O Jornal da Cidade

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O médico de 38 anos que foi preso em flagrante por estupro de vulnerável de uma adolescente de 13 anos, na Avenida Lucaia, no Horto Florestal, mantinha um relacionamento há cerca de um ano com a amiga da vítima, uma jovem de 18 anos. Segundo a polícia, ele conheceu a moça no Vale das Pedrinhas, onde a mãe dele mora, e eles marcaram um encontro, na quarta-feira (18). O médico negou aos policias ter tido relações com a adolescente. A polícia não divulgou os nomes dos envolvidos.

A prisão em flagrante aconteceu por acaso. O coordenador da Operação Visão, delegado Thiago Almeida, contou que uma equipe da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV) estava passando pela região do Lucaia quando ouviu o alarme de uma loja disparar. Ao se aproximar do local os policiais avistaram um carro Civic, com vidros escuros, motor ligado e faróis acesos.

“A Operação Visão da Polícia Civil tem por objetivo coibir os crimes contra o patrimônio, notadamente os roubos de veículos. Pela análise da mancha criminal a região do Horto Florestal e Federação apresentavam um elevando índice desse tipo de crime, por isso as equipes estavam nessa região. Teve uma loja que acionou o alarme e ao passar pelo local percebemos o carro preto e vultos dentro do veículo”, contou o delegado.

Ele disse que o médico percebeu a viatura e tentou fugir. “Quando a equipe se aproximou o carro tentou engatar a ré e sair, mas os policias abordaram e deram ordem de descida. Desceu o motorista do veículo, que era o médico. Aí, do banco do passageiro, desceu a mulher de 18 anos. Instantes depois, desceu a menor de 13 anos”, afirmou.

Segundo o delegado, eles desceram do carro se vestindo. O médico procurou saber o motivo da abordagem e disse que estava sendo constrangido. O clínico geral contou para os investigadores que tinha um encontro marcado com a jovem de 18 anos e que ao chegar ao local foi apresentado a adolescente. Ele disse também que matinha um relacionamento com a mulher de 18 anos há cerca de um ano e que a conheceu quando foi visitar a mãe dele. As duas moram no mesmo bairro.

O médico alegou que não sabia que a jovem tinha 13 anos e negou em depoimento que tenha ocorrido alguma relação sexual entre eles. A mulher de 18 anos confirmou que tinha um encontro com o médico, que os dois se relacionam há cerca de um ano e que recebia dinheiro para sair com ele. O pagamento combinado desta vez era de R$ 650. Ela disse na delegacia que era irmã da jovem, o que é mentira. Ela também negou que a adolescente estivesse sendo aliciada. A jovem ainda não foi ouvida pela polícia.

Os investigadores apreenderam o celular do médico, solicitaram coleta de material genético no carro e vão ouvir mais pessoas antes de concluir o inquérito. O delegado explicou que o médico está respondendo por estupro de vulnerável e exploração sexual, e a mulher de 18 anos por exploração sexual e corrupção de menor.

“Levar uma pessoa menor para presenciar um ato sexual ou libidinoso diverso expõe a isso [esses crimes]. Diante da informação de que a menor participaria ou havia a possibilidade de estar ali participando é que ela [mulher de 18 anos] foi flagranteada também”, afirmou.

A defesa do médico informou que ele está à disposição das autoridades competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários. "Desde já informamos que a versão inicialmente veiculada não corresponde com a realidade dos fatos. Entretanto, em razão do sigilo inerente ao caso, ele não dará, por ora, qualquer declaração ou entrevista à imprensa e irá se restringir a provar sua inocência durante o curso da investigação", afirmou o advogado por meio de nota.

Cajazeiras
Ainda nesta quinta-feira (19), a polícia apresentou o resultado de outra ação para coibir o abuso sexual de crianças e adolescentes. Um treinador de futebol, que não teve o nome divulgado, foi preso em Cajazeiras acusado de abusar de jovens que eram atendidos no projeto social que ele comandava. A investigação começou há dois meses e o homem atuava há dez anos como treinador, sem licença. A polícia identificou 11 vítimas, mas acredita que existem mais.

A titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Crianças e o Adolescente (Dercca), Simone Moutinho, contou que foram cumpridos mandados de busca e apreensão na sede da instituição e na casa do treinador. Os investigadores encontraram vídeos com teor pornográfico de crianças e adolescentes em computadores, alguns deles eram jovens atendidos pelo projeto, e apreenderam computadores, celulares e documentos. No alojamento dos jogadores foram localizados mais documentos, preservativos e lubrificantes sexuais.

“Conseguimos tomar o depoimento de 11 vítimas, mas esse é um projeto que já dura dez anos e tem muitas crianças envolvidas. A partir das oitivas e de tudo que apreendemos temos a dimensão de que existem mais vítimas. Ele ameaçava os jovens, e os pais e responsáveis não tinham conhecimento, estavam investindo no sonho dos filhos”, afirmou.

As vítimas mais jovens tinham 12 anos. A polícia identificou crimes como estupro e corrupção de menores. O treinador também vai responder por armazenar e transmitir cenas de nudez e de natureza pornográfica envolvendo crianças e adolescentes. “Além das imagens dos alunos, ele contou que recebia pacotes com imagens de teor pornográfico envolvendo crianças e adolescentes, o que também é crime”, contou.

Inicialmente, ele tinha um mandado de prisão temporária, mas como foi preso em flagrante com as imagens a polícia solicitou a prisão preventiva. Caso seja acatada, o homem ficará preso por tempo indeterminado. Segundo a delegada, ele negou o crime no primeiro momento, mas confessou em depoimento que fazia as imagens. Ele disse que não transmitia o conteúdo. Os jovens foram encaminhados para atendimento psicológico.

A Operação Flor Lótus, como foi batizada, surgiu de uma denúncia crime do Ministério Público da Bahia, foi deflagrada pela Dercca e a prisão e as apreensões foram realizadas pela Coordenação de Operações Policiais (COP), do Departamento de Polícia Metropolitana (DEPOM).

Cenário
Os crimes contra crianças e adolescentes têm crescido na Bahia. Na quarta-feira (18), Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o CORREIO mostrou que o estado ocupa a 4º posição entre aqueles com maior número de casos de abusos sexuais praticados contra esse público no Brasil.

Entre 1º de janeiro e 13 de maio de 2022, a Bahia registrou 2.925 denúncias, ou seja, 407 casos a mais do que os 2.518 relatados entre janeiro a junho do ano passado. Os dados são do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e apontam crescimento de 16% no número de ocorrências.

Todo 18 de maio é celebrado o Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data é para lembrar os direitos humanos e fortalecer a rede de proteção desse público. Em 18 de maio de 1973, em Vitória (ES), uma menina de 8 anos foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta. O Caso Araceli chocou o país e passou a ser o símbolo da luta contra esse tipo de crime. A temática é debatida durante todo o mês pela campanha Maio Laranja.

 

Dentre os 13 estados brasileiros (nove do Nordeste e quatro do Norte) com mais beneficiários do Auxílio Brasil do que trabalhadores com carteira assinada, a Bahia ocupa o segundo lugar do ranking. Até março, eram 2.240.774 de pessoas recebendo o auxílio, frente aos 1.828.484 trabalhadores com CLT. Os dados são do Ministério da Cidadania e do Ministério do Trabalho e Previdência. O estado ainda é o maior do país em taxa de desocupação: 17,6%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE. Isso acontece mesmo com a Bahia tendo o 7º maior PIB entre os estados.

Como destaca Mariana Viveiros, supervisora de disseminação de informações do IBGE, apesar da taxa ser elevada, é a menor para o primeiro trimestre em 6 anos. Mas isso não é motivo de comemoração. “Antes da pandemia a gente já tinha uma crise no mercado de trabalho entre 2015, 2016 e 2017, principalmente. Estamos voltando agora a um patamar de 2016 mais ou menos, mas isso não é tão positivo porque são números de uma crise. Estamos superando os desafios da pandemia e, com isso, voltando a enfrentar os nossos desafios estruturais”, coloca.

Quanto ao cenário nacional, Mariana afirma que, desde 2012, início da série histórica, a Bahia está entre os cinco piores estados, o que reforça o problema estrutural a ser superado em relação ao mercado de trabalho. “A gente tem um estado muito populoso e há uma dificuldade de atender à demanda, até porque o mercado de trabalho é muito dinâmico e informal. São muitos desafios econômicos e de desenvolvimento e, principalmente, na educação. Temos indicadores de educação bastante insatisfatórios, inclusive, em comparação a outros estados do Nordeste”, acrescenta.

São esses obstáculos até o mercado de trabalho que fazem crescer o número de beneficiários do Auxílio Brasil. Criado em 2021 em substituição ao Bolsa Família, o programa é direcionado a famílias em situação de extrema pobreza (renda familiar mensal por pessoa no valor de até R$ 100,00) ou em situação de pobreza (renda familiar mensal por pessoa entre R$ 100,01 e R$ 200,00).

Luana Silva de Souza, de 30 anos, é uma das beneficiárias. Ela atuava como faxineira diarista e está desempregada há 3 anos. “Eu trabalhava em casa de família, fazendo faxina. Com a pandemia, eles pararam de me chamar. Mesmo quando as coisas voltaram ao normal, não quiseram mais. Aí até agora não encontrei nada fixo”, diz.

Ela se vira como pode, fazendo tranças e também salgados, mas esbarra em dificuldades. “Eu tenho três filhos ainda pequenos, então, para eu sair para trabalhar, preciso que alguém olhe eles. Ainda não consegui colocar minha filha mais nova em uma creche, por exemplo”, conta. O Auxílio Brasil, de R$400, ajuda, mas não é suficiente. Só o aluguel que Luana paga custa R$300.

Jaimilton Fernandes, coordenador do Auxílio Brasil na Bahia, destaca que, de 2.240.774 que recebiam o auxílio na Bahia em março deste ano, agora em maio o número já é de 2.259.173. Segundo ele, há um aumento sendo percebido desde o ano passado, mas ainda não é possível precisar o que justifica isso em meio à retomada da economia após os piores momentos da pandemia.

"A gente tem uma demanda reprimida ainda de pessoas solicitando o benefício. No CadÚnico, por exemplo, eram cerca de 3 milhões de famílias cadastradas até o final de 2021 e, até fevereiro, houve um crescimento de pouco mais de 500 mil cadastros", afirma.

O coordenador ainda destaca o impacto da quantia na economia do estado. "O Bolsa Família tinha um valor entre R$180 e R$190. Hoje, temos aproximadamente o dobro no Auxílio Brasil e mais pessoas beneficiárias. É um impacto considerável. Mas vale ressaltar que, desde 2018, o Bolsa Família não tinha reajustes, mesmo com o salário mínimo perdendo poder de compra".

Em Salvador, o gerente de Cadastro Único e Benefícios da Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre), Télio Barroso, destaca que, mesmo não sendo uma quantia tão expressiva, o benefício tem impacto positivo. “São pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza que conseguem se inserir aí no ramo de consumo e movimentar a economia. E é ampla a margem de pessoas que podem receber esse benefício e não há dificuldade para solicitar. O único documento obrigatório é o CPF e, por conta das dificuldades de transporte que algumas pessoas podem ter, nós fazemos ações indo diretamente em algumas localidades”, diz.

Segundo Barroso, Salvador tem 396.843 famílias inscritas, sendo 874.780 pessoas beneficiadas, no total. Vale destacar o aumento desse número. De dezembro de 2021 a abril de 2022, os cadastros saíram de 354.738 mil famílias para 396.843, um aumento de 42.105 lares, o que representa 11,8%.

Quando somados todos os bens e serviços finais produzidos na Bahia, o estado registra o sétimo maior PIB do Brasil. Apesar disso, o indicativo não reflete um grande problema do estado: a má distrubuição de renda. "Temos problemas estruturais no estado do ponto de vista da distribuição da riqueza que está sendo gerada. Os empregos gerados no mercado de trabalho formal não são suficientes para incorporar a população", explica a professora de Economia da UFBA Diana Gonzaga. Os resultados disso para são alta taxa de desemprego, informalidade e pobreza.

Sem carteira assinada

Dos 874.780, apenas 448.019 (51,2%) apresentaram carteira de trabalho. Luana da Silva Souza, mesmo quando estava empregada, não tinha carteira assinada. De acordo com o IBGE, a Bahia é o quinto estado com a menor taxa de trabalhadores com carteira assinada: 55,9% do total do setor privado, empatado com Sergipe. A taxa nacional é de 74,1%.

Para Rosângela Lacerda, procuradora do Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA) e professora da Faculdade de Direito da Ufba, os números mostram a ineficiência da Reforma Trabalhista. “Mesmo com a reforma, que já tem 5 anos, a gente não teve um aumento do número de empregados de uma forma geral no país. O contrato de trabalho intermitente até ajuda a diminuir o índice de desemprego, mas coloca o trabalhador em uma situação precária. É uma falácia, estatisticamente, dizer que a flexibilização das regras trabalhistas gera mais empregos”, destaca.

A procuradora acrescenta ainda que a pandemia teve impacto no número de desemprego e informalidade, mas não é a principal culpada. “Mesmo antes da pandemia, em 2018, 2019 e início de 2020, a gente já tinha índices de desemprego elevados. A pandemia teve impacto no cenário que estamos vivendo hoje, mas não é a principal culpada. A gente já voltou para os níveis de desemprego de antes da pandemia, mas o problema é que o país não cresce porque o que faz com que os empregos estejam em alta é o desenvolvimento econômico”, finaliza.

Como solicitar o Auxílio Brasil?

Para passar a receber o Auxílio Brasil, é preciso se inscrever no Cadastro Único, o CadÚnico, ou atualizar suas informações, caso já seja inscrito. A concessão do Auxílio Brasil não é imediata e não tem prazo definido para ocorrer.

Para se inscrever no CadÚnico, o interessado precisa procurar um centro de atendimento social da prefeitura da cidade onde mora. Uma pessoa da família deverá responder às perguntas que serão feitas. Essa pessoa será considerada Responsável pela Unidade Familiar (RF). Ela precisa ter 16 anos ou mais e, de preferência, ser uma mulher.

Chegando ao local da inscrição, o responsável deverá mostrar um dos seguintes documentos:

CPF ou título de eleitor;
Registro Administrativo de Nascimento do Indígena (RANI), quando for responsável por uma família indígena (ele é opcional);
Para responsáveis por família indígena ou quilombola, são aceitos também certidão de casamento, carteira de identidade (RG) ou carteira de trabalho.
O responsável deverá mostrar também ao menos um documento de cada uma das pessoas da família. Pode ser: certidão de nascimento; certidão de casamento; CPF; RG; carteira de trabalho ou título de eleitor.

Diferença entre beneficiários do Auxílio Brasil e trabalhadores CLT:
(Ministério da Cidadania, através do Portal G1 Bahia, e Ministério do Trabalho e Previdência)

Maranhão: 576.411
Bahia: 412.290
Pará: 332.706
Piauí: 241.874
Pernambuco: 155.548
Paraíba: 188.546
Alagoas: 118.974
Ceará: 110.915
Sergipe: 71.585
Amazonas: 32.582
Amapá: 26.643
Acre: 22.610
Rio Grande do Norte: 5.898
*Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins não entraram no ranking porque têm mais trabalhadores com carteira assinada do que beneficiários do Auxílio Brasil.

Proporção de trabalhadores com carteira assinada:
(IBGE)

Maranhão: 47,3%
Pará: 51,3%
Piauí: 51,4%
Paraíba: 55,6%
Bahia: 55,9%
Sergipe: 55,9%
Ceará: 56,2%
Tocantins: 59,9%
Alagoas: 61,6%
Pernambuco: 62,8%
Acre: 64,9%
Rio Grande do Norte: 65,6%
Amazonas: 69%
Roraima: 69,1%
Rondônia: 71%
Goiás: 71,9%
Amapá: 72,4%
Minas Gerais: 74,3%
Espírito Santo: 74,6%
Mato Grosso do Sul: 76,7%
Rio de Janeiro: 77%
Distrito Federal: 77,6%
Mato Grosso: 78,8%
Paraná: 81%
Rio Grande do Sul: 81,1%
São Paulo: 82,4%
Santa Catarina: 88,2%

Taxa de desemprego por estado no 1º trimestre de 2022:
(IBGE)

Bahia: 17,6%
Pernambuco:17%
Rio de Janeiro: 14,9%
Sergipe: 14,9%
Acre: 14,8%
Paraíba: 14,3%
Alagoas: 14,2%
Amapá: 14,2%
Rio Grande do Norte: 14,1%
Amazonas: 13%
Maranhão: 12,9%
Distrito Federal: 12,6%
Piauí: 12,3%
Pará: 12,2%
Brasil: 11,1%
Ceará: 11%
São Paulo: 10,8%
Minas Gerais: 9,3%
Tocantins: 9,3%
Espírito Santo: 9,2%
Goiás: 8,9%
Roraima: 8,8%
Rio Grande do Sul: 7,5%
Rondônia: 6,9%
Paraná: 6,8%
Mato Grosso do Sul: 6,5%
Mato Grosso: 5,3%
Santa Catarina: 4,5%
*Com colaboração de Maysa Polcri.

Com o processo de privatização da Eletrobras, trabalhadores poderaõ usar os recursos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para comprar ações da companhia. Será permitido utilizar até 50% desse saldo.

A compra se dará pelos chamados "fundos mútuos de privatização", dispositivo criado nos anos 2000 e já usado pelo governo na venda de papéis de outras estatais.

Em março, a Caixa Econômica Federal publicou procedimentos e regras de utilização dos recursos para os trabalhadores que tenham interesse em participar de qualquer oferta de privatização autorizada no âmbito do Programa Nacional de Desestatização (PND).

Privatização
O plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou nesta quarta-feira (18), por 7 votos a 1, o modelo de privatização da Eletrobras, estatal considerada a maior empresa energética da América Latina. Esta era a última etapa pendente para que o governo pudesse executar o processo de desestatização da companhia, o que pode ocorrer ainda em 2022.

Votaram a favor os ministros Aroldo Cedraz (relator), Benjamin Zymler, Bruno Dantas, Augusto Nardes, Jorge Oliveira, Antonio Anastasia e Walton Alencar Rodrigues. O ministro Vital do Rêgo, que era o revisor do processo, votou contra.

Aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República em meados do ano passado, a privatização da Eletrobras aguardava uma análise do TCU para ser concluída. A Corte de contas já havia aprovado, em fevereiro deste ano, a modelagem financeira da desestatização e, agora, validou a forma como a empresa será repassada para controle acionário privado, nos moldes propostos pelo governo federal, por meio da venda de papéis.

A Câmara aprovou na noite desta segunda-feira (18) o texto-base do Projeto de Lei (PL) 3.179 de 2012, que regulamenta a prática da educação domiciliar no Brasil, também conhecida como homeschooling.

Os destaques da matéria ainda não foram votados, e serão analisados na próxima sessão, na quinta-feira. Para usufruir da educação domiciliar, o estudante deverá estar regularmente matriculado em uma instituição de ensino, que acompanhará o desenvolvimento educacional durante o ensino.

Uma das exigências é que pelo menos um dos pais ou responsáveis tenha escolaridade de nível superior ou profissional tecnológica reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC). Outro requisito é a certidão negativa perante as justiças federal e estadual (o distrital).

Ensino em casa
Os pais interessados em ensinar os filhos em casa deverão seguir a Base Nacional Comum Curricular definida pelo MEC. Além disso, poderão ser incluídas matérias e disciplinas adicionais à rotina de ensino.

Os responsáveis terão de garantir a convivência familiar e comunitária do estudante e a realização de atividades pedagógicas para promover a formação integral do estudante, contemplando seu desenvolvimento intelectual, emocional, físico, social e cultural.

Será de responsabilidade dos pais manterem registros periódicos das atividades e encaminhar, na forma de relatórios, à instituição de ensino na qual o aluno está matriculado. O aluno também deverá participar de avaliações anuais de aprendizagem durante o ciclo de educação básica.

Nos ensinos fundamental e médio, além desses relatórios, deverá haver avaliação anual com base no conteúdo curricular, admitida a possibilidade de avanço nos cursos e nas séries, conforme previsto na Lei de Diretrizes e Bases (LDB).

Se o desempenho do estudante nessa avaliação anual for considerado insatisfatório, uma nova avaliação, em caráter de recuperação, será oferecida no mesmo ano.

"De um tempo para cá, nem para comprar pão, saio a pé. Aqui fora, sinto que posso ser assaltada ou sofrer qualquer tipo de violência a todo momento. Até de carro, não estamos imunes", desabafa uma moradora do Itaigara, que prefere não se identificar, sobre a sensação de insegurança no bairro. Um medo que está presente por lá e em outros bairros com o metro quadrado mais caro da capital baiana como a Pituba, o Horto Florestal e o Canela. Locais antes considerados seguros e que passam por uma escalada de violência, com assaltos, invasões, cárcere privado e até troca de tiros.

Na noite da última terça-feira (17), no Horto Florestal, um tiroteio entre suspeitos e guarnições da Polícia Militar da Bahia assustou moradores do bairro. De acordo com a PM, equipes faziam rondas na região quando a vítima do roubo informou sobre o crime.

Os policiais começaram a busca e, ao acionarem a sirene, o suspeito que dirigia o veículo roubado - um Honda City - acelerou e foi perseguido. Já na Rua Maria Regina, em Brotas, os suspeitos abandonaram o automóvel, que ficou com uma marca de tiro, e fugiram correndo, na direção de um matagal atrás do Hospital Aristides Maltez.

Segundo moradores, eles dormiram na mata e, às 5h15 de quarta, voltaram para roubar outro carro. A vítima era um homem que estava saindo para o trabalho. O carro dele, um Palio, que não tinha seguro, ainda não foi recuperado. Nenhum suspeito foi localizado até agora.

Até abril deste ano, de acordo com a base de dados da Polícia Civil, em toda a Bahia, já foram roubados 4.617 carros e outros 2.028 veículos foram alvos de furtos.

Ainda na noite de terça, uma família foi aterrorizada por cerca de 30 minutos na Rua Professora Zahidé Machado Neto, no Itaigara, depois que três bandidos invadiram a residência da região pulando o muro. De acordo com informações da PC, os donos da casa são um casal de idosos.

Em depoimento, as vítimas contaram que um dos assaltantes vigiou a mulher e os outros entraram com o homem nos cômodos para procurar itens de valor. Os criminosos conseguiram levar celulares, cartões de banco, um tablet e uma chave de veículo. A reportagem procurou a família para obter mais detalhes sobre o caso, sem sucesso.

Medo constante
O número de ocorrências e a sensação de medo nos bairros têm feito moradores alterarem a rotina, contratarem serviços e abrirem mão de hábitos diários, como conta Willian Belitardo, 24 anos, que mora no Itaigara desde que nasceu. "Tem muita gente com medo onde eu moro. O meu prédio e outros condomínios contrataram segurança particular para a área por conta desses ocorridos. Por aqui, as pessoas evitam sair o máximo que podem e só saem mesmo para coisas essenciais. [...] Eu corria e fazia caminhada, mas parei de fazer por notar movimentações estranhas em carros nas ruas", conta ele, citando também assaltos constantes a mercados.

Outro que vive no Itaigara desde pequeno é o estudante Pedro Moraes, 25. Ele diz que a sensação de insegurança vivenciada hoje no bairro é inédita. "Nunca vi o Itaigara tão perigoso como está. Não é só meu bairro, a cidade inteira está assim de maneira geral. Só que aqui, que era mais tranquilo, está demais a insegurança. Perto do Colégio São Paulo e em vários outros pontos, tem assalto direto, está muito difícil. Não sei como vai ser se não derem um jeito", reclama ele.

Uma moradora da Pituba, que pediu para ter o nome preservado, relata que a situação onde vive é parecida. Hoje, hábitos comuns como levar o cachorro para passear ou comprar pão são limitados por conta do medo da ação de criminosos. "Esses dias estava em casa e a gente pensou em comer algo em uma pizzaria que fica aqui perto, não dá três minutos de casa. É um lugar que a gente sempre vai por ser muito perto e bom. Porém, preferimos abrir mão do ambiente que é legal e pedir para comer em casa. Tudo para se precaver de um assalto e possíveis violências que acontecem durante esse tipo de coisa", afirma.

Na última terça-feira (17), cerca de 150 pessoas, entre moradores, síndicos e comerciantes da Pituba, se reuniram no Centro Comunitário da Igreja Católica, com o comando da 13ª Companhia Independente da Polícia Militar para discutir ações preventivas de segurança para a região. A dinâmica do bairro, locais sensíveis, condutas preventivas, entre outros assuntos, foram abordados no encontro.

Políticas públicas
Ao comentar o cenário atual, Sandro Cabral, professor do Insper e da Ufba de estratégia no setor público e autor de diversos trabalhos na área de segurança pública, diz que a maior percepção dos crimes nesse bairros está ligada a um aumento das ferramentas tecnológicas que propiciam melhor identificação dos crimes e faz uma ponderação. "Há um aumento da sensação de insegurança, mas a diferença entre a sensação e o fato, não podemos afirmar. É preciso olhar os dados. Sem isso, não dá para saber se os crimes estão aumentando ou estão sendo mais filmados, noticiados", ressalta. A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) para ter acesso aos números de roubos a residências no estado, mas não conseguiu retorno até o fechamento desta reportagem.

Cientista social e pesquisadora da rede de observatórios da segurança, Luciene Santana pontua também que a insegurança sentida nos bairros ricos e a que se vive em locais periféricos são diferentes. Enquanto nos bairros nobres, as ocorrências não costumam ter mortes, nos mais pobres as vítimas fatais se acumulam. "Nos bairros periféricos, a sensação de insegurança é a partir de uma operação policial que acontece, troca de tiros e mortes. Já nos bairros nobres, essa sensação vem a partir de roubos, assaltos e furtos", destaca.

Para Luciene, políticas públicas são necessárias para lidar com essas diferentes formas de inseguranças registradas em bairros periféricos e em bairros ricos. Políticas que não estão apenas no enfrentamento, mas na promoção de condições adequadas para que os cidadãos ocupem os lugares. "A sensação de insegurança está envolvida com a própria ocupação do espaço público, a forma como as pessoas acessam o direito à cidade, a quantidade de equipamentos públicos em funcionamento e se essas pessoas estão em circulação ou não nesse local", detalha.

Cabral destaca que a maior facilidade em identificar os crimes pode ser usada pelas autoridades para ter estratégias adequadas ao enfrentamento da violência, acontecendo ela em bairros nobres ou não. "É fundamental uma coordenação entre as diferentes forças de segurança. Guarda Municipal, Polícia Civil, Militar e Federal trabalhando juntas. O combate à criminalidade não está na mão de uma única organização. A escalada de violência é um problema complexo em que não cabe soluções simples como o armamento da população, como muitos sugerem", finaliza o professor.

Relembre outros casos

15 de janeiro - Graça

Um assaltante atropelou uma idosa durante um roubo de um carro na tarde de sábado (15) no bairro da Graça, em Salvador. O crime aconteceu por volta das 14h, na Rua Flórida, em frente ao edifício Graça Royal. Na fuga, o suspeito ainda levou um idoso com dificuldade de locomoção que estava sentado no banco carona. Toda a ação do bandido foi flagrada pelas câmeras de segurança do prédio.

Abril - Pituba
Arrastões em hamburguerias e lojas de açaí e de vinho fizeram a polícia reforçar a segurança na região.

3 de maio - Canela

Um grupo de criminosos invadiu uma lanchonete no canela e levou pertences dos clientes que estavam no local. Segundo a polícia, o arrastão aconteceu na Rua Padre Feijó, por volta das 13h. Como o estabelecimento fica próximo ao Hospital das Clínicas e de outras unidades de saúde, médicos, enfermeiros e demais funcionários da instituição almoçavam no local no momento do ocorrido, bem como estudantes da Universidade Federal da Bahia, que possui alguns campi na região.

17 de maio - Canela

Um homem suspeito de furto contra uma clínica veterinária localizada no bairro do Canela, em Salvador, foi preso momentos após o crime, na madrugada de terça-feira (17). Os policiais militares faziam o patrulhamento no Largo da Graça, quando abordaram um homem, quando ele tentou esconder um objeto dos policiais. Com ele foram encontrados três notebooks, um celular, dois carregadores e um jaleco.

12 de maio - Itaigara
Bancária é assassinada dentro do apartamento onde morava na Rua Érico Veríssimo.

 

A data do aniversário do médico Elsimar Coutinho, 18 de maio, também passa a ser comemorado o Dia Municipal do Planejamento Familiar. Falecido em 2020, em decorrência da covid-19, Elsimar foi homenageado durante um evento, nesta quarta-feira (18), no Centro de Pesquisas e Assistência em Reprodução Humana (Ceparh).

Coutinho faleceu aos 92 anos e era médico e farmacêutico. Ele dedicou sua vida à pesquisa e à medicina como precursor do planejamento familiar em Salvador. Buscou prevenir e tratar as doenças relacionadas à saúde da mulher. Foi pioneiro no tratamento de reposição hormonal, desenvolvendo soluções inovadoras.

O projeto de lei, que instituiu o dia comemorativo, foi proposto pelo vereador Marcelo Maia, líder do PMN na Câmara de Salvador, para dar continuidade ao legado do médico por meio de iniciativas que contribuam para que a data tenha efeitos mais concretos na vida das pessoas.

“Ele vem para o calendário do município de Salvador como uma forma de fortalecer a luta do Ceparh e principalmente do legado deixado pelo professor. É o primeiro ano que a data está instituída, então, certamente no próximo ano teremos outras atividades dentro da data. Algo que não fique apenas como um dia, mas que tenha um efeito eficiente”, planeja o vereador.

Elsimar Coutinho completaria 93 anos nesta quarta-feira (18), mesma data instituída como o Dia Municipal do Planejamento Familiar (foto: André Oliveira)
Atualmente, o cargo da presidência é ocupado pela filha de Elsimar, Charlotte Coutinho. Para ela, o trabalho do seu pai foi, principalmente, o de contribuir para a autonomia e emancipação das mulheres. “Ele se empenhou para inventar novos métodos concepcionais para dar empoderamento à mulher, de poder escolher quando ela quer ter um filho. Isso começou a muitos anos atrás”, contou.

O secretário municipal de saúde, Léo Prates, também esteve presente. Ele falou da importância da parceria entre o SUS e o Ceparh para garantir uma vida mais digna para a população. O centro médico disponibiliza anualmente mais de 65% da sua capacidade assistencial instalada ao SUS, mediante contrato com a Secretaria Municipal de Saúde de Salvador.

“Quando ouvimos a fala de muitos políticos sobre o problemas das industrias clandestinas de aborto, a gente lembra de Elsimar Coutinho, de que nós temos que prevenir, fazer planejamento familiar. Salvador investe na parceria com o Ceparh para evitar que as pessoas engravidem quando não querem e garantir uma vida mais digna para as crianças que vêm ao mundo", disse Prates.

A secretária Carolina Costa, 39, viveu na prática as possibilidades que o programa de planejamento familiar público pode garantir de positivo. Ela buscou o acompanhamento do Ceparh após a chegada da sua primeira filha. Ela utilizou contraceptivo injetável trimestral, dispositivo intra uterino (DIU), pílula e, após o nascimento do segundo filho, optou pela laqueadura.

“Hoje eu sou laqueada e tenho mais liberdade em relação a ter uma vida sexual ativa sem preocupação de uma nova gestação. Não tive custo nenhum, nem para adquirir os medicamentos e sempre fui muito bem assistida”, disse Carolina.

A Justiça Eleitoral decidiu pela anulação dos votos dedicados aos candidatos filiados ao partido Cidadania nas eleições de 2020, além da cassação de mandatos eletivos da sigla na Câmara Municipal de Coração de Maria. A decisão em primeira instância atende a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME) proposta pelo Diretório Municipal do Partido Social Democrático (PSD). A legenda alega que o Cidadania desrespeitou a legislação eleitoral ao apresentar candidaturas femininas “fictícias”.

Ao registrar as candidaturas em 2020, o Cidadania listou os nomes de Caroline Santos Araújo e Josilda Lopes da Silva. Apesar do feito, as candidaturas não existiram de fato. “Não prestaram contas dos recursos de campanha (ao que tudo indica, não receberam nem 1 real do partido), não confeccionaram 1 santinho, 1 adesivo, não fizeram 1 postagem de suas candidaturas nas redes sociais, ninguém as viu participando de campanhas. E o mais escandaloso: não tiveram um voto sequer, nem mesmo o delas!”, como destaca a decisão publicada nesta segunda-feira (16). A legislação eleitoral prevê a existência mínima de 30% de candidaturas femininas.

O documento, assinado pelo juiz eleitoral Tardelli Boaventura, prevê a perda dos mandatos em curso dos vereadores Davilson da Silva Miranda e João Rios de Oliveira. A penalidade é também aplicada aos suplentes do mesmo partido. Acrescenta que, após o trânsito em julgado, a Câmara Municipal de Coração de Maria deverá refazer os cálculos de quociente eleitoral, redistribuindo as vagas entre os demais partidos. Já Caroline e Josilda, permanecem inelegíveis por oito anos subsequentes ao pleito de 2020. A decisão é passível a recurso em instâncias superiores. Os vereadores permanecem no cargo até o trânsito em julgado.

“A existência da cota de gênero é justamente para fortalecer as minorias, neste caso, das mulheres no cenário político. A fraude a essa cota de gênero precisa ser cada dia mais combatida para mostrar a sociedade que a Justiça eleitoral está atenta à questão da diversidade da representatividade. Pro isso essa decisão tem importância e apelo social. Por isso, acredito que será mantida pelo TER e pelo PSE”, diz Odilon Santos, advogado do PSD.

A forte presença feminina no mercado brasileiro, onde comandam 9 milhões de negócios em território nacional, também se traduz na Bahia. Por aqui, dos 709.440 Microempreendedores Individuais (MEI) registrados, 325.371 são comandados por mulheres. Um quantitativo que faz o empreendedorismo feminino deter 45% das empresas oficializadas do estado e se tornar elemento basal para a economia baiana. Não à toa, a Fecomércio-Ba e o Sebrae promovem, nesta segunda-feira (16) e também na terça, a primeira edição do Mulher.com, evento que reúne mais de 1,5 mil empreendedoras de todo o estado no Centro de Convenções de Salvador, na Boca do Rio.

Além de colocar em pauta o impacto feminino no mundo dos negócios, o evento abre espaço para discutir condições de trabalho apropriadas para as empresárias, como fala Rosângela Gonçalves, coordenadora estadual do programa Sebrae Delas. "Mesmo ocupando 46% dos negócios no Brasil, as mulheres têm as menores remunerações e são as que ficam menos tempo dedicadas ao negócio por terem mais demandas. [...] O evento de hoje é para termos iniciativas que tragam um caminho mais confortável e com equidade de oportunidades para poder empreender", explica Rosângela.

Por necessidade

Ainda que diante de dificuldades como o chamado terceiro turno, quando geralmente resolvem demandas de casa, as mulheres estão ocupando os espaços no empreendedorismo. De acordo com o Sebrae, a maioria delas começa a empreender por necessidade. Nathurimar Lima, que é mais conhecida como Nai, é um exemplo disso. Emancipada aos 17 anos, começou a empreender há 21 anos para conseguir ter renda. "Eu tinha seis irmãos e o caminho que eu tive foi empreender ou trabalhar para alguém. Me tornei distribuidora de catálogos por dois anos e meio e, depois, virei empresária do segmento ótico. Tudo porque realmente precisava de uma forma para me manter", relata ela, que é proprietária da Ótica Popular, presente em cinco municípios do sul da Bahia.

Dandara Brazil é professora de dança e trabalha com desenvolvimento humano. Em 2012, ela também encontrou no empreender a resposta para uma necessidade. "Eu trabalho com a dança e algumas práticas que incentivam o desenvolvimento criativo, lúdico e trazem inovação. [...] É um serviço que levo para empresas, organizações e grupos que querem algo na área do desenvolvimento humano. O meu empreender surgiu da necessidade de encontrar um sentido para minha vida, me sentir realizada com o que faço e me sustentar", conta Dandara, que é de Pirajá e presta serviços para negócios de diferentes áreas.

Já Nádia Juvêncio, dona da loja on-line Felicity Kids Enxovais que oferece produtos em preço de atacado em vendas individuais para mães e entrega para todo o Brasil, virou empresária pela necessidade dos outros. Segundo ela, a Felicity surge em 2016 quando era gestante e percebeu a demanda por produtos para bebês e crianças. "Abri uma loja para que todas mamães tivessem ofertas dignas de produtos para bebês com qualidade e baixo preço. Principalmente, para mães jovens sem muitas condições, que têm desconto na loja. Começou para bebês, mas hoje vendemos produtos para pessoas até 16 anos e já tive mais de 50 mil clientes" afirma Nádia, que também é formada em comunicação social.

Metade do setor

Seja por necessidade de criar uma renda ou vocação, o mercado empreendedor baiano tem mulheres como líderes em quase metade do seus negócios. Segundo dados do Sebrae, de todos os atendimentos feitos no estado em 2021, 52% foram para empresas conduzidas por mulheres. Rosemma Maluf, coordenadora da câmara estadual da mulher empresária da Fecomércio-Ba, diz que o cenário é um avanço, mas é preciso instituir ações sensíveis a dificuldade que é empreender quando se é mulher.

Isso porque, para ela, o mundo de negócios é um ambiente marcado por características de uma estrutura patriarcal e machista. "A mulher empreende em circunstâncias diferentes com os desafios do terceiro turno, a família para cuidar e os preconceitos dessa estrutura de empresas. Precisamos acelerar essa transformação do ambiente de empreendedorismo com políticas públicas e dar todo o suporte para que essas mulheres prosperem e suas empresas tenham mais competividade", fala a coordenadora.

Uma das políticas já instituídas para isso é o Sebrae Delas, detalhado por Rosângela Gonçalves. "O Sebrae Delas é uma iniciativa nacional com o olhar direcionado a este público. Empreender, para as mulheres, é diferente. Existem nuances e disparidades que nós endereçamos, trabalhando para reduzi-las através da aproximação da empreendedoras da tecnologia, formas de gerência e negócio, fazer networking entre elas e desenvolver uma cultura sócio ativista, em que uma apoia a outra", afirma ela, citando também o retorno do prêmio Sebrae Mulher de Negócio.

Atenta a relevância do empreendedorismo feminino no mercado, Ana Paula Matos, vice-prefeita de Salvador, compareceu ao evento e salientou o compromisso da gestão em projetar ações de apoio às empresárias soteropolitanas. "Queremos, de fato, dar esse protagonismo às mulheres e condições pra que elas mostrem seu talento. Isso acontece em cima de vários programas. O CredSalvador, por exemplo, prioriza as mulheres, nós temos uma série de capacitações nessa área e uma rede chamada Salvador Delas com muitos programas de empreendedorismo feminino", diz, ressaltando que programas do tipo estão no plano de governo.

Serviço

Para quem quer ser uma das baianas empreendedoras e ter acesso a serviços endereçados a esse público, o MEI é o caminho mais fácil para oficializar seu negócio e fazer ele existir para programas como o Sebrae Delas. Antes de criar o MEI, veja se a atividade por você exercida encaixa-se na categoria do programa, acessando a lista de ocupações permitidas. É necessário também verificar se seu faturamento se encaixa no limite anual de R$ 81.000,00 para o MEI.

O cadastramento é feito diretamente no site Portal do Empreendedor. Só é necessário preencher o formulário com seus dados pessoais neste site. Um procedimento simples, bastando seguir o passo a passo do próprio site.

A Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) decidiu prorrogar as inscrições do Vestibular 2022. De acordo com uma nova portaria publicada pela instituição, os candidatos têm até às 15 horas da próxima quarta-feira (18) para se inscrever no processo seletivo. O pagamento do boleto deve ser efetuado até a data de vencimento, que consta no documento. A confirmação do pagamento da taxa é validada em até quatro dias úteis e pode ser acompanhada no sistema de inscrição.

Estão sendo ofertadas, no processo seletivo, 1.264 vagas nos 47 cursos de graduação da Uesb. Nos casos de Filosofia, Psicologia e Medicina, no campus de Vitória da Conquista, e de Farmácia, no campus de Jequié, as vagas são voltadas, exclusivamente, para o Vestibular. Isso porque esses cursos não terão vagas disponibilizadas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2022.

A realização das inscrições será feita somente pela internet, em link disponibilizado no site da Uesb e do Instituto Avalia. Após preencher o formulário de inscrição, o candidato deverá imprimir o boleto bancário e efetuar o pagamento da taxa de inscrição, no valor de R$ 100, dentro da data de vencimento informada no próprio boleto. Com a efetivação do pagamento, o candidato poderá conferir a validação em até quatro dias úteis pelo sistema de inscrição.

Os contemplados que optaram pelas modalidades de concorrência “Reserva de Vagas”, “Ampla Concorrência” e “Cotas Adicionais” na solicitação de isenção devem manter a escolha no ato de inscrição do Vestibular Uesb 2022. Na inscrição, o candidato deve escolher a primeira e segunda opção de curso, bem como a cidade onde deseja realizar a prova.

Outra decisão que deve ser feita nesse momento é a da opção de Língua Estrangeira que fará parte da sua prova, sendo possível escolher entre Inglês, Francês e Espanhol. É importante lembrar que não será permitida a realização de mais de uma inscrição, devendo, assim, ser conferidas todas as informações cuidadosamente antes de enviar o formulário on-line.

A reserva de vagas no Vestibular Uesb 2022 é destinada aos candidatos cotistas: estudantes de escola pública, negros, indígenas, pessoas com deficiência e quilombolas. Assim, também no ato de inscrição, o candidato faz a opção pela modalidade em que vai concorrer. Metade das vagas será disputada em ampla concorrência e os outros 50% são voltados para alunos do ensino público, considerando, nesse caso, o recorte étnico-racial. Além disso, o Vestibular Uesb disponibiliza, em cada curso, três vagas adicionais: uma para quilombolas, uma para indígenas e uma para pessoas com deficiência.

As tradicionais provas do Vestibular serão aplicadas nas cidades onde estão localizados os campi da Uesb: Itapetinga, Jequié e Vitória da Conquista. Neste ano, o acesso para realização das provas está condicionado à comprovação da vacinação contra a Covid-19. Outra novidade é que todo o processo seletivo será desenvolvido pelo Instituto Avalia, sob acompanhamento e supervisão da Comissão Permanente de Vestibular (Copeve) da Universidade.

No primeiro dia (5 de junho), os candidatos deverão responder a questões de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, Língua Estrangeira e Matemática, além da Redação. Já no segundo dia (6 de junho), será a vez das provas de Ciências Humanas (História, Geografia e Conhecimentos Contemporâneos) e Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia).

Terça, 17 Maio 2022 10:09

Bahia tira zero em ensino na pandemia

A pandemia do novo coronavírus pegou de surpresa todo mundo, nas mais diversas áreas de atuação social. De uma hora para outra, no primeiro semestre de 2020, atividades que eram exercidas presencialmente tiveram que ser modificadas para ter continuidade. Foi o caso de Salvador, capital brasileira que recebeu a melhor nota num estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) sobre a eficiência dos programas de educação pública remota dos estados e capitais brasileiros, durante a pandemia.

Na ponta inversa do ranking, entre os estados, a Bahia surge em último, com nota zero, pois não apresentou nenhum plano para o ensino médio no primeiro ano da pandemia, aponta o estudo. Sheylly Louise, 18 anos, estudante da rede estadual, lembra que no início, a rotina foi bastante complicada. Mesmo quando houve a oferta de aulas online, em 2021, o processo de aprendizagem foi difícil. “Muitos alunos não tinham celulares, mas a gente conseguiu aprender um pouco com as explicações dos professores”, lembra. “A situação de saúde foi realmente muito crítica e nós acabamos ficando sem aulas quase dois anos”, lembra.

Por mais que tenha tentado manter a mesma rotina de sempre, de acordar, estudar e cuidar das outras coisas do dia a dia, Daniel Pereira, 18, conta que a pandemia também afetou a sua rotina. Ele lembra que em 2020, mesmo sem aulas presenciais ou online, a escola em que ele estudava encaminhava atividades para os alunos. Dadas as circunstâncias, com todas as dificuldades, o estudante que sonha em estudar Ciências da Computação, acredita ter se saído bem no período, apesar ter ido para recuperação pela primeira.

O problema, complementa, é que ele viu diversos colegas enfrentarem dificuldades maiores que as dele. “Muita gente em minha turma não tinha acesso à internet. Eu não tive problema porque tenho um Wi-Fi bom”, lembra. Entre as principais dificuldades, comenta, estava a necessidade de se manter focado para aprender. “Você precisa se manter focado para o ensino à distância funcionar. É funcional, mas depende muito do aluno. No meu caso, o foco era mantido pela necessidade”, explica.

Segundo ele, outro aspecto que fez bastante diferença foram os professores. Alguns tinham mais familiaridade com a tecnologia, enquanto outros, não. “Em alguns casos, houve uma grande mudança, com professores que dizem que até preferem o ensino à distância, mas outros ainda se sentem à vontade ensinando presencialmente”, ressalta.

Maria Graziele, 19, já concluiu o ensino médio. Ela trabalha como vendedora atualmente. Em 2020, ela estava cursando o terceiro ano. “A suspensão das aulas foi uma coisa complicada porque fomos informados de que passaríamos uma semana em casa e depois retornaríamos”, lembra. “A escola fazia parte da minha rotina há muitos anos, então ficar afastada por tanto tempo foi bastante difícil”, explica.

Em 2020, durante o período sem aulas, o jeito foi passar o tempo nas redes sociais, lendo e assistindo. “Chegou um momento em que ficou entediante porque eram sempre as mesmas coisas, então ficou claro o quanto o colégio fazia parte da minha vida e o quanto ele fazia falta”, lembra.

“Eu acho que o EAD deixou muito a desejar, mas não por falta de vontade de professores ou alunos, mas pelo momento mesmo. A gente estava em casa, todo mundo assustado, não sabíamos mexer direito nos aplicativos, apesar de ter tido uma aula ensinando, era tudo muito diferente”, lembra. Ela conta que manter a atenção era um desafio no ensino remoto. Além disso, a falta de acesso à tecnologia acabou afastando colegas das aulas. “Eu acredito ter aprendido 10% do que poderia com o ensino presencial, meus amigos também, porém tivemos que concluir desta forma mesmo. Muitos colegas acabaram desistindo”, conta.

A explicação das notas
No levantamento publicado pela FGV, os pesquisadores Lorena G. Barberia, Luiz G. R. Cantarelli e Pedro Henrique De Santana Schmalz, todos do Departamento de Ciência Política, Universidade de São Paulo (USP), construíram um indicador baseado em quatro componentes: meios de transmissão, formas de acesso, supervisão dos alunos e os níveis de ensino cobertos pelo EAD. Questionados pela reportagem, os pesquisadores responderam em nota que o zero recebido pela Bahia se deveu ao fato de o estado “não instituiu ensino remoto em 2020, permitindo, de maneira livre, que municípios e escolas adotassem iniciativas próprias”.

“A prefeitura da capital, por outro lado, apresentou plano que, apesar de bastante limitado, estava acima da média daqueles implementados em outras capitais, que por diversos motivos enfrentaram dificuldades na implementação inicial dos planos”, ponderaram os autores da pesquisa. A capital baiana aparece com uma nota de 5,09684, enquanto a média entre as cidades foi de 1,59.

Segundo os pesquisadores, houve uma grande heterogeneidade quanto à adoção de planos de ensino a distância, já que não houve coordenação do Ministério da Educação nesse sentido. “Percebemos que, em 2020, diversos estados e capitais apresentaram planos insatisfatórios ou nem mesmo apresentaram plano para o ensino remoto. Alguns programas levaram mais de 100 dias para serem implementados”, destacam.

Plano municipal
De acordo com a Secretaria Municipal da Educação (Smed), a Prefeitura de Salvador procurou agir com “bastante rapidez e buscando o resultado mais eficiente possível desde o início da pandemia”. Segundo a Smed, em nota, enquanto as equipes técnicas providenciavam soluções digitais para garantir o ensino, foi criado o Canal Smed no YouTube, com videoaulas produzidas pelos professores da rede. Também foram distribuídos materiais impressos, entregues e devolvidos no momento em que um representante da família ia até a unidade de ensino buscar a cesta de alimentos – iniciativa que visou garantir a segurança alimentar dos alunos. Uma parceria com a Escola Mais, de São Paulo, ofertou de forma gratuita aulas virtuais diárias, através da plataforma Canvas. A ação beneficiou mais de 33 mil alunos do Ensino Fundamental Anos Finais e da EJA II.

De acordo com a secretaria municipal, as aulas da TV ainda estão em exibição e vão se transformar em vídeo aulas a serem exibidas no Canal da Smed no YouTube.

A Secretaria de Educação do Estado da Bahia foi procurada através da sua assessoria de imprensa para comentar os resultados da pesquisa da FGV e para falar sobre os planos pós-pandemia, mas não retornou o contato até o fechamento desta edição.

Professores e alunos ainda sofrem efeitos
Professor em escolas das redes privada e pública, Marcus Reis, 34, ensinava apenas em escolas particulares em 2020. Só a partir de 2021 passou a dar aulas na rede estadual. Para ele, o que mais chamou atenção no momento inicial da pandemia foi a velocidade com que as escolas particulares se adaptaram à nova realidade. “Tenho colegas que estavam dando aulas em escolas públicas em 2020 e o que nos passavam era que todos tinham vontade de fazer alguma coisa, mas ninguém sabia muito bem o que”, diz.

No ano passado, já como professor em escolas públicas estaduais, Marcus Reis conta que presenciava de perto a realidade de dificuldades no acesso ao ensino remoto. Ele mesmo teve que se readaptar à nova realidade. “Para nós professores, a dificuldade é muito grande porque a gente não tinha a interação que temos nas salas de aulas. Numa aula presencial, você tem a reação do aluno, se ele não interage, você pode ver que algo não está funcionando”, diz.

Online, a realidade era de microfones e câmeras desligados o tempo inteiro e quase nenhuma interação. “Às vezes eu tinha a sensação de que estava dando aulas só pra mim”, lembra.

“A gente sofreu muito, ficou cansativo”, reconhece. “Eu vi colegas de profissão caindo emocionalmente, e a gente pedindo forças a Deus para encarar este contexto”.

Mesmo agora, após a retomada das aulas presenciais, o tempo sem aulas ou com o ensino remoto segue cobrando um alto preço, destaca o professor. “A dificuldade agora é equilibrar o conteúdo que eles não pegaram no ano passado. Eu estou com uma turma de terceiro ano que não tem interação no conteúdo”, afirma.

“Quando a gente vai colocar na balança, desgasta até um pouco a gente, percebendo que os meninos estão cansados de ouvir sermões ou discursos moralistas, eu evito este desgaste. Eu prefiro ter uma boa relação com eles, diminuo o tom de sermão”, conta. Segundo ele, tem sido comum ver alunos chorando

O coordenador-geral da APLB-Sindicato, Rui Oliveira, lembra que todo o planejamento que existia para a educação no Brasil estava voltado para o ensino presencial. Para ele isto explica as dificuldades enfrentadas na Bahia e em outros estados. “No primeiro momento, na rede estadual, falou-se em ter uma interatividade com os alunos. O problema é que no Brasil 60% dos estudantes não tem acesso à internet”, lembra.

Após estes dois anos, em 2022, o desafio é lidar com um “lapso temporal de dois anos” no processo de aprendizagem, destaca Rui Oliveira. Para ele, o impacto do momento na educação só será devidamente conhecido mais adiante.

Para Gabriel Corrêa, líder de políticas educacionais do Todos pela Educação, o impacto da pandemia na educação brasileira é tão grande que a nação ainda não percebeu sequer o tamanho do problema. “Nós achamos que a população ainda não se deu conta da magnitude destes efeitos, que começam levando à evasão escolar”, diz. Ou seja, muitos não voltarão para as salas de aulas, ou retornaram e não conseguirão permanecer.