Cerca de 6,7 mil munições e espoletas foram apreendidas, na madrugada desta quarta-feira (18), na cidade de Itabela, região do Extremo Sul da Bahia, durante reforço do patrulhamento ostensivo. Guarnições da 7ª CIPM encontraram os materiais durante abordagem na BR-101.

Os PMs desconfiaram de um idoso, que dirigia um veículo e determinaram a parada do automóvel, no KM 744, próximo ao distrito de São João do Monte.

No banco traseiro do carro as equipes encontraram 5 mil espoletas e 1,7 mil munições dos calibres 36, 32, 28 e 22. Os materiais bélicos foram apresentados na Delegacia Territorial (DT) de Eunápolis.

"Determinamos o reforço, no Extremo Sul, com equipes das polícias Militar e Civil, além da Força Tarefa. Atuaremos integrados com as instituições federais na região, buscando identificar autores de crimes e prevenir ocorrências ilícitas", declarou o secretário da Segurança Pública, Marcelo Werner.

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A organização criminosa que chegou a ser a mais temida na Bahia, hoje, não passa, até então, de relatos policiais. A facção Caveira, que surgiu no Complexo Penitenciário da Mata Escura, foi uma das responsáveis pela alta da criminalidade na capital baiana em 2010, quando 4.868 pessoas foram assassinadas. Ao que tudo indica, a última vez que que a Caveira ficou em evidência foi em 2017, com a morte da última liderança que estava em liberdade.

Mandante do massacre de presos e familiares no Presídio de Feira de Santana, em maio de 2015, Romilson Oliveira de Jesus, o Rafael, morreu em um tiroteio com a Polícia Civil em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, durante cumprimento de mandado de prisão em 27 de janeiro de 2017 - mais de 500 quilos de pasta base de cocaína foram apreendidos na operação. Mas a “morte” da Caveira aconteceu aos poucos, tendo como principal motivo a ascensão de uma outra facção, que fora criada pelo própria Caveira para ser uma ramificação, o Bando do Maluco (BDM).

De acordo com fontes da Secretaria de Segurança Pública (SSP), com a prisão em 2012 do principal líder, Genilson Lima da Silva, o Perna, que até hoje cumpre pena no Presídio Federal de Catanduvas (PR), a Caveira decidiu como estratégia criar o BDM em 2015, seguindo modelo semelhante às maiores organizações criminosas do país - Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro. A intenção era ampliar a área de atuação da Caveira, nesse caso, na Bahia, em alguns pontos estratégicos do tráfico da capital, como Subúrbio e Cajazeiras, e, principalmente, na Região Metropolitana de Salvador.

No entanto, houve um racha - o motivo ainda é um mistério - e a parte do grupo mais violenta ficou sob o comando do assaltante de banco José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, fundador do BDM – ele morreu em dezembro de 2019 pela polícia no estado do Mato Grosso do Sul. “O PCC que antes só fornecia armas para a Caveira, passa a fazer negócio também com o BDM por causa da influência de Lessa, pois já pega armas pesadas, como rifle, fuzil, para arrombamentos a instituições financeiras. Assim o BDM foi ficando mais forte”, disse uma fonte da SSP, que passou pelas principais delegacias de Salvador no auge da guerra entre as facções Caveira e Comando da Paz (CP), entre 2005 e 2010.

Com o tempo, o BDM passou a direcionar os ataques aos ex-comparsas, que também perderam pontos estratégicos como a Liberdade, Curuzu, Santa Mônica e Pernambués, para o CP – hoje Comando Vermelho – , e Nazaré das Farinhas e outras regiões do Recôncavo para a Katiara .

Ataques
De lá pra cá, aos poucos, as pichações que indicavam o domínio de Perna foram substituídas. O grupo, que já estava enfraquecido com algumas lideranças, consideradas as “mentes pensantes”, presas ou mortas, passara a ser massacrada pelos rivais, principalmente pelo BDM. “Na época, muitos do Caveira resistiram em mudar de lado e o BDM foi contudo pra cima, com maior número de homens e armas fizeram um grande estrago à organização, que perdeu soldados, bocas-de-fumo e poder de fogo”, explicou a fonte da SSP.

Os ataques resultaram em diversos momentos de terror nas comunidades de Salvador. Contudo, a SSP intensificou o número de operações nesses locais, como medida para conter a violência, o que não funcionou. Foram momentos difíceis. "Era um mata-mata de cada lado. No final do dia, a gente tinha 10, 15, 20 corpos para investigar, tudo relacionado à guerra entre Perna e Pitty ( Eberson Souza Santos, líder do CP).Participei de várias operações, muitas com baixa (morte) do lado de lá, mas o tráfico logo recrutava novos soldados e ciclo continuava, como é até hoje", recordou a fonte da SSP.

O cientista social Luís Lourenço fez uma análise da época. “O mercado varejista de drogas que é dominado por grupos criminosos em disputa sempre representa risco, não só pelas disputas entre as facções, mas pela política de guerra às drogas adotada pelas força de segurança pública. Violência e força gera menos paz e mais vítimas, seja por parte da polícia como das facções”, declarou ele, que é também professor do Departamento de Sociologia e coordenador científico do Laboratório de Estudos em Segurança Pública, Cidadania e Solidariedade (Lassos) da Universidade Federal da Bahia (Ufba),

A reportagem procurou a Polícia Civil para saber o que teria causado o desaparecimento da organização criminosa e seus impactos. Até o fechamento da edição não houve resposta. Já o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) informou que as investigações sobre facções criminosas são sigilosas e "os resultados das ações de combate são oportunamente divulgados à sociedade por meio dos canais oficiais de comunicação pública do MP baiano".

Perna x Pitty
Desde a prisão de Raimundo Alves de Souza, o Ravengar, em feveiro de 2004, o tráfico de drogas passou a ser pulverizado, consequentemente houve um aumento expressivo da criminalidade, especialmente em Salvador. Ele era considerado o maior traficante da ocasião e a localidade do Morro da Águia, no bairro da Fazenda Grande,era a sua fortaleza.

Com Ravengar preso, seu império foi cobiçado por Perna e também por Eberson Souza Santos, o Pitty, líder do Comando da Paz (CP). Ao contrário de Ravengar, os dois já estavam há mais tempo no Complexo Penitenciário da Mata Escura, onde mantiveram contato com traficantes paulistas e cariocas presos aqui e assim se “aperfeiçoaram”, passaram a exercer liderança entre os muros das unidades prisionais.

Perna e Pitty lideram uma disputa acirrada pelo domínio do tráfico no estado e ganharam fama pelos vários crimes que lhe foram atribuídos, inclusive chacinas e assaltos a bancos e carros-fortes. Em 2007, Pitty fugiu da prisão, mas meses depois acabou morto em confronto com a polícia em Candeias. Depois da morte do rival, Perna enfrentou o sucessor de Pitty, Maurício Vieira da Silva, o Cabeção, que também estava preso no complexo.

Em 2008, a polícia fez uma operação no Presídio Salvador, quando apreendeu na cela de Perna R$ 280 mil em dinheiro, oito quilos de cocaína, duas pistolas, além de cadernetas com anotações do tráfico e vários aparelhos celulares. Depois do ocorrido, o traficante, juntamente com Cabeção e outros criminosos considerados altamente perigosos, que já mantinham ligação com o PCC, foram encaminhados para o presídio de segurança máxima em Catanduvas, interior do Paraná.

Mas, nem por isso, as facções foram desarticuladas. Pelo contrário. Ações do tráfico em represália às transferências foram sentidas também pela população. Além do aumento das exeuções de rivais, houve uma série de ataques a ônibus e também às forças de segurança, com a morte de civis e militares. Outras lideranças surgiram e, com isso, novas organizações criminosas também e alianças poderosas como a permanência do Comando Vermelho (CV) na Bahia.

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Cumprindo ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) desmontou acampamentos golpistas de bolsonaristas em ação simultânea que aconteceu em Salvador, Alagoinhas e Feira de Santana na tarde desta quarta-feira (9).

Coordenada pelo Comando de Policiamento Especializado (CPE) da Polícia Militar, equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Choque, do Bepe, do Águia e da 2ª Companhia Independente (CIPM) foram até o bairro da Mouraria, na capital baiana, e iniciaram o processo de negociação. Seis toldos, cadeiras, banheiros químicos e isopores, que davam suporte aos radicais de extrema direita, foram removidos.

Equipes de negociação do Bope dialogam com os radicais para evitar aglomeração na porta do quartel que fica na região, segundo a SSP.

“Temos uma ordem judicial a ser cumprida e, conforme esta ordem estabelece, a Polícia Militar será responsável por isso (pela retirada dos acampamentos), mas nós não podemos fazer isso sem dialogar com o Exército. Então fizemos uma agenda de trabalho para que a gente possa cumprir a ordem nas próximas horas, nos próximos dias”, explicou mais cedo o governador Jerônimo Rodrigues.

Ao longo da manhã, Jerônimo se reuniu com o vice-governador Geraldo Junior, os secretários de Segurança Pública, Marcelo Werner, da Justiça e Direitos Humanos da Bahia, Felipe Freitas, e de Administração Penitenciária e Ressocialização, José Antônio Gonçalves, além dos secretários de Gabinete, Adolpho Loyola, e de Relações Institucionais, Luiz Caetano. O comandante geral da Polícia Militar, Coronel Paulo Coutinho, a delegada-geral da Polícia Civil, Heloísa Brito, e a Procuradora Geral do Estado, Bárbara Camardelli também participaram dos trabalhos, assim como o General de Divisão Marcelo Guedon, comandante da 6ª Região Militar, o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), deputado Adolfo Menezes, e a Procuradora Geral de Justiça, Norma Angélica.

Encontro de governadores
Jerônimo participa ainda hoje de uma nova reunião com os governadores, agendada para às 18h, em Brasília. Eles vão reafirmar o compromisso em prol da democracia e a união para que esses episódios não aconteçam em outros pontos do país.

Desde domingo (8), a segurança foi reforçada pela Polícia Militar em alguns prédios públicos na Bahia. Entre os locais monitorados está o Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde estão sediados secretarias e outros órgãos da administração pública estadual.

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Os dois homens suspeitos de matar a tiros Rodrigo da Silva Santos, de 33 anos, e Hynara Santa Rosa da Silva, 39, que atuavam como rifeiros, chegaram ao local cerca de duas horas antes do crime. O caso aconteceu na tarde do último domingo (11) em uma praia de Barra do Jacuípe, local turístico da orla de Camaçari, na região metropolitana de Salvador.

Informações colhidas pela TV Bahia na Delegacia de Monte Gordo apontam que um dos assassinos chegou sozinho, por volta das 16h, no quiosque onde o casal estava. Logo depois, um outro homem usando um capacete chegou ao local e também ficou aguardando.

Quando o casal retornou para a água, onde estava fazendo passeios aquáticos com jetski, os suspeitos começaram a fazer os disparos. O proprietário do bar e uma funcionária se esconderam para se proteger dos tiros. Haviam poucas pessoas no local e os assassinos fugiram em seguida.

Ainda de acordo com a TV Bahia, pessoas próximas aos rifeiros estão sendo ouvidas para identificar se houveram ameaças de morte antes do crime. Tanto Rodrigo, quanto Hynara, usavam carros blindados.

A Polícia Civil informou ao CORREIO que a investigação está em andamento e que não há atualizações. O caso está sendo investido pela Delegacia de Monte Gordo.

Enterro
Os corpos dos rifeiros foram enterrados na última segunda-feira (12) no cemitério Bosque da Paz. Reunidos no salão cerimonial, cerca de 200 pessoas entre familiares, amigos, influencers e clientes se juntaram para dar o último adeus ao casal.

Definidos como alegres e alto astral por aqueles que os conheciam, Rodrigo e Hynara, que foram velados e enterrados juntos, deixaram todos os presentes e seus seguidores nas redes sociais profundamente abalados com suas mortes. Amiga de infância de Rodrigo, a motorista Carla Iglesias, 45, contou que Dignony, como era conhecido nas redes sociais, sempre foi uma pessoa sonhadora e do bem.

“Eu vi Rodrigo na barriga da mãe dele. Desde a infância, ele era um menino que sempre sonhou, um filho exemplar, não tinha nada para reclamar dele. Era um menino de boa índole”, afirmou a amiga.

Vivendo a infância em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, o sonho de Rodrigo era trabalhar como produtor ou empresário no ramo musical. Ele chegou a desenvolver a carreira, que não decolou como pretendia. Como alternativa, há três anos, ele começou a vender rifas e conseguiu ascender socialmente. Segundo Carla, o novo padrão de vida do amigo, que exibia seu dia a dia nas mídias sociais, pode ter incitado inveja e motivado o crime.

“Ele era novo no ramo de rifa. Ameaça não foi [a causa do crime], porque ele não devia nada a ninguém. Certamente foi inveja, povo que não gosta de ver ninguém bem, crescer na vida. E eles cresceram rápido, mas não deviam nada”, reiterou a amiga, emocionada.

Desolada, a mãe de Rodrigo permaneceu ao lado do caixão do filho durante todo o velório. Já a afilhada do casal, a jovem Eduarda Oliveira, 13, disse querer preservar a imagem dos padrinhos vivos. “Vou sentir falta de tudo deles. Eu me sinto muita abalada com tudo que aconteceu. Era uma coisa que eu não queria [estar vivendo]. Está todo mundo triste”, frisou.

Também presente para a despedida, o empresário Francisco Júnior, vizinho e amigo do casal, lembrou que Rodrigo e Hynara sempre apareciam alegres e afirmou ser essa a imagem que fica como legado deles. “Meu filho brincava com o filho deles, eles tinham uma relação no parquinho, no condomínio. Eu fiquei assustado [ao receber a notícia], não se tem mais segurança, ficamos reféns dessas pessoas. Foi chocante, ficamos tristes, porque acabou uma família”, lamentou.

Crime
Com a morte, Rodrigo e Hynara deixaram um menino de 3 anos de idade órfão. A mulher ainda deixou um garoto de 9 anos, fruto de um outro relacionamento. No momento do crime, o casal estava em uma praia em Barra do Jacuípe. Eles estavam curtindo a tarde de domingo (11) e, logo após um banho de mar, foram alvejados com diversos tiros que atingiram o peito e a cabeça de ambos.

Segundo testemunhas apontam, os suspeitos estavam próximo a um quiosque quando executaram os disparos. A Polícia Militar informou que o chamado para o caso aconteceu por volta das 18h30 e que agentes da 59ª CIPM, que atua na região, isolaram o local e acionaram o Departamento de Polícia Técnica, que procedeu com a perícia e remoção dos corpos.

Últimos momentos
Horas antes do ocorrido, Rodrigo fez uma sequência de stories anunciando suas rifas à beira mar e no comando de uma moto aquática. Já Hynara, conhecida como Naroka, apareceu triste nos stories do Instagram para seus mais de 100 mil seguidores, contando que tinha acabado de conversar com uma amiga da época da escola, o que a fez voltar a memórias de dificuldades vivenciadas no passado.

Um dia antes do duplo homicídio, Naroka, que acreditava que os sonhos costumavam ser “avisos”, relatou a uma amiga um presságio que teve na véspera de sua morte. “Sonhei que eu estava com você no Comércio, com roupa de academia e parou um carro e chamou o nome dela, aí deram um tiro, eu me escondi atrás da árvore e consegui rastejar até meu carro e comeu a chamar ela, porque meu carro é blindado... eles atiravam tanto e eu saí correndo até a polícia... e a acordei assustada”, dizia ela na mensagem.

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Sob lágrimas e lamentações, o velório dos rifeiros Rodrigo da Silva Santos, de 33 anos, e Hynara Santa Rosa da Silva, 39, mortos em Barra do Jacuípe, aconteceu no cemitério Bosque da Paz, na tarde desta segunda-feira (12). Reunidos no salão cerimonial, cerca de 200 pessoas entre familiares, amigos, influencers e clientes se juntaram para dar o último adeus ao casal.

Definidos como alegres e alto astral por aqueles que os conheciam, Rodrigo e Hynara, que foram velados e enterrados juntos, deixaram todos os presentes e seus cerca de 190 mil seguidores nas redes sociais profundamente abalados com suas mortes. Amiga de infância de Rodrigo, a motorista Carla Iglesias, 45, contou que Dignony, como era conhecido nas redes sociais, sempre foi uma pessoa sonhadora e do bem.

“Eu vi Rodrigo na barriga da mãe dele. Desde a infância, ele era um menino que sempre sonhou, um filho exemplar, não tinha nada para reclamar dele. Era um menino de boa índole”, afirmou a amiga.

Vivendo a infância em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, o sonho de Rodrigo era trabalhar como produtor ou empresário no ramo musical. Ele chegou a desenvolver a carreira, que não decolou como pretendia. Como alternativa, há três anos, ele começou a vender rifas e conseguiu ascender socialmente. Segundo Carla, o novo padrão de vida do amigo, que exibia seu dia a dia nas mídias sociais, pode ter incitado inveja e motivado o crime.

“Ele era novo no ramo de rifa. Ameaça não foi [a causa do crime], porque ele não devia nada a ninguém. Certamente foi inveja, povo que não gosta de ver ninguém bem, crescer na vida. E eles cresceram rápido, mas não deviam nada”, reiterou a amiga, emocionada.

Desolada, a mãe de Rodrigo permaneceu ao lado do caixão do filho durante todo o velório. Já a afilhada do casal, a jovem Eduarda Oliveira, 13, disse querer preservar a imagem dos padrinhos vivos. “Vou sentir falta de tudo deles. Eu me sinto muita abalada com tudo que aconteceu. Era uma coisa que eu não queria [estar vivendo]. Está todo mundo triste”, frisou.

Também presente para a despedida, o empresário Francisco Júnior, vizinho e amigo do casal, lembrou que Rodrigo e Hynara sempre apareciam alegres e afirmou ser essa a imagem que fica como legado deles. “Meu filho brincava com o filho deles, eles tinham uma relação no parquinho, no condomínio. Eu fiquei assustado [ao receber a notícia], não se tem mais segurança, ficamos reféns dessas pessoas. Foi chocante, ficamos tristes, porque acabou uma família”, lamentou.

Crime
Com a morte, Rodrigo e Hynara deixaram um menino de 3 anos de idade órfão. A mulher ainda deixou um garoto de 9 anos, fruto de um outro relacionamento. No momento do crime, o casal estava em uma praia em Barra do Jacuípe, local turístico da orla de Camaçari, na região metropolitana de Salvador. Eles estavam curtindo a tarde de domingo (11) e, logo após um banho de mar, foram alvejados com diversos tiros que atingiram o peito e a cabeça de ambos.

Segundo testemunhas apontam, os suspeitos estavam próximo a um quiosque quando executaram os disparos. A Polícia Militar informou que o chamado para o caso aconteceu por volta das 18h30 e que agentes da 59ª CIPM, que atua na região, isolaram o local e acionaram o Departamento de Polícia Técnica, que procedeu com a perícia e remoção dos corpos.

Procurada, a Polícia Civil não informou se já houve avanços na investigação, identificação do autor do crime, motivação para os homicídios ou linha de investigação. Eles ressaltaram que informações não serão divulgadas para não atrapalhar a investigação.

Últimos momentos
Horas antes do ocorrido, Rodrigo fez uma sequência de stories anunciando suas rifas à beira mar e no comando de uma moto aquática. Já Hynara, conhecida como Naroka, apareceu triste nos stories do Instagram para seus mais de 100 mil seguidores, contando que tinha acabado de conversar com uma amiga da época da escola, o que a fez voltar a memórias de dificuldades vivenciadas no passado.

Um dia antes do duplo homicídio, Naroka, que acreditava que os sonhos costumavam ser “avisos”, relatou a uma amiga um presságio que teve na véspera de sua morte. “Sonhei que eu estava com você no Comércio, com roupa de academia e parou um carro e chamou o nome dela, aí deram um tiro, eu me escondi atrás da árvore e consegui rastejar até meu carro e comeu a chamar ela, porque meu carro é blindado... eles atiravam tanto e eu saí correndo até a polícia... e a acordei assustada”, dizia ela na mensagem.

Relembre outros casos
Em setembro deste ano, o influenciador Leonardo Andrade, 31 anos, foi sequestrado e relatou ter sido torturado e agredido durante as seis horas que passou no cativeiro, refém de quatro homens armados, em Santo Antônio de Jesus, no Recôncavo da Bahia. Já a influenciadora baiana Sheila Matos, mais conhecida como Sheuba, mudou de bairro, em junho deste ano, após ter sido vítima de tentativa de sequestro na Fazenda de Coutos, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, onde morava.

Em comum entre ambos os casos, está a exposição que dá o tom do estilo de vida dos influenciadores digitais, considerados subcelebridades, que ganham fama e dinheiro com o compartilhamento do seu cotidiano. De acordo com Jacqueline Muniz, especialista em segurança pública indicada pelo governo de transição para ser responsável pelas pautas de segurança nacional, o perigo a que são submetidos os influencers aumenta o proporcionalmente ao seu círculo de interação.

“Além dos amigos, conhecidos, vizinhos e parentes, os influenciadores digitais têm a vida monitorada e hoje é muito fácil, através dos aplicativos de rastreamento, de identificar os trajetos dessas pessoas. Então esse trabalho em rede multiplica os riscos”, aponta.

A exposição aos admirados, apesar de essencial ao trabalho, não se limita ao alcance a apenas este público. Dessa forma, além dos maiores cuidados comuns de serem adotados por essas pessoas, como mecanismos de segurança em casas e carros, Muniz destaca a importância de não culpabilizar as vítimas, mas sim rever políticas públicas de segurança. Para ela, a condução de um processo investigativo exemplar pode impedir o aparecimento de novos casos.

“Hoje, os possíveis agressores estão no campo de interação das vítimas. Ao dar uma resposta à sociedade, à família e aos fãs dessas celebridades, isso mobiliza todo mundo. Quando pessoas como essas, que falam nossa língua no cotidiano são vitimadas dessa forma fatal, todos nós começamos a nos sentir inseguros. Por isso, a resposta precisa ser ao público”, enfatiza.

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Tudo estava seguindo como o imaginado, mas às 4h30 Stefani despertou e decidiu ir até a poltrona que sua amiga estava. Ela pediu um remédio para dor de garganta e retornou para sua poltrona. Enquanto se acomodava, a jovem afirma ter sentido um leve puxão no seu cabelo, vindo da direção da poltrona atrás da sua.

“Eu coloquei o cabelo para o lado, peguei a coberta e me cobri até o pescoço, que é o jeito que eu durmo. E dormi com os óculos. Foi o que me protegeu”, diz ela.

Cerca de meia hora depois, Stefani acordou sentindo uma batida e um peso no rosto. Assim que percebeu que sangrava, pediu ajuda a amiga, que dormia, assim como todos os demais passageiros. A única exceção, segundo a vítima, era a mulher na poltrona atrás da sua, que estava acordada e ficou impassível diante da movimentação.

“Ela olhou para mim, me viu sangrando, mas foi totalmente fria, apática, não esboçava nenhuma reação. Olhou para mim, virou o rosto e seguiu”, relembra.

De acordo com Stefani, a primeira vez que viu a mulher foi no momento do embarque. Quando todos os passageiros se mobilizaram para chamar a atenção do motorista, a falta de reação da mulher fez com que a estudante e sua amiga a vissem como suspeita. “Minha amiga foi lá perguntar se ela tinha visto se alguma coisa tinha caído em cima de mim e ela simplesmente disse que nem sabia o que estava acontecendo”.

Agora, Stefani conta que está procurando um dermatologista para minimizar a cicatriz, embora acredite que as marcas do trauma não vão ser esquecidas tão cedo. “A sensação maior é de que a suspeita poderia estar fazendo isso para me matar. O intuito foi para ser até o pescoço, mas não conseguiu por conta do edredom. Foi livramento”, resume.

A jovem ainda contou que não pretende andar de ônibus nunca mais em razão do sentimento de insegurança. Conforme a Polícia Civil, uma faca foi localizada com uma passageira, mas, segundo Stefani, ainda foi visto no ônibus que a suspeita carregava um alicate e uma tesoura.

“A ficha está caindo aos poucos. Hoje eu sinto que acordei mais para baixo, meio cansada. Eu quero que isso acabe. Fica um alerta para a rodoviária se preocupar com a questão da segurança a partir de um detector de metais, de uma rigorosidade para que o passageiro possa embarcar com maior segurança”, finaliza.

De acordo com a Expresso Guanabara, empresa da linha de ônibus que fazia o trajeto entre Recife e Salvador, as imagens da câmera do ônibus foram enviadas à Polícia Civil da Bahia no último sábado (3), conforme pedido da autoridade policial para dar continuidade à apuração dos fatos. A empresa não respondeu se há pretensão de reforço dos procedimentos de segurança e somente informou estar colaborando com tudo o que lhe compete no caso.

A Polícia Civil comunicou que a Delegacia de Proteção ao Turista de Conde já está com as imagens do circuito interno de segurança do ônibus interestadual e que estas serão analisadas, podendo auxiliar na identificação da autoria. Ainda, informou que alguns passageiros foram ouvidos na unidade especializada e as guias periciais foram expedidas. Os laudos são aguardados e caso seja comprovada a autoria, a mulher poderá ser indiciada por lesão corporal.

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"A sensação de medo se sobressai à de segurança quando vejo a polícia. Negros são tratados com mais violência. E o extremo disso é a morte", afirma Rodrigo Rocha, 25 anos. O temor do jovem, infelizmente, se justifica pelas estatísticas: na Bahia, 98% das pessoas mortas em ações ou operações policiais são negras, de acordo com o relatório da Rede de Observatórios da Segurança Pública divulgado nesta quarta-feira (16). É o maior percentual do país de pretos e pardos mortos pela polícia quando são descartados os casos sem as informações de raça e cor. Na análise do Observatório, utiliza-se o critério do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considera a população negra a soma das pessoas pretas e pardas.

O período analisado pela Rede foi o ano de 2021. Das 616 pessoas mortas no ano passado, com informações sobre cor e raça registradas, 603 eram negras. Em números absolutos, o estado é o mais letal da região Nordeste. Nacionalmente, fica atrás apenas do Rio de Janeiro, que registrou 1060 mortes de negros no ano passado.

Luciene Santana, cientista social e pesquisadora da Rede de Observatórios na Bahia, aponta duas dimensões preocupantes nos dados. A primeira é a letalidade das ações policiais que deveriam agir pela manutenção da vida e proteção das pessoas. A segunda é o racismo estrutural como motor dos números.

"Quase que só pessoas negras têm sido mortas pela polícia e isso não acontece por serem maioria no estado. Se você compara o número de negros no empresariado e em cargos de poder com o percentual de mortes em operações, vê o racismo e como as pessoas estão mais expostas à violência pela cor da pele".

Procurada pela reportagem para responder sobre os dados levantados pelos Observatórios e comentar a letalidade das ações e operações das forças de segurança do estado, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) não respondeu aos questionamentos até o fechamento da edição, às 23h.

Política de mortes
Dudu Ribeiro, diretor da Iniciativa Negra na Bahia, afirma que o racismo é o vetor da violência do Estado através das forças de segurança. Ele acrescenta que as ações que a polícia aponta como de combate às drogas têm outro direcionamento. "Os dados demonstram que o racismo é o motor fundamental da violência de Estado. E boa parte dessa violência é causada pela lógica da ‘guerra às drogas’, mas que, na verdade, é a guerra contra determinadas pessoas, territórios e suas práticas", diz ele, que também é coordenador da Rede de Observatórios na Bahia.

Ribeiro aponta ainda que o atual cenário não é resultado de planejamento estrutural. E que, por isso, é grave e precisa haver pressão social por mudanças. "A alta letalidade demonstra uma política de distribuição de mortes como prática de Estado que precisa ser combatida. Então, esses números mostram para a sociedade a urgência do tema".

Presidente da União dos Negros pela Igualdade (Unegro) na Bahia, Eldon Neves diz que os dados dos Observatórios repercutem a ação contínua [de extermínio da população negra] contra qual a entidade luta. Ele pontua ainda que os números mostram uma tendência que não é uma novidade na Bahia.

"Nossa principal bandeira é a luta contra o genocídio da população negra, atrelado diretamente a essa letalidade policial. Temos a mancha do estado que mais mata pessoas negras em ações policiais. Os dados falam o que denunciamos há anos", ressalta.

A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado (Sepromi) foi procurada para informar se tem projetos para contribuir com a redução dos indicadores, mas também não respondeu até o fechamento da edição.

Reflexo em Salvador
A capital não foge à regra da violência policial no estado. Em termos percentuais, a incidência de mortes de pessoas negras em operações é maior: 99,6%. Das 299 mortes em ações policiais, 241 têm registros de cor e raça na cidade. Dessas, 240 são pessoas negras e apenas uma morte foi de vítima branca.

Atrás da capital, Feira de Santana e Camaçari são os municípios onde a polícia mais mata negros, 31 e 27 registros, respectivamente. Vitória da Conquista (23) e Alagoinhas (22) fecham o ranking das cinco cidades baianas com mais volume de mortes dentro desse recorte.

Em Salvador, os bairros que lideram o ranking com mais registros são os periféricos, como Castelo Branco (14), Iapi (12), Fazenda Grande do Retiro (12), São Marcos (11) e Valéria (10).

O maior registro de violência policial nesses bairros, no entanto, não significa que são locais com mais ações armadas do crime. Dados do Instituto Fogo Cruzado apontam que nenhum dos bairros de Salvador concentra mais do que 4% de tiroteios/disparos registrados na cidade.

Eldon Neves aponta que a discrepância é fruto da diferença das ações policiais em determinados bairros. "A polícia que age no Largo do Tanque ou Curuzu não é a mesma da Graça e da Barra. Você não vê matéria de guarnição trocando tiro nesses locais".

O relações-públicas Felipe Oliveira, 24, também tem medo da polícia. No entanto, ele pontua que a ação varia de acordo com o local da abordagem. Em bairros considerados nobres, os policiais não agiriam com truculência.

"A polícia, dependendo da região, tem formas de atuação diferente. Eles não atuam na Barra como fazem no Subúrbio. A primeira vez que eu tomei abordagem foi em um ponto [de ônibus] com mulheres e rapazes brancos, e só eu tomei. Um policial pôs a arma no meu rosto”.

Mortos invisíveis
A equipe dos Observatórios pontua que há uma subnotificação nos registros de mortos em ações policiais quanto aos dados de cor e raça das vítimas. Dos 1013 mortos em operações em 2021, 397 (39,2%) não tiveram essas informações divulgadas.

A SSP-BA também foi procurada pela reportagem para informar a metodologia dos seus registros e explicar porque esse percentual de mortos não teve a cor e a raça informadas. No entanto, o órgão também não respondeu.

A sociedade civil de forma geral não registra informações de cor e raça das vítimas. O Instituto Fogo Cruzado, por exemplo, que lançou relatório dos 100 dias de monitoramento da violência em Salvador e RMS, não tem a SSP-BA como fonte dos registros de tiroteios e disparos.

Para o instituto, na Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco, há três fontes de captação de informação: a divulgação das polícias nas redes sociais, a imprensa e as pessoas comuns que relatam as situações à entidade. Como a polícia baiana não faz publicações nas redes sociais, aqui restam os dois últimos meios de captação de informações.

Maria Isabel Couto, socióloga e diretora de programas do Fogo Cruzado, explica que mesmo essas fontes não qualificam as informações. "A maior parte do perfil das vítimas vem da imprensa. Porém, o que a gente percebe é que essas fontes, em geral, não informam o perfil racial das vítimas. Quando a gente consegue identificar, é porque há disponibilização de fotos", explica. Ela trabalha com segurança há mais de 10 anos.

Casos de violência policial em 2021:
Lucas Nascimento - 03/09/21

O jovem Lucas Nascimento foi morto a tiros durante ação policial no bairro de Itinga, em Lauro de Freitas, na noite de 3 de setembro de 2021. De acordo com familiares, Lucas voltava do trabalho, quando foi atingido por mais de 25 tiros, disparados pelos militares. Ainda segundo a família do jovem, equipes de Rondas Especiais (Rondesp) chegaram ao local atirando e Lucas foi baleado. Segundo a PM, ao identificar um suspeito, os militares foram recebidos por tiros disparados por um grupo de homens armados, que fugiram. Após a troca de tiros, a Polícia Militar diz ter identificado dois homens feridos.

Kevellyn Santos - 15/07/21

Kevellyn da Conceição Santos, 8 anos, foi baleada na barriga, no dia 15 de julho de 2021, no bairro de Valéria. Ela foi socorrida, mas morreu no dia seguinte. A família acusou a Polícia Militar como a responsável pelo disparo que atingiu a criança. A PM ter abriu um procedimento investigatório para apurar os fatos e a Polícia Civil, na ocasião, disse que o inquérito policial estava sendo instaurado na especializada, que ouviria os familiares e realizaria diligências.

Micael Silva Santos - 14/06/21

O estudante Micael Silva Santos, 12 anos, foi morto após ser baleado durante ação da Polícia Militar, na noite de 14 de junho de 2021, no bairro do Vale das Pedrinhas, em Salvador. Na época, a PM afirmou ter encontrado o menino caído após confronto com homens armados. Já a família de Micael contestou a versão policial e disse que ele morreu quando tentava se proteger dos militares, que chegaram atirando.

Viviane e Maria Célia - 04/06/21

Viviane Cristina Leite Soares, 33 anos, e Maria Célia de Santana, 73, foram mortas em ação da PM no dia 4 de junho de 2021, na Rua da Contenda, no bairro do Curuzu. Moradores relataram que os tiros ocorreram em um confronto entre um suspeito e policiais militares, que foram até o local atender uma ocorrência de carro roubado. A polícia realizou a reprodução simulada dos homicídios no fim de dezembro do ano passado para revelar as circunstâncias do caso frente às denúncias contra os policiais. No entanto, ninguém foi responsabilizado ainda.

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Em 100 dias, 86% das chacinas em Salvador e RMS ocorrreram em operações policiais
Em 24 horas, mais de três pessoas são mortas em tiroteios em Salvador e Região Metropolitana (RMS). No mesmo período, mais de quatro trocas de tiros acontecem e pelo menos quatro cidadãos são baleados. É isso que aponta o relatório dos primeiros 100 dias de trabalho do Instituto Fogo Cruzado, que monitora ocorrências com disparos por arma de fogo.

De acordo com dados divulgados pelo instituto nesta quinta-feira (11), de 1º de julho a 8 de outubro deste ano, na capital baiana e na RMS, 443 tiroteios foram registrados. Ocorrências que, ao todo, causaram a morte de 304 pessoas e balearam outras 401 na região. Cerca de dois em cada três tiroteios terminam com uma pessoa baleada e mais da metade desses casos (55%) deixam mortos.

Cecília Oliveira é diretora executiva do Fogo Cruzado e faz uma comparação com o Rio de Janeiro para explicar como os dados são alarmantes. Isso porque, quando se fala em Rio de Janeiro, há um discurso quase apocalíptico sobre a violência por lá. E os dados aqui mostram uma equiparação entre os dois estados nesse quesito.

"Quando a gente fala em chacina, no Rio temos uma por semana. E, infelizmente, Salvador e RMS estão no mesmo patamar. Isso fazendo o recorte específico que a região metropolitana do Rio é muito mais populosa, grande parte do estado está ali", afirma Cecília.

Os dados são muito próximos ao que se vê no Rio, mas numa concentração menor. Ou seja, se houver uma ampliação do monitoramento em outras regiões, é possível que o estado tenha índices de violência armada iguais ou até piores que a região metropolitana do Rio de Janeiro.

Operações policiais

Além da situação alarmante, a análise dos dados coletados pelo instituto mostram a polícia em um papel central nos registros violentos. Dos 304 mortos em tiroteio, 113 foram registrados em operações policiais. Das 14 chacinas - situações com ao menos três mortos - nesses 100 dias, 12 (86%) ocorreram em ações das forças de segurança.

Diretora de dados e transparência do instituto, Maria Isabel Couto afirma que os dados referentes às ações policiais com tiroteios são importantes para questionar e debater o modelo de segurança pública implementado no estado.

"A política de segurança é desenhada para tirar as pessoas da linha de tiro ou ela acaba se tornando, em nome da defesa do patrimônio, em um motor da violência e dos assassinatos? [...] Os dados apontam para uma hipótese de que, na forma como está organizada, é um motor da violência", diz.

Procurada para responder sobre os dados apresentados, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), respondeu que não comenta os dados apresentados pelo instituto, afirmando que não tem como saber se as informações são verdadeiras.

"Por não se tratar de um recurso oficial, não é possível atestar a veracidade das informações que são apresentadas, o que impossibilita, inclusive, a utilização desse recurso para fins policiais. Os dados gerados de forma indiscriminada e sem confirmação oficial podem produzir estatísticas distorcidas", escreve em nota.

Sobre a ação das forças policiais nos registros de tiroteio e disparos, o advogado e coordenador adjunto do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Cleifson Dias, analisa que é importante inverter a pirâmide da argumentação mais tradicional que coloca na polícia a responsabilidade pela morte. Além disso, é preciso entender toda uma engrenagem.

"Estamos falando de uma vontade sistêmica. As forças de segurança são um elemento que compõem a instituição que é o Estado. É uma realidade que envolve tanto a polícia como, sobretudo, órgãos que aparecem distantes e têm fundamental responsabilidade como o poder judiciário e o ministério público', diz.

Essa 'vontade sistêmica' se manifesta no armamento da população, que se intensificou nos últimos anos. Isso porque, entre as origens dos 443 tiroteios e disparos, homicídios ou tentativas homicídio representam 206 delas. Para Cleifson, os números são resultados de uma lógica: mais armas, mais mortes.

"O último relatório de Armas de Fogo e Homicídios no Brasil aponta a diminuição de mortes e afirma que isso não tinha a ver com a produção de uma política de instrução de armas. Na verdade, a distribuição de armas freou essa queda e impediu que outras tantas mortes não fossem causadas", fala.

Silenciamento da morte

Assim como há um perfil de quem mata, existe também o de quem morre nos episódios de tiroteios/disparos de arma de fogo. Apesar de três em cada quatro casos não registrarem qualquer informação sobre a cor, quando há essa descrição, a população negra é maioria. Das 95 mortes com informações sobre a cor, 76 são de pessoas negras.

Cientista social e pesquisadora da Rede de Observatórios de Segurança na Bahia, Luciene Santana avalia como perigosa como a falta de informação na maioria dos casos sobre a cor das vítimas e destaca a necessidade de ter estatísticas mais completas sobre essas ocorrências.

"A gente precisa qualificar as informações para ter um perfil e entender também o que aconteceu em cada caso. Saber a cor e a raça dessas vítimas, na nossa avaliação, é fundamental para o direito de memória e justiça das pessoas vitimadas pela violência armada", afirma.

Luciene explica ainda que é preciso provocar as autoridades públicas para a revelação desses dados porque, quando uma informação é silenciada, há uma série de questões que influenciam na sua não disponibilização.

"Quando a gente tem um dado que não é informado, esse silenciamento não é à toa. A não produção de um dado sobre uma questão específica é uma informação importante se é interessante para o poder público ou não revelá-lo", pontua.

Os dados captados pelo Fogo Cruzado apontam para um perfil de pessoas majoritariamente negras vítimas dos tiroteios e disparos. Isso o porque a população preta é morta quatro vezes mais nessas ações em relação aos brancos, que são vítimas em 18 das 96 mortes registradas pelo instituto.

Para assegurar a vida

Mais do que apontar a incidência da violência armada no estado, os dados são divulgados pelo Fogo Cruzado para se tornarem instrumentos de fomento à políticas públicas de priorização à vida. Cecília Oliveira explica que, para isso, os analistas do instituto esmiuçam cada caso registrado.

"Nós mapeamos as situações relativas a uso de arma de fogo, que têm um grande impacto na vida de quem mora por aqui. [...] O nosso intuito é destrinchar as informações em outros indicadores como idade, cor e situação do tiroteio, se foi assalto ou chacina, por exemplo. Hoje, estamos levantando quase 30 indicadores", informa.

Defensor público e coordenador da Especializada Criminal e de Execução Penal da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA), Maurício G. Saporito, afirma que o instituto viabiliza ações do órgão em relação ao poder judiciário.

"De alguns anos para cá, a Defensoria entendeu que o seu perfil constitucional não é só na atuação individual. Nós entendemos que somos comentadores de políticas públicas. E, para poder trabalhar no âmbito judicial e no extra judicial, os dados são muito importantes", fala.

O defensor aponta ainda que, por serem dados sensíveis e muitas vezes postos em sigilo, alguns números liberam o órgão de uma dependência do Estado acerca de informações relativas a violência.

"Como órgão de estado, a gente estava submetido a informações oficiais. Esse dado de ocorrências policiais com morte é historicamente difícil de conseguir. Com o Fogo Cruzado fazendo um estudo desse, a gente tem uma série de novas alternativas para atendimento da população e promoção de segurança", completa Saporito.

Feridos e mortos por raça:

Negros: 8 feridos e 76 mortos
Brancos: 2 feridos e 18 mortos
Amarelos: 1 ferido e 0 mortos
Indígenas: 0 ferido e 1 morto
Não identificado: 86 feridos e 209 mortos

Por mês:

Julho

Disparos/tiroteios: 132
Mortos: 86
Feridos: 23

Agosto

Disparos/tiroteios: 141
Mortos: 101
Feridos: 24

Setembro

Disparos/tiroteios: 128
Mortos: 92
Feridos: 30

Outubro (até o dia 8)

Disparos/tiroteios: 42
Mortos: 25
Feridos: 20

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As forças estaduais de segurança (Polícias Militar, Civil e Técnica, além do Corpo de Bombeiros) iniciaram, na noite de segunda-feira (31), a atuação para desmobilizar grupos que realizam bloqueios em rodovias baianas. A Secretaria da Segurança Pública segue a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Além das ações com unidades especializadas e territorias, a SSP ativou o Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), sediado no Centro de Operações e Inteligência (COI).

Na unidade, representantes de órgãos estaduais, federais e municipais darão suporte e acompanharão as movimentações em todo o estado. Câmeras da SSP auxiliarão no monitoramento.

"Vamos garantir a liberação das estradas. Não vamos permitir que alimentos, pessoas com enfermidades e trabalhadores sejam impedidos de se deslocar. O resultado democrático das urnas será respeitado. Aqui, na Bahia, o mais importante é o respeito à democracia”, afirmou o secretário da Segurança Pública, Ricardo Mandarino

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Teve início por volta das 19h desta segunda-feira (31) na Gamboa de Baixo a reconstituição das mortes dos três jovens negros baleados numa suposta troca de tiros com policiais militares na comunidade, ocorridas em março deste ano. Os quatro PMs envolvidos no episódio participam da simulação dos fatos, solicitada pelo Ministério Público do Estado (MP-BA).

A reconstituição é realizada dois dias após o CORREIO divulgar com exclusividade que o comando da Polícia Militar optou por não instaurar o Processo Administrativo Disciplinar (PAD), alegando não ter indícios para a continuidade da investigação. A decisão do comandante-geral da PM, coronel Paulo Coutinho, contraria a recomendação do corregedor-geral da Secretaria de Segurança Pública, Nelson Gaspar, que pontou evidências para a abertura do procedimento, tais como: as armas encontradas com os jovens estavam com defeito e pelo menos uma das mortes tem características de uma execução.

A simulação dos fatos foi solicitada pela promotora Aline Cotrim, do Controle Externo da Atividade Policial (GASEC) do Ministério Público. Em nota enviada ao CORREIO na última sexta-feira, após questionamento sobre a não abertura do PAD pelo comando da PM, o MP-BA respondeu que “a investigação do MP apura eventual responsabilidade criminal dos PMs e está em fase de conclusão”. A reconstituição será realizada em duas etapas. A primeira começou às 19h de hoje, com a participação dos quatros soldados que alegaram que os três jovens reagiram a abordagem a tiros.

Morreram: Alexandre Santos dos Reis, 20, Patrick Sousa Sapucaia, 16, e Cleverson Guimarães Cruz, 22. Os três foram baleados na madrugada do dia 1 de março, na Gamboa de Baixo. De acordo com a versão dos policiais que consta no documento da Corregedoria-Geral, enquanto realizavam um patrulhamento na Avenida Lafayete Coutinho [Avenida Contorno], um motociclista [não identificado na apuração] teria lhes dito que havia vários homens armados na avenida e esse teria sido o motivo da ação policial. Ainda segundo os PMs, teria ocorrido um confronto e os supostos criminosos teriam fugido para a Gamboa, entrando em um imóvel onde aconteceram as mortes dos três rapazes.

A segunda etapa da reconstituição será realizada nesta terça-feira, também às 19h, desta vez com a versão dos moradores, que negam o confronto, inclusive relataram que as vítimas foram surpreendidas pelos policiais quando voltavam de uma festa e em seguida levadas para o imóvel, onde teriam sido executadas.

O procedimento será acompanhado pela Coordenação Especializada de Direitos Humanos da Defensoria Pública e pelo coordenador do IDEAS (Assessoria Popular) e integrante da Rede Justiça Criminal e da Coalizão Negra Por Direitos, Wagner Moreira.

Entidades

Entidades ligadas aos direitos humanos comentaram a importância da reconstituição das mortes na Gamboa, como a Rede de Justiça Criminal, que disse que o Brasil é recordista em letalidade policial e o oitavo país mais violento do mundo. " A ausência de uma política criminal de longo prazo pautada em direitos humanos, aliada ao persistente racismo e hierarquização de nossa sociedade fazem com que o Estado brasileiro e suas polícias sejam os grandes patrocinadores de uma política de estado genocida, cujos principais alvos de extermínio são jovens negros e periféricos. Os números alarmantes de mortes decorrentes de confrontos com a polícia escancaram a necessidade de cobrar que o Ministério Público cumpra com seu dever constitucional de controle externo e mecanismos democráticos, participativos e efetivos de vigilância da atividade policial", declarou a secretária-executiva Rede Justiça Criminal, Janine Carvalho.

A Polícia Militar da Bahia tem acumulado corpos negros que tombaram em decorrência da alta letalidade de sua atuação em bairros periféricos. O Odara acompanha casos em que sequer o inquérito foi concluído e nenhuma instituição fiscaliza de modo sistemático. Há um imperativo de que o Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP acompanhe com maior atenção a atuação dos Ministérios Públicos estaduais no controle externo da atividade policial.
Gabriela Ramos, defensora de direitos humanos, ativista do Odara Instituto da Mulher Negra

O Fórum Popular de Segurança Pública do Nordeste também repercutiu o assunto. "Nós, sociedade civil, não deixaremos que nossos jovens sejam dizimados pela polícia sem exigir responsabilização e agilidade na apuração das circunstâncias. A polícia da Bahia é das polícias que mais mata no nordeste, e acreditamos que o esclarecimentos dos fatos e devida aplicação da lei para os responsáveis, deve contribuir para cessar essa prática que se perpetua em grande medida pela omissão dos órgãos responsáveis e a certeza da impunidade" pontuou a articuladora do Fórum Popular de Segurança Pública do Nordeste, Edna Jatobá, que também é coordenadora-executiva da Ong GAJOP (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares).

Por fim, a Anistia Internacional Brasil falou que há um padrão explícito de assassinatos de jovens negros e pobres em todo país pelas armas das polícias. "É preciso enxergar e enfrentar o racismo. Entender as causas por trás dos desvios das polícias e atuar para corrigir. A sociedade civil precisa se unir para cobrar do Ministério Público e dos gestores públicos o fim da brutalidade policial”, disse a diretora-executiva Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck.

O controle rígido sobre os órgãos de Estado que detêm o monopólio da força é a contrapartida estabelecida pelo Estado Democrático de Direito, para assegurar o funcionamento adequado dessas instituições e seu respeito aos direitos e garantias fundamentais. É também a forma de evitar que o monopólio estatal seja capturado por interesses privados de grupos criminosos e milícias. Portanto, as formas de controle da atividade policial (disciplinar, judicial e externo-social) são pilares essenciais para o Estado de Direito e devem ensejar apurações e prestações de contas rigorosas sobre o uso da força, especialmente, quando há perda de vidas e denúncias da sociedade civil sobre atos abusivos.

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