O Jornal da Cidade

O Jornal da Cidade

O hexa não veio e o sonho do título do Brasil parou, mais uma vez, nas quartas de final. O que resta é esperar quase quatro anos para a próxima Copa do Mundo. “Quase” porque a Copa de 2026 voltará a ser disputada no meio do ano (de 8 de junho a 3 de julho), mas essa não é a única mudança. Estados Unidos, Canadá e México irão sediar o primeiro Mundial em três países e que dará início a uma nova era da maior competição de futebol do planeta.

Aprovado pela Fifa ainda em 2017, o Mundial de 2026 passará a ter 48 seleções na disputa pela taça. A disputa com 32 seleções durou de 1998, na Copa da França, até a recente edição, no Catar.

Por mais que a Fifa não tenha declarado isso oficialmente, entende-se que a escolha de ampliar o número de seleções participantes fortaleceu uma candidatura tripla, que já vinha sendo discutida desde 2015. Com mais seleções, há a necessidade de mais estádios, hotéis, centros de treinamento e estrutura para receber os turistas.

Segundo divulgou a entidade, o próximo Mundial será dividido em 16 cidades, sendo a grande maioria delas nos Estados Unidos, que terá 11 sedes. Será a segunda edição em solo norte-americano e, dessas cidades escolhidas, cinco receberam a Copa de 1994. Los Angeles, San Francisco, Nova Iorque/Nova Jersey, Dallas e Boston foram há 28 anos - naquela época eram nove cidades. Em 2026, se juntarão a Atlanta, Houston, Kansas City, Miami, Filadélfia e Seattle.

Já o México, que sediará sua terceira Copa e se tornará a nação que abrigou mais edições (1970, 1986 e 2026), terá jogos na capital Cidade do México, em Guadalajara e em Monterrey. O Canadá ficou apenas com duas cidades: Toronto e Vancouver.

Acima, em ordem, participaram do anúncio Vittorio Montagliani. presidente da Concacaf, Gianni Infantino, presidente da Fifa, Colin Smith, diretor de operações da entidade, e Bryan Swanson, jornalista e atual Diretor de Mídias e Relações da Fifa.

Entretanto, a próxima Copa não será a edição com mais cidades participantes. Em 2002, Japão e Coreia do Sul receberam a primeira - e única até agora - Copa do Mundo que aconteceu em mais de um país. Naquele ano, foram 20 estádios em 20 cidades no total, dez em cada país.

Na campanha do penta do Brasil, por exemplo, as sete partidas disputadas aconteceram em sete locais diferentes, sendo que os jogos da fase de grupos aconteceram em três cidades da Coreia, e os da fase mata-mata, em quatro localidades do Japão.

A efeito de comparação com o Catar, a Seleção Brasileira percorreu três cidades - Lusail, Doha e Al Rayyan - e visitou também três estádios diferentes em cinco jogos: o Lusail (homônimo à cidade), o 974 e o Estádio da Educação, onde foi eliminado para a Croácia nas quartas de final.

Vale ressaltar que, mesmo no caso de 2002, o deslocamento entre as cidades que abrigavam os jogos era relativamente curto, ainda que implicasse pegar aviões - no Catar, isso nem foi preciso. Mas, para 2026, a realidade geográfica das sedes é outra. E a fim de reduzir o impacto do trânsito entre as cidades, já que Estados Unidos e Canadá têm dimensões continentais, a Fifa dividiu as cidades em três zonas que abrigam sedes dos três países: Oeste (com cinco cidades), Central (seis), e Leste (cinco).

Com isso, uma seleção jogará só em cidades que fiquem dentro da mesma zona, o que facilita para os torcedores acompanharem a mesma seleção e evita também mudança de fuso-horário.

Formato de disputa

Mesmo com a divulgação dessas informações com antecedência, algumas respostas ainda precisam ser dadas pela entidade máxima do futebol. A principal delas é o formato de disputa da próxima Copa do Mundo, até porque isso impacta em todos os outros aspectos de logística, divisão dos jogos e venda de ingressos.

A ideia inicial informada pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, era que o Mundial tivesse 16 grupos com três seleções em cada. Mas a disputa no Catar parece ter aberto os olhos do dirigente para um outro caminho.

Na sexta-feira passada, o presidente da Fifa admitiu que a entidade vai rediscutir o formato de disputa do Mundial, principalmente por causa da emoção das últimas rodadas na fase de grupos com quatro integrantes.

“Quando anunciamos a Copa do Mundo com 48 times, decidimos que seria com 16 grupos de três. Mas preciso dizer aqui que vamos rediscutir isso. Eu preciso dizer que depois desta Copa do Mundo e do sucesso dos grupos de quatro... Os grupos foram incríveis, com emoção até o último minuto. Precisamos rediscutir o formato. Podem ser 12 grupos de quatro. Vai estar na agenda dos próximos encontros”, explicou Infantino ainda no Catar.

Olhando para a ideia inicial, com grupos de três seleções, seria um formato já visto na histórias das Copas. Em 1982, que teve como novidade a participação de 24 equipes (antes eram 16), a segunda fase da Copa do Mundo envolvia quatro grupos de três, e os vencedores de cada grupo faziam a semifinal do torneio.

Mas mesmo que sejam mantidos grupos com apenas três seleções, os semifinalistas seguem fazendo sete partidas ao fim do Mundial. Isso porque seria criada uma nova fase chamada de 16 avos de final, antes das oitavas de final. Esse formato já é visto em competições da Uefa, como a Liga Europa, que também tem 48 times participando.

O modelo da Copa que agora chega ao fim, com 32 participantes divididos em oito grupos de quatro seleções, foi o mais duradouro na história, com sete Mundiais disputados nesse formato inalterado. Antes, entre 1934 e 1978, o número de seleções permaneceu o mesmo, 16, mas houve diversas mudanças na fórmula de disputa. De 1982 a 1994, foram 24 equipes. E em 1930, a edição inaugural contou com 13 seleções.

Outro impacto causado com o aumento para 48 países é que o número de vagas distribuídas nas Eliminatórias para a Copa também vai crescer. A Europa, que já era o continente com mais representantes, sai de 13 para 16 vagas diretas; América do Sul, de quatro para seis; América do Norte, de três para seis; África, de cinco para nove; Ásia, de quatro para oito; e a Oceania, que não tinha vaga direta, ganha uma.

Entretanto, a repescagem intercontinental será disputada por um representante de cada continente, com exceção da Europa que terá apenas a classificação direta. Isso significa que, além das vagas listadas acima, dois continentes terão uma vaga a mais, por causa das seleções que classificarem na repescagem.

Na América do Sul, a disputa das Eliminatórias terá início em março de 2023, e o Equador largará com três pontos a menos por causa de uma punição referente à escalação do colombiano Byron Castillo em jogos oficiais.

É provável que, após a definição do formato de disputa da Copa 2026, a Fifa seguirá avaliando se esse será o melhor caminho, e isso pode balizar a escolha das próximas sedes. Para 2030, por exemplo, já existem duas candidaturas conjuntas, como Espanha, Portugal e Ucrânia; e Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile. Marrocos, semifinalista em 2022, havia se candidatado para receber o próximo Mundial e perdeu, mas ainda tenta o de 2030.

Mbappé demorou a chamar o protagonismo para si na final da Copa do Mundo do Catar contra a Argentina, mas reagiu de forma brilhante no segundo tempo do jogo disputado no estádio Lusail, neste domingo (18), e foi um dos nomes do confronto, apesar da França ter ficado com o vice-campeonato.

Decisivo, o jogador de 23 anos marcou os três gols da seleção francesa na etapa final e levou a decisão para os pênaltis. A reação começou após o intervalo, quando a Argentina vencia o duelo por 2x0.

Apesar de não ter erguido a taça, os números o colocam numa prateleira rara. Mbappé se tornou o segundo jogador a conseguir fazer um hat-trick numa final de Copa. Antes dele, só o inglês Geoff Hurst conseguiu o feito, em 1966.

Campeão da Copa de 2018 com apenas 18 anos, Mbappé também colocou o nome em outra lista seleta, de jogadores que conseguiram marcar em duas finais de Mundial. Antes, Vavá, Pelé, Breitner e Zidane já haviam conseguido o feito.

Além disso, ele se isolou como maior goleador em finais de Copa. Nenhum jogador balançou a rede quatro vezes em decisões do Mundial como ele. Além dos três anotados contra a Argentina neste domingo, ele assinou um na final de 2018, quando a França foi campeã.

Lionel Messi fez uma atuação brilhante ao longo da Copa do Mundo do Catar. E foi coroado com o prêmio de melhor jogador da competição. O astro recebeu a Bola de Ouro do torneio neste domingo (18), após a vitória da Argentina sobre a França, nos pênaltis. Mbappé, da França, terminou como o segundo melhor e Modric, da Croácia, ficou em terceiro.

Aos 35 anos, o camisa 10 argentino conquistou o título em sua quinta e última Copa. Autor de sete gols e três assistências ao longo do Mundial do Catar, Messi se tornou o atleta com mais partidas disputadas na competição.

Enzo Fernández e Emiliano Martínez, ambos da Argentina, também foram premiados. O primeiro venceu como revelação, enquanto o goleiro levou a Luva de Ouro, troféu dado ao melhor arqueiro no torneio.

Já Mbappé ficou com a Chuteira de Ouro, que é dada ao artilheiro da competição. O francês de 23 anos fez um hat-trick na final e chegou aos oito gols no Catar. Messi ficou em segundo no quesito, com sete gols - sendo dois na decisão

 

Já dizia Xande de Pilares que "não é um perdedor quem sabe a dor de uma derrota enfrentar". A máxima, contida nos versos da música 'Clareou', do Grupo Revelação, se provou real quando torcedores baianos, ainda ressentidos com a eliminação do Brasil diante da Croácia nas quartas de finais, se juntaram neste domingo (18) para torcer e curtir durante a final da Copa do Mundo, disputada entre Argentina e França.

Na espera pela abertura da área de evento do Clube Espanhol desde às 11h30, o empresário José Luís, 44, já estava com receio de perder o jogo, programado para iniciar às 12h. Toda a sua expectativa estava sendo direcionada para a Argentina, seleção pela qual estava torcendo. "Vou deixar um pouco a rivalidade de lado. Eu acho que o Messi, pelo grande atleta que foi e é, e pelo que ele representa para o futebol, merece ser premiado com uma Copa do Mundo. Então, por isso vou torcer pela Argentina", explicou.

Em Salvador, a torcida foi dividida. De um lado, estava a seleção francesa, carrasca do Brasil, responsável por nosso vice em 1998 e pela eliminação canarinho em 2006. Do outro lado, estava a seleção argentina, maior rival da seleção brasileira, que ganhou a final da Copa América em 2021 em pleno Maracanã, diante do Brasil. Frente ao dilema, a opção adotada pelo engenheiro Lucas Rapouso, 28, foi não torcer.

"O jogo morreu nas quartas de finais. Depois de Brasil e Croácia, a Copa para mim acabou. Só em 2026 agora. A Argentina é nosso maior rival e a França é aquela coisa, não dá para torcer para europeu de graça, então ficamos em cima do muro", apontou.

Apesar da rivalidade, por ser admirado por muitos, Messi e sua seleção venceriam de lavada se o resultado no campo dependesse da quantidade de torcedores presentes no Clube Espanhol no início do jogo. À medida que foi o espaço foi enchendo, a torcida se tornou mais equilibrada. Durante o primeiro tempo, o engenheiro de petróleo Maurício Oliveira, 35, não se conteve de alegria pelo placar. "O jogo está muito bom. A Argentina está controlando, já meteu 2 a 0 e vai ser campeã. Estou na torcida por isso", afirmou.

O estudante Kauan Trindade, 18, era um dos que estavam torcendo pela França e se recusou a aceitar a história que o destino estava prestes a traçar. "A Argentina não pode ganhar essa Copa. Eu espero que, agora que o Messi já fez o gol dele, ele possa ser eliminado com um pouco de felicidade. Se a França ganhar, eu comemoro no show, estou em casa", declarou.

Com a vitória da Argentina nos pênaltis, o desejo de Kauan não se realizou. Contudo, como tudo em Salvador pode virar oportunidade de festejar, desta vez, o roteiro não saiu dos trilhos e cumpriu seu papel. Mesmo com a derrota da França, o estudante teve motivo para comemorar. Isso porque, com programação pós-jogo, além da transmissão da partida, o evento Ginga, que reuniu a torcida brasileira para curtir e aproveitar os jogos da Copa do Mundo, contou com as apresentações de Mumuzinho, Saulo, Parangolé, Dan Valente e Pedro Chamusca, no Clube Espanhol.

O estudante de medicina João Vitor Coutinho, 24, que comprou ingresso com o objetivo de comemorar seu aniversário com o hexa, estava ali apenas por conta das atrações. Uma vez que a taça não veio para o Brasil, o jeito foi não desperdiçar a oportunidade de curtir. Assim como ele, a estudante de engenharia Priscila Santos, 27, aproveitou a chance para se animar.

"O clima ficou pesado para caramba desde que o Brasil saiu da Copa. A forma com que a gente perdeu doeu, porque era só uma questão de manter o placar. Eu não vi mais nenhum jogo depois da eliminação. O objeto real para estar aqui é o show de Saulo, a Copa é última opção", frisou Priscila.

Com o modo tanto faz ativado, a estudante Mariana Moraes, 21, estava na expectativa de festejar ao lado do namorado ao som de Mumuzinho. "Eu não estou nem aí para esse jogo. Por mim qualquer um ganha, o importante é eu assistir meu show e tudo certo", garantiu, aos risos.

Ao som do apito final, o enfermeiro Diego Bonfim, 29, não perdeu tempo. "Foi um jogo muito emocionante, decidido nos últimos segundos. Essa Copa tinha que ser da Argentina. Agora vou curtir o show e muito", finalizou.

A espera foi longa, mas a Argentina, enfim, é tricampeã da Copa do Mundo. Liderados por Lionel Messi, os hermanos acabaram com o jejum de 36 anos e conquistaram o título sobre a França, em uma das finais mais incríveis da competição. A taça só veio nos pênaltis, por 4x2, após empate em 3x3 neste domingo (18), no estádio Lusail.

O jogo parecia até que ia ser tranquilo para os sul-americanos, que abriram 2x0 com Messi e Di María em um primeiro tempo de amplo domínio. Mas os franceses precisaram de um intervalo de apenas 3 minutos na etapa final para empatar, com dois de Mbappé.

Assim, a disputa foi para a prorrogação. E o jogo continuou louco. Messi recolocou os argentinos à frente do placar já na segunda etapa do tempo extra, mas Mbappé, de pênalti, empatou e levou a decisão aos pênaltis. Nas cobranças, os argentinos se deram melhor.

O título coroa a carreira brilhante de Lionel Messi, um dos melhores jogadores da história. Em sua última Copa do Mundo, o astro realiza o maior sonho. De quebra, se tornou o atleta com mais partidas em Copas e o primeiro a marcar em quatro duelos de mata-mata na competição (no atual formato).

O último troféu da Argentina em Mundial havia sido em 1986, no México. Antes, a seleção havia conquistado a taça em 1978, em casa. Assim, os hermanos entram no seleto grupo dos tricampeões mundiais. O primeiro time a conseguir o feito foi o Brasil, hoje penta. A Alemanha (em 1990) e a Itália (em 1982) também já comemoraram três vezes - atualmente, são tetra.

O jogo

A França mal pareceu ter entrado em campo no primeiro tempo. Os Bleus até tentaram ensaiar alguma coisa, mas logo foram totalmente dominados pelos argentinos na etapa.

O primeiro bom lance dos hermanos veio aos 4 minutos, em uma bomba de Mac Allister, defendida por Lloris. Pouco depois, Di María fez boa jogada pela esquerda e cruzou para trás. De Paul ficou com a bola, ajeitou e chutou, só que Varane desviou para fora.

A pressão continuou, principalmente com Di María e Messi. Até que a Argentina conseguiu abrir o placar - e com os dois como protagonistas. O meia surgiu em jogada individual, passou por Dembelé, invadiu a área e foi derrubado. O árbitro assinalou o pênalti. O camisa 10 bateu com categoria e fez o 1x0, aos 22 minutos.

O gol não mudou as posturas das equipes. Os sul-americanos seguiram em busca de gols, enquanto os franceses continuavam perdidos em campo.

Assim, não demorou para a Argentina fazer o segundo. E foi um golaço, em uma aula de contra-ataque: Mac Allister tocou para Messi no meio do campo. O capitão tocou rápido para Julián Álvarez, que lançou de volta para Mac Allister. Ele invadiu a área e deu lindo passe para Di María chegar batendo, na saída de Lloris: 2x0, aos 35 minutos.

Os argentinos voltaram para o segundo tempo querendo mais. Aos 3 minutos, Messi abriu com Di María na esquerda, que inverteu para De Paul chegar batendo, de primeira, para a defesa de Lloris. Dez minutos depois, o goleiro foi novamente acionado, em chute de Julián Álvarez. Messi também tentou, mas o chute, travado, foi para fora.

Depois de incríveis 74 minutos (67 regulamentares e 7 de acréscimos), a França deu a primeira finalização na final, em um cabeceio sem perigo de Kolo Muani. O jogo até parecia que estava decidido, com gritos de 'olé' da torcida argentina, aos 32. Só parecia. Um minuto depois, tudo começaria a mudar. E a França, do nada, renasceria.

Kolo Mouani arrancou na esquerda, invadiu a área e foi derrubado por Otamendi. Mbappé foi para a cobrança e bateu firme, recolocando os franceses no jogo, aos 34.

O gol inflamou os europeus. E, dois minutos depois, veio o empate. Coman desarmou Messi no meio de campo, avançou e acionou Rabiot. O volante cruzou, Mbappé ajeitou para Thuram de cabeça, que devolveu. O camisa 10 pegou de primeira e deixou tudo igual.

Em busca da virada, a França foi para cima. Mbappé tentou o hat-trick, Rabiot quis deixar o dele... Já a Argentina viu Messi receber fora da área e mandar uma bomba no gol, aos 51. Mas Lloris espalmou o chute, e levou o jogo para a prorrogação.

No primeiro tempo extra, a Argentina teve duas chances lindas. Aos 14, Messi fez linda jogada, tabelou com Mac Allister e soltou para Lautaro Martínez, em boa posição. O atacante chutou, mas foi travado pela zaga. A sobra ainda ficou com os hermanos, e Montiel mandou uma bomba na direção do gol, só que Varane tirou. No minuto seguinte, Lautaro ganhou uma linda bola, dominou e chutou, para fora.

O jogo ficou ainda mais enlouquecedor no segundo tempo da prorrogação. Aos 3 minutos, Messi tocou para Enzo Fernández, que acionou Lautaro Martínez. O atacante bateu firme, Lloris defendeu, mas deu rebote. Messi chegou batendo e fez o 3x2.

Mas, de novo, quando parecia que a partida estava decidida para a Argentina, a França ressurgiu. Depois de um chute de Mbappé na entrada da área, Montiel se jogou na bola abrindo os braços, e o árbitro assinalou o pênalti. Mbappé fez o terceiro - dele e dos Bleus - e empatou, aos 10 minutos.

A decisão foi para os pênaltis. Tanto Mbappé quanto Messi converteram suas penalidades. Na sequência, Coman perdeu para a França e Dybala colocou os argentinos na frente. Tchouameni também errou, enquanto Paredes acertou. Kolo Muani fez e deu esperança para os europeus, mas Montiel garantiu o título à Argentina.

O ano de 2020 foi desafiador para quem trabalha com serviços. O fechamento de estabelecimentos por conta da pandemia atingiu em cheio a economia e fez o Produto Interno Bruno (PIB) de Salvador encolher 7,8% na comparação com 2019, mas ainda assim a cidade conseguiu produzir R$ 58,9 bilhões em riquezas e manteve a posição de maior economia da Bahia e 2ª do Nordeste.

Os dados sobre o PIB dos municípios em 2020 foram divulgados, nesta sexta-feira (16), pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números apontam que o setor de serviços foi o mais impactado durante o primeiro ano da pandemia. A atividade que, em 2019, representava 71,3% da economia no estado, recuou para 67,4%, no ano seguinte.

Salvador produziu R$ 63,9 bilhões em riquezas em 2019, o que representava 21,7% de todo o PIB baiano. No ano da pandemia, o percentual caiu para 19,3%. Outras cidades que registraram perda de participação no PIB foram Simões Filhos, Porto Seguro, Cairu, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Lauro de Freitas e Itabuna.

O coordenador de Contas Regionais da SEI, João Paulo Caetano, explicou que a queda já era esperada por conta da interrupção das atividades e até encerramento de negócios em segmentos como hotéis, bares, restaurantes e espaços ligados à cultura.

“O setor de serviços foi o mais afetado pela pandemia, foi o que mais sentiu efetivamente os impactos. Salvador perdeu 2,4% de participação no PIB; Simões Filhos, Vitória da Conquista e Feira de Santana, entre outros, todos tiveram perda. A expectativa é de que, em 2021, esses municípios tenham recuperado o que foi perdido em 2020, mas a gente ainda não sabe os resultados”, afirmou.

Crescimento
Os outros dois setores observados na pesquisa tiveram avanço. A indústria apresentou um pequeno crescimento, passando de 21,8% para 22,2%, enquanto o agronegócio registrou o resultado positivo mais expressivo, saindo de 6,8% para 10,4% de participação no Produto Interno Bruto da Bahia. Essa mudança de cenário provocou uma troca de lugares entre as cidades com maior PIB do estado.

O município de Luiz Eduardo Magalhães, com forte atuação na agropecuária, ultrapassou a cidade de Lauro de Freitas, que tem uma economia mais voltada para serviços. Mais do que isso, os dez maiores municípios do agronegócio, que antes da pandemia eram responsáveis por 39% do setor, em 2020, passaram a comandar quase a metade (49%) de tudo o que essa parcela da economia produz na Bahia.

Quando a análise do PIB leva em consideração a distribuição per capita, por exemplo, sete das dez maiores economias são cidades ligadas a agropecuária. A supervisora de disseminação de informações do IBGE, Mariana Viveiros, fez uma ressalva.

“O agronegócio é muito importante inclusive por conta do dinamismo que ele cria no setor de serviços. Temos um grupo de atividades no IBGE que chamados ‘outros serviços’ que tem um peso importante nos auxílios a agropecuária. Normalmente, quando esse setor vai bem é por conta desses serviços, e não apenas pela produção de commodities”, explicou.

A queda de 7,8% em Salvador foi a 3ª mais intensa entre as capitais, menor apenas do que as verificadas em Curitiba/PR (-8,1%) e Recife/PE (-8,0%). Foi também o primeiro resultado negativo para a Economia soteropolitana nos 18 anos da série histórica do PIB dos municípios (iniciada em 2002). Na Bahia, o recuo foi de 4,4% e no Brasil de 3,3%.

A pesquisa mostrou que as maiores economias continuam sendo Salvador (19,3%), Camaçari (9,4%), Feira de Santana (4,9%), São Francisco do Conde (3,9%) e Vitória da Conquista (2,3%). Os dez municípios mais fortes economicamente são responsáveis por 48,7% de todo o PIB da Bahia. A participação encolheu, porque em 2019 era de 50,8%.

As maiores mudanças no ranking ficaram com Itagibá, que saiu da 197ª posição para o 55º lugar, Tabocas do Brejo Velho (de 296º para 194º) e Adustina (199º para 126º). Já as cidades que cresceram em participação no PIB foram São Desidério (0,69%), Formosa do Rio Preto (0,61%) e Luís Eduardo Magalhães (0,32%).

Ranking nacional
Apesar dos efeitos da pandemia, Salvador manteve a 12ª posição entre as cidades mais fortes economicamente do Brasil (a 9ª capital). São Paulo (SP) lidera a lista, sendo seguida por Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e Belo Horizonte (BH). No Nordeste, os baianos ficaram atrás apenas de Fortaleza (CE).

O coordenador de Contas Regionais da SEI, João Paulo Caetano, explicou que a cidade de Fortaleza desenvolveu uma série de investimentos a partir do porto, que serve para escoamento da produção do estado, e implementou indústrias no entorno do equipamento, o que impulsionou a produção para além dos ganhos com o setor de serviços.

“Essa construção industrial alicerçada em volta do porto fez com que Fortaleza ganhasse participação no PIB e ultrapasse Salvador. Nós também temos um porto, mas ele serve basicamente para escoar a produção, não temos um adensamento produtivo ao redor do porto de Salvador, e esse é um grande diferencial”, explicou.

A lista dos dez maiores PIBs do Nordeste inclui a cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, que produziu R$ 25,7 bilhões, em 2020, e ficou à frente de cinco capitais, como Maceió, Natal e Terezina. Em nível nacional, três municípios que não são capitais entraram no top 10: Osasco, Guarulhos e Campinas, todos em São Paulo.

Confira os dez maiores PIBs da Bahia:

Salvador (19,3%) – R$ 58,9 bilhões
Camaçari (9,4%) – R$ 25,6 bilhões
Feira de Santana (4,9%) – R$ 16,1 bilhões
São Francisco do Conde (3,9%) – R$ 11,9 bilhões
Vitória da Conquista (2,3%) – R$ 7,1 bilhões
Luís Eduardo Magalhães (2,3%) – R$ 7 bilhões
Lauro de Freitas (2,1%) – R$ 6,4 bilhões
Barreiras (2%) – R$ 6,1 bilhões
Simões Filho (1,6%) – R$ 4,9 bilhões
Candeias (1,6%) – R$ 4,9 bilhões

Confira os dez maiores PIBs do Nordeste:

Fortaleza (CE) – R$ 65,2 bilhões
Salvador (BA) – R$ 58,9 bilhões
Recife (PE) – R$ 50,3 bilhões
São Luís (MA) – R$ 33,1 bilhões
Camaçari (BA) – R$ 25,7 bilhões
Maceió (AL) – R$ 22,8 bilhões
Natal (RN) – R$ 22,7 bilhões
Terezina (PI) – R$ 21,6 bilhões
João Pessoa (PB) – R$ 20,8 bilhões
Aracaju (SE) – R$ 16,4 bilhões

Confira os maiores PIBs do Brasil:

São Paulo (SP)
Rio de Janeiro (RJ)
Brasília (DF)
Belo Horizonte (BH)
Manaus (AM)
Curitiba (PR)
Osasco (SP)
Porto Alegre (RS)
Guarulhos (SP)
Campinas (SP)
Fortaleza (CE)
Salvador (BA)

Apesar do aumento de casos de covid-19 na Bahia nos últimos dias, o governador Rui Costa (PT) negou, na manhã desta sexta-feira (16), que houve um avanço de 700% no mês e que dados do relatório da última quarta-feira (14) mostram o contrário.

“Eu não tenho esse número [de 700% de avanço nos casos] que você [o repórter da coletiva] acabou de citar não. Eu pedi o relatório de quarta-feira, os números estavam estáveis com ligeira tendência de queda. Ao chegar aqui passei uma mensagem pedindo um relatório de hoje, mas esse número eu não confirmo não”, disse Rui, ao ser questionado em coletiva de imprensa durante ato focado nas novas instalações da Polícia Civil que na antiga EBDA, em Itapuã.

“Ele [número de casos] cresceu e naquele momento eu fiz o decreto. De uma semana para cá, está em torno de nove mil casos ativos e com uma leve tendência a iniciar a queda”, ressaltou.

A segunda semana de dezembro registrou 13.356 novos casos de covid-19. É a maior soma semanal desde 24 de julho, quando o estado notificou 11.821 pacientes ativos com a doença em sete dias, conforme boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab). No geral, o número de casos ativos de covid-19 no estado aumentou 734% a partir de novembro. No dia 14 do mês passado havia 1.105 novos casos ativos, na quarta-feira (14 de dezembro), exatos um mês depois, os registros subiram para 9.223.

Com a tendência de explosão de infecções após o Natal e o Ano Novo, por conta do relaxamento nas medidas de proteção como álcool em gel e máscara, atrasos para completar o esquema vacinal e a circulação de subvariantes da cepa Ômicron da covid, médicos como o infectologista e professor na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Robson Reis, alertam que é preciso evitar que o vírus se prolifere ainda mais.

“Aglomerações de final de ano, idas aos centros de compras para o Natal, confraternizações de trabalho e escolares, reuniões e encontros para assistir jogos da Copa do Mundo, tudo isso influencia [o aumento de casos]”, enumera.

O estudante de administração Filipe Ferreira, 19, faz parte da estatística. O teste dele deu positivo no dia 6 de dezembro. A suspeita é que tenha contraído o vírus em uma festa com mais de 800 pessoas. O estudante acordou com a garganta inflamada logo no dia seguinte. Ele ainda apresentou febre e dor de cabeça, mas agora já está bem. Sem medo de reinfecção, Filipe planeja comemorar Réveillon com amigos em Guarajuba, distrito de Camaçari.

“Tomei as vacinas e para quem está imunizado, a doença não vem tão forte. Mas, por enquanto, estou me resguardando. Só vou viajar no Ano Novo”, diz.

Quem cancelou os planos de viajar em 31 de dezembro foi a psicóloga Darci Roullet, 59, que também testou positivo na última semana. Ela não sabe se pegou a covid após se reunir com a família para assistir à Copa ou levar a neta para tratamento em uma clínica. Seus sintomas foram dor de cabeça, dor no corpo e febre.

Apesar do teste positivo, a preocupação maior foi o marido Amaro, 67. “Meu esposo pegou de mim. Ele teve de tomar antibiótico e como é diabético e hipertenso, o quadro dele foi mais grave, ficou com sensação de desmaio”.

Vacinados até a quarta dose e medicados, ambos também já estão em recuperação. “Eu ia viajar, mas agora desisti. Preferi ficar em casa”.

Vacinas
Na Bahia, 2,8 milhões de pessoas (51,04%) estão com a segunda dose de reforço [quarta dose] em dia. Ao todo, 5,6 milhões estão aptos para receber o imunizante. Já na terceira dose – ou a primeira do reforço - 7,6 milhões (60%) tomaram a injeção. O público esperado é de 12,7 milhões.

Segundo a Sesab, o estado tem recebido doses regularmente e tem estoque de aproximadamente 140 mil ampolas da Pfizer para adultos e 40 mil doses de Astrazeneca/Fiocruz. A pasta solicitou ao Ministério da Saúde na quarta-feira (14), mais 10 mil doses de Astrazeneca/Fiocruz, 10 mil de Janssen e 100 mil da Pfizer para adultos.

“As vacinas AstraZeneca em estoque têm validade até janeiro, e as da Pfizer, até abril. A coordenação de Imunizações da Sesab ressalta que vem percebendo um declínio no pedido de vacinas por parte dos municípios nas últimas três semanas”, declara o órgão, em nota.

O índice de cobertura para crianças de seis meses a dois anos é que preocupa, apenas 0,36% desse contingente tomou a D1. Para crianças de 3 e 4 anos, 7,5% do público tomou o reforço (D2). Para o público-alvo infantil menor de 12 anos a pasta diz que não está recebendo doses há três semanas da Pfizer e CoronaVac.

O infectologista Robson Reis ressalta que é importante atualizar o esquema vacinal porque com o passar do tempo a imunidade tende a cair e a dose de reforço serve justamente para fortalecer o sistema de defesa novamente.

“Cerca de 90% das pessoas internadas são pessoas não vacinadas ou que não completaram o esquema vacinal. As variantes conseguem driblar o sistema imunológico por conta das mutações, mas fazem geralmente infecções leves nos vacinados”.

De 8 a 13 de dezembro, a Bahia teve 21 mortes por covid-19.

Atenção aos cuidados na confraternização natalina
Nas festas de Natal e Ano Novo, tanto para quem vai às festas públicas ou ficará em casa com a família, a orientação do epidemiologista Paulo Petry é a mesma: “Sempre que houver aglomeração, sobretudo em locais fechados, retome o uso da máscara, ventile os ambientes e complete o ciclo vacinal”. Para o dia a dia, ele orienta o uso da proteção facial no transporte público e outros locais fechados.

Decreto estadual tornou o uso de máscaras obrigatório nos transportes públicos e seus locais de acesso, como as estações de embarque; em salões de beleza e centros de estética; em bares, restaurantes, lanchonetes e demais estabelecimentos similares; em templos religiosos; em escolas e universidades; em ambientes fechados, tais como teatros, cinemas, museus, parques de exposições e espaços similares.

Os eventos têm realização autorizada. No entanto, voltou a ser exigido o uso da máscara e a comprovação de vacinação naqueles onde há controle de acesso e venda de ingressos. A comprovação será feita mediante apresentação da carteira de vacinação ou do Certificado Covid, obtido pelo aplicativo Conect SUS.

Petry explica que os principais sintomas das subvariantes da ômicron são similares aos da gripe, como coriza, tosse, irritação de garganta, cansaço e dor muscular. Só com testes dá para saber se é ou não covid. Para quem testar positivo, a recomendação é manter isolamento por, ao menos, sete dias.

Nos eventos de final de ano:

1. Use máscara em ambientes fechados e remova só para alimentação;
2. Higienize as mãos após cumprimentar amigos e familiares;
3. Deixe o ambiente mais ventilado [com janelas e portas abertas]
4. Mantenha distanciamento físico [mínimo de 1,5 metro]
5. Mantenha o esquema vacinal atualizado antes do evento ou viagem

Uma semana após a Seleção Brasileira ter sido eliminada da Copa do Mundo do Catar, diante da Croácia, a loja de variedades Supermercado de Festa, na Rua do Paraíso, no centro de Salvador, ainda recebe lotes de produtos temáticos para serem vendidos aos torcedores. O problema, no entanto, é que os pedidos foram feitos quando o Brasil ainda estava na disputa. Agora, com a queda nas quartas de final, as vendas caíram 70% e as mercadorias estão ‘encalhadas’ nas prateleiras.

Conforme a Seleção avançava no Mundial, mais produtos foram sendo comprados, segundo a vendedora Louise Dantas, 21 anos, que trabalha no local há quatro. A expectativa de levar o hexa era grande entre os proprietários, assim como a lucratividade com a vitória. Mas a bonança durou pouco.

“O investimento seguiu a esperança. Nas primeiras semanas vendemos muito, ao ponto de vários produtos esgotarem. Para não deixar o público em falta, fomos repondo. O que mais saiu foram os artigos decorativos, como bandeiras e vuvuzelas. Os acessórios também tiveram uma boa saída na época”, detalha.

Ainda segundo ela, até a semana passada, o estabelecimento estava tomado por produtos nas cores verde e amarelo. Mas, hoje, conta com menos de uma sessão. Para não ficar no prejuízo, o excesso de mercadorias será devolvido às fábricas. Já as que seguem nas prateleiras serão mantidas até o fim do mês para serem vendidas aos poucos clientes que estão comprando com o objetivo de decorar aniversários.

Especificamente para a Copa do Catar, a expectativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA), com base no levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio, era de que o faturamento do varejo baiano chegasse a R$ 49,3 milhões, o maior previsto entre os estados do Nordeste.

Em todo o país, o número esperado chegou a R$ 1,48 bilhão, percentual 8% acima do volume registrado na Copa de 2018, que ocorreu na Rússia e movimentou R$ 1,37 bilhão. Na época, as maiores vendas foram registradas no ramo de eletrodomésticos - com R$ 535,5 milhões arrecadados -, seguido dos eletroeletrônicos e artigos pessoais, com R$ 332,6 milhões.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Fábio Motta, ainda não é possível afirmar qual setor mais arrecadou na Bahia com o varejo destinado a Copa, mas já se pode dizer que a derrota brasileira representa uma redução de 15% no faturamento esperado para este período no setor de bens não-duráveis, como roupas, calçados, acessórios e decorações. “Acaba sendo uma perda, não só pelo investimento para formar um estoque, mas também pelos investimentos adicionais para renová-lo a cada vitória da Seleção”, explica o gestor.

Drible no prejuízo
Ainda na Rua do Paraíso, os adereços vendidos na loja de fantasias Festa Fashion também encalharam na última semana. Entre os produtos mais vendidos até a data trágica estavam a peruca de moicano verde e amarelo e o chapéu estampado com a bandeira nacional. Os mesmos que, agora, quase não são comprados pelos clientes.

Os dois custam R$ 10 desde o início das vendas, pois baixar os preços não seria uma opção vantajosa para o estabelecimento. Como é uma loja menor, também não será possível devolver os produtos à fábrica. Por isso, os proprietários pretendem manter o que sobrou até o final da Copa, no domingo. Depois, eles guardarão o estoque para expor em outra data oportuna.

Já a vendedora de roupas Patricia Santos Coelho, 46 anos, que tem uma loja na Avenida Joana Angélica, preferiu adotar a estratégia de baixar os preços para liberar o que sobrou e dar lugar às vendas natalinas. A camisa do Brasil, que custava R$ 30, passou a ser vendida por R$ 15. Assim como as peças, os acessórios com as cores da bandeira também foram postos em promoção.

“O povo se revoltou com a derrota e sumiu. Mas como só teremos chance de ter uma venda expressiva [desses produtos] como foi a desse ano, na próxima Copa, preferi reduzir os valores para não sair tão no prejuízo, com queda de 40% nas vendas”, lamenta.

O comunicólogo Wandel Cerqueira, 23 anos, acreditando na conquista do hexa, chegou a comprar uma camisa nova em uma loja online. Mas como a entrega do produto atrasou e a nova previsão estava marcada para a final da Copa, ele cancelou a compra após a eliminação da seleção brasileira.

Para ele, apesar do custo benefício na aquisição do produto, que custou R$ 90 - comparado ao preço de R$ 299,99 da oficial -, o valor pago não compensaria a decepção pela derrota do Brasil. “Eu só pedi reembolso porque a seleção perdeu. Eu fiquei muito chateado e falei: ‘Ah, não quero mais não’”, disse Wandel.

Presente nos cartões postais, nos livros de história e em cada esquina dos principais centros turísticos, o acarajé é elemento indispensável ao pensar na Bahia. Há até quem peça a Deus livramento quando cogita não poder saborear as iguarias baianas feitas com o azeite de dendê, que dá o toque dos deuses não só ao acarajé, como também às moquecas, carurus e vatapás. No entanto, esse elixir divino está novamente ameaçado de escassez graças a uma nova crise produtiva.

O problema que torna palpável o risco de não encontrar o dendê é, na verdade, de muito tempo. De acordo com Rita Ventura, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé (Abam), a Bahia só produz 2% do dendê que é consumido internamente no estado. Essa produção está concentrada em 28 municípios baianos, mas a falta de políticas públicas dificulta o desenvolvimento pleno de toda a capacidade produtiva da região.

“O nosso problema é o descaso que vem ao longo dos anos. Há quase 30 anos não há nenhum investimento. Em cada município há um órgão específico para cuidar do cacau, mas para o dendê não tem nada, é cada um por si”, afirma a presidente da Abam.

Em 2021, a Bahia produziu 39.411 toneladas de dendê em 13.057 hectares de terra, em um aumento de 6,1% em relação de 2020, ano em que foram produzidas 37.143 toneladas. Apesar de ser a segunda maior produtora do Brasil, o estado está muito atrás do Pará, líder de produção responsável por 98,6% do dendê do Brasil no ano passado, de acordo com dados da Produção Agrícola Municipal de 2021, informados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Como alternativa para a baixa produção, existe a tentativa de importar dendê do Pará para a Bahia. Contudo, de acordo com Rita, esta não é uma opção viável economicamente nem a ideal para o consumo baiano. “Isso é um grande problema para nós, porque encarece muito o frete. Em segundo lugar, o dendê de lá não é um dendê próprio para nós porque é produzido para ser vendido para a produção de biodiesel”, explica.

O preço do produto na Bahia tem subido exponencialmente, uma vez que aqueles que se arriscam a pagar uma carreta para trazer o dendê do Pará estão desembolsando cerca de R$ 270 mil. Na Feira de São Joaquim, em Salvador, um balde de 12 a 14 litros que costumava valer R$ 64 em fevereiro de 2020, hoje está custando até R$ 190, representando um aumento de 196,8% em 34 meses. Baiana de acarajé, Ana Cassia Nery, 41, relata que esses aumentos frequentes têm sido cada vez mais dolorosos para seu bolso.

“Nós estamos achando [o azeite de dendê], mas o valor está bem elevado. Não está mais o mesmo valor que eu comprava antes. Um balde que eu comprava por R$ 80, hoje é R$ 170, de eu chorar para o meu fornecedor para ele fazer mais barato, porque para ele também está complicado”, afirma a baiana Ana Cassia.

Defasagem técnica

Um dos grandes problemas que também põem em risco a continuidade da atribuição da Bahia como a terra do dendê, ao menos no Nordeste, é a falta de mão de obra, questão que vem se arrastando ao longo dos anos. Os peeiros, profissionais que sobem nos dendezeiros, por meio de uma peia, para colher cachos de dendê, estão em falta pelas condições do ofício. Quem se arrisca a subir e trabalhar a 25 metros de altura ainda são os mais velhos, que nem sempre conseguem dispor de meios para executar o trabalho da melhor maneira.

“Precisamos de renovação, de novas mudas, mas também de equipamentos atualizados para que esses peeiros possam colher o dendê. Nós, as baianas de acarajé, estamos tendo problema com a fumaça do dendê, como câncer e outras doenças por causa da oxidação”, sinaliza Rita Ventura.

A oxidação acontece porque, a depender de como os cachos são cortados, muitos caem no chão e ficam aguardando cerca de 20 dias para serem recolhidos e encaminhados para a fábrica. Nesse tempo, a chuva e o sol agem sobre o fruto, permitindo que ele oxide.

Com as dificuldades encontradas para o cultivo do fruto, muitos produtores têm substituído o dendê por outras culturas. Para André Souza, produtor de dendê em Camamu e professor titular da Universidade Estadual do Sudoeste Da Bahia (Uesb), o descaso governamental tem parcela de culpa nessa realidade.

“A falta de políticas públicas, que não leva a tecnologia, já é um dos primeiros problemas. Eu montei um roldão, que é a usina de fabricação do dendê, e até hoje eu trabalho com o motor a diesel, porque a Coelba não ligou a energia na minha fazenda. É um absurdo”, critica.

Costa do Dendê

Formada pelos municípios de Maraú, Ituberá, Igrapiúna, Aratuípe, Cairu, Camamu, Valença, Taperoá e Nilo Peçanha, a Costa do Dendê é a região cujos agricultores familiares têm o fruto como um dos pilares da sua economia. Valença é a segunda maior produtora do estado, com 5.950 toneladas, segundo o IBGE, embora nos últimos anos tenha apresentado uma queda significativa na sua produção. De 70 mil toneladas por ano, a cidade atualmente produz apenas 10 mil toneladas.

André Souza conta que a produção do município caiu de 40 mil toneladas para 1.600 toneladas nos últimos três anos. Para ele, o problema principal nunca foi climático ou de outra ordem além da falta de políticas públicas, mas hoje existe uma série de outros fatores, como a substituição progressiva desse tipo de plantação por outras culturas devido a maior rentabilidade e dificuldade de encontrar mão de obra.

O professor ainda destaca a especulação imobiliária como fator que contribui a queda de produção na Costa do Dendê. “O dendê por vezes está bem próximo às áreas de turismo que compõem o Baixo Sul e chega até o sul. Nessas áreas mais próximas da praia, como Barra Grande e Morro de São Paulo, todo mundo vira as costas para o dendê. Vale muito mais o valor do terreno com a especulação imobiliária do que a plantação”, ressalta.

Iniciativas

Segundo Rita Ventura, presidente da Abam, a última vez que o governo baiano lançou uma ação voltada para a cultura do dendê com o objetivo de apoiar os agricultores familiares foi em 1990.Com o objetivo de cobrar políticas públicas do novo governador eleito Jerônimo Rodrigues (PT), entidades vinculadas a diferentes segmentos da sociedade e personalidades ligadas à cadeia produtiva do dendê criaram o movimento Salve o Dendê.

Na carta que será entregue ao governador logo após a posse do novo cargo, o grupo pediu, entre outras iniciativas, pela criação de uma secretaria específica para tratar de assuntos relativos ao fruto e criação de linhas de créditos de investimento para o produtor e empresas que beneficiam o cultivo no estado.

Procurada, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR) reconheceu a importância das solicitações e afirmou que buscará agir, juntamente com outros parceiros, para tratar da cultura de forma a minimizar os problemas, principalmente “no que se refere a inovação tecnológica e a substituição de equipamentos que estão ultrapassados para a colheita, visando modernizar o processo e permitindo que o agricultor possa colher os frutos sem os sacrifícios árduos como da subida nos troncos com as ‘peas’, melhorando a qualidade de vida dos agricultores familiares e a conservação ambiental”.

Ainda, a pasta afirmou que a o grupo também se ocuparia em expandir a cultura com novas técnicas de cultivo e manejo, variedades, disponibilidade de mudas e ofertas de linhas de crédito específica para o segmento. E informou que, atualmente, para apoiar o sistema produtivo do dendê na Bahia, o Governo do Estado, por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à SDR, está investindo cerca de R$ 3,5 milhões, em ações voltadas para o processamento e beneficiamento do dendê nos territórios Baixo Sul e Recôncavo.

De acordo com a Secretaria, os investimentos da CAR são por meio do Projeto Bahia Produtiva, projeto que visa dotar os agricultores familiares e suas organizações produtivas de infraestrutura necessária, com a implantação de unidades modernizadas de beneficiamentos e processamento do dendê, para qualificar a produção do azeite.

As famílias também recebem assistência técnica e extensão rural (Ater), ofertadas pela Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão (Bahiater), unidade da SDR. Segundo a pasta, 8.316 famílias estão recebendo o serviço por meio de ação direta e indireta da Bahiater/SDR e em parceria com entidades de ATER conveniadas, prefeituras municipais e consórcios públicos.

Muito além da gastronomia

Utilizado no caruru, vatapá, moqueca e farofa de banana baiana, a importância do azeite de dendê vai muito além da culinária. Na alta estação, de tão requisitado, o elixir da Bahia se torna essencial para movimentar o turismo das cidades costeiras. Baiano de acarajé há 42 anos, Nailton Souza, 61, conta que trabalha em ponto turístico e que, no verão, o dendê costuma ser ainda mais procurado.

Na religiosidade, o fruto do dendezeiro se revela como um elemento intrínseco à cultura local quando utilizado para preparar o alimento dos orixás. É no prato cozido com o óleo de dendê que muitos baianos recorrem às divindades para pedir e para agradecer.

Segundo o professor Alcides Caldas, do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, que trabalha diretamente com produtores de 23 municípios da Costa do Dendê, para reconhecer os diversos simbolismos do dendê, foi dada a entrada na Câmara Técnica do Patrimônio do Conselho Estadual de Cultura, no dia 21 de novembro, o pedido de reconhecimento do dendê como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado da Bahia.

Esse pedido surgiu com o intuito semelhante ao do registro da Indicação Geográfica (IG) da Costa do Dendê, uma espécie de selo de qualidade para proteger quem está no front da cadeira produtiva. “O patrimônio e a IG são ativos que podem ressignificar essa produção do dendê. Ele pode agregar valor e, transversalmente, pode se articular com questões do turismo, com a inovação tecnológica e com a realização dos eventos, que podem viabilizar um crédito de renda na melhoria das condições de vida da população”, salienta.