, os pesquisadores destacam que são os homens os mais impactados negativamente pelos eventos adversos nos primeiros anos de vida.

Quem são pais superprotetores?
Para definir quais eram as famílias superprotetores, o Parental Bonding Instrument, um modelo de questionário composto por questões sobre percepção de proteção e cuidado dos pais recebidos na infância/adolescência, foi utilizado. Os pacientes são perguntados, por exemplo, se sentiam-se acolhidos pelos genitores em momentos de incerteza, se sentiam ter autonomia para tarefas do dia a dia e se eram incentivados a tomar suas próprias decisões.

O pai superprotetor, segundo Aline Fernanda de Souza, pesquisadora da UFSCar e autora principal do artigo, é aquele que "não dá nenhuma autonomia pra a criança ou adolescente". Ela adverte, porém, que não se deve confundir autonomia com permissividade. "Quando falamos da autonomia é saber dosar de acordo com a faixa etária dessa criança."

As hipóteses para explicar essa influência negativa do pai superprotetor eles buscaram na psicologia, contou Aline ao Estadão. "O pai, por si só, já tem essa figura mais autoritária. É uma coisa cultural nossa. É uma figura mais distante quando comparado à mãe", afirmou.

"Essa figura mais autoritária pode vir a enfraquecer esse laço tanto com as filhas como com os filhos. O enfraquecimento desse laço pode vir a desencadear, no futuro, o que chamamos de hábitos não saudáveis. Essa pessoa está mais propensa a uma vida mais sedentária, ao tabagismo, ao etilismo (consumo abusivo de álcool), além também de vir a poder desenvolver repercussões psicológicas, que podem causar a mortalidade mais cedo", explicou.

"O que acontece na infância e na adolescência tem reflexo no fim da vida, sobre o quanto ela será longínqua", disse Tiago Silva Alexandre, professor de Gerontologia da e coordenador da pesquisa. "Um investimento nas crianças é uma forma de garantir uma velhice melhor." O estudo teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Pai e mãe solo
Embora a superproteção parental tenha sido o único fator de risco para mortalidade precoce (antes dos 80) comum entre homens e mulheres, os pesquisadores também encontraram associações de outras questões de configuração e/ou relação familiar à morte precoce quando analisados cada gênero separadamente.

Para homens, ter vivido apenas com um dos pais aumentou o risco de morte antes dos 80 anos em 279%. De acordo com Alexandre, esse foi o fator de risco que mais reduziu a longevidade entre os homens, com uma associação "robusta" com a mortalidade precoce. Entre as mulheres, o fator não foi associado a maior risco de morte.

Os pesquisadores explicam que, para essa última descoberta, "a ausência de um dos pais implica em maior dificuldade socioeconômica e menor suporte emocional durante a infância ou adolescência". E, diferentemente das mulheres, os homens "têm maior dificuldade em buscar apoio em situações adversas".

"A mulher está mais acostumada a ter uma rede de apoio maior, quando comparada ao homem. O que vimos é que, quando havia a falta de um dos membros, a mulher tem mais facilidade de buscar essa rede de apoio, seja numa prima, numa amiga, numa irmã, enquanto o homem é mais introvertido", explicou Aline.

Entre as mulheres, conviver com um pai mais presente (que trabalha menos horas por dia) diminuiu o risco de morte precoce em 42%. Nesse mesmo ponto, ter mais cuidados da mãe reduziu esse risco em 14%. Sobre essa última descoberta, eles explicam que isso pode acontecer porque, no passado, as mulheres demoravam mais a sair de casa do que os homens, convivendo mais tempo, assim, com o cuidado materno.

Retrato de um tempo
Considerando que a amostra é composta por adultos que tinham 50 anos no início dos anos de 2000, isso significa que, segundo com os pesquisadores, os participantes incluídos na análise nasceram nas décadas de 1950 e de 1960, e são, de certa forma, retrato de uma época. Os cientistas destacam que, caso pesquisa semelhante fosse feita com a geração atual no futuro, os resultados poderiam ser diferentes, mas não distantes do que aferiram.

Os pesquisadores apontam também que, assim como vários pontes fortes - a exemplo do uso de uma amostra nacional representativa -, a análise apresenta limitações. As associações que encontraram, entre eventos adversos na infância ou adolescência e morte prematura, podem estar subestimadas, pois indivíduos que não responderam ao questionário de história de vida podem não o ter feito por problema de memória ou trauma que não quiseram mencionar. Também há influência, claro, de integrantes daquele grupo etários que morreram antes dos 50 anos.

Publicado em Saúde

Salvador segue com a vacinação contra a Covid-19 nesta terça-feira (31), das 8h às 16h. Será realizada a aplicação da vacina Coronavac para a primeira e segunda doses de crianças de 3 e 4 anos, além da 2ª dose para adultos que iniciaram o esquema com Coronavac. Para ter acesso ao imunizante, é necessário ter o nome na lista da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).

Também acontece a aplicação da 5ª dose de reforço, exclusivamente, para pessoas imunossuprimidas com 18 anos ou mais, inclusive, gestantes e puérperas com esta condição clínica elencadas na Nota 221/2022. Ainda para o grupo de imunossuprimidos, a 4ª dose está sendo oferecida para pessoas com 12 anos ou mais. Nos dois casos, a aplicação será realizada nos cidadãos que tiverem o nome na lista do site da SMS.

A mobilização contempla também a 1ª, 2ª, 3ª e 4ª doses da vacina contra a Covid-19 para pessoas com 18 anos ou mais, em esquema “Liberou Geral”, mesmo residindo fora de Salvador. O único requisito é ter o Cartão SUS vinculado a algum município do estado da Bahia. Os demais grupos que não estão incluídos na estratégia “Liberou Geral” devem residir na capital baiana e ter o nome na lista do site da SMS.

A imunização também segue para os indivíduos com 18 anos ou mais vacinados com a Janssen no esquema primário. Ou seja, seguindo a orientação da Nota Técnica nº 177/2022-CGPNI/DEIDT/SVS/MS que estabelece que todos os indivíduos que receberam como esquema primário a vacina Janssen (Dose Única), entre 18 e 39 anos de idade estão orientados a receber um segundo reforço e, todos os indivíduos de 40 anos e mais, estão orientados a receber um terceiro reforço.

Pfizer Baby e pediátrica – Segue temporariamente suspensa a oferta da primeira dose da Pfizer Baby (6 meses até 4 anos, 11 meses e 29 dias) e da Pfizer Ped (5 a 11 anos) para crianças com ou sem comorbidades. A SMS aguarda o envio de novas doses para retomar a estratégia.

DOCUMENTOS:

Pessoas com 18 anos ou mais – “Liberou Geral”: Ter o Cartão SUS vinculado a algum município do estado e apresentar o cartão de vacina físico ou digital (ConectSUS) atualizado, além de original e cópia do documento de identificação com foto e do comprovante de residência.

Pessoas com 18 anos ou mais residentes em Salvador: Apresentar o cartão de vacina e um documento de identidade com foto.

Criança ou adolescente acompanhado pelo pai ou mãe: É necessário estar com nome no site da SMS e, no ato da vacinação, apresentar original e cópia do documento de identificação com foto do pai ou da mãe que estiver presente, original e cópia do documento de identificação da criança/adolescente, e originais da caderneta de vacina e Cartão SUS de Salvador da criança/adolescente.

Criança ou adolescente desacompanhado do pai ou da mãe: É necessário estar com o nome no site e, no ato da vacinação, estar acompanhada por outra pessoa maior de 18 anos. Além disso, deverá ser apresentado o Formulário de Vacinação preenchido e assinado pelo genitor da criança (pai ou mãe), cópia do documento de identificação com foto do responsável pela assinatura no documento, mais original e cópia do documento de identificação da criança/adolescente, além dos originais da caderneta de vacina e do Cartão SUS de Salvador da criança/adolescente. O Formulário de Vacina está disponível para impressão no site da SMS.

Os casos excepcionais relacionados à falta de apresentação da documentação completa serão tratados individualmente no próprio ato/local da vacinação, como vem ocorrendo desde o início da estratégia.

APRAZAMENTOS DESTA TERÇA (31):

2ª DOSE DA PFIZER BABY (6 MESES A 4 ANOS COM OU SEM COMORBIDADES) – QUE TOMARAM A PRIMEIRA DOSE ATÉ O DIA 2/1/2023
2ª DOSE – CORONAVAC: CRIANÇAS DE 3 E 4 ANOS - QUE TOMARAM A 1ª DOSE ATÉ O DIA 2/1/2023
2ª DOSE – CORONAVAC: ADULTO COM 18 ANOS OU MAIS QUE TOMOU A 1ª DOSE ATÉ O DIA 2/1/2023
2ª DOSE – JANSSEN: PARA QUEM TOMOU A 1ª DOSE/DOSE ÚNICA DA JANSSEN ATÉ A DATA DE 1º/12//2022
2ª DOSE – OXFORD: APRAZADOS ATÉ 27/2/2023
2ª DOSE – PFIZER: PESSOAS COM 12 ANOS OU MAIS APRAZADOS ATÉ 27/2/2023 – LIBEROU GERAL
2ª DOSE: GESTANTES E PUÉRPERAS APRAZADAS ATÉ 27/2/2023
3ª DOSE: ADOLESCENTES DE 12 A 17 ANOS QUE TOMARAM A 2ª DOSE ATÉ O DIA 3/10/2022 – COM NOME NO SITE
3ª DOSE: PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS QUE TOMARAM A 2ª DOSE ATÉ O DIA 3/10/2022 – LIBEROU GERAL
3ª DOSE – PFIZER: IMUNOSSUPRIMIDOS COM 12 ANOS OU MAIS QUE TOMARAM A 2ª DOSE ATÉ O DIA 5/12/2022
3ª DOSE: GESTANTES E PUÉRPERAS QUE TOMARAM A 2ª DOSE ATÉ O DIA 2/9/2022
3ª DOSE (2º REFORÇO) – PESSOAS ENTRE 18 E 39 ANOS QUE FIZERAM ESQUEMA PRIMÁRIO COM JANSSEN ATÉ 3/10/2022
4ª DOSE (3º REFORÇO) – PESSOAS COM 40 ANOS OU MAIS QUE FIZERAM O ESQUEMA PRIMÁRIO COM JANSSEN ATÉ 3/10/2022
4ª DOSE – PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS – QUE TOMARAM A 3ª DOSE ATÉ O DIA 3/10/2022 – LIBEROU GERAL
4ª DOSE: PESSOAS COM 12 ANOS OU MAIS IMUNOSSUPRESSOS QUE TOMARAM A 3ª DOSE ATÉ O DIA 3/10/2022
5ª DOSE: PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS IMUNOSSUPRESSOS (INCLUINDO GESTANTES E PUÉRPERAS COM ESTA CONDIÇÃO CLÍNICA ELENCADAS NA NOTA 221/2022) QUE TOMARAM A 4ª DOSE ATÉ O DIA 3/10/2022
POSTOS:

1ª DOSE DE CRIANÇAS DE 3 E 4 ANOS – CORONAVAC PEDIÁTRICA (INCLUINDO IMUNOSSUPRIMIDAS)

Postos fixos: USF Lealdina Barros (Vale da Muriçoca), CSU Pernambués, USF Imbuí, UBS Sergio Arouca (Paripe), USF Bom Jesus dos Passos e USF Ilha de Maré.

2ª DOSE DE CRIANÇAS DE 3 E 4 ANOS – CORONAVAC PEDIÁTRICA (INCLUINDO IMUNOSSUPRIMIDAS)

Postos fixos: USF Lealdina Barros (Vale da Muriçoca), USF Imbuí, CSU Pernambués, UBS Cecy Andrade (Castelo Branco), USF Mussurunga I, USF Luiz Braga (Pirajá), UBS Sergio Arouca (Paripe), USF Bom Jesus dos Passos, USF Ilha de Maré.

2ª DOSE DA PFIZER BABY (6 MESES A 4 ANOS COM OU SEM COMORBIDADES)

Postos fixos: USF Garcia, UBS Manoel Vitorino, UBS Virgílio de Carvalho (Bonfim), USF João Roma Filho (Jardim Nova Esperança), USF Curralinho, CSU Pernambués e UBS Professor José Mariane (Itapuã).

2ª DOSE – CORONAVAC: PESSOAS COM 18 ANOS OU MAIS

Postos fixos: USF Lealdina Barros (Vale da Muriçoca), USF Imbuí, CSU Pernambués, UBS Cecy Andrade (Castelo Branco), USF Mussurunga I, USF Luiz Braga (Pirajá) e UBS Sérgio Arouca (Paripe).

*VACINAÇÃO ADULTO – 1ª, 2ª, 3ª E 4ª DOSES (EXCETO 2ª DOSE CORONAVAC E JANSSEN)

*5ª DOSE IMUNOSSUPRIMIDOS COM 18 ANOS OU MAIS (INCLUINDO GESTANTES E PUÉRPERAS)

Drive-thrus: 5º Centro de Saúde (Barris) e Atakadão Atakerejo (Fazenda Coutos).

Pontos fixos: Home Center Ferreira Costa (8h às 16h) e shoppings Bela Vista e da Bahia (9h às 16h).

Postos fixos: 5º Centro de Saúde (Barris), UBS Santa Cruz (das 8h às 14h30), USF Alto das Pombas, USF Federação, USF Menino Joel (Nordeste de Amaralina), USF Lealdina Barros (Vale da Muriçoca), USF Sabino Silva (Nordeste de Amaralina), USF Imbuí, USF Curralinho, USF Mário Andréa (Sete Portas), USF Santa Luzia (Engenho Velho de Brotas), USF Vale do Matatu, USF Resgate, USF Mata Escura, USF Sussuarana I, UBS Engomadeira, UBS Eunísio Teixeira (Saboeiro), USF Cajazeiras X, USF Boca da Mata, USF Yolanda Pires, USF Cajazeiras V, USF Cajazeiras XI, USF Jardim das Mangabeiras, UBS Ramiro de Azevedo (Campo da Pólvora), USF Terreiro de Jesus, UBS Ministro Alkimin (Massaranduba), USF Joanes Leste, USF Joanes Centro Oeste, USF Alto do Coqueirinho, USF Km 17, UBS Eduardo Mamede (Mussurunga), USF Parque São Cristóvão, USF Coração de Maria, USF Aristides Maltez, USF Ceasa I e II, USF Jardim Campo Verde, UBS Itapuã, USF Jardim das Margaridas, UBS Orlando Imbassahy (Bairro da Paz), USF Vila Verde, USF São Cristóvão, USF Mussurunga I, UBS São Cristóvão, USF Nova Esperança, USF IAPI, USF San Martin I, USF San Martim III, UBS Cecy Andrade (Castelo Branco), USF Vila Nova de Pituaçu, USF Nova Brasília, USF Dom Avelar, UBS Vale dos Lagos, USF Boa Vista do São Caetano, USF Alto do Peru, USF Recanto da Lagoa II, USF San Martim II, USF Antonio Lazzarotto (Plataforma), USF Alto do Cabrito, UBS Péricles Laranjeiras (Fazenda Grande do Retiro), USF Vista Alegre, USF Alto de Coutos II, USF Plataforma, USF Tubarão, USF Alto do Cruzeiro, USF Nova Constituinte, USF Congo, USF Fazenda Coutos III, UBS Periperi, USF Bom Jesus dos Passos e USF Ilha de Maré.

A cura da hanseníase, disponibilizada em forma de medicamentos gratuitos nas redes públicas de saúde, não foi suficiente para erradicar a doença no país. Somente no ano passado, foram registrados 1.537 casos na Bahia, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). Entre 2019 e 2022, foram 6.608. Para combater o preconceito e aumentar a conscientização sobre o diagnóstico precoce, o Dia Mundial de Combate à Hanseníase é celebrado no último domingo (29) do Janeiro Roxo.

Uma mancha percebida abaixo de um dos seios foi o alerta inicial para que Patrícia* começasse a traçar o caminho do diagnóstico da hanseníase. O ano era 2015 e a mulher percebeu que enquanto a mancha crescia e descamava, ela sentia dores nas articulações e nos músculos. Depois de passar por atendimento médico, descobriu que tinha desenvolvido a doença, que no passado ficou conhecida como lepra.

Além das marcações que tornam a pele sem sensibilidade, sensação de formigamento em mãos e pé, caroços no corpo e diminuição da força muscular são sintomas comuns. A bactéria chamada Mycobacterium leprae é a repsonsável pela hanseníase, mas apenas 5% das pessoas que entram em contato com o microorganismo desenvolvem a doença no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde.

“Cerca de 90% das pessoas são imunes, mas parece haver alguma predisposição geneticamente herdada em pessoas que evoluem com a doença”, explica o médico dermatologista Gleison Duarte. Na Bahia, o número de pessoas com a doença permanece estável, com uma pequena redução entre 2019 e os anos seguintes, o que pode ser resultado de uma subnotificação durante a pandemia.

O paciente com hanseníase pode desenvolver sequelas graves se o diagnóstico for tardio. Daí a importância de conhecer os sintomas iniciais da doença e se manter atento, como fez Patrícia. Entre os desdobramentos mais graves estão a incapacidade física, deformidades em mãos e pés e cegueira.

O Boletim Epidemiológico sobre a Hanseníase da Secretaria de Vigilância da Saúde do Ministério da Saúde, publicado neste mês, aponta que a Bahia foi o quarto estado com o maior número de casos novos da doença entre 2010 e 2021, aparecendo atrás de Maranhão, Mato Grosso e Pernambuco.

Transmissão e tratamento

A transmissão da hanseníase se dá através do aparelho respiratório de pessoas contaminadas. Mas a dermatologista e hansenologista Laila de Laguiche, idealizadora do Instituto Aliança contra a Hanseníase, explica que a transmissão não é simples.

“É difícil contrair hanseníase porque é preciso ter exposição prolongada de pelo menos 20 horas semanais e um perfil genético correspondente”, esclarece.

Quem é diagnosticado com a doença tem direito ao tratamento gratuito, realizado com o uso de três antibióticos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A partir de duas semanas, quando medicado pela primeira vez, o paciente deixa de transmitir a doença. Especialistas, no entanto, alertam que é essencial a continuidade no tratamento para que a doença seja erradicada no organismo.

Em Salvador, 236 pacientes estão com tratamento em andamento na rede municipal. De todas as pessoas que iniciam o procedimento, 85,6% concluem, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). A rede oferta nove tipos diferentes de medicamentos para o combate da hanseníase na capital.

“Ao perceber sinais de lesões de pele, o paciente deve procurar imediatamente um dermatologista ou infectologista para que possa ser examinado. Em caso de hanseníase, o tratamento pode ser feito por períodos que variam entre seis meses e dois anos”, explica o médico diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia Antônio Bandeira.

Apesar de a maioria esmagadora da população não ter predisposições para a hanseníase, o Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos, atrás apenas da Índia, como indica o relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em 2019.

Capital em alerta

Dos 6,6 mil casos registrados na Bahia nos últimos quatro anos, 759 foram em Salvador - o que representa 11% de todos os diagnósticos. Os bairros campeões no número de registros são Subúrbio Ferroviário (132), Itapuã (153) e São Caetano/Valéria (106). Do outro lado, Boca do Rio e Centro Histórico são as localidades com menos casos, com 20 e 15 respectivamente.

A hansenologista Laila de Laguiche analisa que casos da doença ocorrem com mais frequência em locais onde o acesso à saúde é dificultado. “É uma doença diretamente ligada à falta de acessibilidade à saúde porque o diagnóstico é mais tardio nesses locais”, diz. Além disso, dividir cômodos com outras pessoas e ambientes pouco ventilados favorece a transmissão da doença.

Preconceito contribui para a subnotificação, diz especialista

Do total de casos registrados na Bahia em quatro anos, 273 foram em crianças menores de 15 anos - o que representa 4% dos 6,6 mil. Para os especialistas ouvidos pela reportagem, o dado revela uma subnotificação de casos de pessoas que não trataram a doença corretamente e transmitiram para os mais novos.

A falta de informações corretas sobre a doença, agregada a profissionais de saúde despreparados e preconceito de parte da sociedade, corroboram para que os casos não sejam diagnosticados no início, analisa Laila Laguiche.

“O preconceito ainda é muito forte no Brasil e no mundo. Existe uma dificuldade em encarar a doença como sendo outra qualquer. Médicos, por exemplo, acham que pode ser hanseníase em alguns casos, mas não fazem o diagnóstico por preconceito”, revela.

Para evitar a subnotificação e agravamento de casos, o infectologista Antônio Bandeira defende a implantação de políticas públicas: “Os dados reforçam a necessidade de um programa de diagnóstico, que é fundamental que aconteça o mais rápido possível”.

Apesar da atenção especial dada a informações sobre a doença durante a campanha do Janeiro Roxo, Salvador possui o Programa Municipal de Controle de Hanseníase. A ação conta com equipes multidisciplinares e funciona de forma permanente em 121 postos de saúde espalhados pela capital, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Sintomas da hanseníase

Manchas (brancas, avermelhadas, acastanhadas ou amarronzadas) e/ou área (s) da pele com alteração da sensibilidade térmica (ao calor e frio) e/ou dolorosa (à dor) e/ou tátil (ao tato)
Comprometimento do(s) nervo(s) periférico(s) – geralmente espessamento (engrossamento) –, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas
Áreas com diminuição dos pelos e do suor
Sensação de formigamento e/ou fisgadas, principalmente em mãos e pés
Diminuição ou ausência da sensibilidade e/ou da força muscular na face, e/ou nas mãos e/ou nos pés
Caroços (nódulos) no corpo, em alguns casos avermelhados e dolorosos

Forma de transmissão

A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase, na forma infectante da doença, sem tratamento, elimina o bacilo para o meio exterior, infectando outras pessoas suscetíveis, ou seja, com maior probabilidade de adoecer. A forma de eliminação do bacilo pelo doente são as vias aéreas superiores (por meio do espirro, tosse ou fala), e não pelos objetos utilizados pelo paciente. Também é necessário um contato próximo e prolongado. Os doentes com poucos bacilos – paucibacilares (PB) – não são considerados importantes fontes de transmissão da doença, devido à baixa carga bacilar.

Tratamento

O tratamento medicamentoso da hanseníase envolve a associação de três antimicrobianos: rifampicina, dapsona e clofazimina. Essa associação é denominada Poliquimioterapia Única (PQT-U) e está disponível nas apresentações adulto e infantil. É disponibilizada de forma gratuita e exclusiva no Sistema Único de Saúde – SUS.

Publicado em Saúde
Quinta, 26 Janeiro 2023 10:33

Casos de dengue na Bahia aumentam 43%

Os indicadores da proliferação da dengue na Bahia voltaram a ligar o alerta de médicos especialistas. No total, foram 35.644 casos em 2022, o que representa um aumento de 43% em relação aos indicadores de 2021, quando 24.761 baianos tiveram a doença. Os dados são de um balanço da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Dentre os casos, 261 (0,5%) foram identificados como Dengue com Sinais de Alarme (DSA) e 52 (0,1%) como Dengue Grave (DG).

Maria Glória Teixeira, epidemiologista e professora do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), diz que a situação é perigosa. ”Estamos muito preocupados com a situação das arboviroses [categoria de doenças na qual a dengue se encaixa, junto com zika e chikungunya]. Principalmente da dengue porque aumentou muito na Bahia. Foi muito mais do que nos dois anos anteriores [2020 e 2021]. E como estamos no Verão, o pico das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, que é entre março e abril, já está por vir”, fala.

Para o infectologista Matheus Todt, a situação é ainda mais complicada por conta dos casos que não são registrados no sistema da Sesab. ”O cenário mostra-se ainda mais sombrio quando consideramos que as arboviroses são subnotificadas. Isso pode representar um aumento expressivo dos óbitos por dengue, de sequelas por chikungunya e de malformações, como a microcefalia, pela zika”, aponta.

Os dados de aumento de ocorrências da doença já representam um crescimento nas mortes. No total, 24 pessoas morreram em decorrência da doença no ano passado. Desde 2019, ano em que houve registro de 40 óbitos, não se notificava tantos falecimentos em virtude da dengue. Em 2020, foram 13 e, no ano passado, quatro. A reportagem procurou a Sesab para saber se já planeja ações para combater o avanço da arbovirose e se a situação atual preocupa, mas não recebeu retorno até o fechamento da edição, às 23h.

Procurado, o Conselho Estadual de Saúde (CES) informou que acompanha a situação com apreensão. O presidente do CES, Marcos Sampaio, pediu iniciativas para conter a proliferação da dengue. "Esses aumentos no número de casos e óbitos trazem uma preocupação grande para o conselho. Acredito que a gestão estadual deve entrar em alerta para os casos. Precisamos ter uma compreensão de que, no período do Verão, é preciso ter ações conjuntas orientadas pelo estado”, afirma.

O CES indica campanhas para falar dos cuidados necessários e medidas para não contribuir com a proliferação da doença. Isso para que a população faça sua parte e, neste verão, não aconteça um novo aumento dos registros.

Regiões críticas
As regiões Sul com 12.405 (21,6%) casos e a Sudoeste com 8.686 (15,1%) dos registros são as áreas onde a doença mais se desenvolveu. Ao comentar a situação, Maria Glória, diz que se trata de um cenário complicado porque a incidência da Dengue, na verdade, é mais comum nas regiões Norte e Nordeste do estado, onde o clima é mais favorável à proliferação.

“No Sul e Sudoeste, sempre tivemos epidemias com menor magnitude. O que chama atenção é que o número de mortes está muito alto. Deve haver uma intervenção precoce nos pacientes para evitar isto", afirma a epidemiologista.

Matheus Todt diz que é até comum ver, de tempos em tempos, um crescimento na curva de casos, mas a situação das regiões é alarmante e demanda uma atenção especial.

“As arboviroses têm comportamento cíclico. A cada 4 anos vemos um aumento considerável do número de casos. Porém, um aumento tão expressivo deve soar o alerta para uma intervenção rápida por parte das autoridades”, fala o médico infectologista.

Combate ao mosquito

Embora o peso maior da responsabilidade de conter o avanço das arbovirores durante o ano, especialmente no Verão, seja das autoridades, é importante que a população ajude a combater a proliferação do Aedes aegypti, o mosquito da dengue, zika e chikungunya.

A forma mais eficaz de prevenção dessas doenças é o combate ao mosquito, dizem os especialistas. Por isso, é importante que todos conheçam os riscos e saibam o que é preciso fazer para não deixar o mosquito nascer, é o que garante o Unicef, que atua em parceria com o Ministério da Saúde na mobilização da população para a erradicação do Aedes aegypti no Brasil.

Alguns cuidados listados pelo Unicef são: verificar se a caixa d’água está bem tampada; deixar as lixeiras bem cobertas; colocar areia nos pratinhos de plantas; limpar calhas, cobrir piscinas que estejam sem uso; tampar ralos e manter a tampa do vaso sanitário fechada; limpar bandeja externa da geladeira e do ar-condicionado, entre outras.

Publicado em Saúde

Uma doença considerada rara e com um grande percentual de cura, mas se não tratada no tempo certo, pode causar a perda do útero e levar à morte. Com exceção apenas do câncer de pele do tipo não melanoma, o câncer do colo de útero é a quarta causa de morte por tumores malignos no Brasil. Na Bahia, as mulheres com mais idade, menos escolaridade e em estágio já avançado da doença são as que começam mais tarde o tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ao todo, 65% das pacientes baianas nesse grupo iniciam o combate ao câncer uterino mais de 60 dias após receber o diagnóstico, um prazo que descumpre a lei federal 12.732/2012.

Os dados aparecem em um estudo da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), publicado na revista Cadernos de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). As informações foram coletadas de 2007 a 2018, a partir do sistema de Registro Hospitalar de Câncer (RHC) da Bahia. No total, 9.184 mulheres do estado foram diagnosticadas com a doença em algum estágio no período compreendido pelo estudo, fazendo com que o estado tenha a segunda maior taxa de incidência desse tipo de câncer entre as mulheres: 12,51 novos casos por 100 mil pacientes.

Segundo o estudo da Uneb, a doença, que também é chamada de câncer cervical, tem evolução lenta e acomete principalmente as pessoas com útero com mais de 25 anos. O agente de transmissão é o papilomavírus humano (HPV), uma infecção sexualmente transmissível. Apesar da lei de 2012 garantir ao paciente com câncer o direito de iniciar o tratamento no SUS em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico, o estudo mostra que 65,1% das pacientes começaram a cuidar da doença dois meses depois de descobrirem o problema. Desse total, houve aumento da chance de tratamento tardio em cerca de 30% das afetadas com idades acima de 45 anos, 24% entre as pacientes sem nenhum nível de escolaridade e aumento de 17% entre as que apresentavam o tumor em estágio avançado.

“A lei é curta, tem cinco artigos e é muito específica, mas a saúde pública da Bahia não tem capacidade de fazer o que ela manda. As mulheres até conseguem o tratamento, mas num prazo superior ao que a lei assegura. A fila é grande, não tem médico disponível, são vários os motivos, mas o que acontece é que a lei não funciona na prática, só no papel”, destaca Betania Rodrigues, advogada especialista em direitos da saúde.

Autora principal da pesquisa, a enfermeira Dândara Silva, doutoranda do programa de Biotecnologia e Medicina Investigativa da Fiocruz - Bahia e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Integrada em Saúde Coletiva da Uneb, destaca que os resultados do estudo revelam um dado triste e preocupante, demonstrando a fragilidade da rede assistencial. "As pacientes com tumor em estágio avançado deveriam acessar o tratamento com a maior brevidade possível, mas o estudo demonstrou que, ao contrário disso, estas mulheres acabam tendo mais chance de atraso”, ressalta.

Segundo Dândara, no caso de mulheres com baixa escolaridade, os autores do estudo acreditam que o tratamento tardio aconteça por falta de instrução. "A gente supõe que as mulheres com menos escolaridade tenham a tendência a buscar menos intensamente os cuidados com a saúde, às vezes não entendem dimensão de doença e a urgência, então temos a barreira da educação como um dificultador do autocuidado", destaca.

Já para mulheres no estágio avançado da doença, que demanda uma tecnologia maior para o tratamento, a doutoranda diz que existe poucas unidades de referência. Na Bahia toda são apenas nove. "Além disso, essa paciente com câncer mais avançado vai precisar se deslocar mais, já que ela não vai conseguir esse tratamento no interior, a oferta de vagas não supre a necessidade da demanda, temos número insuficiente de unidades especializadas para a demanda do tratamento em estágio avançado no interior onde essa mulher reside. Mas esses motivos para o tratamento tardio não foram comprovados, estamos com outro estudo em andamento para analisar isso", acrescenta.

O que diz a Sesab?
Segundo a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), o envio regular dos dados para o Integrador RHC é obrigatório para os hospitais habilitados na Atenção Especializada em Oncologia do SUS e, facultativo, para os hospitais não habilitados. Na Bahia, apenas as unidades habilitadas na Assistência de Alta Complexidade em Oncologia, com atendimento via SUS, informam os dados do RHC, havendo ainda um atraso no envio dos dados ao SisRHC.

A pasta acrescenta que o Hospital Estadual da Mulher tem “expressivo volume de atendimento à população feminina” desde que foi inaugurado, em 2017. “Desta forma, os dados referentes ao seu atendimento não foram computados no estudo [da Uneb], visto que a unidade tem um período para efetivar a implantação do RHC e, consequente enviar dados ao SisRHC”, diz a Sesab, em nota.

“Corroboramos o quanto descrito pelas pesquisadoras no estudo: ‘considera-se necessária a realização de novas pesquisas em períodos posteriores para avaliar a adequação da rede assistencial aos pacientes oncológicos e possíveis impactos no acesso ao primeiro tratamento após o diagnóstico do câncer’, visto a ampliação da rede de atendimento tanto na Média quanto na Alta Complexidade para diagnóstico e tratamento do câncer, entre os quais o do colo do útero, no Estado da Bahia desde 2017 até os dias atuais”, finaliza a nota.

Sintomas e prevenção
Nas fases iniciais, o câncer cervical é completamente assintomático, diz a oncologista da Oncoclínicas Geila Ribeiro Nuñez. Por isso, acrescenta, há a importância de protocolos assistenciais de rastreamento. Porque, na maioria das vezes, quando os sintomas começam, o câncer já está em uma fase mais avançada.

No entanto, caso os sintomas apareçam, a mulher vai começar a ter corrimento vaginal, muitas vezes de odor fétido, além de sangramentos anormais fora do período menstrual. Em fases ainda mais avançadas, a paciente pode ter dor pélvica.

Geila Nuñez, que é especialista em tumores femininos e neuro-oncologia, enfatiza que o câncer de colo uterino é um dos mais evitáveis e preveníveis, já que os métodos de rastreamento, do ponto de vista populacional, não são custosos. Após o diagnóstico, o atraso no tratamento tem grandes efeitos negativos para a mulher. Nos casos mais avançados da doença, a paciente geralmente precisa passar por radioterapia e quimioterapia e pode perder o útero, além de diminuir as chances de cura.

“Quando a doença é identificada ainda precocemente, o câncer pode ser tratado até mesmo só com a incisão, retirando parcialmente só o colo uterino. Se a gente tem lesões já invasivas, mas precoces, com menos de dois centímetros, a paciente é altamente curável, mais de 90% de chance de cura. Para fases mais avançadas, o indicado é o tratamento de quimioterapia junto com radioterapia, com 50% de chances de cura. E, em última instância, em casos muito graves, a chance de cura cai para 15% e a paciente é submetida somente a quimioterapia para controlar o câncer”, detalha a médica.

Paciente fez cirurgia
Uma nutricionista de Salvador, de 39 anos, que preferiu não se identificar, optou pela retirada total do útero quando foi diagnosticada com o câncer cervical, em 2016. Ela recebeu o diagnóstico em novembro daquele ano e fez a cirurgia de retirada do órgão em fevereiro de 2017, mas foi acompanhada por uma equipe médica particular. “Eu realizei um exame de rotina no consultório, um preventivo, e a médica viu uma pequena mancha que não existia no exame anterior, que tinha feito há cerca de 6 meses. Eu tinha uma certa mania em fazer exames de rotina com mais frequência, acredito por ser da área de saúde”, relata.

Após o exame, a médica encaminhou a nutricionista para uma consulta com um cirurgião oncológico, que marcou a realização de uma biópsia. “O resultado foi positivo para o câncer de colo de útero. Foi um período delicado, festas de final de ano, sempre amei a simbologia do Natal, reunir a família, mas nesse ano seria diferente, eu não sabia se a doença tinha cura, se iria partir, se deixaria minha família”, relembra.

A soteropolitana realizou todos os exames e soube que o seu câncer só estava instalado em uma porção do útero. A partir daí, ela precisou escolher se tiraria todo o órgão, para eliminar chances de reincidência, mas precisando pensar se abriria mão do sonho de gerar uma criança. “Mesmo que eu optasse pela retirada parcial, seria muito difícil ficar grávida, pois meu corpo não teria estrutura para segurar o bebê quando a barriga crescesse. Optei pela retirada total do órgão, entendendo que vim nesse mundo com outra missão e que ser mãe também pode ser de coração e pretendo adotar uma criança no futuro”, revela.

Sobre os sintomas, a nutricionista conta que não sentia nada antes do diagnóstico, não tinha sangramento, as relações sexuais ocorriam sem problemas, sem dor ou desconforto, e também não tinha corrimento. O pós-cirúrgico foi mais complicado, com mais de um mês de repouso e dores. Ela destaca que o que a fez conseguir passar por tudo isso foi ter uma rede de apoio familiar, uma religião para se apoiar e uma equipe médica competente.

HPV
O HPV, vírus causador do câncer de colo do útero, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), é muito frequente e na maioria das vezes não causa a doença. Sua transmissão se dá por contato direto com a pele ou mucosa infectada, sendo a principal forma pela via sexual. O contágio com o HPV pode ocorrer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. Inclusive, pode haver transmissão durante o parto. Não está comprovada a possibilidade de contaminação por meio de objetos, uso de vaso sanitário e piscina ou pelo compartilhamento de toalhas e roupas íntimas.

Em alguns casos, o HPV causa alterações celulares que podem evoluir para o câncer cervical, mas essas mudanças são descobertas no exame preventivo, por isso a importância de uma vez testada positivamente para o vírus, realizar consultas com um médico ginecologista com uma frequência maior.

Estudante de Publicidade de Feira de Santana [ela prefere não se identificar], 22 anos, conta que descobriu ter HPV em 2020 após sentir muita ardência, desconforto e sangramentos durante relações sexuais. Hoje, ela vai ao médico a cada três meses para realizar um check-up e evitar que o vírus cause o câncer cervical.

“Quando fiz os exames e deu positivo [para HPV] foi um momento muito triste na minha vida, porque você se sente mal e culpada. Passar pelo tratamento não foi fácil, é doloroso. Por mais que seja um vírus muito comum, é muito difícil de aceitar e lidar. Hoje, eu tenho muito mais cuidado e fico muito atenta para evitar qualquer perigo. Essas coisas podem acontecer e o importante é buscar tratamento, se cuidar e evitar algo ainda pior”, relata.

Para realizar a consulta e o exame preventivo através do SUS, a interessada deve procurar a unidade de saúde de atenção básica do município mais próxima à sua residência para fazer o agendamento. Segundo a Sesab, caso a avaliação médica indique a necessidade de realização de uma consulta com especialista, a Secretaria Municipal de Saúde da cidade onde paciente mora é a responsável em marcar a consulta ou exame junto a um serviço oferecido no próprio município ou em uma outra cidade de referência para aquela especialidade.

Já a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) afirma que nas unidades básicas da capital é possível agendar uma consulta com um ginecologista, sendo necessário apenas a apresentação do cartão SUS de Salvador e um documento com foto oficial. Nessas próprias unidades também é possível ter acesso à vacina contra o HPV para o público-alvo. “Todas as unidades oferecem o agendamento, daí encaminhamos para outras unidades, caso necessário”, conclui a pasta.

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Todo câncer carrega consigo um mistério: as causas são sempre multifatoriais e às vezes nem os médicos conseguem mapear quando e por que em um corpo antes saudável agora crescem células malignas. Mas no caso do câncer colorretal – causa das mortes de Pelé e Roberto Dinamite -, a ciência já avançou em pelo menos um aspecto: como, passo a passo, prevenir ou aumentar as chances de cura deste que é o terceiro tumor mais letal do mundo.

Desde a morte de Pelé, em 29 de dezembro do ano passado, o câncer no colón (segmento do intestino grosso e o reto) invadiu o vocabulário da população. Mais ainda depois da morte do também ídolo do futebol, Roberto Dinamite, por conta de um tumor no intestino, no dia 8 de janeiro. Na última semana, a cantora Preta Gil tornou o diagnóstico dela público – antes, Simony compartilhou a busca pela cura.

Embora as estatísticas elejam o câncer no cólon como o terceiro mais letal, atualmente, no Brasil, as expectativas de um diagnóstico precoce e de cuidados cotidianos podem não só minimizar o sofrimento como evitar casos. Ano passado, 935 mil pessoas morrem vítimas da doença ao redor do mundo.

As principais causas conhecidas de câncer no cólon são a hereditariedade – ou seja, ter mãe, pai, avô ou avó diagnosticados com a doença – e o estilo de vida. Contra a natureza, não dá para brigar. Mas é possível remediar esse potencial destrutivo e para quem a hereditariedade não é um problema, vencer hábitos destrutivos. Rodrigo Felipe, gastroenterologista e coordenador científico do Itaigara Memorial, indica o passo a passo do que é possível fazer.

O material científico disponível já comprovou, por exemplo, que o sedentarismo aliado a um alto porcentual de gordura no corpo podem ser fatores de risco para o aparecimento de tumores no cólon.

“O estilo de vida é fator de risco e isso já sabemos. Em pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 24,9 kg/m (saiba como calcular seu IMC ao fim desta reportagem), a quantidade de gordura no intestino gera um estado de inflamação crônica do organismo que vai estimular alterações biológicos que podem estimular células cancerígenas”, explica o médico, pesquisador e especialista pela Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva.

Isso não significa que pessoas com IMC dentro do índice esperado estão livres. O Instituto do Câncer (Inca) destaca que, mesmo entre pessoas visualmente magras, por exemplo, pode haver elevado nível de gordura corporal.

Uma vida fisicamente ativa – a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 300 minutos semanais de atividade física – aliada a uma dieta rica em fibras e laticínios também são recomendadas na prevenção contra tumores no cólon.

“A atividade física ajuda o funcionamento do intestino. Se há consumo desses nutrientes e você se exercita, o trânsito entre a entrada do alimento e a saída das fezes é menor. Essa redução diminui a carcinogênese, processo de formação do câncer”, explica o gastroenterologista.

Outros métodos de prevenção são limitar o consumo de carnes processadas (como salsicha) a 50 gramas por dia e o de carne vermelha a 500 gramas por semana. E, por fim ela: a bebida alcóolica e o cigarro.

“É preciso ter cuidado para não ultrapassar 30 gramas de etanol, o que corresponde a duas latinhas de cerveja ou três chopes ou três tacinhas de vinho. Sobre o tabaco, seus efeitos letais já são bem conhecidos”, diz Rodrigo Felipe.

Como funciona o diagnóstico e cura do câncer colorretal

No último dia 8 de janeiro, a cantora Preta Gil foi internada às pressas na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro. As fortes dores abdominais que sentiu naquele dia a levaram ao hospital e são um alerta de possíveis casos de câncer colorretal.

Os principais sintomas da doença variam e podem incluir sangue nas fezes (nem sempre sangue nas fezes indica câncer), diarreia e prisão de ventre alternados, dor ou desconforto abdominal, fraqueza e anemia, perda de peso sem causa aparente, alteração na forma das fezes (fezes muito finas e compridas) e massa abdominal (tumoração).

No ano passado, de acordo com dados do DataSus, 693 pessoas foram diagnosticadas com a doença no estado da Bahia. A maioria delas (56 casos), pessoas na faixa etária entre 55 e 59 anos – os registros deste ano ainda não estão disponíveis. O número tinha sido maior em 2021, quando os diagnósticos da doença somaram 1.345.

O exame mais recomendado para descobrir se os sintomas indicam tumor no reto ou intestino grosso é a colonoscopia. Sedado, o paciente tem o reto e intestino analisados por uma pequena câmera em procedimento que resulta em fotografias e vídeos analisados pelo médico. Antes do exame, o paciente segue uma dieta específica por dois dias. Se forem detectadas lesões percursoras de câncer, a remoção acontece no momento do exame.

"É um exame que já pode curar, a depender do tamanho da lesão", indica o gastoenterologista Rodrigo Felipe.

Na rede privada, o exame custa de R$ 400 e R$ 2 mil. A variação de preço acompanha o nível de especialidade da equipe médica e a qualidade da clínica, por exemplo. Em Salvador, as referências na rede pública são os hospitais Das Clínicas e o Roberto Santos. Para acessá-los, é preciso de regulação a partir de uma unidade básica de saúde. Nem sempre é rápido - ou simples. Tanto é que, até agosto do ano passado, o número de processos movidos contra o governo estadual por questões relacionadas à regulação geral cresceu 363% em comparação a 2021.

Além da dificuldade de acesso, um desafio ao diagnóstico precoce são os assintomáticos. Por isso, o recomendado é que, a partir dos 45 anos (quando a incidência da doença cresce) a realização de exames seja anual. Em uma pesquisa realizada por um grupo de estudos do curso de Medicina da Unifacs, a partir de dados de mortalidade entre 2008 e 2018, notou-se que, antes dos 40 anos, a mortalidade observada pela doença era quase nula.

"A partir dos 50, existiu um aumento significativo da taxa de mortalidade, especialmente entre os homens", frisou Louriane Cavalcanti, professores e orientadora da pesquisa.

Para a médica, hábitos de vida ou maior acesso aos métodos de diagnóstico podem estar relacionados a esse aumento. No próximo mês de março, como de costume, acontecerá o Março Azul, campanha de sociedades médicos que leva exames de diagnóstico de câncer colorretal a locais afastados de metrópoles e/ou de "difícil acesso". "Muitos que têm sintomas já encontraram dificuldade de fazer exame, imagine aqueles sem", conclui Louriane.

Hoje, a comunidade científica já discute, conta a pesquisadora, a expansão do uso de métodos de triagem para o diagnóstico de câncer colorretal. "Discutimos métodos sensíveis de triagem, como a detecção de hemoglobina humana (sangue) nas fazes com métodos específicos, como imunoquímicos ou DNA. Quem testasse positivo, iria para a colonoscopia".

Na opinião dela, seria uma forma "de triar grandes populações como a nossa", em meio às dificuldades de acesso à rede pública de saúde.

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A variante XBB.1.5 do coronavírus, conhecida como Kraken, foi detectada pela primeira vez no Brasil nesta quinta-feira, 5. A paciente é uma mulher de 54 anos moradora do município de Indaiatuba, interior de São Paulo. Nesta quarta-feira, 4, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia feito um alerta sobre o aumento de casos da XBB.1.5 na Europa e nos Estados Unidos e afirmado que a subvariante derivada da Ômicron é a versão mais transmissível da covid-19 identificada até o momento.

A identificação no Brasil foi feita pela rede de saúde integrada, Dasa. O virologista José Eduardo Levi, responsável pelo projeto científico Genov, que faz a vigilância genômica das variantes da covid-19 na empresa, explica que a amostra da paciente veio junto com uma sequência de 1.332 amostras positivas de coronavírus da variante Ômicron, sendo 33 da subvariante XBB, que já existia no País. Não foram divulgadas informações sobre o estado de saúde da mulher.

"Aqui as características são de não ter uma nova onda. A gente tem visto a proporção de XBB aumentar em um cenário de queda do número de casos e incidência. É claro que o efeito réveillon começa a aparecer daqui a algumas semanas. Hoje é muito precoce falar disso, mas se tivesse uma onda de Natal a gente estaria vendo agora, então não houve", avalia.

De acordo com o pesquisador, dentro de uma análise em larga escala nas amostras, ou seja, sem sequenciamento genético, é possível ver que houve diminuição da variante que dominava o Brasil, a BA.5, e suas derivadas.

Em contramão, houve um aumento de outra variante ainda desconhecida, mas que possui características de XBB. "Eu estimo que hoje nós estamos entre 20 a 30% de XBB. Se é a XBB.1.5 ou se vai virar a gente ainda não sabe, apenas o sequenciamento poderia dizer", afirma.

Qual a diferença entre a subvariante XBB e a XBB.1.5 ?

As variantes mudam de nome de acordo com as alterações adicionais que vão desenvolvendo, como a transmissibilidade, ou mudanças em pontos-chaves que fazem com que o vírus escape da resposta imunológica ou do uso de anticorpos no tratamento. A Organização Mundial da Saúde afirmou por meio do diretor geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que a XBB.1.5 já foi encontrada em mais de 25 países.

"A XBB.1.5, uma recombinação das sublinhagens BA.2, está aumentando na Europa e nos Estados Unidos, foi identificada em mais de 25 países e a OMS está monitorando de perto", disse Tedros.

O Brasil, segundo o virologista, ainda tem um número alto de casos para dar brecha para as "evoluções" do vírus. "Quanto mais vacinada a população, quanto mais imunizada naturalmente, você vai fechando o gargalo para o coronavírus até o momento que ele não consegue ter mutações", afirma.

No que diz respeito aos sintomas, não há mudanças significativas com a nova subvariante, segundo o virologista. Ele explica que vírus se adaptou para ficar no trato respiratório alto, e não no pulmão, que leva à pneumonia, como era o caso da versão anterior à Ômicron. "O medo é que surja uma nova variante que seja 'muito boa' de transmitir e também desça para o trato respiratório com facilidade. Isso ainda não aconteceu", afirma.

No mês de novembro, o Brasil negociou com a Pfizer 34 milhões de vacinas bivalentes contra covid-19 que protegem contra a cepa original e contra as variantes BA.1, BA.4 e BA.5. As remessas finais devem chegar até o fim de janeiro.

De acordo com José Eduardo Levi, a atualização das vacinas não acompanha as variações, o que causa um "atraso", mas ainda sim imunizantes disponíveis conseguem proteger contra as novas versões. "No final, todas elas que têm Ômicron no esqueleto são melhores do que o que a gente tinha", explica.

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A pandemia de covid-19 deixou 40.830 crianças e adolescentes órfãos de mãe no Brasil até o final de 2021, conforme mostrou estudo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado na revista científica Archives of Public Health. Cientistas alertam para "desfechos adversos" da orfandade.

O levantamento levou em consideração os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, em 2020 e 2021, e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), entre 2003 e 2020. Uma das limitações da pesquisa é que as informações de mortes de 2021 são preliminares.

No artigo, os pesquisadores alertam que a morte de um "progenitor", especialmente da mãe, está ligada a "desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequências para o bem-estar da família".

"A experiência da epidemia do HIV/SIDA tem demonstrado que as crianças órfãs são particularmente vulneráveis a nível emocional e comportamental, exigindo programas de intervenção para atenuar as consequências psicológicas da perda de um dos progenitores", escreveram.

Em nota, o coordenador do Observa Infância, da Fiocruz, Cristiano Boccolini, um dos autores do estudo, defendeu que o País precisa adotar urgentemente "políticas públicas intersetoriais de proteção à infância".

"Considerando a crise sanitária e econômica instalada no País, com a volta da fome, o aumento da insegurança alimentar, o crescimento do desemprego, a intensificação da precarização do trabalho e a crescente fila para o ingresso nos programas sociais, é urgente a mobilização da sociedade para proteção da infância."

Boccolini destacou também que a pesquisa mostrou que a covid foi "responsável por um terço de todas as mortes relacionadas a complicações no parto e no nascimento entre mulheres jovens". "O que representa um aumento de 37% nas taxas de mortalidade materna no Brasil, em relação a 2019, quando ela já era alta. A cada mil bebês nascidos vivos, uma mãe morreu no Brasil durante os dois primeiros anos da pandemia", apontou.

Desigualdades
O estudo revela que nos dois primeiros anos da pandemia, a covid foi responsável por um quinto das mortes registradas no País (19%). No entanto, não afetou a todos igualmente. Os pesquisadores mostraram que os menos escolarizados foram afetados desproporcionalmente pela doença.

A taxa geral de mortalidade pela doença foi de 14,8 óbitos para cada 10 mil habitantes. Quando observados apenas os analfabetos, ela foi de 38,8 para cada 10 mil, três vezes maior do que a taxa entre pessoas com educação superior (13/10 mil).

Uma das hipóteses dos pesquisadores para explicar o resultado é que indivíduos de baixa escolaridade ficaram mais expostos à infecção pela necessidade de trabalhar fora de casa, sem a possibilidade de parar de trabalhar durante a pandemia.

Eles também apontam que a população urbana de baixo nível socioeconômico está concentrada em favelas nas grandes metrópoles brasileiras, "impedindo o cumprimento das medidas de distanciamento social e isolamento dos casos diagnosticados".

"A desigualdade socioeconômica acarreta iniquidades no acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, dificuldades no diagnóstico oportuno e no tratamento dos casos", destacou Wanessa da Silva de Almeida, uma das autoras da pesquisa, em nota.

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“O quanto você recomendaria este serviço de saúde para um amigo ou familiar”? Essa foi a pergunta feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a pais e mães de crianças menores de 13 anos que tiveram pelo menos um atendimento na Unidade Básica de Saúde ou Unidade de Saúde Familiar entre os anos de 2021 e 2022. A resposta para essa avaliação e mais outras informações relacionadas ao atendimento da população infantil no Sistema Único de Saúde (SUS) fazem parte do módulo sobre Atenção Primária à Saúde da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).

A pesquisa foi realizada no 2º trimestre de 2022, em parceria com o Ministério da Saúde (MS). O IBGE divulgou ontem as impressões dos responsáveis pelas crianças relacionadas ao atendimento tanto nos postos e centros de saúde e unidade de saúde da família, seja para uma consulta, atendimento de emergência, aplicação de vacinas, exames ou até nebulização. No questionário, os entrevistados atribuíram uma nota de 0 a 10, onde 0 é ‘não recomendaria de forma alguma’ e 10 ‘com certeza recomendaria’.

As notas atribuídas foram transformadas em um indicador conhecido como Net Promoter Score (NPS), amplamente utilizado pelo setor de saúde no Brasil, privado e SUS. O módulo de Atenção Primária à Saúde da PNAD Contínua é uma versão do Primary Care Assessment Tool (PCATool), instrumento internacional de pesquisa, utilizado por diversos países e validado pelo MS no Brasil.

E por falar em nota, entre os baianos, a avaliação não foi tão satisfatória assim. Segundo o levantamento, 1 em cada 5 responsáveis ficou insatisfeito com o serviço (21,3%). Responsáveis por 517 mil crianças menores de 13 anos deram uma nota de 0 a 6 ao atendimento no estado. O percentual de ‘reprovação’ na Bahia ficou acima do verificado no país como um todo (19,4%) e foi o 8º mais elevado entre as 27 unidades da Federação.

“Os dados mais importantes desse módulo tratam da avaliação do atendimento recebido nesse serviço de atenção primária à saúde. O Brasil todo - e isso vale para a Bahia também - a avaliação fica abaixo da média. Não é, uma reprovação geral, mas é uma avaliação de que os serviços precisam melhorar e não estão ainda em um nível considerado de qualidade”, comenta a supervisora de Disseminação de Informações do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros.

Ainda sobre os dados estaduais, 45,9% dos responsáveis avaliaram os serviços de atenção primária à saúde com notas 9 e 10, ou seja, aprovaram e os recomendariam. Entretanto, a proporção ficou abaixo da nacional (47,6%) e foi apenas a 18ª do país.

“Não é que existe uma avaliação majoritariamente negativa, mas estamos abaixo da média da maior parte dos estados na avaliação positiva e acima na avaliação negativa. A visão dos responsáveis pelas crianças aqui no estado é mais negativa do que o resto do país, de uma forma geral”, complementa Mariana.

Avaliação
Pai de Pedro e Samyle, de 8 e 5 anos, respectivamente, o administrador Daniel Duarte costuma levar as crianças até o posto de saúde para atualizar a caderneta de vacinas. Ele é um dos que notam a necessidade de melhoria no tratamento dos pacientes. “Apesar do posto ter uma boa estrutura, já passei por situações ruins relacionadas ao tratamento dado às pessoas pelos funcionários. Estão sempre mal-humorados, não fornecem as informações de forma correta e compreensiva, sempre falta alguma coisa”, opina.

Ele lembra que certa vez, além de ser tratado mal, o profissional que trabalha no posto negou que a unidade oferecia o serviço que precisava.

“Busquei o serviço de saúde próximo à minha residência, mas a funcionária me tratou tão mal e ainda chegou ao ponto de dizer que o serviço que precisava não estava disponível naquela unidade. Quando cheguei em outra unidade, fui questionado por que não procurei um local mais próximo, e ainda fui tratado rispidamente mais uma vez”.

Daniel sente falta de um atendimento mais acolhedor. “Os postos precisam avançar muito na questão da empatia e do acolhimento humano, principalmente, na questão dos atendimentos médicos. A boa estrutura física já existe, portanto, poderia ampliar os atendimentos, organizar e receber melhor os pacientes que precisam do SUS”.

E foi justamente a atitude mais acolhedora a justificativa mais recorrente dada pelos entrevistados ao pontuar notas positivas ou negativas nas questões sobre o serviço de saúde primária, como chama a atenção Mariana Viveiros.

“A questão do acolhimento foi mais importante no estado do que no país. A gente sabe que o serviço tem inúmeros desafios, mas o que os dados trazem são informações que podem ajudar a melhorar esse atendimento. É um serviço que precisa e deve melhorar. São ferramentas que podem ser muito úteis para o sistema de atenção primária à saúde”, ressalta Mariana.

A maneira como a pessoa responsável ou a criança foram acolhidas (acolhimento) foi apontada por 38,7% dos entrevistados como fator mais citado para a nota ao atendimento. Já 31,9% citaram a atuação dos profissionais na resolução do problema (equipe) e 20,2%, a rapidez ou a demora do atendimento (tempo de atendimento). No Brasil, diferentemente da Bahia, a equipe foi o fator mais citado (35,7% dos responsáveis), o acolhimento ficou em segundo (citado por 32,4%), e o tempo de atendimento foi citado por 23,2% dos responsáveis.

Dois milhões de crianças até 13 anos na Bahia passaram por algum atendimento médico entre os segundos trimestres de 2021 e 2022, mais da metade delas (50,6%) em Unidade Básica de Saúde (posto ou centro de saúde) ou Unidade de Saúde da Família. Ainda conforme os resultados apontados pelo módulo, no Brasil, 28,4 milhões de crianças receberam algum atendimento médico no período.

Procurada pela reportagem, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) disse que os postos de saúde são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O CORREIO buscou também um posicionamento junto ao Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde da Bahia (COSEMS-BA), Conselho Estadual de Saúde da Bahia (CES-BA) e a União dos Municípios da Bahia (UPB), mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.

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O Tribunal de Justiça da Bahia determinou que a secretária de Saúde de Inhambupe seja afastada do cargo, após constatar que ela causou prejuízo ao erário público por meio de “contratações fraudulentas e superfaturadas” para prestação de serviços médicos, “em favor de aliado político”.

A decisão acata o pedido do Ministério Público estadual (MP), realizado pelos promotores de Justiça Saulo Rezende Moreira e Rafael de Castro Matias, da 1ª Promotoria de Inhambupe.

Conforme a ação civil pública apresentada pelo MP, a secretária contratou um médico para prestar serviços à população do município, descumprindo regras mínimas para realização dispensas e inexigibilidades de licitação e permitindo a contratação por preço superior ao de mercado.

Segundo os promotores, a secretária e o médico, que já foi prefeito da cidade de Ibipeba, são filiados ao mesmo partido político.

Segundo a ação, a secretária, em suas redes sociais, declarou apoio abertamente à nova candidatura do médico a prefeito de Ibipeba em 2020.

O documento destaca, também, que a contratação do médico corrobora “para que este enriqueça ilicitamente com as contratações irregulares e superfaturadas, fazendo com que interesses privados se sobrepusessem a normas de ordem pública”.

Na decisão, o juiz afirmou que a permanência da secretária no cargo poderia concretamente “interferir a seu favor na instrução processual, embaraçando a coleta de provas, obstruindo a apuração real dos fatos e cometendo novos atos irregulares”.

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